quarta-feira, 28 de março de 2012

para lembrar da legião dos esquecidos; de ontem e hoje.

sobre o ir e vir da vida
"estou sentado de costas para a vala. 
o motorista troca o pneu.
não amo o país de onde venho
não amo o país para onde vou.
por que olho a troca do pneu
com impaciência?"
brecht

as pessoas correm, correm e correm. não correm mais, porque há trânsito de pessoas - fila pra banco, pra entrar no ônibus/metrô, pra conseguir emprego, pra entrar no vestibular.
estão insatisfeitas, todas estão. aguardam na fila pras coisas, ora impacientes com pressa para chegar a lugar algum, ora com um olhar morto, como quem segue o resto da boiada pro abate. é isso que vejo, no metrô lotado do horário de fim de expediente: pessoas indo pro abate.
é pressa, é responder, é resolver, é escrever, é produzir, é pagar: agora, agora, agora.
o cinema, a conversa, o carinho, a possibilidade de mudança: depois, depois, depois.

impaciente ou vazio, o que interessa é que chega num ponto que nada interessa - e resta correr, e ao final do dia descansar e preparar-se pra nova hora da largada. quando é que vão descobrir que não se trata de cumprir as tarefas, mas de pensar no caminho?

enquanto isso, aquela que pisava, caminhando na linha amarela com seu passo próprio, às vezes imitando uma equilibrista de circo, vivia intensamente os caminhos. quem a via, em meio a multidão - e muitos a viam, pois era o único olhar vivo em meio há tantos outros - se espantava: como alguém pode ser leve assim num mundo como esse?

a verdade é que por não gostar de cá, nem lá, era indo que sentia-se bem - pra onde, só descobriria quando convencesse os outros a também pensarem um pouco mais no caminho e seus rumos e um pouco menos em seguir aquelas trilhas já ditadas.

sobre aqueles que abrem novos caminhos...



hoje é 28 de março, ano que em 1968, tivemos o primeiro estudante assassinado na ditadura, Edson Luiz, no restaurante Calabouço. ele e um grupo de secundaristas planejavam uma manifestação para aquele mesmo dia, contra aumento do preço da alimentação.

hoje é dia 28 de março de 2012, e tem muitos hoje que comemoram o fim da ditadura, a plena democracia e até dizem por aí que o tal do capitalismo venceu. um punhado de gente - estudantes, mulheres, negros, sem teto, sem terra, homossexuais, pobres, enfim, trabalhadores - persistem e insistem em dizer que isso não está acabado.

hoje é dia 28 de março de 2012, e hoje, como amanhã e depois e depois e depois, é dia de muita luta, é dia de lembrar e comemorar todos aqueles que lutaram e resistiram e fizeram, de alguma forma, a história com as próprias mãos. hoje, e depois e depois e depois, é dia de contar e repassar essas histórias, que muitos insistem em tentar apagar, abafar, sufocar, e escrever muitas outras.

da série: diálogos, declarações mal sucedidas.

- eu não queria ir lá.
- então não vai. as vezes que fiz as coisas somente por obrigação, acabei fazendo mal feito.
- é...mas de repente, a gente nunca sabe. quando te conheci naquela reunião, eu não queria ter ido e estava meio mau humorada. mas te conheci, e olha só no que deu!
- ...

então você está indo na esperança de encontrar com alguém lá?

terça-feira, 27 de março de 2012

se eu te escrevesse uma carta de amor...

se eu te escrevesse uma carta de amor, ela falaria de como gosto de encostar no teu ombro esperando você aos poucos aceitar envolver teus braços em mim.
você resiste, mas uma hora aceita e é tão gostoso. é gostoso te desarmar mesmo que por pouco tempo.

se eu te escrevesse uma carta de amor, ela certamente falaria de planos.
a verdade é que nosso futuro parece mais promissor que o presente. e não é que não goste dele - gosto muito. mas existem caminhos tortuosos pra chegar naquilo que eu sei e você sabe também - ainda que disfarce - chegaremos um dia.

