segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

"quando o amor era medo, eu achava melhor acordar sozinho..."

dói não ter.
ter um pouco.
e até ter demais.

sentir dói. vem forte, antecipa um possível tombo, prevê um salto que arde de tão rápido que chega ao céu e no presente, no tempo presente atravessa todos os tempos e possibilidades e causa taquicardia, dor.

e hoje é tudo misturado, tudo se mistura e então não foram vários, são todos num só sentimento bizarro que me constitui e me faz o que sou.
melancólica, depressiva e com uma eterna dor de cabeça. e o que os biólogos dirão disso, heim, heim.

cds velhos, um filme ruim e lembranças reviradas

um típico domingo de férias.
google acompanha minha caça pra identificar os responsáveis por preencher, faixa a faixa, cds velhos de um porta cd velhos.
na sala, passa um filme que estragou a noite.
lembranças surgem. parte de mim permite uma saudade de vc. da sua familia e dos nossos dias bons. não sei dizer hoje se eles eram maiorias ou não.

mas guardo bons sorrisos. boas fotos. guardo até pequenos prazeres - dos óbvios aos surpreendentes. e hoje faltaram dois na mesa. éramos quatro, e esse passado hoje é tão distante que parece até inexistente.
o tempo em que sentávamos em quatro. dois casais, felizes. a viagem foi boa, e prometemos repetir - logo!
não repetimos - nunca. dá até um apertinho pensar que nessas decisões de gente grande a gente abre mão de um pouquinho de felicidade.

domingo, 28 de dezembro de 2008

discutindo a relação?

ele: muitos pontos finais formam uma reticencia?
ela: e muitas reticencias geram pontos finais.
ele: isso eh um ponto final?
ela: fica um ponto de interrogação, hehe.
ele: melhor um ponto de interrogacao que um ponto final...
ela: é? mas pontos finais permitem novos começos com letras maiusculas.
ele: eu preferiria exclamacao...
ela: ah, exclamação é para poucos, hehehe.

* e vc, meu bem, só ganha pontos de exclamação.

spiderman is always hungry.

- i´m not like them.
- you are. admit it.
- i´m like you.
- no, no. i know i´m a monster.
- i accept it. i accept you, dexter, like a brother.


- i killed my brother. and i killed yours too.

dexter é foda.

"Be still be calm be quiet now my precious boy. Don't struggle like that or I will only love you more. For it's much too late to get away or turn on the light. The spiderman is having you for dinner tonight"
Lullaby, The Cure

sábado, 27 de dezembro de 2008

pras noites de tédio com chuva com ...

leminski sempre acompanha.

a noite - enorme
tudo dorme
menos teu nome

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

"eu acordei, não tem ninguém ao lado..."

olho pro teclado. já é noite e chove na são paulo. escuto uma versão estranha do korn com o the cure cantando uma música que antes eu cantava chorando pensando em outra pessoa. outra pessoa da qual minha história se tornou real novamente assistindo a um filme numa tarde quente de santos. história que tornou real no passado, e "outra pessoa" que antes eu jamais referiria como "outra pessoa".

"outra pessoa" antes era "ele", e hoje "ele" é uma "outra pessoa". uma "outra pessoa" que eu lembro assistindo a um filme que parece diagnosticar os sentimentos doentios que a gente cria para evitar o término de uma relação que te sustenta.
e tentar sustentar uma coisa que te sustenta, só pode dar merda. e até que não deu. nos saímos bem, afinal.

do fim com o "outro", vieram "outros". dos "outros", outros elementos - sentimentos, cheiros, diferentes sorrisos e outros motivos pra lágrimas - surgiram, que até surgiram às vezes no filme, que também permitiram refletir o que acontece até agora. retrospectiva amorosa de fim de ano.

e hoje chove. mas de manhã não chovia lá fora. dentro de mim que estava nublado, nublado, quando estiquei meus braços pro lado direito da cama - o que declaramos (ou melhor, eu declarei, na tentativa de mais uma vez assustar com qualquer coisa que assemelhe uma relação matrimonial) ser o seu lado - e não havia ninguém lá!!!

que coisa, que coisa louca, que coisa linda que é!
vivia uma vida "dois-em-um". era nós dois numa vida dupla como um só. o mundo a dois se abriu e multiplicou pra um milhão de coisas - livros, assembleias, encontros, bares, palestras, cursos, e até mesmo uma lembrança muito bonita do passado que antes jamais seria passado. e hoje escrevo coisas aleatórias porque chove e eu estou cansada e é fim de ano, época de pensamentos vagos na frente de um computador.

a vida abriu, o amor expandiu, mas alguma coisa ainda parece não mudar: sempre há alguém a quem a gente dedica aquela música de amor que a gente ouve por aí. essa pessoa às vezes chega quietinha, sem fazer muito barulho, pra não atrapalhar. sabe que pode te pegar de mau humor, ou com alguma cicatriz recente, ou sem saco mesmo pra essas coisas aí. de repente, a música toca e a pessoa tá ali: quando vc menos notou, a música começou e o pensamento já parou na pessoa.

