sábado, 25 de dezembro de 2010

ufa. acabou.

nada de aniversários.
não tem conquista maior que sobreviver a mais um natal.
chegar em casa de barriga cheia, deitar em sua cama e pensar:
- ufa. consegui passar por isso. que venha o próximo ano.


- - - -

tanta coisa pra escrever aqui, mas fica pra depois.

sábado, 11 de dezembro de 2010

confissões da meia noite

há tempos não escrevo aqui com cuidado.
tanta coisa aconteceu.

começo a escrever e paro.
para quê? penso em declarações de amor, e hoje elas soam tão patéticas.
penso em coisas pra dizer, coisas bonitas, no duro - eram realmente bonitas. aí penso: só de descrever nossa vida juntos, daria um belo texto. um belo livro.
tanta memória, tantas lembranças, que de repente me peguei pensando no filme "brilho eterno de uma mente sem lembranças". chegamos num ponto que às vezes apagá-las seria melhor que lembrá-las. pelo menos hoje.

falávamos de escrever um livro juntos - sobre amor, amores. não fizemos...


escolhemos vivê-lo.
(e tudo que eu queria, ah... tudo que eu queria era descobrir o que nos fez chegar tão rápido na página final)

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

"há que endurecer-se sem jamais perder a ternura"

A greve e o amor estão suspensos - sabe lá até quando.A greve tem chance de voltar. Inicio do ano letivo do ano que vem. Todos aguardam ansiosos, ao mesmo tempo em que voltam lentamente para suas rotinas.A greve de amor tende a permanecer. Você, meu bem, interditou o nosso amor - dolorido, intenso, preciso. É greve. Amor suspenso - em algum momento, será definitivo: é pra nunca mais. ou...

Por hoje, fico com o "ou...". É o que me sustenta, por hoje.

"(...)Infelizmente, nós,
que queríamos preparar o caminho para a amizade,
não pudemos ser, nós mesmos, bons amigos.
Mas vocês, quando chegar o tempo
em que o homem seja amigo do homem,
pensem em nós
com um pouco de compreensão."
Brecht, Aos que virão depois de nós

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

pra quem diz que eu sumi...

não sumi, não!

é que eu tô aqui ---> greveunifespbs.wordpress.com

abraços grevistas!

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

agora, já passa da hora, tá lindo lá fora, larga minha mão...

"Então me vens e me chega e me invades e me tomas e me pedes e me perdes e te derramas sobre mim com teus olhos sempre fugitivos e abres a boca para libertar novas histórias e outra vez me completo assim, sem urgências, e me concentro inteiro nas coisas que me contas, e assim calado, e assim submisso, te mastigo dentro de mim enquanto me apunhalas com lenta delicadeza deixando claro em cada promessa que jamais será cumprida, que nada devo esperar além dessa máscara colorida, que me queres assim porque assim que és..."
caio fernando de abreu

vejo um casal. brincadeiras. ele puxa ela, ela solta ele, ele abraça. as malas caem. beijos, abraços. carinho sem ter fim? sim fim.

éramos nós, esse casal.
hoje, assisto.
hoje sou platéia.

eu, despida.
desapercebida - por ti
nós, despedida.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Por um mundo sem diplomas (ou: como me meti nesse negócio chamado "esquerda")

"A vida era muito dura. Não chegávamos a passar fome ou frio ou nenhuma dessas coisas. Mas era dura porque era sem cor, sem ritmo e também sem forma. Os dias passavam, passavam e passavam, alcançavam as semanas, dobravam as quinzenas, atingiam os meses, acumulavam-se em anos, amontoavam-se em décadas — e nada acontecia. Eu tinha a impressão de viver dentro de uma enorme e vazia bola de gás, em constante rotação."
Caio Fernando de Abreu

Era uma vez, uma sensação assim.
De nada.
Vazio total.
Os dias passavam, bem como as semanas, os meses, os anos... e tudo se resumia a uma cama e uma TV. A cama, a TV, e a espera por algo que não sabia bem do que se tratava.

Acho que essa cena retrata como era minha vida antes de me envolver com algo que fizesse de fato sentido. A militância pra mim veio como resposta a todo esse nada que sentia frente a qualquer coisa.

Eu não sabia que existia esse mundo - de luta, da esquerda, de possibilidade de revolução. Se sabia, parecia longe, longe. Então ficava deitada no meu quarto vendo TV, esperando o dia que entraria em alguma faculdade. Não pelo diploma, não pelo futuro profissional. Eu só sabia que nesse lugar encontraria alguma coisa. Não sei bem como nem por quê. Só sabia.

Daí eu encontrei.
E era tão ruim não sentir nada, que hoje, mesmo quando o corpo dói - a cabeça de tanto pensar, as pernas de tanto caminhar, as costas de tanto ficar de pé panfletando, a garganta de tanto falar... é tão melhor que antes, quando eu não sentia nada.
Eu fico bem hoje de ter algo que faça sentido me preocupar.
Mais que um diploma, mais que uma escolha de carreira.

Penso em quantas pessoas ainda não conhecem esse universo tão incrível e tão cheio de potência: o da possibilidade de sonhar com outro mundo. O de sonhar, e construir, e fazer. Mudar. Transformar. Revolucionar.

Não há diploma que valha a capacidade de acreditar que outro mundo é possível.
Um mundo em que não dependa de exploração, que não tenha como motor a miséria, que não se alimente da pobreza de um outro ser humano.
Não há diploma que valha a capacidade de levantar-se, erguer os punhos e caminhar ombro a ombro com quem compartilha do desejo pela transformação.
Não há diploma que valha o encontro com quem também consegue se indignar, com quem consegue enxergar os duros ataques que sofremos cotidianamente por uma minoria.
Um mundo sem diplomas.
(enquanto todos dizem "calma", ainda existem aqueles que resistem e gritam "basta!" e vão pra luta por um mundo de liberdade, construindo o socialismo através da revolução)

O amor que tu me tinhas era pouco e se acabou?

"Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse o meu encontro. Quis tanto dar, tanto receber. Quis precisar, sem exigências. E sem solicitações, aceitar o que me era dado. Sem ir além, compreende? Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação humana. Mas o que tinha, era seu."
Caio Fernando de Abreu

Digo: diz que ainda existe amor, diz que ainda existe algo aí. E você diz que sim, e você diz que tem. Mas não sinto. Não sinto nada.
É tanta coisa acontecendo, e mais coisas acontecem.
Ontem uma vida nasceu morrendo, e isso chama para várias metáforas mas tudo que me ocorre é deitar no teu colo e chorar. Não queria metáforas. Queria sentir as coisas como são, no duro, sem precisar criar bonitas relações.

Queria teu olho de novo colado no meu.
Queria minhas pernas enroscadas no teu corpo de novo.
Queria.
Hoje eu só queria...

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

e se eu pudesse entrar na sua vida?

...um dia ouvir de você: entre, entre sem bater.
invade minha vida, venha jantar na minha casa e não saia nunca mais.
.
.
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o silêncio que angustia.

a possibilidade de algo que não sei o que seria, gritando em minha orelha.
gostar de você é andar de olho fechado num lugar escuro e desconhecido. é tatear, buscando reconhecer algo que já tenha sentido, vivido. qualquer coisa que me dê segurança.
gostar de você é encontro na praça às 10h da manhã: é simples, é bonito. é cheiro de primeiro amor. é gosto de infância, de primeiro encontro de mão que faz o corpo tremer.

"me ensina a não andar com os pés no chão
para sempre é sempre por um triz
aí, diz quantos desastres tem na minha mão
diz se é perigoso a gente se feliz"
beatriz, chico buarque



terça-feira, 21 de setembro de 2010

um encontro na praça às 10h da manhã.

ficou marcado, enfim. e é amanhã.
tanto tempo pensando nesse encontro e de um dia para o outro ele vira o dia seguinte.
cada vez que lembro o coração bate forte. e o estômago lembra que eu ainda não aprendi como funciona esse troço de gostar de alguém (de) novo.
são 23h agora, o que significa que falta 11 horas para te encontrar em frente a praça. posso dizer que falta 10h40min, pois o tempo que caminharei até a praça pode ser considerado quase o momento de te encontrar.

um encontro na praça às 10h da manhã. não existe forma melhor para começar o dia.
a síntese de um dia bom, logo no começo da manhã.
.
.
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serei aquela com flor no vestido, mas provavelmente você me enxergará pelo tamanho do sorriso.

