domingo, 26 de outubro de 2008

diretamente do túnel do tempo...

Essa exigência (de analisar o período mais remoto da infância) não é apenas de importância teórica, mas também prática, de vez que ela distingue nossos esforços do trabalho daqueles médicos cujos interesses se focalizam exclusivamente nos resultados terapêuticos, e que empregam métodos analíticos, embora apenas até certo ponto. Freud, em "Algumas consequências psiquícas da distinção anatômica entre os sexos."

ah! freud era feliz e não sabia.
imagina só se visse o quão esses médicos "evoluíram" quando se trata em "focar".

sábado, 25 de outubro de 2008

Levantou, calçou seu tênis e fugiu.

Juntou as coisas que mais gostava: uma carta do primeiro namorado, cinco camisetas velhas mas que deixavam seu peito grande. Colocou um tênis, e na mochila deixou um chinelo. Vestiu um casaco grande, pois guardado ocuparia espaço demais. Deixou um casaquinho também. 5 calcinhas bastariam (dá pra ir lavando no banho, pensou). Escova de dente, um pente. Shampoo, condicionador e sabonete, deixa para ver depois o que faz. Vestiu a calça jeans e deixou uma saia e um shorts na mochila. Um lápis de olho, seu perfume importado e remédio para dor de cabeça.

O resto, enfiou numa caixa e deixou na escada, com um aviso: "PARA DOAÇÃO". A caneta que utilizara para escrever, enfiou na caixa. Deixou para trás seu apartamento, alugando para um conhecido. O banheiro, sujo do porre da noite anterior, foi de brinde. Não ia lavar, pelo preço que fechou o negócio. Teve que aceitar, tinha realmente pressa. O celular ficou em cima da mesa, desligado. Na caixa postal, um aviso de que aquele não seria mais seu número.

Fazer tudo isso era a única forma prática de garantir que nunca mais voltaria. E decididamente, não queria mais voltar pra aquela vida. Diferente dos outros, aquela ressaca não a fez abandonar a bebida, mas a vida que tanto lhe dava motivos para tal.

O que fazer com uma mochila nas costas e o dinheiro de um aluguel na mão? Caminhou para o metrô, na intenção de ir pra rodoviária. Não sabia o destino. Por um momento, pensou em mudar de país. Lembrou da poupança. A sensação de ter um leque de possibilidades de lugares para começar uma nova vida era menos aterrorizante do que lembrar que acabara de largar toda a antiga.

Enquanto decidia seu destino, pensava em formas de justificar essa mudança repentina para as pessoas a sua volta. Foi quando se deu conta de que poderia simplesmente nunca mais falar com elas. Faria novos amigos, quem sabe formaria uma nova família. Poderia até ter um outro nome, gostar de outras bandas e ter nascido em outro lugar. Seu passado agora era tão diferente quanto seu futuro. Poderia viver uma aventura, e escrever um livro sobre sua loucura toda, quando ficasse mais velha. Poderia não viver nenhuma aventura, mas escrevê-la mesmo assim.

Olhou o mundo de forma totalmente diferente do que olhava ontem. E tudo era novo, embora as coisas permaneciam quase as mesmas. Quase. Pois a partir daquele dia, havia pelo menos uma pessoa diferente. E nada seria igual novamente.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

saldo da semana

preciso escrever e não consigo.
ontem foi um dia de conversas delicadas, intensivas, e na hora talvez eu não tenha percebido (ou talvez simplesmente ainda não tinha sentido) o quanto me afetou.
hoje, chego na faculdade um pouco mais quieta.
após uma segunda conversa, estremeço.
e então, um chumbo surgiu nos meus ombros, quando por fim fico sozinha no ônibus.

chorei por quem foi embora, seja porque simplesmente se afastou, ou porque simplesmente não é momento de convivermos juntos, ou por motivo de morte (vai fazer um ano...).
chorei de cansaço, físico e mental. cansaço do passado, do presente e do futuro.
chorei de emoção, porque de repente eu senti, mesmo que rapidamente, a proporção de algumas coisas que tenho vivenciado.
chorei por lembrar de quem acha que eu presto pra alguma coisa, e por aqueles que acham que eu não presto, por muitos motivos, mas continuam do meu lado.
chorei por tristezas que não tem nome.
chorei por motivos que não chorei o suficiente ainda (algum dia isso não será mais motivos de choro?)

e chorei, feito uma criança que viu o mundo pela primeira vez e descobriu que ele tem tanta coisa errada, e feito uma velha que percebeu que ele não tem conserto.

chorei e dormi. acordei. terminal jabaquara.
eu só sei que no momento, o que eu mais quero é querer alguma coisa. de preferência possível de ser alcançável.

