domingo, 27 de março de 2011

Tempos Sombrios

"vocês, que vão emergir das onda
sem que nós perecemos, pensem,
quando falarem das nossas fraquezas,
nos tempos sombrios
de que vocês tiveram a sorte de escapar.

nós existíamos através da luta de classes,
mudando mais seguidamente de países que de
sapatos, desesperados!
quando só havia injustiça e não havia revolta."
aos que virão depois de nós, brecht



tempos sombrios em que spray de pimenta vira inseticida e criança vira mosquito.

sábado, 12 de março de 2011

a vida é assim.


as noticias anunciam: são mais de mil. ontem, eram 288. perdão, duzentos e oitenta e oito.
é um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove dez... dá trabalho escrever duzentos e oitenta e oito, que dirá mil, mil e oitocentos. um número por vez. dá trabalho...
...mas seria uma forma menos cruel, quando é de vida que falamos - morte, no caso.


mil e oitocentos - e o número crescerá, ah crescerá! - mortos/desaparecidos. para alegria da midia, que se alimenta de tragédias. quanto maior os dados numéricos, mais impressionante. mais vendas. o poder de ser aquele quem distribuirá as informações para brasileiros sedentos por dados numéricos.

vidas arrastadas. casas arruinadas. de longe, são madeirinhas boiando numa água infinita, que não acaba. de perto, é o desenho do filho que estava na geladeira, misturado com a geladeira, com a parede, com o teto, com o relógio, com o computador, com as roupas, com a compra do mês.

e a gente lê, assiste os videos (a tecnologia de hoje nos permite isso). ficamos chocados, horrorizados. escrevemos no blog, no facebook, no twitter. comentamos com um colega. "desgraça"... "ah, é mesmo, um desastre".

os que acreditam em Deus, rezam para Deus.
os pragmáticos procuram aonde podem doar algo.
os sensiveis choram, emocionam-se. mas logo se conformam: não há muito o que se fazer.
os indiferentes alegam: até que não foi tanta gente que morreu.
os entendidos do assunto tentam explicar para os leigos - sempre há uma explicação racional para tudo (a Academia é realmente excelente e prestativa).

e então o ônibus chega e você para de ler a capa do jornal da banca em frente. vai encontrar os amigos e beber para esquecer das mazelas.
e então você fecha a página da internet. abre o Word para fazer relatório de coisa qualquer para a faculdade ou qualquer planilha para o trabalho qualquer. vai tomar um café, e beliscar algo na cozinha.
e então você muda de canal. vai começar o quarto episódio de alguma temporada de algum seriado qualquer (ou passará aquele filme que você sempre quis ver).

a vida é assim.
a vida é assim?

domingo, 6 de março de 2011

junto e misturado

"'Cause love doesn't hurt so I know I'm not falling in love I'm just falling to pieces..."
acabou. acabou o amor, a falta de paz, a insegurança, as incertezas. agora é acaboueponto.
e tudo de repente ficou tão sem graça. você e suas duvidas, você e suas questões, você e suas crises. no meio de "você e." havia eu. e eu mal me desenterrei, mal saí dessas suas duvidas e questões e crises e lá vinha você afogar outra. outras. outros.
e eu ainda pensando na coisa horrivel que é sentir um corpo que não é teu.

as mãos que envolvem a minha cintura, e o corpo rejeitando o "corpo estranho" que aproxima.
" - não são as deles".
o rosto roçando no rosto, na pele, não é a mesma coisa. falta pelo, barba.
agonia pensar que jamais sentirei aquele seu corpo que tanto cai tão bem em mim.
e agora acabou.
acaboueponto.
você continua sendo maravilhoso, seu sorriso continua lindo e o nosso passado talvez a história mais linda que já vivi. mas não adianta ser maravilhoso, ter sorriso lindo e um passado de história mais linda.
precisa ser real e sincero. precisa ser possivel, acima de tudo. coisa que você não é. coisa que nós não somos.
e então hoje eu tô brotando de novo pro mundo, querido.