. - . - . - .

da série: eu tô falando de amor

- pois é... por isso que eu tô tentando não criar muita expectativa, não gostar muito... embora seja meio complexo essa coisa de querer controlar sentimentos não é?
- sim, foi inevitável rir quando você falou que está tentando não gostar muito. foi bonito e ingênuo. eu queria ser assim, ou pelo menos tentar. mas o problema é que eu gosto de gostar. mesmo que machuque.

deve ser um tipo de masoquismo, sei lá.



segunda-feira, 20 de setembro de 2010

bagunça

e tua calça misturada com meus cadernos.
e teu casaco misturado com o meu, e minha bolsa.
e tua mochila enroscada na cadeira.
e tua camiseta - não tua, motivo este de briga, também - misturado em algum lugar que eu nem quis saber aonde.
suas moedas pelo chão, bem como tantas coisas minhas que caíram - celular, controle remoto.
as comidas roubadas da dispensa dos pais, no chão também.

a necessidade de arrumar a mala, e de ir pra outra cidade.
mais uma semana, e eu não queria ir assim, com tamanha bagunça - e dessa vez não me refiro às coisas pelo chão.
queria aproximar-me de você como um casal que se aproxima pela primeira vez. as mãos que se tocam em um acaso totalmente planejado. e das mãos que se entrelaçam viram braços que se enroscam até que então... um beijo. o primeiro. queria beijar você pela primeira vez de novo.

você se arruma apressado - é dia de rodízio, e além do mais, tem a zona azul do bairro burguês de meus pais.
eu me escondo debaixo da coberta, pois a luz acesa sempre me irrita de manhã - com o tempo fui aprendendo a me antecipar e me esconder antes de você acender a luz.
você termina de arrumar a tua bagunça - a da calça, da moeda, do casaco, da camiseta não-tua, que são as menores bagunças suas e minhas - e senta na ponta da cama, pega em minha mão, e nos olhamos procurando saídas, ou entradas, já nem sei.
por um momento me ocorre se, de repente, surge a famosa música do plantão da globo - aquele que sempre anuncia alguma desgraça, ou algo chocante - "informamos que subitamente o rodízio foi cancelado, e todas as vias para descer para a Baixada Santista estão bloqueadas".


mas a televisão nem ao menos está ligada.


é, meu bem, então éramos nós outra vez. cara a cara, tendo que se virar naqueles 10 minutos.
então eu pego tua mão e digo:
- sei que ficaremos bem, tenho certeza disso. e você?
- acho que sim
- é isso que temos, então.

você bota a mochila nas costas, eu visto uma roupa qualquer e te acompanho até a porta.
um beijo de vontade de ficar mais - às vezes é o que basta para saber que estamos juntos.

sábado, 18 de setembro de 2010

das eleições e da vida

"nem fede, nem cheira...mas é honesto"
justificativa que meu pai deu para votar num candidato X, do PSDB, para deputado federal.
eu fico inconformada com o grau de desilusão política das pessoas. um tanto ignorância, falta de conhecimento... mas vai chegando as eleições e penso também o quanto tanta gente já acreditou em algo e se decepcionou - e não é a toa.

o sistema capitalista faz com que a gente passe a acreditar nas eleições burguesas como o maior exercício de democracia que temos hoje, como se o máximo que a pessoa pudesse fazer era escolher os números mágicos certos, para digitar na urna eletrônica mágica, em que assim mágicos seriam eleitos para magicamente transformar o País.

e, obviamente, isso não dá certo.
daí surge: Tiririca.
pra protestar.
pra mostrar que não tá nem aí pra esse bando de político que fiz a mesma coisa.
(o que não sabe é que o Tiririca tá fazendo coligação com o bando).

mas enfim, voltemos ao meu pai: na hora em que ele falou, um pensamento me ocorreu na cabeça... honestidade virou uma virtude rara!
é muito estranho isso acontecer, honestidade nem deveria ser critério porque deveria ser óbvio. e é impressionante como a gente se acostuma a falar de honestidade como se falasse de algo incomum.

momento terapia no banco da faculdade
- nossa, tanta coisa pra fazer...
- e a gente vendo faz, faz, faz, e parece que não vai pra frente.
- e a gente se mete em tanta coisa...
- ...trabalhos...
- ...projetos...
- ...militância...
- ...e quando pensa no que tirar, parece que não dá pra tirar nada...
- ...é, só nós mesmas...
(silêncio)
- ...pois é. daí não come, não dorme, e não senta no banco pra conversar.

éramos felizes em 2015

você acordava tão cedo como eu. eu gostava disso em você.
e também não ligava pra café da manhã, o que permitia ficarmos enrolando, enrolando... pegávamos nossos livros de cabeceira - você também acumulava livros na cabeceira - e líamos todos. junto e misturado. discutíamos e no meio da discussão, lembrávamos de uma poesia, que estava em outro livro. este livro estava na estante então tentávamos lembrar a poesia de cabeça, para não ter que levantar.

as manhãs não eram de muito risos - você sempre foi um cara mais quieto, que a princípio eu achava que era timidez, mas depois de tanta intimidade vi que era teu jeitão mesmo.
mas com certeza tinha muita alegria em nossas manhãs.

éramos felizes, em 2015. talvez essa pequena cena ilustre isso.
triste que não acontecerá mais. triste ter medo de aceitar meu convite.
triste rejeitar a loucura de gostar de alguém que mora tão longe.
estamos em Estados diferentes.
estamos em estados diferentes - eu gosto, você ignora.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

para ler todos os dias quando acordar, e antes de dormir

a nossa sociedade é machista.
a nossa sociedade não superou nada, ainda, da condição de desigualdade de gêneros.
não falo de direitos, leis, regras de boa vizinhança.
em determinado momento, a mulher já não servia apenas pra cozinhar, lavar, passar, cuidar dos filhos e trepar com o marido, e teve que ingressar no tal do mundo do trabalho. e aí, é necessário que algumas normas de convivência se estabeleçam.
não dá pra ser moderno e declaradamente ser machista (até dá, mas a moda é ter isso superado).
não dá pra usar um terno arrumado, celular com câmera, ir nos bares da augusta e dizer que mulher é pra ficar em casa cuidando de filho, e que só pode transar depois do casamento.
tem que dizer que é contra essa mentalidade ultrapassada, tem que falar (pela namorada, obviamente) sobre as novas condições da mulher atual.

o homem aceita que a mulher trabalha, mas ridiculariza aquelas em que hoje, em 2010, manifestam a opressão que sofrem cotidianamente. essa opressão, que parece tão ilusão de resquícios de feministas, tão abstrata para os homens modernos de celulares modernos.

eis um pouco de concretude pro homem moderno do celular moderno, que diz de forma séria, ou em forma de alguma piadinha escrota.
eis um pouco de verdade, a opressão ainda existe:

seja apanhando do marido em casa, silenciada para manter a situação familiar.
(leia a crônica de luiz felipe pondé, na folha de são paulo, um dos jornais de maior circulação)

seja trabalhando todo o dia e sofrendo assédio desde a ida ao trabalho (com homens se aproveitando para esfregar nos ônibus e metrôs) até o próprio emprego, em que sofre assédio do patrão e dos companheiros de trabalho, com gracinhas de mau gosto.
(leia a crônica de luiz felipe pondé, na folha de são paulo, um dos jornais de maior circulação)

com o assédio moral de trabalhar tanto quanto ou até mais que os homens de seu trabalho e ainda assim ganhar menos.
(leia a crônica de luiz felipe pondé, na folha de são paulo, um dos jornais de maior circulação)

com o assédio de pedreiros, pintores, motoristas, mendigos e qualquer ser com pinto que anda na rua e, ao passar uma mulher, se sente no direito de tratar como bem entende - seja fazendo um comentário escroto, seja olhando como se fosse um prato de comida, seja estuprando.
(leia a crônica de luiz felipe pondé, na folha de são paulo, um dos jornais de maior circulação)

com a pressão da sociedade para se vestir gostosona, para se maquiar gostosona, para se cuidar gostosona para o homem. para ser como o padrão de beleza que a sociedade criou.
(leia a crônica de luiz felipe pondé, na folha de são paulo, um dos jornais de maior circulação)

e o pior de tudo, mais horrível que toda a crueldade histórica da opressão que vivemos diante do homem, é ser ridicularizada com o pouco de vozes que temos gritando "BASTA!". somos ridicularizadas, chamadas de peludas esquizofrênicas alucinadas, em pleno jornal de maior circulação.
(leia a crônica de luiz felipe pondé, na folha de são paulo, um dos jornais de maior circulação)

diante de tudo isso, só uma coisa a dizer: uga-buga

- algo tão ridículo quanto essa crônica, que eu não queria mesmo perpetuar ela por aí, possibilitando tanto um sucesso dessa BOSTA de gente (que ainda é professor, PROFESSOR!!!) ou risos de algum machista escroto que passar por esse blog. mas, vi como uma oportunidade também de incomodar mais mulheres, para haver mais gritos, para haver mais luta.