Não fume! - Tati Bernardi

- Que demora pra atender essa merda.
-Você nunca me atende.
-Fala comigo.
-Falo. Tá me ligando pra quê?
-Pra te pedir pra você não fumar.
-Tati, eu não fumo. Lembra?
-Fuma sim! Você fuma! Promete que não fuma?
-Tati, você está bêbada em pleno domingo a tarde?
-Eu não bebo. Lembra?
-Então fala coisa com coisa.
-Minha amiga encontrou você fumando terça passada. Não fuma!
-Eu não fumo. Apenas estava fumando. Mas você me ligou pra…?
-Eu não te ligo. Apenas estou te ligando. Eu não bebo. Apenas estou bebendo. Eu não lembro que você existe. Apenas estou lembrando.
-Que fizeram com você?
-Me mandaram a merda.
-E você obedeceu?
-Eu não tô te ligando?
-Então me ligar é ir à merda?
-Exatamente.
-E você quer que eu fique aqui ouvindo isso?
-Não, você pode desligar o telefone na minha cara. Ou me convidar pra ir na sua casa.

o resto você imagina...
ou confere na íntegra em http://blonicas.zip.net/index.html

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

"isso não é democracia, isso é família!!!"

frase da aula de hoje, fala uma das estudante de psicologia, contando o que a tia sempre fala durante discussão.
ultimamente tenho escutados muitas pérolas, que qualquer dia posso até registrar aqui, mas essa eu achei fundamental colocar. é como se explicasse a instituição família em uma frase engraçada.

enfim, um comentário tosco pra quem bebeu e não comeu. pra quem precisa dormir, mas fica na internet, querendo entender certas coisas que não se entende em um dia, muito menos numa madrugada, menos ainda simplesmente por achar que deve entender naquele momento.

vim aqui ontem escrever, mas não consegui. as aulas têm abordado assuntos complicados, o que tem me incomodado bastante. mas é difícil vir escrever, sem parecer clichê, ou sei lá, uma ingenuazinha falando do caos do mundo. aliás, já escrevi que talvez, pra falar da indignação que se tem diante do caos do mundo, tem que carregar um pouco da ingenuidade.

só sei que tem certas coisas que vc vê, e dá vontade de fugir da faculdade. docentes que falam coisas muito questionáveis, com total tom de propriedade, discentes que dá vontade de desencanar de qualquer movimento estudantil....

e então chega aquela aula fudida. uma discussão tensa sobre um assunto complexo. daí percebo que entendi aquela coisa louca de mais de uma verdade, de sentimentos contraditórios...

pq o que eu quero é mergulhar nesse mundo louco e tentar fazer alguma coisa, explorar o limite e descobrir formas de propor novas possibilidades de vida, ao mesmo tempo que tudo que eu quero é ser uma mulherzinha, deitar no colo de alguém que queira me proteger de tudo isso que existe de ruim e podre.

sim. só com alcóol pra eu terminar com uma confissão dessas.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Defesa da Alegria

defender a alegria como uma trincheira
defendê-la do escândalo e da rotina
da miséria e dos miseráveis
das ausências transitórias
e das definitivas
defender a alegria como um princípio
defendê-la do assombro e dos pesadelos
dos imparciais e dos neutros
das doces infâmias
e dos graves diagnósticos
defender a alegria como uma bandeira
defendê-la do raio e da melancolia
dos ingênuos e dos canalhas
da retórica e das paradas cardíacas
das endemias e das academias
defender a alegria como um destino
defendê-la do fogo e dos bombeiros
dos suicidas e dos homicidas
das férias e da angústia
da obrigação de estar alegre
defender a alegria como uma certeza
defendê-la da óxidação e da mesquinharia
da famosa pátina do tempo
do cinismo e do oportunismo
dos proxenetas do riso
defender a alegria como um direito
defendê-la de deus e do inverno
das maiúsculas e da morte
dos clamores e das mágoas
do acaso
e também da alegria.
Mário Benedetti

