segunda-feira, 30 de novembro de 2009

E é de ti que não me esquecerei...

“Acreditavam no modo como se amavam, e essa crença era mais forte que qualquer natureza, qualquer sinal que o mundo lhes dirigisse para desmenti-los ou ridicularizá-los. Eram arrogantes e modestos, altivos e extraordinariamente prestativos. Não dividiam seus problemas com ninguém – havia algo de mafioso, um espírito de corpo e uma discrição inflexíveis, ditados pelo amor mas avivados por uma espécie de medo da catástrofe, em sua maneira de evitar as infiltrações –, porém o pequeno apartamento de Belgrano R não demorou a se transformar na clínica sentimental, aberta vinte e quatro horas por dia, pela qual acabaram passando praticamente todos os seus amigos. Todos: os que a cada 1º de janeiro lhes vaticinavam secretamente o fim, os que tentavam desesperadamente copiá-los, os equidistantes, que aprovavam o prodígio, mas volta e meia lhes expunham suas ‘reservas’ – e também seus pais, sedentos da clareza e da sabedoria que seus próprios modos de se amar, ao que parece, não estavam em condições de lhes proporcionar. Nunca julgavam: ouviam. Eram amplos, tolerantes, de uma equanimidade irrepreensível. Talvez essa fosse a única coisa da qual, depois de terminadas as ‘consultas’, em particular, eles aceitassem se gabar: monógamos, conservadores, partidários de uma disciplina amorosa que exigia água e ar e luz diários, não lhes custava nada entender os amigos que militavam na facção oposta – paixões efêmeras, desejo insensato, descontinuidade, inconstância –, mesmo quando a ajuda que lhes prestavam fosse inconcebível na direção contrária."
O Passado, Alan Pauls

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

do teatro da vida. da vida do teatro.

- te falei que agora eu sou uma atriz de teatro?
- te falei que minha vida é um palco vazio.
- uuuh. você sempre ganha.
- por que você prefere perder. que estória é...
- perdi vontade. tchau.
- pronto... bela cena. agora volvemos ao diálogo mais comum. tudo bem?
- vou sair. o ensaio vai começar. não gosto de tudo bens, porque nunca tá tudo bem. mas dizer que não tá tudo bem soa pessimista e mau humorada. e eu prefiro guardar esse personagem pra você.
- não há vagas. estou demolido e contido no que se chama corpo. escombros moldados em uma pessoa. sou eu hoje.
- jamais faria peça com você. você rouba cena com seus dialogos intensos, que podem não dizer nada, mas carregam uma tonelada. he.
(pausa)
- agora vou. fumar um cigarro antes de ir pro inferno.
- até lá o serra proibiu?

. . . . . . . . . . . .

- e de suas coisas? teve algo seu que ficou comigo?
- creio que deixei parte do meu orgulho no seu edredon, que sua mãe deve ter botado pra lavar já. a minha dignidade deve ter sido varrida pra debaixo da sua cama... e o amor que a gente tinha, hum. acho que deixei entre seus livros e discos. as únicas poucas coisas que valem a pena no seu quarto, hoje.

domingo, 22 de novembro de 2009

she´s losing it.


"and in the first moment of her waking up
she knows she's losing it, yeah she's losing it
when the first cup of coffee tastes like washing up
she knows she's losing it, oh yeah she's losing
oh yeah she's losing it"
belle and sebastian, she´s losing it

é tempo de fazer coisas grandes que não levam a lugar algum. as pessoas lerão isso e ficarão bravas, talvez ofendidas. sei que não é lugar algum. no fundo, bem no fundo, sei. mas é tudo grande e insignificante demais. pelo menos nesse mundo.

ah. quando escrevo aqui, escrevo sobre nada. ando num vazio só. precisava de férias de mim.
e quantas vezes escrevo isso aqui.
é novembro. tempo de remungar.

- você é estranha, eu não te entendo, mas gosto muito muito de você.
- obrigada, eu acho.

sábado, 21 de novembro de 2009

o menino triste da mulher triste.

quando o conheci, tinha alguns sorrisos guardados no bolso. oferecia de vez em quando, sem muita pretensão de ser aceito. sorria, meio de lado. algumas vezes até deu pra ver os dentes.

hoje já quase não ri mais. o menino triste da mulher triste.
é incrível como uma paixão pode entristecer os olhos de um homem triste.

ele carrega sua mala, que no ombro já parece marcado sob seu formato. a mala pesada, de coisas inúteis. não deixa pra trás, porque já tem pouco o que carregar consigo. o que resta é andar com folhas e documentos supostamente importantes, mas inúteis.

o homem triste da mulher triste. anda, e não se importa mais com a chuva.

"eu me tornei intolerável para mim mesma"

difícil escrever aqui esses dias. foi essa frase do título, frase de Clarice Lispector, que me fez vir aqui. estou angustiada, e isso não passa. é grande e forte, e fica na garganta, o tempo inteiro, não sai.

estou cansada. e essa é a frase que mais me permito falar nesses último tempos. e não é cansaço que dormir passa. que faço eu, então?

