terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

choveu, molhou, parou, secou.

e de repente era como se nada tivesse acontecido.

poderia ser mais frequente do que o comum naquela cidade quente, mas para ela aquilo nunca fez sentido: todo passado deixa uma marca, e como pode chover tanto e a vida seguir, assim? há de ter ficado alguém com seu cabelo molhado, ou um guarda chuva que não resistiu e quebrou.

desde criança guarda pequenas coisas, anota alguns detalhes, para que nunca se esqueça das dores e alegrias, mesmo as pequenas. medo de esquecer, medo de não conseguir transformar em aprendizado aquilo que viveu, sentiu, sonhou. talvez era isso. cuidava de sua memória como quem tentava cuidar de seu futuro.

e então amou uma vez. e guardou cada memória. e amou a segunda, a terceira, a quarta... de repente tantas histórias foram se juntando, e a bagagem já era pesada demais para se arrastar. mas insistia em levar tudo - os papéis, os sorrisos, as lágrimas, os presentes, as músicas, os filmes, os livros, as conversas, os bilhetes, as saudades, os ingressos, embrulhos, imbróglios. de repente o passado foi sufocando todas as possíveis novidades fazendo com que elas fossem pra um "lugar comum" do gostar. de repente ninguém tinha mais disposição pra carregar com ela aquela bagagem pesada de velhas novas histórias.

e então quando amou de novo tentou experimentar lançar-se um pouco no desconhecido. se permitiu conhecer uma nova canção junto com. a ler um novo poema. a escrever uma nova história, por fim (ou começo?). decidiu por não carregar mais aquela bagagem pesada. algumas coisas jogou fora, outras guardou numa caixinha velha, que talvez nunca mais abra, mas é bom saber que algumas memórias ficaram ali guardadas.

até que então, amou como nunca havia amado antes.
enfim, permitiu outrar-se. não era a proposta, desde o início?

sussurros de amor que vem...

ele diz, com um olhar profundo de menino:
- isso parece que não é real...
ela responde, com um sorriso e cara de experiência.
- isso é mais real que muita coisa.
silêncio. em seguida, ele retruca, como quem entende tudo:
- materialista!

(e ela imagina, então, que meses depois se ele perguntar quando foi que a conquistou, diria sem hesitar que foi com essa resposta)

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

e falando de novo em amor...

Mapas.

mapa que eu detesto duas vezes: papel que constata os quilômetros que nos separa. papel que, por ele e outras coisas, te fez ir pra tantos quilômetros longe.

mas detestar mapas, que coisa tola! se não fosse o mapa, se não fosse a tua economia solidária, o meu marxismo... se não fosse o sol, se não fosse torto, se não tivesse o desencontro... talvez a gente não teria se encontrado. é isso que falamos, para nos conformar ou para tornar o negócio mais lógico. não foi destino, mas uma série de pequenas histórias fragmentadas, ou várias histórias que seguem uma linha lógica que fizeram, há pouco mais de um mês, tua geografia e a minha psicologia se encontrarem.

mapas. eu nunca havia reparado neles direito, e agora eu olho pra tentar entender o que te fascina tanto nesse pedaço de papel.

Posso até me acostumar da gente se divertir...

e se temos três dias, ou se esse ano tem mais feriados, ou se os nossos aniversários caem em sábados. e se temos mais um ou dois encontros ou se é pra sempre. e se faltam dez dias, nove ou oito.
acho que posso me acostumar, se todo reencontro tiver sempre cara de sábado. se tiver sol, água de coco. se tiver colo. se tiver corpo. se tiver nossos beijos com olhos, bocas, mãos, pés, pernas.
e a saudade só se torna suportável quando se sabe que em breve o reencontro a matará, sufocará e deixará espaço só para o carinho.

e por falar em diálogo... (resposta)
 
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