Pensamentos eleitorais, Calligaris

NA NOITE das eleições, os comitês dos vitoriosos oferecem festas. Por sorte dos próprios candidatos, essas festas acontecem depois de a gente ter votado. Por que "por sorte"? Porque deve haver vários eleitores que, como eu, à vista do triunfalismo dos partidários exultantes, sentem vontade de votar por outro candidato.
Não ficou claro? Explico. Na noite de domingo passado, na primeira festa que a TV nos mostrou, eis que um grupo de mulheres possuídas pulavam e gritavam "Ganhou! Ganhou! Ganhou!". Agüentei. Logo, alguém enfiou a cara na câmara e afirmou: "Deus está conosco". Por que não diretamente em alemão, "Gott mit uns", como estava escrito na fivela dos cintos dos soldados da Wehrmacht na Segunda Guerra Mundial? Deve ser um ranço religioso, mas, para mim, a frase "legal" é: "Que Deus esteja com vocês".
Enfim, haja paciência. Mudei de canal. Mas o episódio me ajudou a pensar. Em geral prefiro as pessoas que têm o bom gosto de serem humildes e pensativas sobretudo na vitória. Mas não é só isso.Parece que, cada vez mais, o que faz a diferença entre os candidatos não são suas propostas (freqüentemente próximas), mas sua figura e seu "caráter". Pois bem, se esse for o critério, o melhor candidato, para mim, será aquele que NÃO parece estar absolutamente convencido de ser a melhor escolha. Inversamente, o pior é aquele que se acha insubstituível, superior aos outros. Não devo ser o único que pensa assim.
No primeiro debate entre os candidatos nas eleições presidenciais dos EUA, quando John McCain reiterou que ele é "o cara" (aquele que tem caráter, fibra e experiência para ser presidente), logo naquela altura, despencou unanimemente a aprovação dos espectadores reunidos num grupo de foco pela CNN. Ou seja, ninguém agüenta.
Na mesma linha, entendo que, nas eleições municipais brasileiras, os candidatos a vereador disponham de um fragmento muito curto do horário eleitoral. Mas o resultado é obsceno: a maioria só consegue lançar um apelo abstrato e patético -"Votem em mim, gostem de mim, confiem em mim" (mas por quê?)- e exibir o traço grotesco que os tornaria únicos, extraordinários (a barba de Bin Laden ou de Enéas, o cabelo máquina dois de Obama etc.).
Talvez essas vinhetas sejam a parte mais engraçada do horário eleitoral, mas é um riso que pode tornar risível o processo inteiro.Voltemos ao meu candidato ideal, aquele que não estaria certo de ser o melhor nem o único. Alguém perguntará: então, por que razão ele se candidataria?
Essa questão surge porque temos uma relação doente com a verdade: oscilamos entre um ceticismo quase cínico (cada um tem a sua verdade, portanto todas as verdades se valem) e uma paixão missionária (nós temos a única verdade; os outros, que pensam diferente, devem ser corrigidos, para o próprio bem deles). Ou seja, a verdade é uma só (a nossa) ou, então, não tem verdade alguma.É mais uma versão da patologia narcisista básica: eu sou o único, o eleito, ou, então, não sou ninguém. Assim como é difícil conseguir viver sendo "apenas" um entre outros, também é difícil considerar que a nossa verdade é uma entre outras, mas não por isso deixa de ser uma verdade. O diálogo, aliás, não é possível nem entre os cínicos nem entre os enfatuados -só é possível entre os que conseguem acreditar numa verdade que conviva com outras. Exemplo.
Nos EUA, desde 1973, o aborto, como decisão autônoma da mulher, é permitido sob a condição de que o feto não seja viável fora do corpo da mãe. Entende-se: o feto viável fora do ventre materno é um cidadão, e o aborto passa a ser um assassinato.
Ora, consideremos os candidatos à vice-presidência dos EUA. Tanto Sarah Palin (republicana) quanto Joe Biden (democrata) são cristãos. Para ambos, a vida começa no momento da concepção; para ambos, o embrião fecundado já é um sujeito e tem alma.
Palin afirma que ela tentaria reverter a lei atual, autorizando os Estados a proibirem o aborto. Biden afirma que, apesar de sua convicção, a lei atual lhe parece ser um compromisso aceitável, numa sociedade em que convivem pessoas que pensam como ele e outras que pensam diferente. Moral da história, graças a Biden. Acreditar na verdade do que a gente pensa não implica querer impor nossas idéias a todos com ze- lo missionário. E aceitar que haja mais de uma verdade não significa ser cínico.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

a doença, a carência e o sentido da vida.