é preciso acabar com esse machismo escroto que assombra a sociedade.
é preciso acabar com esse capitalismo escroto que favorece esse machismo.

sobre as eleições (um início de conversa)

da série: eu queria que o Brasil fosse como as propagandas eleitorais do PT
primeira eleição que faço campanha. tantas vezes visitei o blog pra tentar escrever as impressões sobre como é estar inserida, mesmo que de forma mínima, no maior espetáculo da democracia burguesa que é esse período.
a verdade é que essa eleição é a mais bizarra do universo. dois candidatos, situação e oposição, com uma mesma proposta neoliberal para o país. Daí, eis que surge, a tal da "terceira alternativa": humilde, que vem lá do Nordeste, mulher... COM AS MESMAS PROPOSTAS!
considerando que já estamos com o pé na lama - pra não dizer na bosta - o que resta é se divertir com o pouco de cócegas que a esquerda tem feito nesse processo. e, discutir as eleições na Universidade, em casa, no dia a dia, de fato é divertido, quando se tem um candidato, quando se acredita em algo.




ah, não sei o que acontece, vim pra falar algo mais duro, mas acabei falando fofinho demais.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

"quem diria que viver ia dar nisso?"

eu, 22 anos.
eu, 22 anos, mulher.
eu, 22 anos, mulher, comunista.
eu, 22 anos, mulher, comunista, feminista.
eu, 22 anos, mulher, comunista, feminista, decidida.

deito no teu ombro, olho no teu olho...:
- e se a gente morasse juntos?

fico deitada enquanto você arruma suas coisas, faço cara de choro...:
- e se você ficasse mais um dia?

e as coisas do coração pega todo mundo, de todo jeito, por todos os lados.
e não tem nada mais gostoso do que ser pequenina de vez em quando. repito: de vez em quando.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

22

"Que setembro seja melhor e supere todas as angústias, medos, inseguranças e azar de um agosto fodido."
C.F.A.

Chega aí, setembro.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

depois, depois

"a gente fala disso depois, tá bom?"
tantas vezes falei isso.

e a gente deixa sempre tudo pra depois:
o teatro, o cinema, algumas conversas, o tempo pra nós dois.
a tal viagem que você ia me levar.
aquela manhã prolongada na cama.
uma noite esticada até de madrugada, por são paulo (ou santos, ou taubaté, ou ubatuba, ou.)

tudo pra amanhã.
menos aquela reunião.
aquela reunião é mesmo inadiável.

- eu sinto como se o amor tivesse indo embora e a gente deixando.
- e eu sinto como se o amor tivesse aqui e a gente empurrando ele pra longe.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

ele veio pra matar.

do amor
“sabe que o meu gostar por você chegou a ser amor, pois se eu me comovia vendo você, pois se eu acordava no meio da noite só pra ver você dormindo, meu deus como você me doía de vez em quando, eu vou ficar esperando você numa tarde cinzenta de inverno bem no meio duma praça, então os meus braços não vão ser suficientes para abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta, mas tanta coisa que eu vou ficar calada, um tempo enorme só olhando você sem dizer nada, só olhando e pensando, meu deus mas como você me dói de vez em quando.”
caio fernando de abreu

tanta coisa pra dizer que quando vejo fico calada.
tanto amor pra sentir que está transbordando.
acostumei a olhar o mundo com teu olhar junto.
tem mais graça, tem mais riqueza.


é que você virou meu sócio dessa vida.

da vida
ontem lembrei dos tempos da escola, dos professores, sempre dispostos a ensinar algo.
de repente a vida deles me soou tão triste. pensei quantas frustrações não se escondiam na cabeça erguida, para dar aula apesar de.
hoje a imagem deles me soa mais humana, menos abstrata que antes.
lembro de uma ou duas (talvez até mais) professoras que choraram em sala. do nada. quer dizer, hoje penso não ser do nada. mas na época era: chorou porque fulaninho falou com o cara do lado. e ela desabou.

vida miserável.

do (des)amor a vida
"Setenta e cinco policiais militares invadem, sem qualquer autorização legal, o assentamento. A comunidade, preta e pobre, se apavora: não tinha se visto em lugar algum tanta truculência e armas tão pesadas, como se viu neste dia. O tenente, baforando pinga, urrava enfurecido à procura das lideranças do movimento. Seus homens invadiram barracos, rasgaram lonas, quebraram louças. Homens e mulheres, apavorados, tentavam esconder as crianças, fugindo pelo mato. Tiros nos pés. Policiais algemando qualquer um que gritasse socorro, para então torturá-los. Narizes quebrados, testa e pescoço sangrando depois de coronhadas furiosas. Ameaças, gritos, ameaças. Quatorze supostas lideranças amontoadas nas viaturas, feito porcos mortos. Presos.

A criança de três anos pergunta ao policial se iria ser presa também. Ao receber a negativa, pergunta: mas se eu não for preso, tem que soltar os outros também, né?"
César Fernandes

http://www.youtube.com/watch?v=q-FHnfBrIN4&feature=related
estou assim como o youtube: nenhuma descrição disponível.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

troco pulmão esquerdo por cafuné

ai. é impossível adoecer agora e não associar com as aulas de psicossomática. tem suas coisas bizarras, mas faz um sentido, de alguma forma...
há tempos meu corpo mandava eu parar. agora, estou aqui, estragando pouco a pouco. sinto como se tivesse estourando o prazo de validade. preciso me botar de molho, em conserva, pra ver se dura mais.

e aí eu me encosto no sofá, e espero um cafuné. um cafuné que não chega.
acho que tenho me endurecido demais - é tanto que até perdi o costume de escrever aqui.
a sensação que tenho é que é esse mundo que tá me adoecendo.


é muita violência.
e o mesmo sistema que me agride, me oferece antibióticos caríssimos... lucram com tudo, até com meus pobres pulmões, fracos de tantos berros e palavras de ordem - às vezes jogadas ao vento, sem finalidade nenhuma a não ser tirar pra fora toda essa angústia.
enfim, pra quem quiser, taí: troco meu pulmão esquerdo por cafuné.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

11 meses dia 11

eu descobri um mundo teu, e ele é manso...

vai fazer um ano.
um ano que estamos entre risos, choros, e conversas, muitas conversas.
discussões infinitas por um mundo outro.
faz um ano que te convidei pra descobrir outro mundo. você me devolveu com outro(s) convite(s). aceitamos todos. mergulhamos nessa construção. pra onde dá, não sei.
quando questionamos, temos um ao outro para olhar no olho e dizer: confia, vamos mais um pouco
.
.
.
continuando, continuando.

entre a continuidade da construção infinita, muito carinho. muito amor. muito muito. porque a gente nunca quer pouco, nem um do outro, nem de nada do mundo.
a gente quer muito, e quer muito muito junto.

e a gente se convida, pra construir mundo(s), sonho(s), revolução (da vida, do amor, de tudo).
nos dias fáceis, nos dias difíceis, todos os dias, é sempre bom te ter comigo.

não nos afastemos, vamos de mãos dadas.
a jornada é longa, e te ter ao meu lado é sempre uma alegria grande. você me dá força pra seguir
.
.
.
continuando, continuando.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

era verão e não tinha ventilador

e a gente era feliz, mesmo assim.
risos enquanto transpirávamos. a vontade de sair era grande, mas nos refugiávamos do mundo naquele forninho - meu apartamento.

e a gente ficava juntos, mesmo assim.
às vezes, só com as mãos, mesmo que suadas.
abraçados, pra valer, só a noite, quando vinha algum ensaio de brisa, da janela.

o apartamento vazio, recém-alugado, poucos móveis. você trouxe saleiro, cafeteira, salmão congelado e roubado, filmes e livros. música, muita música.
eu te dei o calor... e meses depois, o tal do ventilador.

no entanto, não atravessamos o inverno.
ficamos estancados, como o ar de Santos no verão.
e hoje você faz música, enquanto eu escrevo uns textos perdidos no blog.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

e a gente vai se amar

coração batendo forte, sorrisos de bochecha doendo.
coração acelera, como quem pergunta, a cada batimento:
será?
será?
será?

e a gente vai se amar...
e a gente vai se amar...
e a gente vai se amar...

será?
será?
será?

cheiro de novidade, que vem por aí, dizendo pro corpo cansado:
fique vivo! tem amor na porta.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

polícia para quem precisa...


(protesto contra baixo salário e más condições de trabalho)

Só pra lembrar pra que ela serve...
(Foto retirado do UOL, há)

sábado, 29 de maio de 2010

só pra constar...

hoje dormi esperando um telefonema teu.

domingo, 23 de maio de 2010

continuando, continuando...

'Dói de todos os lados,
os de fora, os de dentro,
de baixo e de cima, nenhuma saída,
e você meio cego, meio tonto,
só sabe que tem que continuar,
meio sem esperança, as ilusões despedaçadas,
o coração taquicárdico,
língua seca,
e continuando.
Continuando.'

"Tateando traços difusos, vagas promessas. Nunca mais sair do centro daquele espaço para as duras ruas anônimas. Nunca mais sair daquele colo quente que é ter uma face para outra pessoa que também tem uma face para você, no meio da tralha desimportante e sem rosto de cada dia atravancando o coração. Mas no quarto, quinto dia, um trecho obsessivo do conto de Clarice Lispector "Tentação" na cabeça estonteada de encanto: "Mas ambos estavam comprometidos.Ele, com sua natureza aprisionada. Ela, com sua infância impossível"."