"Te dou amor enquanto eu te amar
Prometo te deixar quando acabar
Se você não quiser
Me viro como der
Mas se quiser me diga, meu amor
Pois se você quiser
Me viro como for
Para que seja bom como já é"
arnaldo antunes

e outro dia deu um cagaço fudido. não sei bem o que é, foi esquisito. não era medo de te perder, pq eu não sinto que te tenho pra mim. foi algo forte, deu medo mesmo: eu olhei pra você e primeiro pensei "que do caralho isso tudo!", mas em seguida um sentimento me assombrou. um sentimento de "isso-não-é-pra-sempre-e-logo-logo-acaba".

mas aí eu te olhei nos olhos e tudo ficou bem. o medo sumiu junto com a coragem que surgiu. coragem de mergulhar num negócio incerto e esquisito e profundo que umas pessoas chamam de amor. eu chamo, pra não perder o costume. mas pra mim esse sentimento tem teu nome e é só teu.

(esse trecho eu escrevo no escuro, ouvindo uma música baixinha e com vergonha da confissão)

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

então é natal?

faz anos que época de natal não é das mais agradáveis pra mim. esse ano consegui evitar ao máximo a ditadura do natal, e o "espírito natalino" só foi me assombrar às vésperas da grande ceia.

fico feliz de ter evitado ao máximo esse momento chegar. esse ano papai noel não foi tão assustador, nem mesmo o mundaréu de consumo. me senti até num universo paralelo, assistindo ao circo de longe. foi divertido.

sábado, 20 de dezembro de 2008

ai, caralho!

eu gosto de vc.
eu gosto de vc, mesmo vc sendo um idiota.

eu gosto de vc, e hoje vi que aprendi a aceitar isso.
é até divertido, te xingar sem ser de brincadeira, te olhar com um olhar de raiva e dizer "ai, como vc é idiota..." e, ao mesmo tempo, gostar de vc.

com todas as minhas demonstrações, você saber que eu gosto de vc seria impossível.
mas eu não faço isso pra esconder, pra disfarçar, para "mentir pra mim mesma" ou pra qualquer outra coisa.

é porque é verdade, eu gosto mesmo de vc. mas outra verdade inegável é que vc é um idiota. com todas as letras e boca cheia. e várias testemunhas.
e foi uma grande lição de vida conhecer vc, porque eu achei que era impossível gostar de um idiota. achava que quando as pessoas falavam "ai, me apaixonei por um idiota", era porque o idiota no caso não gostava da pessoa e isso deixava ela com raiva e fazia com que a pessoa fosse chamada de idiota.

poderia ter sido nosso caso há uns meses atrás. mas hoje, o fato de vc ser idiota é outro. vc fala merda, vc faz merda, vc age como um merda. e eu gosto de vc.

é isso. e que bom que é isso, pq os idiotas tem que ser gostados por alguém, não é mesmo?

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

eita, momento bobo!

"Sem me importar
Com o tempo correndo lá fora
Amanhã nosso amor não tem hora
Vou ficar por aqui


Pensando bem
Amanhã eu nem vou trabalhar
E além do mais
Temos tantas razões pra ficar
Amanhã de manhã

Eu não quero nenhum compromisso
Tanto tempo esperamos por isso
Desfrutemos de tudo..."


e a música toca, e a música faz soltar um sorriso confidente, de quem se identifica. e por um momento, senti vc pertinho de mim, como um abraço.

são paulo cinza

primeiro me roubaram o tênis, a calça jeans.
foi um assalto fácil, estava super vulnerável pra ele.

tranquilamente vesti um chinelo, um vestido, um biquini e estava tudo acertado entre nós.
estava bem em ser uma estranha em meio aos asfaltos e prédios monstruosos e bancos e pessoas com as caras amarradas. estava bem, em meio a isso, ser um vestido florido.