eu vou apertando os freios e você o acelerador. de vez em quando a gente encontra um ritmo, às vezes passa por uns obstáculos, mas aos poucos nossas velocidades vão se encontrando e eu vou aceitando a aventura.

qualquer dia aceito teu convite, e a gente desce a consolação num carrinho de rolimã.
sem freios.
sem receios.

se eu te escrevesse uma carta de amor eu poderia escrever sobre muita coisa, mas espero um dia é assumir tudo isso e te contar frente a frente, olho no olho, como uma confissão com tudo que deixei de falar nesses últimos dias.

das cenas.
dos casos.
dos acasos.
e desse teu jeito...

domingo, 18 de março de 2012

rapidinhas

acordo
acordamos e tudo parecia estar tudo certo. parecíamos contentes, satisfeitos de notar que pensamos parecido - o que fez com que acordar não fosse tão difícil.
agora, acordo sozinha: me sinto perdida entre tantos casos omissos e sem você.

1,2,3...valendo!
vida profissional não tem se diferenciado muito da vida amorosa. nas primeiras possibilidades a gente se entrega,  cheia de ilusão... até que. vê que é difícil, se frustra, não rola. e aí você começa a esperar um tempo até se sentir feliz. olha, desconfiada, pra nova possibilidade que surge esperando um sinal mais claro dizendo: certo, é isso mesmo, pode comemorar, o lance é bom mesmo.

caminho
procurava a felicidade. até que viu que isso é muito. passou a procurar por conforto. um pouco lá, um pouco acolá, um pouco aqui... nada. nenhum lugar, nem ninguém, nem nada. no entanto, o caminho para outro lugar, outra pessoa e outra coisa qualquer - a promessa que a possibilidade reserva - trazia uma sensação incrível.
alegria para ela, era ir. então passou a fazer longas viagens.


quinta-feira, 15 de março de 2012

nada por mim

"me deixa em paz"
você pediu.
seus olhos brilhavam.
sorriso que faz boca doer.
e eu te dei paz.

foram dias e dias de alegria, de vida viva.

"me deixa em paz"
você pediu novamente.
mas dessa vez teus olhos não brilhavam,
tampouco a boca doía pelo sorriso.
e eu te dei paz.

fui embora e não voltei mais.

segunda-feira, 12 de março de 2012

dança

e então de repente era nós dois e mais ninguém ali. o volume da música não estava tão alto quanto a força dos seus olhos, que gritavam nos meus. brilhavam de forma tal que eu não precisava de nenhuma luz ali. nossos olhos guiavam para onde queríamos ir: hipnotizados, caminhamos lentamente e de forma precisa em direção um ao outro. ainda que já nos conhecíamos, pouco a pouco descobrimos como nos olhar como se fosse pela primeira vez. seu olhar trazia coisas novas - eles sempre reservam novidades.

e então de repente era nós dois e mais ninguém ali. o volume da música não estava mais alto que nossos corpos que conversavam atentamente. você passou a ponta dos dedos pelo meu braço inteiro, desde os ombros, até encontrar as pontas dos meus dedos também. então segurou a minha cintura, e era como se suas mãos estivessem conversando. foi chegando lentamente, primeiro com as pontas dos dedos e depois foi possível sentir tua mão inteira deslizando até que.
- te quero. - elas diziam, segurando forte.
e meus braços caíram perfeitamente em volta de seu pescoço, como se desde sempre soubéssemos que era seu pescoço que eles envolveriam um dia.
- eu me entrego. - diziam eles, acomodados.
e minhas pernas intercalaram as suas e de repente dançávamos em um passo próprio, que não era doispraládoispracá.
- estamos juntos. - todas as quatro pernas anunciavam, em coro.
nossos corpos a essa altura tagarelavam: ombros, coxas, peitos, barrigas... aos poucos podíamos sentir mais e mais um ao outro, e era tanto o desejo que havia em sentir cada parte do seu corpo que quando finalmente o toque ocorre dava pra sentir em cada centímentro uma mistura de êxtase e conforto.