"Sempre achei que os dois tipos mais fascinantes de pessoas são as putas e os santos, e ambos são inteiramente destemperados, certo? Não há que abster-se: há que comer desse banquete. Zézim, ninguém te ensinará os caminhos. Ninguém me ensinará os caminhos. Ninguém nunca me ensinou caminho nenhum, nem a você, suspeito. Avanço às cegas. Não há caminhos a serem ensinados, nem aprendidos. Na verdade, não há caminhos. E lembrei duns versos dum poeta peruano (será Vallejo? não estou certo): “Caminante, no hay camino. Pero el camino se hace ai anda”."

Todos do Caio Fernando. (e minhas, por que não?)

quinta-feira, 20 de maio de 2010

eles estão por fora do que sinto por você

eu entendo. é complicado. daí ninguém entende. nem você. nem eu, eu sei. mas de mim, não dá pra me afastar. daí eu fico longe de todos. dos outros. de você. de mim, de certa forma.
porque é complicado e ninguém entende. nem você. nem eu, eu sei.

daí a única coisa que faz sentido é chorar, e estourar meus tímpanos com uma música bem alta no fone de ouvido, enquanto canto desesperadamente para o condomínio, a rua, o bairro, a cidade... quem sabe até pra você ouvir, do outro lado, do outro lado.

da série: diálogos
eu: falando em gritar alto, cantava tão alto agora que estou até com vergonha de sair do prédio.
ele: não precisa ter vergonha, os outros é que disfarçarão a inveja.

terça-feira, 11 de maio de 2010

eles estão por fora

"vamos embora, companheiro, vamos. eles estão por fora do que sinto por você.."

de todos os cantos.
chega a noite e todos vão pra suas casas.
os que tem emprego, voltam de seu emprego.
os que estudam, voltam de suas aulas.
as famílias burguesas pedem suas pizzas e sentam no sofá assistindo a novela.
as famílias mais simples comem seus lanches sentados no sofá assistindo a novela.
as famílias mais pobres se viram como podem, de preferência sentados no chão assistindo a novela.



o acesso a tv globo é maior que o acesso a saúde, alimentação e educação.

desse lado da cidade.
universitários despertam, mau-humorados para suas aulas. comem suas maçãs, tomam seus sucos de laranja.
um ensino técnico. uma graduação onde há repasse de conhecimento, apenas.
existe medo de uma construção conjunta.
existe algo de perigoso quando se forma pensadores, e não se fabrica mão de obra.
"os incomodados que se retirem" - era o que diziam quando não gostava da brincadeira. hoje dizem também. os incomodados vão embora. mas o problema é que não existe lugar pros incomodados. lugar de incomodado é incomodando.

do outro lado da cidade.
300 barracos incendiados. 400 famílias sem lar. quando se tem pouco, o saldo fica sempre negativo. voltar para casa e não ter casa. não ter roupa. não ter comida - se é que já tinha, antes.
incêndio é acidente.
300 casas de madeira em cima de mangue não é acidente.
400 famílias morando em cima de um monte de lixo não é acidente.
a miséria não é acidente, mesmo que tentem nos falar isso o tempo todo. miséria é braço da burguesia.

e é por isso que rico adora pobre. e é por isso que rico sempre que pode ajuda pobre. pra que ele continue ali, com sua vidinha humilde, simples, explorada e submissa.

domingo, 9 de maio de 2010

roda mundo, roda gigante...

A miséria e as vidas miseráveis.
Ninguém passa. Se Caetano dizia "De perto, ninguém é normal", eu sou mais pessimista e digo: "De perto, somos todos miseráveis". Não se trata de uma questão econômica. A miséria vai além, e nos consome no pior dos espaços, que é nas relações humanas. Somos sujeitos que amam de forma miserável, que adoecem de forma miserável, que trepam de forma miserável, que sonham de forma miserável, e que lidam com suas próprias misérias de forma miserável.

Da série: "I should've changed that fuckin´ lock..."
"nossa relação é perigosa, meu amor! há muitos abutres e as janelas têm ouvidos. não podemos nos encontrar e sequer conversar em qualquer lugar. é preciso tomar todo o cuidado possível para que não descubram nada, nada! só assim poderemos nos amar eternamente, por debaixo das botas desses militares possessivos. ha!


um beijo grande.

(que saudade, bel)"


Que saudade, que saudade.

domingo, 11 de abril de 2010

"abandono o que é pronto, e digo adeus..."

sete meses desde 11.09. sete meses desde o nosso primeiro beijo. um início de romance, numa data assim, só poderia dar nisso: catastrófico, caótico, devastador...
e no fundo, no fundo, algo cruel dentro da gente desperta um sorriso que diz: "ah, eles merecem"

sim, sim. nós merecemos.
nossas alegrias, dores. nossa construção (tão criativa!) de relação.

"Sem você
Essa praia não seria linda assim
Com você
Ela linda do inicio ao fim
Pra você
Eu sempre digo sim..."

sábado, 10 de abril de 2010

"você não é feliz."

ela diz, como quem fala sobre o tempo, no elevador.
ela acusa, como se soubesse muito sobre a minha vida.
ela afirma, como se entendesse quem eu sou.
- ... - ... - ... -
nada a dizer. conversas a minha volta e a cabeça atordoada. quem sou eu, o que faço. cobranças. minha e dos outros também. dor. olho inchado. não quis olhar para o rosto dele, nem que me encostasse. os olhos inchados e o corpo retraído também não permitia.
"que merda que é amar." - confessa. deixa escapar uma declaração, no meio do caos.
tenho motivos para não ficar junto, e motivos para ficar. é quase que uma aposta o que escolho, hoje. espero o dia em que terei certeza, e direi com voz firme: te quero, e sou feliz com você.
mas hoje a voz quase não sai. está fraca.
hoje os olhos são pesados e secos. não tem mais lágrima pra cair, mas existe vontade.
foi-se o tempo em que era: amor, escola, família. tudo separado. hoje é tudo bagunçado e já não sabe o que junta com o quê. e a política se mete em tudo quanto é canto.
um romance que começa numa elaboração de texto de enade.
no meio disso tudo, uma declaração: gostei de te conhecer.
fui eu que causei isso.
agora aguenta.
- ... - ... - ... -
o pior de tudo, ao dizer "você não é feliz", é que não quis dizer "sim, eu sou.".
queria dizer: "você também não é."

quinta-feira, 8 de abril de 2010

"a nossa poesia é uma só, eu não vejo razão pra separar..."

verborragia confessionária
eu sinto muito muito muito muito muito. sinto mil coisas. sinto fisicamente - o meu corpo, a dor na coluna, a dor na cabeça, o peso no pescoço e nos ombros, os olhos tensos nas coisas, tentando acompanhar, o sono que me domina nas horas inapropriadas - e a insônia que toma conta na maior parte do tempo. sinto emocionalmente, paixão por tanta coisa, amor por algumas pessoas que me fazem tão bem. sinto a dor das coisas do mundo - a fome, a miséria, as notícias deprimentes (seu conteúdo triste e seu formato - a forma que se escreve, tão burguesa- nojento e detestável). sinto tédio, da graduação, ao mesmo tempo em que acho que desprezo muito mais que ela merece. tanta coisa neguei estudar, ler, pensar, e hoje sinto falta. sinto ansiedade, muita muita ansiedade. tanta coisa pra aprender, tanta coisa pra ensinar, tanta coisa pra trocar, tanta gente com quem trocar...
e no meio disso tudo, eu. eu e meu cotidiano besta. eu e minha vida besta, comparada ao mundo grande e tantas vidas bestas. eu, com meu cotidiano besta mas possivelmente com alguma importância, quem sabe, para algo ou para alguém.