de repente, como que de um dia pro outro, assaltaram outra coisa.
essa não tem explicação.
mas olhei pra são paulo, e de repente ela virou cinza.
o que fizeram comigo, com ela, eu não sei! que fizeram com a cidade? que fizeram comigo??

sei que estava tudo na perfeita ordem. era eu e a av. paulista, no nosso namoro semanal. era eu e ela, com os cinemas, as pessoas estranhas e os rostos familiares. era o caos e a mais perfeita ordem do caos.

e um belo dia, que de belo não teve tanto, eu olhei pra ela e disse:
- é isso que tem pra me oferecer? quero voltar!

e então, aquele cantinho, descendo a serra, virou voltar. virou o eixo. "eixo", ou sei lá que nome dar pra essa coisa que a gente chama de casa.
sei lá, sei lá, sei lá.

algo assim, entre a vontade de ficar, entre motivos pra ficar, entre a paixão pelo estar... transformou tudo, virou de ponta-cabeça e agora estou assim. vai entender...
só sei que assim, de um dia pro outro, eu que sempre defendi são paulo, fechando os olhos pra seus pontos negativos - já que tantos faziam o favor de expor, eu tentava sempre mostrar o outro lado - hoje só vi carros e carros, e me peguei falando mal do transito!

coisa maluca que é a vida.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

"- eu te amo, tá bom?"

Assim você disse, com o olho no meu olho, que antes olhava pra você com olhar emburrado, e deitando a cabeça no meu ombro, que estava encolhido de frio no colchão do chão.

Hoje olhei na agenda. Foi no dia 12 de outubro que te devolvi um sorriso de agradecimento ao seu olhar simpático. Hoje, dois meses depois, guardo sua escova de dente na caixa de mudança. A minha casa mais parece nossa que minha.

Seguimos em uma deliciosa inércia que deu certo.

Você não é de falar muito e eu acho que tudo bem, enquanto consigo ver nos seus gestos o carinho que tem por mim. Mas de vez em quando é bom ouvir, e hoje foi bom. E guardei, como numa cena de filme, a imagem na minha cabeça, e um replay me assalta de tempo em tempo, agora que estamos longe:
"- eu te amo, tá bom?"

Tá bom, tá bom, tá bom! =)

domingo, 30 de novembro de 2008

(re)encontros da madrugada.

E mesmo sem te ver
Acho até que estou indo bem
Só apareço, por assim dizer
Quando convém aparecer
Ou quando quero
Quando quero

Desenho toda a calçada
Acaba o giz, tem tijolo de construção
Eu rabisco o sol que a chuva apagou
Quero que saibas que me lembro
Queria até que pudesses me ver
És parte ainda do que me faz forte
E, pra ser honesto,
Só um pouquinho infeliz

Mas tudo bem, tudo bem, tudo bem...
Lá vem, lá vem, lá vem
De novo:
Acho que estou gostando de alguém
E é de ti que não me esquecerei
- giz, renato russo

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

sorriso que virou abraço que virou desejo...

parei de escrever aqui.
meus últimos posts viraram cartas particulares.

o amor passa por vc e vai pro mundo, mas na hora de definir o sentimento, o amor é tão particular...

fica aqui mais uma declaração que a vida anda uma loucura, como sempre.
duas ocupações em menos de um semestre. representante de 3 entidades.
e entre essas coisas, a loucura de um curso pra doidos, um devir-iniciação científica e a monitoria de um espaço indefinível.

e ser filha. e ser amiga. e procurar teto! e por aí vai... e por aí vem, e vem, e vem...

terça-feira, 18 de novembro de 2008

All I want in life’s a little bit of love to take the pain away...

- vitória no congresso do CES
- provas, provas e provas.
- malas prontas, a 1h de ir para o Rio de Janeiro.
- um ano sem vovó
- geladeira de fim de ano: água, cerveja e meia manteiga.
- noites e noites sem dormir.
- trabalhos, trabalhos e trabalhos.
- uma promessa de um sorvete não cumprida.
- ansiedade para o Congresso
- reuniões, reuniões e reuniões.

olhos brilhando. lágrimas misturam com sorrisos.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

martha medeiros...

