quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Viver, caminho sem volta.

Trocou o piso firme do concreto pelo inconstante chão de areia, na expectativa de construir castelos. Mas o mar, o vento, e o próprio solo frágil ditaram os limites desse plano. Não destruíam apenas seus projetos. Manter-se em pé, tarefa árdua: frequentemente era derrubada. Aquela situação a deixava paralisada, mas era insuportável ficar parada, com tanto movimento ao redor. Não queria apenas ser levada, pelo mar ou pelo vento ou coisa qualquer, tampouco sabia aonde ir. Caminhar contra o vento é cansativo, e piora quando não se tem um destino claro. Queria voltar mas não existia mais ponto de partida. Descobriu da forma mais dura que essa vida só tem passagem de ida. Sem ter pra onde ir, sem saber o que fazer, fincou seus pés na areia por alguns instantes e curtiu a brisa.
"Nada mal", pensou.

sábado, 25 de outubro de 2014

Misérias do coração

Dividimos a maçã.
Achei que era amor,
mas era o fim do mês.

(Anti-)poesia da vida adulta.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Meio dia, dois dias depois.

Teu corpo todo, primeiro pensamento da manhã, que faz o corpo meu inteiro acordar, desde a ponta dos pés. Despertar e pensar as tarefas do dia. Tentar lembrar aonde estou, que dia da semana é. Desânimo. Dia cinza. Melhor lembrar de você. Colore o quarto de novo, ajuda o corpo a acordar.

Em meio aos afazeres, teu sorriso arromba a porta de algum aborrecimento cotidiano. Problemas, problemas e problemas. Dos mais mesquinhos aos mais tensos de nossa classe. Nossa classe. Teu sorriso de novo aparece.

Fechar os olhos e ver teus olhos. A fotografia daquele quase último instante. O teu rosto em minha direção. Seus olhos olhando os meus olhos. Ao fundo, o antigo projeto neoliberal se apresentando como novidade aos desavisados. Ao redor, conversas banais das mais banais famílias tradicionais, naquele domingo no restaurante. Nada importa naquele instante. Teus olhos olhando os meus, isso sim, importa. Interrompidos pelo garçom:
- Posso retirar?

Garçom prudente. E cada um pra sua estrada: você vai voando, eu pela terra - coisa rara.

Meio dia, dois dias depois. Pousar do pensamento longe que faz lembrar teu corpo, teu rosto, teu sorriso, teus olhos... de volta aos afazeres, até o próximo assalto teu. 

 
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