ontem, de repente, fiquei doente. o corpo enfraqueceu, a cabeça começou a doer demais, e então as costas, e então fiquei enjoada, e então fiquei com febre. quase como uma relação direta, do tipo sentir frio e começar a tremer, fiquei carente.
adoecer me faz ficar carente. vontade de ser mimada. fico resmungando por aí, suspirando alto pelos cantos. "oh vida, oh céus". de repente, acho que nada mais justo o mundo inteiro trabalhar para fazer me sentir bem. mas é óbvio que, como uma manhosa de qualidade, eu não peço nada pra ninguém, e fico nos meus altos suspiros, esperando alguém perceber e oferecer ajuda. para então eu falar "ah não, magina...".
e a noite acabou, a febre passou e sem ajuda de ninguém. acordei melhor, e fui pra minha rotina. no fim da tarde, na discussão de um texto, surge questões sobre o sentido da vida. o porquê de eu ligar esses 3 pontos (doença, carencia e sentido da vida), eu não sei. só sei que faz todo o sentido. a doença e a carencia estão explicadas. acho que a carencia me deixou mais sensivel pra ficar mais afetada com essa questão do sentido da vida.
o que mais mexeu comigo é que há ANOS eu não me fazia essas perguntas clichês do tipo "pra que estou aqui?", "qual é o sentido da vida?", "e qual o objetivo de estar nesse mundo, afinal?".
essas perguntas simplesmente fugiram do meu vocabulário. as reflexões foram para outro caminho, e quando isso surgiu assim, de repente, no meio de um conto japonês... sei lá! foi esquisitíssimo. uma mistura da angústia que essa pergunta traz, com a angústia de lembrar do tempo em que eu fazia essas perguntas.
é verdade que quanto mais se estuda, mais chato você fica. são das mais diversas as consequências. se posicionar como O SÁBIO, aquela pessoa que sabe de tudo, tem resposta pra tudo, e barra o diálogo dando respostas, e não abertura para a conversa. outra consequência é questionar todas as palavras que vai usar. a primeira, eu espero nunca ser assim, embora às vezes meu lado pseudo-intelectual e nerd-da-escola solta algumas respostas, tento sempre me controlar.
já a segunda... aí é complicado. não consigo mais falar "aluno", é estudante. não consigo mais falar "vamos nos conscientizar" ou qualquer coisa do tipo. ser humano, me incomoda. e ultimamente, e isso é muito bizarro porque eu nem sei daonde tirei isso, acho difícil responder "sim" quando me perguntam se "está tudo bem".
como que eu vou poder dizer que está tudo bem? eu posso dizer que está, já que não fui mal numa prova, não perdi nenhum braço, não fali, não incendiaram a minha casa ou pisaram no meu pé. mas está tudo bem mesmo? o que é estar "bem"? acho mais fácil dizer que estou feliz, e (essa parte eu omito mesmo, senão me dariam um tiro de tão mala que eu seria), no sentido mais deleuziano possível.
enfim, não achei o sentido da vida, mas encontrei um motivo pra escrever aqui.
e isso basta. por hoje, pelo menos.

"tem tanta gente no mundo vivendo vidas seguras
será que só eu me sinto tão confuso?
eu enxo a vida de sustos, de vagalumes e estrelas...
e fico feliz por nada ou quase tudo.
(...)
e o que me importa, são mais perguntas que respostas..."
Leoni, Mais perguntas que respostas

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

mil e uma coisas

é tanto o que passa na minha cabeça agora. tento agarrar um pensamento com a mão, e apertá-lo para não fugir, para conseguir escrever sobre ele, descrevê-lo e poetizá-lo. mas hoje eles estão escapulindo demais. passam correndo, deixando as sensações que evocam quando viram pensamento.

de um momento de alegria, de festa, passamos a um momento de tristeza. ninguém avisa, e então estamos tristes. é assim. estávamos felizes, e agora estamos tristes. e agora estamos. fica um vazio, no meio de tanta coisa falada, tanta coisa pensada, tanta coisa sentida.

tem coisas que o tempo não só não cura, como faz piorar. o ressentimento acumula com o tempo e vai corroendo, e vai fazendo estrago aos pouquinhos... quando você vê, já existe rancor.
e pra sair disso? e pra dizer "não, não é assim, vamos olhar de outro jeito.". não.

eu preciso muita coisa. é tanto o que tem pra fazer, pra cumprir e de repente não estou mais vivendo. estou tentando me livrar dos compromissos da vida pra viver um pouco. estou eternamente lutando contra o tempo, com coisas que supostamente eu deveria mergulhar de cabeça e aproveitar. fui eu quem escolheu isso, não foi? "agora aguenta."
e não como uma coisa ruim. mas talvez tenha que sempre lembrar, que fui eu quem escolheu, e por algum motivo insano eu escolhi. talvez falte eu lembrar quando estou sendo, não simplesmente quando eu quero ser.

e o tempo corre, e assim faço eu mesma pra pegar o metrô, e chegar a tempo pra minha semana em que já começou atrasada.
fico alguns minutos em silêncio.
estou o tempo todo tentando lembrar aonde era aquele botão de desliga, que eu sabia que tinha em algum lugar por aí. deve ter caído, e agora, com o freio quebrado, vou correndo meio que sem controle, e com uma super velocidade que eu fui inventar de causar, esperando parar em alguma coisa. e fico pensando: "isso vai dar merda..."

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

ou?

quero. preciso. gostaria. vontade. eu. eu. eu. eu. eu. ou?
quando?
só se fosse pra sempre.
um mês na cama, dormindo...
há tempos minha cama virou maca.
 
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