Eu triste sou calada
Eu brava sou estúpida
Eu lúcida sou chata
Eu gata sou esperta
Eu cega sou vidente
Eu carente sou insana
Eu malandra sou fresca
Eu seca sou vazia
Eu fria sou distante
Eu quente sou oleosa
Eu prosa sou tantas
Eu santa sou gelada
Eu salgada sou crua
Eu pura sou tentada
Eu sentada sou alta
Eu jovem sou donzela
Eu bela sou fútil
Eu útil sou boa
Eu à toa sou tua.

a desfazer-se, vera mantero (um trecho só)

o ser humano precisa ler o mundo, precisa ir fazendo leituras do mundo, provavelmente não para entender, para explicar qualquer coisa, para arrumar de vez um assunto, mas simplesmente para situar num ponto, para ter um ponto onde se possa estar, dos milhares de pontos possíveis onde se pode estar. a arte é pensar, é fazer uma leitura do mundo. (...)

o ser humano precisa não estar sempre no cotidiano, precisa sair do cotidiano e entrar em outros níveis, noutra sensação de mundo. precisa fazer coisas não produtivas, sair da lógica de produção, ter objetivos diferentes desses, precisa voltar a saber que não há só um caminho entorpecedor e mecânico, que a vida é mais sutil que isso, mais rica de redes e nós de sentidos e sensações, de linhas que se cruzam e que baralham e iluminam. é preciso reconhecer essas coisas, assiná-las, sublinhá-las, não só através do discurso mas também com o corpo, em ações, associando virando de vez em quando as coisas ao contrário, desorganizando e reorganizando. é preciso olear o espírito, olear o ser. é preciso também pensar com o corpo, deixar o corpo falar, pobre corpo. é preciso sair de dentro do porta-moedas e entrar na associação, no delírio, na sujidade (é muito importante não termos medo da sujidade), na acoplagem, acoplagem de elementos ao nosso corpo, acoplagem de sentidos ao nosso corpo, ou acoplagem de objetos e sentidos entre si, é preciso entrar na transformação, é preciso não esquecer que há uma coisa que se chama êxtase, é preciso entrar no êxtase, na contemplação, na calma, nos sentidos do corpo, no corpo, na poesia, em visões, no espanto, no assombro, no gozo, no inconsciente, na perda, no esvaizamento, no chão, é preciso entrarmos na imaginação, nas histórias, no pensamento, nas palavras, no humor, no pensamento, nas palavras, no humor, no pensamento, na reação com os outros.

nós precisamos muito disto, precisamos muito disto e estamos a ter um pouco disto e é por isso que, como disse no início, o espírito está em erosão, a cultura está em erosão e nós às vezes estamos muito tristes ou temos a sensação de que a vida desapareceu de cá de dentro.

sábado, 8 de novembro de 2008

quando você pinta tinta nessa tela cinza...

ela se jogou num salto com um ele (que antes era O ele) que se encerrou. encerrou numa aterrisagem bonita, daquelas que os jurados de uma ginástica olímpica dariam nota máxima.
pousaram, e cada um foi curtir o seu sucesso para um lado.

ela se encontrou várias vezes com a beira de um abismo, que poderia saltar novamente, mas logo viu que caíria e tombaria feio. preservou-se. e foi encontrando com várias pessoas e descobriu que nem todo mundo é companheiro de saltos. que com alguns a gente caminha. que com alguns a gente rasteja. e com alguns a gente simplesmente esbarra, enrola um pouquinho, e depois vai embora. de vez em quando reencontra, e pode até ser bom, de vez em quando nada disso. com muitos a gente tropeça.

talvez chegou a pensar que salto como aquele que fez outrora, jamais faria novamente (e talvez nunca fará, realmente). andava por aí, e uns diziam que seu pé estava fincado demais no chão, outros falando que ela flutuava demais, a ponto de ninguém conseguir acessar.

enfim, surge um encontro. um encontro que não foi com uma pessoa, mas com um tempero. se antes ela experimentava a vida e sentia um gostinho amargo, ultimamente ela pode morder com gosto. não deixou de chorar, não deixou de sofrer, não largou nada. abriu. expandiu. colocou um óculos especial que acabou com a sua visão embaçada, e pode agora ver com clareza que tem coisas que se salvam no mundo, que ainda há um pouco de beleza, em algumas coisas. e pras coisas ruins, se dá um jeito, do jeito que se pode dar.

pra quem a encontra, vê hoje um olhar mais sorridente, um pouco menos choroso. mas ela não quer admitir o que foi responsável por pregar as pontas de sua boca próximas a orelha, deixando um sorriso bobo e fixo permanente. na cabeça dela, essas coisas são meio bobagem, coisa de quem ainda não entendeu que a vida é mais dura, mais triste, mais cinza.

e o que fazer quando a vida insiste em proporcionar encontro com pessoas cheias de tinta?

