quarta-feira, 28 de novembro de 2007

"é bom às vezes se perder sem ter porquê, sem ter razão. é um dom saber envaidecer por si, saber mudar de tom..."

É a primeira vez que escrevo nesse blog como um diário. É a primeira vez que me sinto bem, termino o dia com uma sensação boa, desde que a minha vó morreu. Queria guardar esse sentimento num potinho e poder olhar pra ele toda vez que a tristeza voltar. A culpa me assombra um pouco - por mais idiota que seja, me pergunto se tenho esse direito de ser feliz, considerando que minha vó deixou de existir faz tão pouco tempo. Mas sei que é besteira.

Hoje foi um dia em que luto e festa se misturaram e coexistiram como uma coisa só. Me perguntei quantas vezes não nos encontramos em situações assim, de risos chorosos, e nem nos damos conta.

Às vezes sinto falta da minha vó. Cada acontecimento cotidiano na minha vida penso no que ela responderia quando eu contasse pra ela a noite, cada acontecimento familiar imagino o jeito dela festejar, ou criticar a gente falando das famílias das amigas dela. Saber das expressões e falas da minha vó, apesar de trazer uma dorzinha de saudade, é bem reconfortante. Penso o tempo inteiro nessa oportunidade que tive de ter conhecido ela direitinho. Nas outras vezes que presenciei a morte veio uma sensação de vazio. Dessa vez não.

Milhões de pensamentos me atravessam no momento. Penso em salvar vidas, em lidar com mortes, em mudar o mundo acadêmico que vivo, e penso até em dormir, mas sei que vai ser difícil demais.

Penso que estive alheia de muitas coisas e que agora voltei. Talvez seja essa a sensação de fim de luto. Estou extremamente acordada, como se tivesse dormido quase 10 dias e agora voltei com todo o fôlego. Mas eu não passei 10 dias dormindo e estou esgotada, apesar de toda a energia. Talvez eu precisa dormir um pouco. Talvez eu precise não dormir e "tirar o atraso" dos dias "perdidos". Talvez...

Penso em reler esse post, tirar e colocar várias coisas. Mas acho que isso fugiria da proposta de escrever um diário, uma coisa meio "eis os pensamentos que me atravessam no momento". Por isso, termino por aqui, pra variar sem um fim. Sou extremamente preguiçosa para concluir coisas.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

você marcou em minha vida, viveu, morreu na minha história...

Sendo inundada de reavaliações e promessas divinas.

"Eu corro, fujo desta sombra
Em sonho vejo este passado
E na parede do meu quarto
Ainda está o seu retrato
Não quero ver prá não lembrar
Pensei até em me mudar
Lugar qualquer que não exista
O pensamento em você..."

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

mas como eu começo depois do fim?

Seu cantinho do sofá nem esfriou e você já virou pó.
Queria eu ter pressentido, como tantos falaram. Queria eu ter tido um sonho premonitório, ter recebido alguma espécie de despedida metafórica. Queria eu ter ouvido você dizer algum tchau mais profundo, ter desconfiado de que era a última vez que te veria bem. Queria eu saber quando foi a última vez que te vi como sempre te reconheci. Aquela pessoa forte, sinônimo de vitalidade... mas há tempos você se foi, e ontem foi mera formalidade.

E não teve nada que me antecipasse a notícia. No dia anterior falávamos de banalidades da novela. Perguntei se o mocinho já tinha engravidado a mocinha. Antes de ir embora, falei que ia ter almoço especial pra ela no domingo, e que por isso ela não ia ter desculpa e teria que ir pra minha casa. Ela riu e me mandou embora. Achei estranho. Nunca me mandou embora. Pelo contrário, brigava pra eu ficar. E eu ficava, e você implicava comigo. E eu sentia raiva.

Não me sinto culpada por ter sentido raiva de você, por tantas vezes reclamar de suas exigências, de suas cobranças, de sua perseguição. Um perigo quando você descobriu a hora do meu intervalo no cursinho, e me ligava todo dia pra perguntar como estava. Ou quando minha mãe te disse que 7hs era um horário bom pra me ligar, porque minhas aulas da faculdade já tinham acabado. Era todo dia ligando pra não falar nada. E eu ficava brava. Mas eu não me sinto culpada.

Sinto saudades. Saudades de você com seus inseparáveis itens: sua bolsa, seu leque de papel que meu pai improvisou, sua lanterna em caso de faltar luz, seu pote de bolachas para "enganar o estômago", seu terço que já estava todo arrebentadinho mas vc não largava. Saudades de suas queixas sobre "o jovem de hoje em dia" que sempre serviam de indireta pela maneira impaciente que eu tratrava você. Saudades de quando passava pelo corredor e ouvia você falando alguma coisa que mostrava como você sentia orgulho de mim. Porque os maiores elogios vindos de você eu ouvi atrás da porta, mas pra mim valia muito mais que qualquer dito na cara. Saudades no ninho da vó, do doce de leite, dos natais que você que ordenava quem ia sentar aonde, para ninguém ficar perto de alguém que vê todo dia.

