sábado, 26 de dezembro de 2009

Band-Aid no coração

(...) Andei amando loucamente, como há muito tempo não acontecia. De repente a coisa começou a desacontecer. Bebi, chorei, ouvi Maria Bethânia, fumei demais, tive insônia e excesso de sono, falta de apetite e apetite em excesso, vaguei pelas madrugadas, escrevi poemas (juro). Agora está passando: um band-aid no coração, um sorriso nos lábios – e tudo bem. Ou: que se há de fazer.
[Caio Fernando de Abreu]

- E você, por que desvia o olhar?
(Porque eu tenho medo de altura. Tenho medo de cair para dentro de você. Há nos seus olhos castanhos certos desenhos que me lembram montanhas, cordilheiras vistas do alto, em miniatura. Então, eu desvio os meus olhos para amarra-los em qualquer pedra no chão e me salvar do amor. Mas, hoje, não encontraram pedra. Encontraram flor. E eu me agarrei às pétalas o mais que pude, sem sequer perceber que estava plantada num desses abismos, dentro dos seus olhos.)
- Ah. Porque eu sou tímida.

[Rita Apoena]

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

the grinch

é um problema: eu não gosto de natal. há tempos essa data me angustia, me irrita, me deixa brava. antes eu simplesmente achava chato. esperava passar, tipo gripe chata.

nos últimos anos, é uma coisa que começa a existir certa atividade de ódio. existe um gasto de energia em odiar o natal e cultivar um anti-espírito natalino.
eu adoro presentear pessoas, mas não em um dia que todas as lojas estão cheias de gente querendo presentear pessoas. e gosto de caminhar e achar uma coisa pra alguém que gosto e poder comprar. e gosto de pensar em algo que alguém gostaria de ter e dar. mas não ter que pensar e pensar no que dar pra alguém porque é dia de presentear as pessoas.

e se presenteia um, tem que presentear outro e outro e outro. e tudo o mesmo preço, mais ou menos, obviamente. não queremos que o dinheiro diga o quanto você se importa mais com alguém.

além disso, temos que arrumar a casa, receber pessoas. preparar comidas grandiosas e bonitas. e comer, comer muito muito! viva a burguesia. a falsa e a verdadeira - sobretudo, a falsa.
todos hipócritas, botando quilos e quilos de máscara.

é tempo de comer muito.
é tempo de presentear quem você ama - e ai se você não dá nada, que falta de consideração!
é tempo de fazer algo bom pra alguém - aproveite esses dois dias.

odeio o natal. e odeio esse ódio clichê de natal. mas dentre esses dois, prefiro cultivar o primeiro.
a minha busca esse ano é procurar pessoas que gostem dessas festas. porque se todo mundo arma todo esse circo a toa, aí sim eu vou ficar realmente p...!

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boas festas pra todos.

domingo, 20 de dezembro de 2009

simples assim

um dia sou eu e a mala, em uma cidade nova. tenho uma chave, que dá pra um apartamento.
o meu apartamento.
e de repente sou eu, a mala, a cidade nova, a chave, o apartamento...sozinha?

olho pro lado...e lá tem pessoas.
companhias pra estudo, refeições, choros, risos, filmes, discussões, cerveja.

isso tudo pra dizer que a vida é torta, que a vida não é linear e não há burocracia que descreva. depois que eu e a mala fomos pra tal cidade nova, frequentemente nos deparamos confiando em pessoas que recém conhecemos: pra entregar alguma coisa, pra entrar na sua casa e, de repente, até pra morar com você.

um dia sou eu e a mala.
um calor infernal.
de repente, olho pro lado...e existe uma família ali.

sábado, 19 de dezembro de 2009

acho tudo muito chato.

coisas do coração
quanto mais me distancio do objeto de gosto, mais me aproximo do gosto por gostar. crio fantasias, imagino presentes, poesias e discursos maravilhosos.
e assim, o objeto vai ficando grande, grande, grande... até que volta a ser real. nessa hora ele parece menor, agora em seu tamanho de origem. sem graça.
às vezes eu prefiro ficar com os sonhos, com a minha idéia do outro.
me envergonho desse meu lado platônico gritando tão alto. mas confesso que ele grita e grita muito agora. mas logo logo, o objeto real surpreende na vida real, quando ele bem entender.