Certas palavras, Drummond

Certas palavras não podem ser ditas
em qualquer lugar e hora qualquer.
Estritamente reservadas
para companheiros de confiança,
devem ser sacralmente pronunciadas
em tom muito especial
lá onde a polícia dos adultos
não adivinha nem alcança.

Entretanto são palavras simples:
definem
partes do corpo, movimentos, atos
do viver que só os grandes se permitem
e a nós é defendido por sentençados séculos.

E tudo é proibido. Então, falamos.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

quatro cervejas, muita risada e bom colo...

...e tudo já está feliz novamente.




virei mulherzinha.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

uma tristeza, uma cerveja e nada mais...

e vai fazer um ano...
e faria cinco anos.
e vai fazer cinco meses...
e ainda faltam muitas semanas.
e o que falta, sem dúvida, é tempo pra sentir saudades.

tempo, tempo, tempo.
essas coisas não fazem sentido. sem tempo pra sentir o tempo que passou, ou que não passou, ou que ainda passará, o corpo sente por mim. e aí o corpo fica cansado, e o corpo chora.
lágrimas caem involuntariamente do rosto, na esperança de que eu perceba que tem algo de errado.
mas eu ignoro. abro uma cerveja. um brinde, hoje é terça feira.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

"quero uma noite tranquila, e um amanhecer comum..."

feliz.
simples assim.

a vida agora vem com humor, com leveza... e eu só estou me jogando e aproveitando o simples momento de estar simplesmente feliz.

e quando vc tá feliz, as coisas ruins são contornadas, e as boas tem proporções enormes.
ir bem numa prova inútil.
fazer uma crítica na última questão, ao invés de responder no sentido acadêmico.
um feriado inesperado, e a possibilidade de fazer o que queria fazer.

é, a sensação de tudo estar dando certo. ilusão? talvez.
mas ver o mundo em tons de cinza também é ilusão. de vez em quando, surge um lápis de cor.

*sei que esse meu comportamento vai desestabilizar meus relacionamentos, já que muitos amigos não suportam me ver feliz. não é questão de inveja, de ciúmes... eu realmente fico irritante. talvez seja por isso que eu seja tão ranzinza normalmente. ou não. talvez é apenas uma desculpa.

sábado, 1 de novembro de 2008

deixe que o beijo dure, deixe que o tempo cure.

uma semana melhor, apesar daquelas coisinhas que sempre vem pra atrapalhar.
a vida é assim mesmo.

tem dias que a gente quer mudar de planeta, e tem dias que a gente descobre um outro planeta dentro do mesmo planeta que se quer sair.
não tem nada melhor que encontrar novas pessoas que não se encaixam nesse mundo.

depois de assistir Teza, a minha conclusão foi mudar pra uma caverna junto com os "desajustados", esperar os "ajustados" se auto-destruírem e então desconstruir tudo, e fazer um estrago diferente.

é, o sono me deixa idiota. a paixão também.

domingo, 26 de outubro de 2008

diretamente do túnel do tempo...

Essa exigência (de analisar o período mais remoto da infância) não é apenas de importância teórica, mas também prática, de vez que ela distingue nossos esforços do trabalho daqueles médicos cujos interesses se focalizam exclusivamente nos resultados terapêuticos, e que empregam métodos analíticos, embora apenas até certo ponto. Freud, em "Algumas consequências psiquícas da distinção anatômica entre os sexos."

ah! freud era feliz e não sabia.
imagina só se visse o quão esses médicos "evoluíram" quando se trata em "focar".

sábado, 25 de outubro de 2008

Levantou, calçou seu tênis e fugiu.

Juntou as coisas que mais gostava: uma carta do primeiro namorado, cinco camisetas velhas mas que deixavam seu peito grande. Colocou um tênis, e na mochila deixou um chinelo. Vestiu um casaco grande, pois guardado ocuparia espaço demais. Deixou um casaquinho também. 5 calcinhas bastariam (dá pra ir lavando no banho, pensou). Escova de dente, um pente. Shampoo, condicionador e sabonete, deixa para ver depois o que faz. Vestiu a calça jeans e deixou uma saia e um shorts na mochila. Um lápis de olho, seu perfume importado e remédio para dor de cabeça.

O resto, enfiou numa caixa e deixou na escada, com um aviso: "PARA DOAÇÃO". A caneta que utilizara para escrever, enfiou na caixa. Deixou para trás seu apartamento, alugando para um conhecido. O banheiro, sujo do porre da noite anterior, foi de brinde. Não ia lavar, pelo preço que fechou o negócio. Teve que aceitar, tinha realmente pressa. O celular ficou em cima da mesa, desligado. Na caixa postal, um aviso de que aquele não seria mais seu número.