dos muros miseráveis
nesse blog pouca coisa falo de concreta. pouco comento de tantos acontecimentos, pelo menos não de forma objetiva. no entanto, estranhamente a questão dos muros da favela me motivaram a escrever. e é estranho, porque depois de tanta coisa deixada pra trás, tantos acontecimentos merecedores de um texto, um comentário, ou algo assim. e eu falarei de algo do rio de janeiro, lugar que pouco frequento.
acho que qualquer acontecimento hoje permite ser um puta analisador da realidade que temos, de forma mais ampla. qualquer dia comum da minha faculdade pode servir para fazer uma análise da conjuntura da educação no Brasil hoje. no entanto, escolhi falar dos muros. dos muros do rio de janeiro. dos muros miseráveis do rio de janeiro.
sei dos muros há um tempo, mas ele era apenas uma coisa a se acrescentar das coisas bizarras que temos no mundo. essa chuva, esse desastre que matou tanta gente (recuso a numerar - o "tanto" traz muito mais emoção que uma quantidade númerica monstruosa - porque um pra mim é tanto.). esse desastre que matou tanta gente pobre.
há pouco, no começo do ano, lembro de ter tido um desastre em angra dos reis, numa pousada dessas burguesas. as pessoas ficaram chocadas. melhor: a mídia fez com que as pessoas ficassem sentidas, sofressem pelas mortes ali.
a mídia faz o mesmo com as tantas mortes da favela, e tá até ajudando a arrecadar doações - olha só que bonzinhos! mas não deixa de citar, nas entrelinhas, como é complicado essas pessoas que vão morar em lugares inapropriados.
o governador até declara: quem manda irem morar lá? não pode morar lá! é um absurdo pensar que viver lá aparente ser tão escolha como alguém que decide morar no copacabana ou no leblon.
não gosto de falar muito disso, porque as pessoas automaticamente vêem como uma "defesa dos pobres", e caem para um outro erro: considerarem coitadinhos e tratarem como animais indefesos.
a questão é: a chuva é natural - e nem sei dizer até que ponto não somos até responsáveis por esse tempo doido, mas enfim. tempestades podem até ser desastres naturais. terremotos podem até ser desastres naturais. mas a miséria não é. e acho uma filhadaputice da mídia burguesa, comentar dos desastres naturais e pouco falar do desastre do capital, que mata muito mais gente que qualquer chuva, que qualquer tremor de terra. que gera sofrimento, que produz uma lógica nojenta e detestável.
eu não entendo como as pessoas podem ser a favor desse troço bizarro e nojento. como as pessoas podem se omitir diante disso. não entendo mesmo. dêem a solução que quiserem, a questão é que é inaceitável, pra mim, conformar-se com a condição de viver num sistema que produz miséria. é inaceitável viver num sistema que dependa de miséria. que funcione na base da miséria. seu combustível é pobreza e sofrimento, e isso me adoece.
e aí faz muros na favela. pra ninguém ver. pra copa bombar no brasil. e as pessoas estão ali porque querem. é uma análise interessante. primeiro, cercam a burguesia: condomínios gigantescos, cheios de segurança. agora, cercam a favela, para ela não tomar conta da cidade. um novo conceito de território.

de amor, porque sem amor não dá
eu tô angustiada, como tenho ficado ultimamente. a angústia toma vários rostos - e você é um deles. cinco tentativas frustradas de escrever mensagens que respeitem o limite de caracteres permitidos pelo celular. nenhuma cabe tudo que quero te dizer. e tudo que queria te dizer era que queria ouvir de você. o que? é estranho dizer que queria ouvir que me ama. isso soa carente e fraco, e não tenho me sentido nem carente, nem fraca. eu tenho lidado melhor com a angústia, e uma prova disso é saber falar dela com você, e não ficar discutindo. acho que a angústia não passa pelo medo de você deixar de gostar de mim, mas de você deixar de gostar de mim e não avisar. e fico ansiosa, querendo saber se ainda gosta, se eu posso me declarar e se posso contar com você. porque eu amo você pra caralho e tô gostando de ficar com você. e quero colo, e quero te dar colo. colos mútuos. eu falo, você escuta. escuta e diz e troca. você fala, eu escuto. escuto e digo e troco. e a gente chora e ri. você é um grande amor meu. um amor pra vida inteira, daqueles que será sempre lembrado com sorriso. sorriso gostoso que vem quando penso em você. você diz que meu sorriso é bonito e eu digo que ele é bonito porque reflete amor que vem de nós dois.

depois de tanta angústia, um não-final de amor.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

ok. falemos de "angústias"

política. tenho vontade de dar um puxão de orelha em todos os malditos que burocratizaram esse negócio, e fez com que ela ficasse tão alienígina na vida das pessoas - automaticamente fazendo com que a vida das pessoas fossem mais e mais alienante.

vejo política em tudo. na festa open bar (drogas e mais drogas disponíveis. alienação para permitir uma maior produção depois), no cartaz da tal festa (uma mulher semi-nua - século XXI e ainda somos objeto). na universidade, no trabalho, nas relações... ah! relações.

não faço política porque sou burocrata. faço política porque... porque... (paro em frente ao teclado. mãos no queixo, apoiados na mesa. por quê faço política afinal?). eu e Gui conversávamos outro dia, andando pela rua, a noite: pelo quê você luta?
há tanto tempo fazendo parte desse universo e nunca havia me perguntado tal coisa, aparentemente tão simples. um burocrata, entregue já aos vícios da esquerda, responderia de bate-pronto: "por um mundo comunista". de peito cheio, e cara de revolucionário.

a conversa foi fluindo num sentido de pensar em liberdade, em companheirismo, em amor, em amizades, em carinho, respeito, confiança... é. é essa a minha luta. esquerda, direita. a favor, contrário. instituinte, instituído. conservador, transformador. reformista, revolucionário. são milhões as posições e decisões que nos cobram dia a dia. mas de nada valem essas palavras se elas não vem acompanhadas do que realmente importa. afinal de contas, pra que se luta?

tendo isso mais claro, a militância se torna princípio na sua vida. não é parte dela. não é trabalho de 8h por dia. e falemos de "angústias", então. qual minha surpresa foi receber por e-mail o afastamento de um companheiro no movimento estudantil. qual minha surpresa maior foi não me surpreender por isso.

não tenho problemas em falar de sentimentos em listas de e-mail, em fazer da reunião quase que uma terapia de grupo. não tenho problema de misturar amizade com política, sentimentos com discussões... sou contra quando as pessoas justamente fazem isso, tornando isso separado.

"estou angustiado e por isso vou me afastar" - disse.
pois é, eu também tenho angústias. me irrito dia e noite com uma série de coisas, me pergunto a cada cinco minutos "o que que eu estou fazendo aqui". a "angústia" me move, não me imobiliza. a angústia me faz contar mais com meus amigos, e não me afastar deles.

sentimentos, decepções, frustrações, são inevitáveis. as nossas escolhas é que dizem muito sobre o que pensamos, e não o que sentimos. se eu sinto angústia, aproximo meus amigos, e não os afasto. se eu sinto raiva de algo, sinto medo, eu me mexo, e não fico parada me lamentando.

e pra terminar, um poema que me veio na cabeça, quando recebi o tal do e-mail de abandono. sei lá. faz tempo que não escrevo aqui, e dessa vez escrevo pra desabafar. odeio quando uso o blog pra isso. pra dizer coisas que sinto que não vale a pena dizer pra aquela pessoa com quem confiava tanto, tanta coisa.

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
[Mãos dadas, Drummond]

quinta-feira, 18 de março de 2010

Nossos inimigos dizem, Brecht

Nossos inimigos dizem: A luta terminou.
Mas nós dizemos: ela começou.

Nossos inimigos dizem: A verdade está liquidada.
Mas nós dizemos: Nós a sabemos ainda.

Nossos inimigos dizem: Mesmo que ainda se conheça a verdade
Ela não pode mais ser divulgada.
Mas nós a divulgamos.

É a véspera da batalha.
É a preparação de nossos quadros.
É o estudo do plano de luta.
É o dia antes da queda
De nossos inimigos.

terça-feira, 16 de março de 2010

nota de falecimeto - parte 2

morte.
o pescoço duro, as mandíbulas doem. o corpo sente a morte, o corpo sente o corpo quente, nervoso. o corpo chora, chora, chora pelo olho seco que nem uma lágrima cai - e a que cai, o calor seca, rapidamente. mas o corpo chora desesperadamente, e ninguém nota.
as mãos tremem. não se sabe o que é - mas minimamente te lembra: você é mortal.

luto.
algo morreu - hoje, ontem, anteontem, todos os dias algo morre. talvez algo tenha sempre algo morrendo e algo nascendo em nossas vidas.
"é tudo questão de percepção" - foi meu lema, há uns meses atrás.
hoje é mais morte que vida.
um pouco dos outros morre e nasce todos os dias, também. e ultimamente há mais morte do que vida na nossa relação. um pouquinho que se deixa em cada canto, em cada dor, em cada choro.

será que nosso amor resiste ao sopro desse vento que parece querer transformar tudo em areia?

poesias.
(porque ninguém é de ferro)

tinha estendido minha orfandade
sobre a mesa, como um mapa.
desenhei o itinerário
até meu lugar ao vento.
os que chegam não me encontram.
os que espero não existem.

e tinha bebido licores furiosos
para transmutar os rostos
num anjo, em copos vazios.
FESTA, Alejandra Pizarnik (Los trabajos y las noches, 1965)

sexta-feira, 12 de março de 2010

nota de falecimento

o jornal da manhã anuncia duas mortes no seu bairro. escuto sentada, em frente a tv. sem café, porque não há cigarros também. há tempos não se toma café em casa.
mas falemos do jornal da manhã, que anunciava dois mortos no seu bairro. por um instante, rápido, mas concreto, aguardei que a notícia dissesse o nome dele, mostrasse o rosto (as olheiras fundas e o rosto de quem esqueceram de avisar que já está morto), falasse algo dele - quem sabe algo de mim também.
por instante desejei a morte para ter alguma notícia dele. seria saudade? morte metafórica? ato falho?