"this just doesn´t seem to be my day"
o vento anuncia uma chuva por vir. olho para cima: no céu, quase nenhuma nuvem. dessa vez o vento se antecipara um pouco- pensei - mas é vento de chuva, certamente.
e então, fazer o que? assistir a um filme, terminar algum dos milhões de livros por ler? limpar a casa, rever papéis que estão para ser vistos há um tempo.


caminho até o ponto de ônibus. chovia aquela garoa fina e incômoda - mais uma justificativa para os olhos quase fechados, além do sono. era muito cedo.


não. aquele dia eu não iria assistir a um filme, nem terminar algum dos milhões de livros por ler... sequer limpar a casa ou rever papéis a serem vistos há um tempo.
naquele dia eu iria tra-ba-lhar.


"it´s the end of the world, as we know it..."
só pra registrar: sou contra esse botão automático em dizer "separar questões pessoais de questões políticas". é evidente que pra algumas coisas é importante. mas sou absolutamente contra usar essa expressão para justificar a outra ideia de que "na política vale tudo".

acho muito bizarro construirmos juntos uma outra possibilidade de mundo ao mesmo tempo que apunhalamos uns aos outros pelas costas. que tipo de transformação é essa? somos o não somos "companheiros"? ou só seremos depois que os trabalhadores se unirem? enquanto isso, tudo bem? blá.


essas atitudes só me mostram como estamos longe do socialismo.


"se vem do coração, não tem jeito não, deixa acontecer..."
então vem e me leva para sua casa e vamos jantar e vamos ser um casal de faz tempo. você sabe que eu gosto de bowie e smiths, e eu já sei que você não gosta de beringela. ambos dormimos de samba canção.
vamos pular a parte conhecer-familia, todas as primeiras vezes de tudo e vamos pras segundas, terceiras. eu procuro seus dados no google, você procura os meus.


ou deixa acontecer. e-vamos-ver-no-que-dá.

que seja doce, que seja doce.

respirar fundo: que venha outra história, outra(s) vida(s).
então é isso que chamam de virar a página? sensação de coisa nova. frio no estômago. tudo novo de novo. basta uma conversa, a ultima lagrima cair e é isso - agora sim, acabou!


então, a partir de agora é: (re)começo.
a partir de agora deixo de falar do fim, para falar de começo!


o ano começou de um jeito diferente dos outros
ventos que carregam as folhas no ar, fazendo com que elas dancem com seu ritmo próprio.
as nuvens entram em cena, e o céu muda de tom, antecipando o escuro da noite. tudo isso anunciando uma tempestade por vir.
passos largos para chegar a um espaço (supostamente) protegido.
os camelôs saem de suas casas animados para vender seus guarda-chuvas a cinco reais.
no meio dessa cena, uma moça decide que enfrentará a chuva, e mais: com um sorriso no rosto. sua vida anda tão parada que imagina a chuva ser um sinal divino, um chamado para que se jogue, se molhe, se entregue - pelo menos um pouco.
e que venha espirros e resfriados e o que vier em seguida.

chove demais.
faz calor demais.
o ano de 2011 traz uma intensidade peculiar. um ano que vem para incomodar aqueles que acham que é possível conciliar tudo, que é o fim da era dos extremos.

as lutas no Egito, na Tunisia, Libia (e tantos outros lugares possiveis...).
as eleições na Irlanda, com cinco parlamentares socialistas eleitos, as eleições para diretor de Campus da UNIFESP-BS (nasce uma oposição, proposição, uma alternativa!).
de alguma forma a insatisfação com os governos, reitorias, ditadores, vereadores, prefeitos, burocratas e toda essa laia está mais gritante. e cresce, obviamente, a insatisfação com os insatisfeitos - recebidos calorosamente com sprays de pimenta e cacetetes.

2011 veio de um jeito diferente, com cara de algo por vir...
é fato: nem todo vento antecede uma tempestade, e logo as nuvens se abrem deixando a luz do sol invadir os solos cinzas da cidade, as folhas caem e sapatos sujos e furados passam a pisar sem sequer notá-las.

mas vamos, vamos fazer a alegria da menina. deixá-la acabar com o tédio. deixá-la dançar na chuva! que venha a tempestade, que venha algo grande... e que seja doce, que seja doce!
 
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