Fazer tudo isso era a única forma prática de garantir que nunca mais voltaria. E decididamente, não queria mais voltar pra aquela vida. Diferente dos outros, aquela ressaca não a fez abandonar a bebida, mas a vida que tanto lhe dava motivos para tal.

O que fazer com uma mochila nas costas e o dinheiro de um aluguel na mão? Caminhou para o metrô, na intenção de ir pra rodoviária. Não sabia o destino. Por um momento, pensou em mudar de país. Lembrou da poupança. A sensação de ter um leque de possibilidades de lugares para começar uma nova vida era menos aterrorizante do que lembrar que acabara de largar toda a antiga.

Enquanto decidia seu destino, pensava em formas de justificar essa mudança repentina para as pessoas a sua volta. Foi quando se deu conta de que poderia simplesmente nunca mais falar com elas. Faria novos amigos, quem sabe formaria uma nova família. Poderia até ter um outro nome, gostar de outras bandas e ter nascido em outro lugar. Seu passado agora era tão diferente quanto seu futuro. Poderia viver uma aventura, e escrever um livro sobre sua loucura toda, quando ficasse mais velha. Poderia não viver nenhuma aventura, mas escrevê-la mesmo assim.

Olhou o mundo de forma totalmente diferente do que olhava ontem. E tudo era novo, embora as coisas permaneciam quase as mesmas. Quase. Pois a partir daquele dia, havia pelo menos uma pessoa diferente. E nada seria igual novamente.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

saldo da semana

preciso escrever e não consigo.
ontem foi um dia de conversas delicadas, intensivas, e na hora talvez eu não tenha percebido (ou talvez simplesmente ainda não tinha sentido) o quanto me afetou.
hoje, chego na faculdade um pouco mais quieta.
após uma segunda conversa, estremeço.
e então, um chumbo surgiu nos meus ombros, quando por fim fico sozinha no ônibus.

chorei por quem foi embora, seja porque simplesmente se afastou, ou porque simplesmente não é momento de convivermos juntos, ou por motivo de morte (vai fazer um ano...).
chorei de cansaço, físico e mental. cansaço do passado, do presente e do futuro.
chorei de emoção, porque de repente eu senti, mesmo que rapidamente, a proporção de algumas coisas que tenho vivenciado.
chorei por lembrar de quem acha que eu presto pra alguma coisa, e por aqueles que acham que eu não presto, por muitos motivos, mas continuam do meu lado.
chorei por tristezas que não tem nome.
chorei por motivos que não chorei o suficiente ainda (algum dia isso não será mais motivos de choro?)

e chorei, feito uma criança que viu o mundo pela primeira vez e descobriu que ele tem tanta coisa errada, e feito uma velha que percebeu que ele não tem conserto.

chorei e dormi. acordei. terminal jabaquara.
eu só sei que no momento, o que eu mais quero é querer alguma coisa. de preferência possível de ser alcançável.

Não fume! - Tati Bernardi

- Que demora pra atender essa merda.
-Você nunca me atende.
-Fala comigo.
-Falo. Tá me ligando pra quê?
-Pra te pedir pra você não fumar.
-Tati, eu não fumo. Lembra?
-Fuma sim! Você fuma! Promete que não fuma?
-Tati, você está bêbada em pleno domingo a tarde?
-Eu não bebo. Lembra?
-Então fala coisa com coisa.
-Minha amiga encontrou você fumando terça passada. Não fuma!
-Eu não fumo. Apenas estava fumando. Mas você me ligou pra…?
-Eu não te ligo. Apenas estou te ligando. Eu não bebo. Apenas estou bebendo. Eu não lembro que você existe. Apenas estou lembrando.
-Que fizeram com você?
-Me mandaram a merda.
-E você obedeceu?
-Eu não tô te ligando?
-Então me ligar é ir à merda?
-Exatamente.
-E você quer que eu fique aqui ouvindo isso?
-Não, você pode desligar o telefone na minha cara. Ou me convidar pra ir na sua casa.

o resto você imagina...
ou confere na íntegra em http://blonicas.zip.net/index.html

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

"isso não é democracia, isso é família!!!"

frase da aula de hoje, fala uma das estudante de psicologia, contando o que a tia sempre fala durante discussão.
ultimamente tenho escutados muitas pérolas, que qualquer dia posso até registrar aqui, mas essa eu achei fundamental colocar. é como se explicasse a instituição família em uma frase engraçada.

