domingo, 30 de novembro de 2014

Amor de classe (eles estão por fora)

Eles estão por fora
Com a tal história
de que amor é
quando dois viram um.
quando cede pra agradar
quando é capaz de morrer por.

Contigo quero virar povo
devoradores de mundo
em marcha pelo pão e pela alegria.

Quero discordar, quando assim for,
para ombro a ombro
avançar nas descobertas.

E por ti quero viver - muito
ao seu lado e pra além de,
na luta por outro mundo.

Amor de classe
em si e para si,
em ti, em mim
pelo mundo afora.
pra todo o mundo
(eles estão por fora!).

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

História em três atos (e talvez alguns mais...)

I

Que precisou tudo passar
Na minha e na tua vida
Pra gente se passar
Se perceber
Se enxergar
Se viver.

II

Precisou chegar tarde
E por ser tarde ficou urgente
Nasceu pra ser momento
Fragmento no tempo-espaço
Condição possível
Na impossível condição de ser.

II
 
Permitir-se saciar o desejo
E de insaciável sê-lo
Vez ou outra castrar na superfície
Mas salvar a raiz pra crescer
Ao se permitir reanimar vez ou outra
O desejo de me viver.

domingo, 23 de novembro de 2014

Para uma vida viva

Nunca deixe de viver algo
por receio de bagunçar o cabelo

Mergulho impulsivo no mar
Dançar como se não houvesse amanhã
Curtir o vento na garupa da moto
Deixar a chuva molhar
Massagem na cabeça
Uma trepada gostosa sem pudor.

Se algo te despenteia,
grandes chances de ser algo bom.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Entorpecer e desentorpecer

Diferente dos últimos dias, o mar não estava bravo. Dessa vez, calmamente, acolheu o seu corpo dos pés até a cabeça. Enquanto isso o sol se despedia para dar chance à lua e às estrelas. Entorpecimento. Cada onda levava um peso de seus ombros. Levou a tristeza, o ódio, a angústia, a mágoa. Cada dia de sua vida foi sumindo. Cada pensamento. Cada preocupação. Cada esgotamento. Caminhava mais além e quanto mais longe das terras firmes mais escuro ficava, ao ponto de não ver mais quase nada, não sentir mais nada, não pensar mais nada. Entorpecida.
Lembrou de respirar. Percebeu a quanto tempo já não fazia isso, sufocada nas tarefas cotidianas. Deixou ir embora algumas bagagens, e quando se viu deixando tudo ir embora, agarrou-se forte na lembrança de um rosto. Aquele rosto...
Voltou a sentir seu corpo, agora excitado com a boa lembrança. Lentamente as ondas tentavam devolvê-la ao solo. Respeitou os anseios do mar. Era hora de voltar.
Desentorpecer.
Vida que segue.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Hoje não tem poesia

No limite do limite. Então desmanchou-se. Uma pequena tragédia diária havia por fim derrubado e agora não andava, apenas flutuava. Era como se os pés estivessem fora do chão, como se estivesse bêbada em um lugar estranho, com pessoas estranhas.

Mas é a sua própria casa e não tem ninguém.




domingo, 9 de novembro de 2014

Escreve, rapaz, escreve

À Claudio, com carinho.
E à todos os jornalistas explorados.


Rapaz que escreve noticias
Do mundo que paga pessoas
Pra escreverem noticias
De um mundo
De um jeito
Que o rapaz não gosta.

O rapaz escreve as noticias
Pra pagar o pão, o aluguel e a boemia
E com o troco do salário
E com o troco do tempo
Constrói um outro mundo
De homens, mulheres e noticias livres.

Escreve, rapaz, escreve.
Com paciência histórica pra tolerar
o cansaço (e a própria impaciência)
escreve as noticias que teu patrão pede.
Mas com seus companheiros e companheiras
faça os fatos que a história exige.

sábado, 8 de novembro de 2014

Morreu um operário

Morreu um operário.
Um só? Não, vários.
Todos os dias.
Dizem que foi infarto,
muita calabresa ou cigarro.
Mas não, não! Foi trabalho.

Morreu um operário.
Não, um só não. Foram vários.
Por todos os lados, todos os dias,
mas nem todos viram noticia.
É preciso dividir o espaço do jornal
com o trânsito, famosos e outros casos.

Morreram operários e não foi acidente.
Quem matou foi seu patrão
e a imprensa que encobriu
e o governo que nada fez.
e a justiça que segue em silêncio
protegendo patrões e presidentes.

Todos os dias há uma chacina diária
de operários e operárias
que morrem e outros assumem seu posto
Com tamanho desgosto,
Tamanho medo da morte,
às vezes contando apenas com a sorte.

Por todos que se foram
Por queda, contaminação ou fadiga.
Não há que se temer a briga
Pra que esse crime se cesse.
Pra que não se deixe pra trás.
Nenhum operário a mais.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

desejos

uma nova etapa histórica:

tomar cerveja sem mais valia.
te amar sem temer o relógio.

sábado, 1 de novembro de 2014

Moço

moço se você soubesse
que eu só queria
sexo, assim queria.

sexo, seu cheiro.
sexo, sua boca.
sexo, tuas mãos em mim,
sexo, você entre minhas pernas.

moço se eu soubesse
que só ter só sexo
era impossível querer

seu sexo seu cheiro sua boca
tuas mãos em mim
você entre minhas pernas
vem com você no meio inteiro

moço esse teu olhar
vem com tanta coisa
que não cabe na urgência das palavras

você
olhos-orelha-lingua
mãos-boca-perna
sorriso-e-consciência-de-classe
merece tão mais que uma confissão vagabunda
em forma de poema sem rima nem métrica.
 
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