E não adianta pensar que vc foi pra algum lugar melhor, ou que você está entre nós, ou que está com Deus ou qualquer outro personagem. A questão é que seu cantinho ainda nem esfriou e você já é pó. E o que que eu faço agora?

sábado, 17 de novembro de 2007

mais uma de antonio...

ALL DISNEY
Antonio Prata
(publicado no Guia do Estadão)
Toda vez que vejo a tabuleta “Não sei voltar sozinho, meu lugar é na garagem”, no carrinho de supermercado do prédio, sinto um pendor para o vandalismo. Tenho vontade de agarrar aqueles arames fanfarrões e falar: “ah, não sabe? Quer dizer que é capaz de escrever um aviso em primeira pessoa, imprimi-lo numa placa, mas esticar a rodinha até o botão do elevador e apertá-lo, que é bom, nada? Agora vai voltar sozinho, sim senhor!”.
Suponho que eu devesse achar graça em estabelecer contatos imediatos de terceiro grau com um carrinho de supermercado. E, sentindo-me satisfeito por morar num edifício onde tal objeto é tão gentil e bem-humorado, deveria olhá-lo com ternura e dizer “ok, amigão, vamos lá, eu te devolverei à garagem, seu doce lar, onde reencontrará seus irmãos metálicos e poderá fazer as mais loucas traquinagens!”. Mickey Mouse aparecer com vassouras e baldes dançantes ou carros falarem abrindo e fechando os capôs seria uma consequência lógica, e eu sorriria mais uma vez, pois a vida, afinal de contas, havia se tornado um desenho animado.
Está certo, o lugar do carrinho é na garagem, como o céu é do condor e a Rua Javari é do Juventus. Longe de mim querer condená-lo a noites frias em halls escuros, ou espremê-lo ao lado de vizinhos resmunguentos, no canto de um elevador. O que penso, triste, diante da tabuleta, é: onde foi que nós erramos? Apesar de todas as provas em contrário, eu acredito no ser humano. Talvez algum Nobel gagá ainda explique meu otimismo como fruto do baixo QI do brasileiro, mas enquanto isso não acontece, continuo achando que deveríamos levar o carrinho para baixo – e diminuir as emissões de carbono, votar nas eleições ou bater panelas na rua – mais movidos por Thomas More e Rousseau do que por Disney e Pixar. A tabuleta e seu humor infanto-publicitário, no entanto, apenas confirmam que nossa visão de cidadania não é a de Rousseau: obedecer as leis que nós mesmos ajudamos a criar, mas a de Scooby Doo: se fizermos tudo direitinho, ganhamos um biscoito no final.
É um curioso autismo lúdico: não olhamos nos olhos dos vizinhos, mas conversamos com carrinhos de supermercado. Não é de se admirar que as coisas estejam como estão. (E os carrinhos, pelo menos aqui no meu prédio, continuem abandonados no elevador. Tadinhos).

terça-feira, 13 de novembro de 2007

"a vida é uma escola"

Uma coisa que me incomoda muito é ver fatos que eu poderia jurar que não saíriam dos portões da minha escola acontecendo na vida real.
É fato que podemos ver um colégio como nosso primeiro contato (ou segundo, se considerarmos a família) com a sociedade, e portanto essa "microsociedade" tem vários podres em comuns.

Mas sinceramente esperava que certas coisas fossem amadurecer. Intrigas, fofocas, olhares, que eram comuns entre lancheiras e sinais, nem sequer se tornaram desenvolvidos, presos a um mínimo de bom senso.
O mais preocupante nisso são as proporções, que ficam bem maiores. As pessoas que antes prejudicavam o coleguinha com suas relações sociais, hoje pode demitir alguém. O que antes a fofoca era "quem ficou com quem", "quem falou mal de quem", hoje é "que drogas ele tá usando e com que frequencia", além de isso hoje não custar só a humilhação, mas também de repente uma oportunidade de emprego ou um casamento.

Não prego moralismo, não é o simples fato de "fofocar ser ruim". Prego ética. Bom senso em pensar nas consequências que certas atitudes inconsequentes nossas podem acarretar na vida alheia. Talvez o problema seja as pessoas não enxergarem o mundo muito além do que convém a elas. Talvez elas até enxergam consequências, mas simplesmente não se importam, ou acham muito mais legal o poder que o revelar um segredo pode propiciar. E quem não quer usar seu próprio, tem que ir atrás do dos outros... e guardar a oportunidade perfeita para reaproveitá-lo.
O segredo como moeda de troca.

Afinal, o que se ganha com um segredo? Um amigo? Status social? Poder?
O resultado disso tudo foi descobrir que caráter talvez não seja questão de crescimento, amadurecimento. E aí vemos que foi mero engano achar que aquele diploma de papel no colégio garantiria a liberdade de certos personagens traumáticos, de certas atitudes escrotas.
Porque a vida é uma escola, com todos os tipos de estudantes já antes conhecidos por nós. Só nos livramos do uniforme...

*** todo esse post foi baseado em conversas de bar/momentos vagais fora da sala e precedem um blog que pode surgir por aí...
 
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