enfim, um comentário tosco pra quem bebeu e não comeu. pra quem precisa dormir, mas fica na internet, querendo entender certas coisas que não se entende em um dia, muito menos numa madrugada, menos ainda simplesmente por achar que deve entender naquele momento.

vim aqui ontem escrever, mas não consegui. as aulas têm abordado assuntos complicados, o que tem me incomodado bastante. mas é difícil vir escrever, sem parecer clichê, ou sei lá, uma ingenuazinha falando do caos do mundo. aliás, já escrevi que talvez, pra falar da indignação que se tem diante do caos do mundo, tem que carregar um pouco da ingenuidade.

só sei que tem certas coisas que vc vê, e dá vontade de fugir da faculdade. docentes que falam coisas muito questionáveis, com total tom de propriedade, discentes que dá vontade de desencanar de qualquer movimento estudantil....

e então chega aquela aula fudida. uma discussão tensa sobre um assunto complexo. daí percebo que entendi aquela coisa louca de mais de uma verdade, de sentimentos contraditórios...

pq o que eu quero é mergulhar nesse mundo louco e tentar fazer alguma coisa, explorar o limite e descobrir formas de propor novas possibilidades de vida, ao mesmo tempo que tudo que eu quero é ser uma mulherzinha, deitar no colo de alguém que queira me proteger de tudo isso que existe de ruim e podre.

sim. só com alcóol pra eu terminar com uma confissão dessas.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Defesa da Alegria

defender a alegria como uma trincheira
defendê-la do escândalo e da rotina
da miséria e dos miseráveis
das ausências transitórias
e das definitivas
defender a alegria como um princípio
defendê-la do assombro e dos pesadelos
dos imparciais e dos neutros
das doces infâmias
e dos graves diagnósticos
defender a alegria como uma bandeira
defendê-la do raio e da melancolia
dos ingênuos e dos canalhas
da retórica e das paradas cardíacas
das endemias e das academias
defender a alegria como um destino
defendê-la do fogo e dos bombeiros
dos suicidas e dos homicidas
das férias e da angústia
da obrigação de estar alegre
defender a alegria como uma certeza
defendê-la da óxidação e da mesquinharia
da famosa pátina do tempo
do cinismo e do oportunismo
dos proxenetas do riso
defender a alegria como um direito
defendê-la de deus e do inverno
das maiúsculas e da morte
dos clamores e das mágoas
do acaso
e também da alegria.
Mário Benedetti