"e tudo que eu andava fazendo e sendo eu não queria que ele visse nem soubesse, mas depois de pensar isso me deu um desgosto porque fui percebendo (...) que talvez eu não quisesse que ele soubesse que eu era eu, e eu era"
caio fernando abreu

quinta-feira, 11 de março de 2010

"todo dia o sol levanta e a gente canta o sol de todo dia."

um dia de cada vez. difícil pensar no futuro, se o presente é tão exigente. na verdade, às vezes parece isso: trinta dias num só gole, na mesma dose. pague por um, leve trinta - em intensidade.
e pouco tempo tem pra digerir grandes coisas. pouco tempo tem para notar as proporções das coisas. olha-se sempre de perto, de dentro, e de perto e de dentro são olhares comprometidos.

re-penso, re-crio, re-lembro, re-construo aquele momento. dia intenso, dia intenso.
medo. nervoso. terminar o dia com dor de barriga. acordar com o coração disparado. almoçar numa só garfada. fazer coisas por paixão, coisas que o que não falta é razão pra explicar. então, se a razão explica, se a razão ampara, o negócio é ir com paixão, com tesão.
-se joga, nega!
é isso que a gente tem que se falar. e recomeça o dia.

erros, acertos. anos intensos. meses intensos. dias intensos.
o que fazer quando seu compromisso não segue dias úteis e férias e recessos? todo dia é dia de transformação. todo dia é dia de agir. todo dia é dia de contestar.
e eu adoro todo dia.
mesmo que adoeça.
mesmo que reclame.

"...e a gente dança venerando a noite..."*

*canto do povo de um lugar, caetano veloso.

sábado, 6 de março de 2010

pra não dizer que não falei das flores

ela diz pra ele:
às vezes você pode ser explicado pela seguinte cena:
um pai, que passeia com seu filho pequeno. os dois caminham em um terreno gigante, com flores, árvores, pedras e tudo mais. de repente, aquele menino pequeno, indefeso, com os olhos recém-inaugurados encontra alguma beleza da natureza, entre aquelas tantas coisas naquele espaço imenso. está no chão, e parece a coisa mais linda que o menino já viu - tão pequena diante daquela imensidão.

o menino não entende como algo tão bonito pode ficar assim, tão escondido do resto do mundo. mas é tão bonito, tão bonito, que queria guardar pra ele.
e aí, por um tempo o menino fica olhando aquela beleza rara e esquecida, e pensa se pega e mostra pro mundo ou se guarda pra ele.

nem o pai notou.

às vezes eu acho que te descobri, que encontrei uma beleza que, ao contrário do menino, algumas pessoas viram já - e vêem, mas a vontade que dá é de te usar de modelo pro mundo inteiro, de te mostrar e dividir com todo mundo a pessoa maravilhosa que você é.

(mas antes de fazer isso ainda colo em você um adesivo "CUIDADO, FRÁGIL")

*as coisas bonitas que escrevo de você são pra você. e pra não dizer que não falei das flores, coloco aqui (em itálico, pra dar tom de sussurro).

quarta-feira, 3 de março de 2010

nota rápida

o problema não é precisar de alguém.
o problema é ser problema precisar. é quando o outro não cumpre o papel de "precisado".

constatação egoísta e mimada.

e estamos conversados.

a gente nunca pára a gente porque quer. a gente, pela gente, ficava a vida toda porque nunca vai se esgotar as coisas que tem pra te falar. o desejo nunca morre - a gente faz o schopenhauer ser um mentiroso. o que faz a gente parar são os outros - mundos, seres, compromissos, universos...
e é praticamente impossível lidar com intensidade de forma moderada. não existe intensidade sensata, paixão comedida, amor que não seja urgente. tudo isso é balela do capitalismo pra fazer a gente aguentar oito horas ou mais de trabalho e saber lidar com fins de semana.

o amor não respeita os fins de semana.

e eu não sei ter você de pouquinhos.
(e isso eu acrescento com dor nas costas, olhos inchados e antecipando um dia exaustivo, que precede outros dias mais exaustivos ainda - sem perspectiva de repouso nos próximos dias)

O meu tempo inteiro, só zombo do amor...

a noite dos mascarados às vezes parece nunca terminar.
e ela, que nunca foi muito chegada em carnaval, aparenta estar sempre vivendo um constante feriado, com vários amores de verão começando - e prestes a acabar na quarta feira de cinzas.

"deixa a festa acabar, deixa o barco correr, deixa o dia raiar
que hoje eu sou da maneira que você me quer
o que você pedir eu lhe dou..."
noite dos mascarados, chico buarque.

e quando ele vai, ela ainda olha pra porta por alguns minutos, talvez 10, talvez 30... custa a acreditar que ele realmente foi. sempre resta uma esperança de voltar e então agarrá-la em seus braços, como se tivesse ficado por anos fora.

e ele não vem.
e ele não vem.
e ele não vem.

e então ela vai procurar em outros olhos um amor que nunca teve.
ela procura sempre por novos romances. enquanto não aparece alguém novo, cria expectativas de quem seria essa nova paixão - os questionamentos são mais variados: cor do cabelo, profissão, o que pensa sobre o MST, se tem bom humor, se gosta de sorvete de flocos, qual a influencia dos pais na vida dele.
ele procura sempre formas de repetir aquele perfil de romance que gosta tanto.
- assim não vale - ela diz pra ele, como se o amor fosse um jogo e ele quebrasse as regras - não vale procurar alguém que lembre de mim.
ele sorri, envergonhado.
- é, meu bem, você faz meu tipo. de verdade.
e ela sorri, toda metida.
mas ainda não entende. e enquanto pensa em trabalhar mais a questão, ele a rouba um beijo e ela retribui, colocando os braços em seus ombros e dando um beijo apaixonado.
as reflexões ficam para uma próxima vez.

terça-feira, 2 de março de 2010

canto inferior esquerdo da sala - o retorno

ainda somos da parte inferior - não tão canto, não tão esquerdo (pelo menos não no sentido físico). mais de um ano e meio depois da última declaração nesse blog, eis que re-surge um episódio que infelizmente ficará marcado por toda a eternidade, dos meus doces amargos tempos de graduação.

aula de psicopatologia. após dois anos de uma torturante punhetagem biologicista (vulgo eixo biológico), algo muito próximo de um curso junior de medicina de "brinde" na graduação; mais uma sobrecarga grande de terapias cognitivo-comportamental, neurociências, etc, etc; no quarto ano da graduação, ainda somos obrigados a ter a tal aula de psicopatologia, segunda feira à tarde.

atividade do dia: aula de transtornos de ansiedade. na semana anterior, o professor já avisava, entusiasmado:
- tragam o CID 10, pessoal, pois iremos fazer uma atividade diferente na próxima semana!
tudo bem. há anos nós falamos para que os professores fossem criativos. anos solicitando mais que apenas aulas expositivas. óbvio, coisa boa não viria.

sobre a tal da atividade
fomos divididos por diagnósticos. o professor gritava "quem quer fobia generalizada?"/ "quem quer fobia social?"/ "quem quer transtorno-obsessivo-compulsivo?"... e as mãos iam se erguendo no caos. o nosso era transtorno pós-traumático. obviamente, nós, estudantes do canto inferior esquerdo da sala, primeiramente tivemos que fazer um comentário breve sobre nossas experiências traumáticas da escola e da faculdade.
bom, a questão é que a atividade tão criativa consistia em: diante do diagnóstico, inventar um caso clínico! sim, quando digo caso clínico, eu digo sujeito. quando digo sujeito, eu digo uma vida.
nós, do canto infeior esquerdo da sala, logo nos entusiasmamos para criticar.
a sala, nada canto inferior, muito menos esquerdo, ria animada com as vidas inventadas. oh! uma mulher com medo de lagartixa - mas sempre tranquila quando um homem estava por perto para salvá-la.
há. o machismo impregnado nas nossas entranhas.
o riso gostoso do machismo exposto por um grupo de mulheres, que inventavam uma vida para sustentar um diagnóstico.

ao questionarmos sobre a proposta da atividade, não ficamos surpresos que a pergunta não fora compreendida, e a resposta nada satisfatória. ao falar que achamos muito bizarro ter que criar uma história de vida a partir de pressupostos teóricos, uma professora defende fervorosamente:
- mas isso não é teoria, é diagnóstico.
perdão, professora querida. por um momento achei que os diagnósticos haviam sido criados pelo homem. talvez tenha entedido algo errado. talvez eles sejam verdades que nós descobrimos, durante nossa evolução humana?

não felizes em fazer cada grupinho ir, felizes e bonitinhos narrar sua vida inventada, a sala em coro tentava adivinhar, como num jogo de mímica, de qual diagnóstico o grupo estava fazendo referência.

fim de aula. mais um transtorno pós-traumático pra história.
pensei: quero fazer outro curso.
pensei de novo: quero fazer outro mundo.
é, essa psicologia é só um sintoma.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

é correria pra tudo quanto é lado...

