terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

bobagens

trocamos bobagens
olá como está
eu vou bem e você
eu vou bem...

cada um conta bobagens
do canto de cada um
que bom ele diz
que bom ela diz

são bobagens
que me tiram o sono
porque são tuas bobagens
que me botam de volta pra vida.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Sobre aqueles que não envelhecem.

"(...)Na roda do mundo,
ao lado dos homens,
lá vai o menino
rodando e cantando
seu canto de amor.

Um canto que faça
o mundo mais manso,
cantigas que tornem
a vida mais limpa,
um canto que faça
os homens mais crianças.

O menino entrega ao mundo
o dom da sabedoria
que nasce do coração.
Porque é do amor e da infância
que o mundo tem precisão."
Thiago de Mello, Cantiga de Roda

Lá vai o menino. Passam os anos e segue, menino.
Quem sabe o tempo passa e menino passe, de novo.
Por causa da roda do mundo que roda.
Por causa do canto pro mundo mais manso.
Por causa da conversa sobre o que era pra ser: alguém pra vida - pra viver.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Poema no Alto

No dia que eu aprendi a voar
Eu aprendi a cair.

(e quem acha isso triste não sabe a alegria que é reerguer-se depois de um tombo)


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

impaciência

inspirado nos trânsitos literais de são paulo
para os trânsitos metafóricos  universais.
se é o amor que transita
ou se somos nós que transitamos
não sei - nem sei se quero saber.

existe esse vai e vem
e achei bonito o que eu li,
que nunca vem em vão.

se é ele - o tal amor - que vai
ou se somos nós que vamos
(ou será todos nós que em uma hora nos trombamos?)

não sei - nem sei se quero saber.
sei é que existe um baita trânsito
pra chegar até você.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Mortal

Reflexões de uma manhã de angústia

Tem dias que acordamos assim, lembrando que a gente morre. Ou: tem dias que eu acordo assim, lembrando que eu morro, e as pessoas em minha volta também. Por conta de uma gripe que nos derruba, um amigo ou parente cuja vida é tirada de assalto, ou a notícia de alguém querido que se encontra em uma cirurgia de emergência.

Talvez não seja medo da morte. Afinal, quando a morte quando vem acaba tudo e pronto. Talvez seja a fragilidade da vida que assuste tanto. Imaginar-se impotente aprisionado em uma cama ou impotente diante a fragilidade de alguém que se quer bem.

Minha vó morreu e quando contei a uma amiga, ela simplesmente disse: "a vida é mais perigosa que a morte". Estava certa. Sabia que o sofrimento era meu, e não da vó que teve tua vida - bela e feliz, pelo que pude acompanhar - encerrada. E o que eu faria a partir de então era também, por minha conta.

E agora, me sentindo mortal e impotente, pequena nesse mundo gigante que assisto dessa grande janela com vista para uma grande avenida, penso: que faço a partir disso? A pequeneza e a grande janela e a grande avenida me desencoraja levantar e tomar um rumo. A pequeneza me diminui mais e mais, me sinto encolhendo a ponto de deixar de existir. Não existir, no entanto, não me deixa feliz. Então penso, como Guimarães Rosa uma vez disse, que o que a vida quer de nós é coragem. Penso em, num ato heróico, levantar e ir pro mundo, pra avenida grande, pra o País gigante.

Fico apenas no pensamento, e então coloco uma canção triste, pra acompanhar meu funeral. Quem sabe não é apenas uma morte simbólica, e em breve nascerá um novo dia e um novo pensamento? Uma nova pessoa? Espero então a próxima coragem, ou o tal novo nascimento, para pegar carona e seguir viagem.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Do tipo que some.

carta pro antigo leitor

Teu olhar que antes me disse tanto, que confessou tanto segredo, partiu pra longe e então... então o que? 
Uma boa história para contar, talvez. Um bilhete único pra percorrer pela cidade grande. Um final triste e seco, tal como a cidade grande oferece! Um final tão oco, perto de um começo e um meio tão preenchido de música e sorrisos e desejos. Te confesso que acreditei mesmo que falávamos de amor, de vida, de coisa-alegre. Queria acreditar não ter sido ingenuidade de criança, por acreditar nas tuas palavras doces, confissões e planos.  Foi coisa de quem acredita nas pessoas. Crescer será isso? Deixar de acreditar nas pessoas?

Queria dizer tanta coisa, ou pelo menos ter a chance de dizer. Saiu de vez e me deixou sem como falar contigo. Sem poder dizer que eu topava qualquer negócio, qualquer forma de relação - posso até ser tua prima de segundo grau. A gente inventava uma história sem sentido, que fizesse sentido pra nós - afinal, não era isso que fazíamos, desde a primeira troca de olhares? De forma autoritária impôs um fim - triste e seco sem nem dar chance pra despedida, pro desfecho, pro adeus.

Tarefa árdua. Teu olhar que antes me disse tanto, vai saber por onde olha, por onde pousa. Os meus seguem a te procurar, com dedicado afinco que sabe que tenho. Tenho medo e desejo de encontrar contigo a cada esquina, e sigo ensaiando reações - um sorriso de canto e um sinal com a cabeça, um abraço apertado, um choro desesperado? Não sei como será, e enquanto isso te procuro, ensaiando reações, canções que tocariam ao fundo - não podia faltar, a tal música.

Verdade é que tu foi inquilino solitário nesse blog de um leitor só por algum tempo. E desde que foi embora aqui é uma pousada, onde pousam muitas histórias que se esforçam para se aproximar da intensidade da tua.

Eu não sabia que o encantamento por ti seria assim, do tipo que dura.
Tampouco sabia que tu seria assim, do tipo que some.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Meio morro, meio mar. Saudade inteira.

