quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Áspero.

(do celular) - você nem me manda mais mensagens...
(do olhar) - eu te mando o tempo todo, você é que não tá lendo.
(da fala) - acho que tu não escutou, mas disse que te amo. uma bela metáfora para nossa situação.

- - - -

olhávamos do lado de fora, pela janela, um mundo que acontecia dentro de um salão. pessoas dançando, de tantas idades. bancários, professores, donas de casa, aposentados, estudantes, portuários, servidores públicos...? que era aquela gente, que em meio a tanta loucura, consegue reservar um tempo para dançar? pareciam felizes, pareciam pessoas comuns que brilhavam.

a linda vida medíocre dos miseráveis.


sábado, 1 de setembro de 2012

à flor da pele

há os dias em que se busca simplesmente cumprir as ta-re-fas. e não se trata de dias frios e mecânicos, mas de saber a hora em que os compromissos e as responsabilidades devem consumir cada gota da sua força para que saiam, para que aconteçam.
mas há aqueles dias em que há mais sentimento (sentido?) em tudo - mais alegria, mais tristeza, mais dor, mais amor. estar à flor da pele, sentindo que uma brisa mais forte seria capaz de desmoronar em lágrimas, em cacos, em seja-lá-o-que. às vezes é prender o nariz e mergulhar, mergulhar fundo sabe lá onde, sabe lá porquê. - mas acontece que a gente sabe - a gente sempre sabe - aonde e porquê.
existe o dia que se distribuir em cacos é permitido, principalmente se tiver alguém para recolhê-los.

a cabeça gira. é novo passar por uma experiência que traz tantos pensamentos e não tantos ouvintes. sufocada com ideias, planos, compreensões, dúvidas. em meio a tanta gente, sentir-se só. e em meio a solidão, sentir-se um clichê. um clichê que se sente só em meio a uma multidão.

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pausa

novos sabores levados a boca, novas texturas ousando percorrer pelas mãos. novo som, novo cenário. novo corpo que abraça corpo novo, nova boca que encosta na boca nova, de sabor novo. 
a fruta doce demais, tão doce quanto o toque e o mar salgado expulsa o casal.
- aqui não. - dizia o mar, moralista e metido, que mantinha a ordem na praia. uma praia para família - era o que acusavam as pessoas em volta.
o turismo tampouco era convidativo - sabia que ali não era lugar dessas coisas. ali não tinha espaço para outras riquezas que não as em dólares.
a árvore gigante tampouco queria abrigar amor algum. tinha pressa pra fechar, tinha preço para entrar. os olhos atentos dos comerciantes pouco ligavam para os olhos cheios de desejo. estavam ocupados demais com seus próprios desejos - estes tampoucos relacionados a amor ou paixão. estavam ávidos por um comprador disposto a deixar um bom dinheiro. 
"roubam-me a cidade, pois eu roubo-lhes o dinheiro" - pensam.
respiro fundo para não deixar que este olhar e a cidade tomada pelo consumo me consuma. 
"é a pausa" - tento memorizar, e me disciplinar para  não perder o foco, cujo foco era perder o foco.

então o casal continua a procura de um refúgio.

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continuação da pausa


pés que caminham seguindo a areia que corre. mão que encontra mão, mar que encontra pés. e as bocas que se encontram novamente e tudo pára. pára?!?!
não, não, não! tudo gira. e a cada giro, era uma coisa que saía da cabeça. aprendera enfim um novo jeito de meditar. o mar engolia os pés e as bocas buscavam engolir umas às outras, num desejo súbito de fazer tudo sumir e nada mais além daquilo existir. o tempo que durou, não se sabe - cinco, dez, trinta minutos? 
de sons, eram apenas os ventos alísios que vinham em alguns momentos, e a respiração - necessária e pontual. os cabelos e o mar tentavam roubar a atenção, chamar de volta a realidade e tudo aquilo: o mar, o beijo, os ventos alísios, os cabelos, os pés, as mãos, os toques - oscilando entre tímidos e ousados - se somavam em uma linda orquestra silenciosa.
do céu fez surgir um arco íris, e a chuva lembrou que a alegria tem tempo de acabar.

fim da pausa
- - -

e sabe lá porquê, olhar pro mar traz reflexões longes, distantes, pra além de quando o céu se mistura com o oceano. mas é fechar os olhos, respirar fundo e levantar. tirar a areia que se juntou ao corpo, respirar fundo novamente e voltar:
tem mais ta-re-fa pra fazer.
 
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