o problema é quando o objeto de gosto não sabe que está sendo testado pelo meu platonismo.

o mundo anda tão complicado
eu não sei a quanto tempo existe o homem. mas dizem que faz um bom tempo. é difícil dizer quanto tempo é muito tempo. partindo do que einstein dizia, sobre relatividade do tempo, imagino que poderia comparar o tempo do homem com uma aula do eixo biológico.
pensando assim, posso afirmar que faz muito tempo que o homem existe.
o homem existe há muito tempo e nesse muito tempo fez muita merda. mas quando eu digo muita, eu digo muita mesmo. essa coisa de quantidade, creio que einstein não pensou muito. foi algo mais pra quem começou a inventar números, pesos e medidas.
bom, o homem fez coisas boas nesse tempo, fez mesmo. existe música, que é o clichê que sempre recorremos pra dizer das coisas boas do homem, sempre esquecendo da perda que tivemos com esse mesmo ganho (viste tamanho coletivo de acordes que também recebeu o nome de música mas que é vergonhoso. cito: calypso).
ok. a gente cria as coisas e a gente pensa. há um bom tempo, o que fez a gente criar tantas coisas e pensar mais ainda. tento calcular quantos pensamentos existem no mundo a cada segundo. isso deve ser algo medonho de se imaginar. se isso pudesse ser escrito, ia ser bem doido.
eu comecei a escrever pra falar de racismo, um pouco. também gostaria de falar de fascismo, um pouco. e um pouco também sobre biotecnologia. mas a introdução começou, e eu resolvi escrever sobre coisas sem muito sentido que foram passando pela minha cabeça enquanto pensava como falar de racismo, fascimo e biotecnologia nesse blog, considerando que eu não escrevo muitos textos por aqui, são mais pensamentos soltos demais.
penso que quero escrever coisas um tanto mais concretas nesse espaço. uns diriam que estou ficando mais materialista, pegando nessas coisa de concreto e querendo construir espaços, he.
talvez, talvez.
o problema é que agora cansei de escrever e não falei de racismo, fascismo e biotecnologia.
mas pretendo falar. é possível que esse blog se torne outro.

mais uma vez.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

vazio literário

sem criatividade pra escrita.
talvez nem pra vida.

quando volto assim, lentinha, escrevendo quase parando, é porque logo mais vem um boom de posts.
sobretudo porque as férias se aproximam.

mas por enquanto, nesse aqui, fica: vazio literário. e não se fala mais nisso.

capitalismo selvagem

Era do politicamente correto é isso aí: Papai Noel precisa entrar em forma, diz estudo de saúde pública
http://noticias.uol.com.br/tabloide/tabloideanas/2009/12/17/ult1594u1870.jhtm
Papai Noel precisa perder peso, reduzir seu consumo de panetone e conhaque e trocar seu trenó puxado por renas por uma bicicleta para tornar-se um exemplo mais saudável para as crianças, disse um estudo de saúde pública australiano.
O médico Nathan Grills, da universidade australiana Monash, diz acreditar que a imagem atual de Papai Noel promove a obesidade (comentário do Editor do UOL Tabloide: "!"), a condução de veículos sob efeito de álcool ("!!") e em alta velocidade ("!!!") e, de modo geral, um estilo de vida pouco saudável ("!!!!"), e que seria melhor se ele fosse retratado sem a barriga grande ("!!!!!") que é sua marca registrada.
Sua pesquisa sobre Papai Noel, que o médico disse ter sido feita em grande medida a título de brincadeira, mas com a intenção de conscientizar o público sobre a saúde, foi publicado na edição de Natal do British Medical Journal sob o título "Papai Noel: Pária da Saúde Pública?"
"Uma figura que é tão conhecida em todo o mundo quanto a de Papai Noel tem o potencial de influenciar pessoas, especialmente crianças, e transmitir a mensagem de que tudo bem beber e ser obeso", disse Grills à agência de notícias Reuters. "É um risco muito pequeno, mas que atinge uma faixa muito grande de pessoas."
Fonte: Reuters