... e quando eu entro em algum lugar que tem ar condicionado, a primeira coisa que me dá é vontade de te ver, te beijar e te agarrar. é só aparecer um ventinho artificial que a saudade vem com tudo, tratorando tudo.

para o suor, caem as lágrimas.
fases do amor: vontade de tudo, vontade de nada. ficam alternando pra lá e pra cá. e eu tonta, no meio dessa brincadeira toda.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

post derretido

do calor de santos .
tudo derrete e tudo é quente nessa cidade. a roupa é quente, a pele é quente mesmo distante do Sol. não existe nada distante do Sol, afinal. é tudo quente, quente, quente.
ventiladores não servem, nada gelado sobrevive. o corpo fica melado e dá preguiça de tocar e abraçar - restam dedos que se encostam, em um manifesto singelo de carinho.
a cabeça pesa, o corpo pesa... porque além do corpo tem quilos e litros de calor.
qualquer coisa que dá errado irrita porque tudo dá mais trabalho debaixo desse calor. e aí, depois de qualquer tentativa frustrada de algo, tudo que resta é sentar e lamentar. não se pode nem chorar - é preciso conter o mínimo de líquido que o corpo possa manter.

do calor da vida .
se na cidade o calor é descontento geral da população, motivo inclusive para interagir com estranhos - talvez para justificar de alguma forma a aparência lambida e melada e inchada - as vidas estão mais frias.
existe calor nas relações. embora evita-se abraços, as pessoas conversam e tentam ficar juntas.
o que existe de frio é a descrença da vida, do mundo.
discussões ingênuas de que o mundo será resolvido naturalmente, que as coisas vão bem se comparadas com antigamente.
aula de psicopatologia, definição de paixão. ah! como cabe isso em mim. como gostaria que não coubesse tanto, às vezes. é muita paixão, que gera olhos vermelhos de raiva, de amor, de choro - seja triste, seja alegria.
seja o que for, os olhos, o corpo todo está sempre vermelho, prestes a explodir - haja espaço no mundo em que se consiga despejar tudo isso que ameaça explodir a cada instante dentro de mim.
não existe lugar, e vai saindo aos poucos, às vezes de forma bruta, às vezes mais sutil.
e é difícil de viver num mundo em que a vida sua não cabe.
me sinto tão E.T. como me sentia com 12 anos. a diferença é que hoje, pelo menos na maior parte do tempo, sou feliz por ser E.T. a diferença é que agora sou E.T. com argumentos.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

o tempo que antecipa o fim também desata os nós

é mais uma manhã. uma manhã que vem como sequência de uma noite encerrada às 2h da manhã, deitada sozinha em uma cama de solteiro.
ela acha frustrante toda noite que se encerra em qualquer horário, sozinha numa cama de solteiro. não vê porque as pessoas dormem sozinhas num mundo cheio de tanta gente solitária.
não vê porque tomar tantos antidepressivos, e não se busca companhia pra dormir, alguém que te faça carinho e te diga boa noite e bom dia.
ela dorme sozinha às 2h da manhã, e acorda sozinha.
6h da manhã.
volta a dormir. seu plano é dormir até ter algum motivo pra acordar.
7h da manhã.
dorme ainda, frustrada por ter só passado uma hora. por um instante, desejou ter percorrido um dia inteiro + 1h. seria bom ter acordado só no dia seguinte.
8h da manhã.
impaciente. não quer acordar, também não consegue sequer sonhar. não existe pesadelos, também, que a façam não dormir mais.
9h da manhã.
decide ficar lá, imóvel, até que surja alguma notícia. decide esse novo plano: não há mais sono, ficou com dor de cabeça de tanto tentar dormir. faz um calor fudido. pensa que deveria ter um ventilador no quarto. abre toda a janela e espera sentir algum vento. permanece imóvel. voltada pra cima, com a cabeça pro teto, pensa em coisas que poderiam fazer ela levantar.
esperava alguma ligação que fizesse sua vida mudar.
um acidente, um prêmio, uma morte de alguém. uma viagem, uma pessoa que voltou de longe, uma pessoa que decidiu ir pra longe. um emprego, ou uma greve.
nada acontece.
nada acontece.
nada acontece.
10h da manhã.
o telefone toca. do outro lado da linha, o namorado. combinam de almoçar em família em uma cantina italiana. a mãe também liga, querendo saber se está tudo certo.
não teve acidente, prêmio, morte, viagem, volta, ida, emprego ou greve.
almoço em família com namorado.
sua última esperança é algo no jornal, mas no jornal não tem nada que não seja de carnaval.
pra piorar, é carnaval.
nada acontece.
nada acontece.
nada acontece.
é mais uma manhã.

... me diz, foi só amor ou medo de ficar sozinho outra vez? cadê aquela outra mulher? você me parecia tão bem, a chuva já passou por aqui - eu mesma que cuidei de secar.

deixa pra lá, eu vou, adeus, meu coração já se cansou de falsidade...

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

eu quis amar o que o tempo não muda.

eu deixo livre e você fica.
você fica.
você fica.
eu deixo livre e você vai.
você volta?

você foi.
e de repente
sou eu e saudade
sou eu e lembrança
sou eu e a vontade.

e se não existe vontade de mim, em você, a porta está aberta.
e você vai.
eu disse vai e você foi.
a porta estava aberta e você foi.
um beijo na testa, um abraço apertado e um "até logo".
você vai - você foi!

e quando tiver vontade de mim de novo, você volta.
a porta continua aberta.
é fato que a porta estará aberta, como sempre estará.
a porta não fecha pois há tempos perderam as chaves.
ficou por aí, debaixo de algum tapete,
entre algumas promessas que hoje são vistas como ilusão.
as promessas ficam perdidas com a chave.
se não se fecha mais a porta, também já não se usa mais as promessas.

um dia, quem sabe, a porta estará aberta, mas mudo de casa.
e no quarto estará as roupas,
o lençol usado,
o cheiro,
as lágrimas.
ingressos de cinema amassados, anotações, presentes.

quando for, será que deixo tudo?
ou levo comigo?
e se eu fico, você vem? quando?
e quando você vai tirar o pó da nossa lembrança?
e quando vai me tirar debaixo da sua pilha de coisas.
eu vi, eu olhando pra você - sorrindo (dia feliz aquele) - debaixo das suas coisas, que foram ficando em cima da gente.
de repente a imagem que parecia tradução da realidade, ficou gasta.
ela perdeu a cor e ficou tão branca-e-preta quanto foto antiga, daquelas de amor de outra década.
você não pendurou nossa lembrança, deixou coisas acumularem por cima dela.

e você diz que me ama, e eu digo que acredito - e acredito!
mas o que a gente faz com aquela sensação do amor que tá indo embora?
o que a gente faz quando olha no olho e se vê indo embora,
quando de repente já não é mais tão fácil se achar lá dentro - tem que dar uma procurada.

seu olhar aponta pra parede do seu quarto mas não é a parede que você vê.
eu estou do seu lado, te assistindo, e você assiste seu passado.
seu olhar aponta pra tela do computador - emails e emails acumulados - e não é o email que você olha.
eu estou do seu lado, te assistindo, e você assiste seu calendário - a chance de reencontrar um outro amor.

e eu entendo, entendo tudo.
tudo é compreensível, e tudo é entendido e respeitado e conversado.
mas o que se faz com a dor que aperta?
o que fazer com a dor que é olhar no olho e não se achar?
de repente seu olho não me reflete mais.
e eu entendo. até isso eu entendo.

e a porta está aberta, e dessa vez você vai.
e eu te espero voltar, porque hoje, é só isso que tenho:
uma porta aberta.
a saudade,
teu cheiro,
roupas,
lençol usado,
ingressos amassados,
anotações,
e vontade.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

tudo sobre nada, nada sobre tudo. sobretudo, nada.

da série, escrevi mas não mandei:
meus meninos tão queridos! estou indo pra santos agora, levando vocês e todo esse acúmulo produzido nas férias, juntos. com certeza a cidade ficará mais rica agora. e eu, com muito mais amor. saudade desde já.

da série: eu era feliz e sabia.
posso não saber até hoje o quanto te amei, mas sei citar momentos em que te amei tanto, tanto, que parecia não caber em mim.
um foi nós dois dançando no meu apartamento, na época novo, na época esvaziado. dançamos e rimos, até ficar tontos e cair no chão. naquela hora a vida parecia simples e alegre. eu era feliz e sabia.

da série: sou feliz e não sei.
as pessoas tentam me lembrar, e eu me esforço pra esquecer.
sei lá, tem dia que é difícil sair do lugar, e aí quando você toma coragem, tropeça. o problema é quando tropeça no próprio pé. auto-sabotagem, ou coisa assim.

...mas hoje por um instante, um instantezinho, fui forçada a ser feliz: um poema seu, caindo de um caderno que não usava há uns meses. você escreveu num guardanapo e me deu, dizendo que escreveu depois de uma das primeiras vezes que ficamos. na hora, um professor falava, falava, e eu tentava lembrar que dia era. então lembrei a data, e associei que o professor estava numa palestra. naquela palestra, que você iria assistir se não fosse o trânsito. aquele trânsito, que você teria desistido de enfrentar se não fosse pra gente ficar junto - é assim que gosto de lembrar.
e de repente conclui: cinco meses hoje. o primeiro beijo.
não teve fogos nem nada, talvez um som de descarga. nosso primeiro beijo, urgente, em frente ao banheiro de um boteco.
meu grande amor inesperado.
meu grande amor de amor grande.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

tumtumtumtumtum

coração acelerado.
lá vai a vida dar golpe de novo.


quem sabe volto aqui e escrevo escrevo escrevo.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

momento depressivo

Eu não aguento mais chuva.
Eu não aguento mais.
Eu não aguento.
Eu não.
Eu.
.
.
.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

E tudo mais.