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

de desenhista pra psicóloga

- meu, tá foda
- o que?
- eu to muito cansada.
- faz parte do seu show, meu amor.

enquanto eu corro, as pessoas oferecem garrafinhas, paradas pra descanso. uns gritam que não vale a pena. uns ficam na torcida. eu continuo correndo, correndo, ainda sem saber o que que tá do lado de lá. tenho idéias, apenas. e procuro pessoas pra correr comigo.

a preocupação não é com os que mandam parar. é com os que correm junto e tropeçam - existe tempo pra catar e chamar de volta? - e com os que vem pra correr junto.

é, faz parte do meu show. e a temporada tá longe de acabar...

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

e um dia, afinal, tinham o direito a uma alegria fugaz...

na mão: lacan, textos de educação sobre neoliberalismo, manual sobre wisc, um casaco (não se sabe se é frio ou calor)

nas costas: toalha pra semana, saia, camisetas, um vestido só. camiseta da paridade. um caderno cheio de coisas aleatórias, em que no onibus são paulo-santos aproveitei uma folha em branco para escrever os compromissos acadêmicos da semana. um caderno de reuniões, com adesivos legais. documento, um tanto de dinheiro, celular(es), pen drive(s), mp3, medicamentos, pasta(s), adesivos da paridade e do enade. livro sobre petróleo. canetas e lápis. apontador e borracha. câmera fotográfica sem pilhas. carregadores. aparelho de dente apodrecido no fundo da mala (dentro da caixinha - e apodrecido é um exagero, claro).

na cabeça: menopausa do grupo das mulheres, ato da usp, consu, thiago rocha, lembranças de um fim de semana gostoso, aula de educação a tarde, semana da diversidade, amores, amigos, a família abandonada, o tédio da vida sem revolução, a lista dos compromissos da semana, dce, moção de repúdio, enade, eric, e-mails que tem que mandar, organização do tempo da semana, organização do dinheiro da semana, o que fazer para comer, a situação do petróleo, pensamentos sobre quando poderá relaxar um pouco...

nas cordas vocais: uma dorzinha de um exagero da madrugada sábado-domingo. karaokê. ah, karaokê!
.
.
.
um sorriso que surge. quero fim de semana todo dia.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

e tive vinte e nove amigos outra vez...

* o título: porque eu também adoro essa música, e perguntei esperando a resposta que deu. expectativas - ok, por hoje. e tenho 29 beijos pra lhe dar.

tombar e reerguer. cair e levantar. ir ao chão, mas não para desabar, mas para pegar impulso. e o salto vai, cada vez mais alto, cada vez maior, com cada vez mais gente.
posso citar: deleuze, arnaldo antunes, guattari, suely rolnik, foucault, peter pal pelbart, orlandi, marx, nietzsche, fernando pessoa, álvaro de campos, clarice lispector, barthes, nu-sol, bukowski... todos.
no entanto, pra definir o momento, fico com o clássico:



é nóis, mano.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

aqui tá fazendo calor, deu pane no ventilador...

tudo é caótico, mas de vez em quando aparece uma coisinha ou outra pra te dizer: continue por aí. sei que tá foda, mas continue por aí.
não é fácil viver uma vida numa constante montanha russa, em que você vai cego, sem saber a hora em que tá no auge e na hora que tá prestes a desabar.
parece às vezes até que estou indo sem cinto de segurança, prester a pular, a qualquer momento.

e esse calor tá matando.
e eu estou em caos, próximo do momento de surtar. existe pouco carinho, existe pouco tempo para o carinho. pouca gente com tempo para saber se estou d e r r e t e n d o ...

terça-feira, 3 de novembro de 2009

um dia perfeito

saí pra almoçar e cheguei depois do café da manhã.
dias inusitados, que se desenrolam a cada momento. pessoas que inesperadamente se tornam necessárias, fundamentais pra vida. momentos que na sua mais modesta simplicidade te faz feliz.

podem cobrar o quanto quiserem, pra qualquer coisa. aumentem o cigarro, a cerveja. fechem os bares - já passa da hora!
rir, cantar bem alto e sonhar junto outro mundo continua sendo gratuito. e a coisa mais gostosa que existe.

last night i couldn´t get to sleep at all...

"so if you really love me
say yes
but if you don't dear
confess
and please don't tell me
perhaps perhaps perhaps"
[cake]

tudo muito intenso. quantas vezes já disse essa frase? nem sei. qualquer dia boto pra procurar no blog. essa intensidade toda, cansa. histórias que se repetem, cansa e entristece.

hoje eu tô cansada disso tudo.
hoje, da festa que fiz, me tornei a vizinha chata que reclama do barulho.

"e eu me visto de saudades do que já não somos nós"

e o negócio agora são as amizades. os risos, as músicas, lamentar-se e aconchegar-se em colos confidentes. além disso, sair por aí, conhecendo amores em potencial. daqueles que a única coisa concreta é a troca de olhar, e o resto cada um imagina como quer... e o negócio agora é chorar, ao som de um sucesso dos anos 70.
 
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