e então de repente era nós dois e mais ninguém ali. o volume da música não estava mais alto que nossas bocas que se rendiam àquele beijo. nossos lábios encostavam devagar, como se não existisse tempo. desrespeitar a pressa no sistema capitalista - aquela era nossa militância naquela hora, e fomos extremamente subversivos. pouco a pouco sentíamos as bocas se encostando, e elas se encostavam tão devagar, passeando entre si que pareciam transitar metros de distancia. até que devagar com a ponta da língua em seus lábios te convido pra um beijo. você aceita e então era como um mergulho delicioso na água gelada num dia de verão.

e se havia gente, e se havia horário, e se havia despedida, e se havia expectativa, ou medo, ou coisas pra fazer... tudo aquilo por alguns instantes não importou. naquele momento era nós dois constatando que do nosso jeito estávamos aprendendo a dançar de um jeito próprio e singular com a música que nos dão, mesmo que faça parte também fugir do compasso vez ou outra, se assim acharmos mais gostoso.

sexta-feira, 2 de março de 2012

sobre o comentarista

a universidade está rodeada de comentaristas. a instituição historicamente conhecida como o espaço de produção de conhecimento, produz atualmente grandes-comentaristas-de-coisa-qualquer. 
pergunte a um deles sobre aborto, que trarão um artigo científico ótimo com dados estatísticos. 
imparcial, é claro (mas que provam seu ponto de vista).
pergunte sobre a tropa de choque que chega para desapropriar moradores, e eles darão uma resposta acadêmica exemplar - ponderando "os dois lados". chegarão a belíssima conclusão de que nem um, nem outro estavam certos. ambos estavam errados. certo é ele, é claro, o comentarista.
pergunte também sobre a educação, a saúde, o meio ambiente, a fome, a miséria... e ele dirá: realmente, está um caos. e trará explicações excelentes de como o governo é ineficaz, as pessoas são ignorantes e o mundo está permeado de injustiças. terá uma ótima citação que diga que as coisas de fato vão mal, mas que "veja bem, não podemos também cair pra o outro lado de...". certamente envolverá nietzsche no meio.

o comentarista terá resposta para tudo. saberá inclusive chamar de tolo e ingênuo aqueles que tentam superar essas injustiças, analisando e justificando porque cada ação dele será em vão. 
só não pergunte ao comentarista o que fazer. ele sabe analisar as coisas muito bem, mas não quer se meter a dizer o que os outros devem ou não fazer - afinal, isso é autoritário. 

então apenas assiste a tudo, e comenta.

imagina...!

imagina se.
só imagina.

porque tem caso que é melhor só imaginar.
tem caso que imaginando é mais divertido.
tem caso que imaginando é menos perigoso.
não que minha imaginação seja segura - ela não é, e leva para caminhos tortuosos e complexos, nada lineares. talvez por isso tenha medo de te colocar pra viajar dentro dela comigo. pior ainda saber que o convite pra entrar na minha é um convite, por consequência, talvez, pra entrar na tua - e gostar de você desse jeito (e desse teu jeito...) é estar em duas montanhas-russas ao mesmo tempo, que cruzam e distanciam o tempo todo - porque temos tudo e nada em comum. imagina só nós dois fazendo essa viagem em um só carrinho!

e eu não falo.
e eu não faço.
e eu não, não, não. - e você adora dizer que eu não, não, não, porque torna teu sim, sim, sim mais poético - mesmo que para isso você tenha que abafar todos os meus "sims" pra você.

eu não nego meu não, porque sei que você sabe que não é simples assim - coisa de dizer sim ou não. você diz que eu digo não pra tua cerveja, pra um simples caminhar na praia, mas sabe que tua cerveja e teu simples caminhar na praia vem com muito mais coisa - é uma passagem pra montanha-russa cheia de poesias, e brigas bonitas e intensas e vida de dores e doçuras. é convite pra intensidade.

mas imagina. ah... imagina!

 
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