"Uma vez amei, julguei que me amariam
Mas não fui amado.
Não fui amado pela única grande razão — Porque não tinha que ser.
Consolei-me voltando ao sol e à chuva
E sentando-me outra vez à porta de casa.
Os campos, afinal, não são tão verdes para os que são amados
Como para os que o não são. Sentir é estar distraído.
[ Fernando Pessoa ]

Hoje passei pela sua antiga casa. Quando passamos nela, quando nos amávamos, ela era laranja e fazia Sol. Paramos um minuto e ficamos olhando pra ela. Você lembrava da sua infância, aparentemente triste e cinza. Eu tentava imaginar e me inserir no seu passado. Alguns meses depois acabou.
Hoje chovia, ela estava pintada de branco, e havia um mendigo dormindo em frente.
Parece clichê. A vida é cheia dessas coisas clichês.
Brigas familiares antes da terapia.
Chuvas quando o amor está longe.
Chocolate pra mascarar a carência de dois amigos sentados num banco.
Músicas para se cantar alto num carro parado no trânsito.
Parece clichê e é clichê. A vida é cheia dessas coisas clichês.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

total absurdo

- Bom, vou saindo.. porque tenho que tomar banho e ir dormir. Amanhã acordo cedo..
Tá bom?
- Tá.

Ou: Tá bom. Infelizmente eu sou compreensiva demais para pedir que você fique. Ou, pra pedir que volte pra são paulo, nem que seja pra me dar um beijo e voltar. Então, vai lá. boa noite, um beijo. Aproveita aí (e digo aproveita porque eu sou legal demais e quero que você se divirta, mesmo que seja longe de mim - e não digo nada sobre estar tão longe já que eu sou orgulhosa demais pra dizer que tenho ciúmes). Vou voltar pro trabalho, e quando eu for rica vou te subornar emocionalmente com presentes fofos (porque eu sou uma pessoa nobre demais para declarar um suborno que não seja mais semelhante a uma chantagem emocional).

(e eu posso escrever pensando em você - e quase sempre tem sido, mas é sempre com licença poética)

sábado, 23 de janeiro de 2010

só se vive uma vez.

olá. tudo bem? talvez você não se lembre de mim (ou talvez lembre - é quase uma chance de 50% 50%, mas eu prefiro dizer que talvez não lembre, para você sentir-se a vontade se não lembrar). eu estava num congresso, há um mês atrás, que você também estava.
a demora se justifica por duas aventuras: a de conseguir o seu contato, e a de tomar coragem para te escrever.

bom, eu não sei muito bem como falar isso se não for diretamente, mas vamos lá: acho que estou apaixonada por você. isso pode soar impulsivo e um tanto maluco, mas foi um mês de cálculos, relendo romances e assistindo novamente cenas e cenas de filmes clássicos. foi tópico principal da terapia e da conversa de bar entre amigos. então, tente entender essa conclusão. talvez eu possa tentar te explicar. talvez. mas te explicar não significa deixar mais óbvio, porque não é todo mundo que entende uma paixão. a paixão não é explicada racionalmente, linearmente e coerente. mas posso tentar explicar, e se você entender, quem sabe, pode até ser uma coisa boa pra nós dois - ambos entendemos uma paixão, isso não é um motivo para tentarmos?

enfim. como disse, não tem explicação muito lógica: eu notei você no último dia, e me apaixonei por você no primeiro.
por algum motivo, no último dia, não tinha conseguido pegar um ticket que daria direito a almoço. eu sentei na mesa para esperar as pessoas e conversar. quando chegou com a sua comida, você abriu um sorriso e me deu um pouco de sua comida, trazendo um prato a mais.
eu não queria comer mesmo, a falta de ticket não foi um lapso, foi certa escolha - os apaixonados loucos diriam que era o destino, mas eu sou sensata e digo que foi, no máximo, um belo acaso.

você sentou em outra mesa, de costas pra mim. foi uma tortura, porque ouvia você falando mas não poderia conversar com você. foi uns dez dias depois que eu reparei que de certa forma conversávamos, sim. você ouvia o que eu estava falando, e eu ouvia o que você falava. para falar a verdade, estávamos de costas mas eu não ouvia mais ninguém daquele lugar lotado. só a tua voz.

bom, foi então que o primeiro dia aconteceu. era noite e todos dormiam no alojamento. todos, menos você e eu. sabe, eu sempre achei que existe muita cumplicidade na noite, e não existe nada mais bonito que duas pessoas acordadas enquanto todos dormem. depois que isso acontece, existe uma cumplicidade entre essas duas pessoas que fica como uma marca, pro resto da vida.
e nós estávamos acordados, os dois. você não sabia que eu estava. eu estava deitada. você de pé, olhando a janela. antes do último dia, existia a cumplicidade - queria saber quem era você e principalmente, o que te tirava o sono.
depois do último dia, aquela imagem de você, de pé, olhando a janela grande na sua frente, tornou-se quase uma pintura na minha cabeça. virou um quadro que visito quase todos os dias - se fosse pintora, com certeza teria concretizado já até agora.

desde então, nossa relação tem se constituído por esses momentos. penso em você sempre, invento futuros e passados pra nós. tudo possibilidades, claro. não precisamos fazer desse jeito e eu te dou um tempo pra pensar também.
enfim, a coragem pra te escrever não foi bem por vergonha. foi quase uma descrença, de que grandes amores poderiam começar num refeitório de um congresso (talvez se eu tivesse te notado no primeiro dia, e logo me apaixonado, a cumplicidade da noite e a insônia faria ficarmos conversando e.). essa descrença tomou minha cabeça, porque essa história daria uma bela crônica, mas nunca uma poesia.

(e grandes romances precisam parecer com poesia.)

mas eu resolvi tentar. mesmo assim. talvez você não se lembre de mim (ou talvez lembre, não seria tão difícil assim). eu só queria ao menos conhecer o dono daquele sorriso quase que de graça que recebi. o que te faz sorrir tão de graça, e distribuir comida pras pessoas?
o que te faz ficar acordado, olhando pra janela? o que te tira o sono?
e por favor, se você for uma pessoa apaixonada como eu, entenderá que eu não quero que me dê respostas, apenas mais perguntas.

um beijo.

domingo, 10 de janeiro de 2010

contigo eu faço de tudo.

"era uma vez um menino e uma menina..."
assim começavam as histórias de infância que meu pai contava, revezando em qual ponta da cama sentava. às vezes na minha, às vezes na do meu irmão.
hoje o tempo é louco. é outro tempo. um tempo que fui construíndo junto com. - por quê é tão difícil botar nome dos envolvidos nos meus textos? - enfim, tempo que fui construindo junto com. reconstruimos nossos passados. eu entrei no dele, ele entrou no meu. fizemos releituras e possíveis desdobramentos. o passado é outro, o futuro nem se fala.

demos um golpe no tempo e vivemos todos eles ao mesmo tempo, agora.
demos um golpe na razão, e construímos uma razão própria.
demos um golpe no medo, e hoje sabemos: temos sempre um ao outro.
pra dizer que não somos tão fortes assim, do amor, em compensação, levamos um golpe.
ele nos jogou no chão e a gente ainda ri do tombo - será que vai aparecer um machucado?

enquanto não sangra, a gente ri, ri e ri.
.
.
.
e eu te amo, te amo, te amo.

assunto: hoje fui pra itaguaré

a praia é outra. impressionante como muda tudo. tentei lembrar, reconstruir as cenas da primeira vez sobrepondo ao que estava vendo, mas era quase impossível.
no final vi as fotos da vez que a gente foi, elas tão no meu celular. nunca mais tinha visto.

a praia ainda é linda.
sei lá, foi legal ter (re)conhecido lá.

um beijo.

da série: escrevi mas não mandei.

feliz, feliz ano novo.

de tempos em tempos procuro saber de você, e você tá sempre por aí, repetindo o ciclo: paixão emocionante - amigos estranhos - algo bizarro para ir atrás (um musical-documentário, a história de um antigo coronel ou uma pesquisa acadêmica sobre alguma coisa que te faça ser algo).
de tempos em tempos falo de você. do nosso - curto nosso- passado. do que soube do seu. a verdade é que cansei de falar de você, pensar em você.

faz mais de dez meses, ou dez meses exatos. voltei pra aquela praia. e ela é outra. as companhias são outras. o futuro é outro e o nosso passado só é comum em um trechinho. trechinho esse que poderia passar por insignificante, mas não passa.

eu ainda escuto as músicas, re-conto e re-construo as histórias.
eu ainda leio livros e vejo os filmes.
eu ainda penso: por quê?
 
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