Os pés pisam sentindo pela última vez os asfaltos das ruas e avenidas e canais. Os pés sentem também pela última vez as areias feias ao mesmo tempo que os olhos tentam registrar como numa fotografia o horizonte desta cidade. Meio morro, meio mar. Saudade inteira.

São muitas as despedidas, porque despedida pra valer é assim: processo. Ensaio a minha retirada, e num vou-não-vou me preparo para quando não tiver mais opção: quando voar pra longe, para outros asfaltos e outras areias e outros mares for pra valer.

A verdade é que a paixão por essa cidade veio lenta. Pouco a pouco. E apaixonei pelo todo: a grande cidade, o que significava. Sua história. E depois vieram as nuances, detalhes. Os cantos preferidos. O melhor samba, o melhor sorvete, o melhor cinema, o melhor lugar pra dançar, a melhor praça, o melhor cachorro quente. O melhor canto pra olhar o mar.

E tem as pessoas. Aqui descobri a nossa força quando somos mais. Tornamos grupo, tornamos tanto, descobrimos que não estávamos mais sozinhos e que juntos somos fortes. Quando vimos essa força, me senti grande. E então veio o apego por essas pessoas. Pouco a pouco, fui percebendo as individualidades, nuances também. Nesses anos fomos nos descobrindo entre risos e choros e sambas, encontrei artistas da arte e da vida: músicos, poetas, filósofos, cozinheiros - dos mais criativos -, crianças - de alma e de idade - e lutadores, militantes da vida. Conheci professor que aprendeu a ser estudante e estudante que aprendeu a ser professor. Gente que precisa sonhar mais, gente que precisa sonhar menos. Também encontrei trabalhadoras e trabalhadores, em sofrimento e alegria. De uniforme sujo, rosto cansado. De barriga vazia e dor no corpo. De luta e de greve. Gente real, vidas reais.

Aqui, nessa cidade, descobri que vida é assim, um cabo de guerra: ou o mundo nos engole ou engolimos o mundo. Nós optamos por tentar engolir, devorá-lo com gosto. É um campo de batalha nada fácil em que por muitos momentos perdemos ou arriscamos perder companheiros. Tentamos salvá-lo de ser engolido. E o tempo inteiro tentamos nos salvar. Alguns foram. Outros apareceram. Conheci a partir daqui outras cidades, Estados e Países. Outras lutadoras e lutadores de tanto canto possível e imaginável. Conheci a partir daqui, uma outra cidade de São Paulo também, com outras nuances e outras individualidades.

Eu vou embora levando o que essa cidade mais me ensinou: lado humano e belo da vida, que dá força pra enfrentar o que há de mais bruto e sujo. Aqui conheci a dialética. Aqui conheci que a história não acontece como queremos mas que também somos sujeitos pra transformá-la. Aqui conheci gentes. Santos - meio morro, meio mar - me deu gente inteira, e o mundo inteiro.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

de vez em quando

(sucinto e tímido)



de vez em quando tem alguém
pra transformar segundas de chuva
em sábados de sol.

e isso basta.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Do reencontro.

Foi numa ruazinha, ambos a caminho para se encontrar, finalmente nessa São Paulo chuvosa e cinza. Ele sempre de guarda-chuva, ela sempre sem. Falavam pelo telefone, tentando acertar o desencontro até que se vêem. Desligam o celular e caminham, aproximam-se. Ela se abriga no guarda-chuva dele e abraça forte. Ele abraça forte, devolvendo. Ainda abraçados, como se fossem companheiros do campo de batalha após uma guerra, fecham os olhos um no ombro do outro e permanecem:
- Tá bem?
- Não sei...
...
Tá bem?
- Não sei...
- É. A gente nunca sabe.

Então souberam: pode passar quantas batalhas, quantos caminhos, quantas histórias... um estará sempre ali para o outro. Um almoço que virou jantar que virou café da manhã. Conversas intermináveis. Era trégua da batalha, greve na fábrica, pausa para o segundo tempo. Neuróticos, obsessivos ou o que for... por quase 24hs o tempo parou naquela casa. Alguém para rir e chorar, coisas da vida que só aquela pessoa entenderia. E se despedem sem saber quando se encontram novamente, e com o tempo foram aprendendo a lidar bem com isso.

- - - 

Companheiro, estou indo e dessa vez vou menos só. As estradas são outras, mas sei que estamos lado a lado na mesma direção. Nos encontramos em esquinas, para um café, cigarros amanteigados e confissões das mais estranhas às mais intensas. Dessa vez eu vou menos só, na certeza de que marchamos ombro a ombro pela vida doce que acreditamos ser possível construir, pelo amor intenso que acreditamos ser possível viver, por uma humanidade sincera que acreditamos ser possível brotar.

É encontrando contigo que a luta fica menos dura. Te agradeço por me ajudar a encontrar poesia até onde parece não ter, a me manter firme cultivando cada vez mais ódio a esse sistema, mas tremenda paixão pelas possibilidades de relações humanas livres de todo e qualquer tipo de opressão.

Estou indo e dessa vez vou menos só.
Levo com carinho a vontade de voltar
Pra lavar toda saudade impregnada.

Toda batalha é mais fácil de encarar, sabendo que sempre haverá teu abraço-trégua.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

brincadeira (continuação)

que quer o menino
que diz e sai
que olha e vai

brincou na roda
cantou no samba
e tirou pra dançar

em minha direção
passos tortos e certos
o encontro, enfim.

um sorriso de presente
um beijo roubado
um trago de assalto.

de repente, era real:
sorrisos, abraços e
beijos de carnaval.
 
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