terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

o tempo que antecipa o fim também desata os nós

é mais uma manhã. uma manhã que vem como sequência de uma noite encerrada às 2h da manhã, deitada sozinha em uma cama de solteiro.
ela acha frustrante toda noite que se encerra em qualquer horário, sozinha numa cama de solteiro. não vê porque as pessoas dormem sozinhas num mundo cheio de tanta gente solitária.
não vê porque tomar tantos antidepressivos, e não se busca companhia pra dormir, alguém que te faça carinho e te diga boa noite e bom dia.
ela dorme sozinha às 2h da manhã, e acorda sozinha.
6h da manhã.
volta a dormir. seu plano é dormir até ter algum motivo pra acordar.
7h da manhã.
dorme ainda, frustrada por ter só passado uma hora. por um instante, desejou ter percorrido um dia inteiro + 1h. seria bom ter acordado só no dia seguinte.
8h da manhã.
impaciente. não quer acordar, também não consegue sequer sonhar. não existe pesadelos, também, que a façam não dormir mais.
9h da manhã.
decide ficar lá, imóvel, até que surja alguma notícia. decide esse novo plano: não há mais sono, ficou com dor de cabeça de tanto tentar dormir. faz um calor fudido. pensa que deveria ter um ventilador no quarto. abre toda a janela e espera sentir algum vento. permanece imóvel. voltada pra cima, com a cabeça pro teto, pensa em coisas que poderiam fazer ela levantar.
esperava alguma ligação que fizesse sua vida mudar.
um acidente, um prêmio, uma morte de alguém. uma viagem, uma pessoa que voltou de longe, uma pessoa que decidiu ir pra longe. um emprego, ou uma greve.
nada acontece.
nada acontece.
nada acontece.
10h da manhã.
o telefone toca. do outro lado da linha, o namorado. combinam de almoçar em família em uma cantina italiana. a mãe também liga, querendo saber se está tudo certo.
não teve acidente, prêmio, morte, viagem, volta, ida, emprego ou greve.
almoço em família com namorado.
sua última esperança é algo no jornal, mas no jornal não tem nada que não seja de carnaval.
pra piorar, é carnaval.
nada acontece.
nada acontece.
nada acontece.
é mais uma manhã.

... me diz, foi só amor ou medo de ficar sozinho outra vez? cadê aquela outra mulher? você me parecia tão bem, a chuva já passou por aqui - eu mesma que cuidei de secar.

deixa pra lá, eu vou, adeus, meu coração já se cansou de falsidade...

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