Nota: acho que as pessoas já estão devidamente se martirizando pelo seu peso. emagreceram já a mônica (turma da monica), e agora querem emagrecer o papai noel.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

a violência é tão fascinante, e nossas vidas são tão normais.

primeiro, os berros. xingamentos, gritos. alguns minutos depois...
PÁ.
PÁ.
PÁ.
começa a agressão. viver em sociedade, que maravilha. a modernidade é mesmo uma beleza. amontoados de apartamentos empilhados, com paredes finas que permitem saber das intimidades das vidas alheias. saber de forma compulsória. todos os dias X mulheres são agredidas pelos seus respectivos maridos. uma delas é a minha vizinha do lado. todos os dias X mães bebem e agridem seus filhos. uma delas é a minha vizinha de cima. tudo isso acompanhando de um belo som de fundo, de carros passando, pessoas pisando no andar de cima, vizinha de baixo que molha seu quintal e é claro, música alta de algum andar. às 21h, uma vizinha do andar de baixo assiste a novela. "tã-na-na-na-na-nãam".
TUM
TUM
portas fechando. mais gritos. mais pegadas. mais objetos sendo jogados.
e as vizinhas discutem o escândalo de três estudantes mulheres no prédio "de família". recebem homens direto, ora vejam só! isso é uma vergonha.


...enquanto isso, do outro lado da cidade (onde a classe média - a classe média que ao chegar em casa, quando pensa que ninguém mais vê e ninguém mais ouve nada, espanca suas mulheres e filhos - diz morar a pobreza, aquele grupo de seres humanos em condições inumanas) crianças brincam de "bope", com suas arminhas e escudo. com seu ódio precoce no olhar.

e viva a civilização.


terça-feira, 1 de dezembro de 2009

capítulo um

"não, meu bem, não adianta bancar o distante: lá vem o amor nos dilacerar de novo..."
caio fernando de abreu


estamos sem se falar. todo esse silêncio porque o "te amo" preso na garganta não quer sair. fica um silêncio. quero dizer: TE AMO TE AMO TE AMO. e tenho saudades. e quero você, só você. hoje te quero e só te quero e pra sempre. amanhã, não sei. quem sabe?
só sei que hoje quero você. e que essa distância é insuportável. eu te amo tanto que dá raiva. e te vejo tanto, e penso tanto em você, que me enjôo.
e o "te amo" não sai porque "te amo" é clichê. "te amo" é pouco, é síntese. é síntese do berro que quer sair. é uma sensação estranha, aliás, várias sensações estranhas. todas fazendo uma revolução aqui dentro, querendo explodir pra fora. e explodem. explodem em potência de vida.
você me dá força pra enfrentar essa vida, difícil pra caramba.
eu sabia. eu sabia, desde aquele dia.
nenhuma história de amor começa do primeiro olhar trocado, tirando as paixões a primeira vista (dessas desconheço, mas quem sabe). não sei nem dizer se existem histórias de amor. o amor vem em passagens, momentos em que sente "aquele" negócio.
e eu sabia, eu sabia desde aquele dia.
até então, existia um ar de possibilidade. como aquele ventinho que vem anunciando uma tempestade. mas, desde aquele dia que foi difícil te deixar ir embora. aquele dia que tentei pedir pra você ficar, e não consegui. naquele dia, disse pra mim mesma: lá vem. lá vem. tudo novo de novo. e então. tudo que resta é se jogar nesse salto.

bom é ter você ao lado, apertando forte a minha mão. meu companheiro de montanha-russa-eterna. companheiro para nadar nesse mar sem fim. te acompanho, te acompanho pra tudo. hoje eu te acompanho pra onde você propor. tudo é divertido, é sorriso, é sábadão a tarde de sol.
você é férias, feriado. é tudo e também coisa nenhuma - pois é inexplicável.

ah, linguagem, linguagem maldita. faz a gente querer reduzir tudo a palavras. mas meu amor por você, meu querido, o grito explica muito mais: urgente, alto e quase impulsivamente.
 
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