Pensamentos eleitorais, Calligaris

NA NOITE das eleições, os comitês dos vitoriosos oferecem festas. Por sorte dos próprios candidatos, essas festas acontecem depois de a gente ter votado. Por que "por sorte"? Porque deve haver vários eleitores que, como eu, à vista do triunfalismo dos partidários exultantes, sentem vontade de votar por outro candidato.
Não ficou claro? Explico. Na noite de domingo passado, na primeira festa que a TV nos mostrou, eis que um grupo de mulheres possuídas pulavam e gritavam "Ganhou! Ganhou! Ganhou!". Agüentei. Logo, alguém enfiou a cara na câmara e afirmou: "Deus está conosco". Por que não diretamente em alemão, "Gott mit uns", como estava escrito na fivela dos cintos dos soldados da Wehrmacht na Segunda Guerra Mundial? Deve ser um ranço religioso, mas, para mim, a frase "legal" é: "Que Deus esteja com vocês".
Enfim, haja paciência. Mudei de canal. Mas o episódio me ajudou a pensar. Em geral prefiro as pessoas que têm o bom gosto de serem humildes e pensativas sobretudo na vitória. Mas não é só isso.Parece que, cada vez mais, o que faz a diferença entre os candidatos não são suas propostas (freqüentemente próximas), mas sua figura e seu "caráter". Pois bem, se esse for o critério, o melhor candidato, para mim, será aquele que NÃO parece estar absolutamente convencido de ser a melhor escolha. Inversamente, o pior é aquele que se acha insubstituível, superior aos outros. Não devo ser o único que pensa assim.
No primeiro debate entre os candidatos nas eleições presidenciais dos EUA, quando John McCain reiterou que ele é "o cara" (aquele que tem caráter, fibra e experiência para ser presidente), logo naquela altura, despencou unanimemente a aprovação dos espectadores reunidos num grupo de foco pela CNN. Ou seja, ninguém agüenta.
Na mesma linha, entendo que, nas eleições municipais brasileiras, os candidatos a vereador disponham de um fragmento muito curto do horário eleitoral. Mas o resultado é obsceno: a maioria só consegue lançar um apelo abstrato e patético -"Votem em mim, gostem de mim, confiem em mim" (mas por quê?)- e exibir o traço grotesco que os tornaria únicos, extraordinários (a barba de Bin Laden ou de Enéas, o cabelo máquina dois de Obama etc.).
Talvez essas vinhetas sejam a parte mais engraçada do horário eleitoral, mas é um riso que pode tornar risível o processo inteiro.Voltemos ao meu candidato ideal, aquele que não estaria certo de ser o melhor nem o único. Alguém perguntará: então, por que razão ele se candidataria?
Essa questão surge porque temos uma relação doente com a verdade: oscilamos entre um ceticismo quase cínico (cada um tem a sua verdade, portanto todas as verdades se valem) e uma paixão missionária (nós temos a única verdade; os outros, que pensam diferente, devem ser corrigidos, para o próprio bem deles). Ou seja, a verdade é uma só (a nossa) ou, então, não tem verdade alguma.É mais uma versão da patologia narcisista básica: eu sou o único, o eleito, ou, então, não sou ninguém. Assim como é difícil conseguir viver sendo "apenas" um entre outros, também é difícil considerar que a nossa verdade é uma entre outras, mas não por isso deixa de ser uma verdade. O diálogo, aliás, não é possível nem entre os cínicos nem entre os enfatuados -só é possível entre os que conseguem acreditar numa verdade que conviva com outras. Exemplo.
Nos EUA, desde 1973, o aborto, como decisão autônoma da mulher, é permitido sob a condição de que o feto não seja viável fora do corpo da mãe. Entende-se: o feto viável fora do ventre materno é um cidadão, e o aborto passa a ser um assassinato.
Ora, consideremos os candidatos à vice-presidência dos EUA. Tanto Sarah Palin (republicana) quanto Joe Biden (democrata) são cristãos. Para ambos, a vida começa no momento da concepção; para ambos, o embrião fecundado já é um sujeito e tem alma.
Palin afirma que ela tentaria reverter a lei atual, autorizando os Estados a proibirem o aborto. Biden afirma que, apesar de sua convicção, a lei atual lhe parece ser um compromisso aceitável, numa sociedade em que convivem pessoas que pensam como ele e outras que pensam diferente. Moral da história, graças a Biden. Acreditar na verdade do que a gente pensa não implica querer impor nossas idéias a todos com ze- lo missionário. E aceitar que haja mais de uma verdade não significa ser cínico.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

a doença, a carência e o sentido da vida.

ontem, de repente, fiquei doente. o corpo enfraqueceu, a cabeça começou a doer demais, e então as costas, e então fiquei enjoada, e então fiquei com febre. quase como uma relação direta, do tipo sentir frio e começar a tremer, fiquei carente.
adoecer me faz ficar carente. vontade de ser mimada. fico resmungando por aí, suspirando alto pelos cantos. "oh vida, oh céus". de repente, acho que nada mais justo o mundo inteiro trabalhar para fazer me sentir bem. mas é óbvio que, como uma manhosa de qualidade, eu não peço nada pra ninguém, e fico nos meus altos suspiros, esperando alguém perceber e oferecer ajuda. para então eu falar "ah não, magina...".
e a noite acabou, a febre passou e sem ajuda de ninguém. acordei melhor, e fui pra minha rotina. no fim da tarde, na discussão de um texto, surge questões sobre o sentido da vida. o porquê de eu ligar esses 3 pontos (doença, carencia e sentido da vida), eu não sei. só sei que faz todo o sentido. a doença e a carencia estão explicadas. acho que a carencia me deixou mais sensivel pra ficar mais afetada com essa questão do sentido da vida.
o que mais mexeu comigo é que há ANOS eu não me fazia essas perguntas clichês do tipo "pra que estou aqui?", "qual é o sentido da vida?", "e qual o objetivo de estar nesse mundo, afinal?".
essas perguntas simplesmente fugiram do meu vocabulário. as reflexões foram para outro caminho, e quando isso surgiu assim, de repente, no meio de um conto japonês... sei lá! foi esquisitíssimo. uma mistura da angústia que essa pergunta traz, com a angústia de lembrar do tempo em que eu fazia essas perguntas.
é verdade que quanto mais se estuda, mais chato você fica. são das mais diversas as consequências. se posicionar como O SÁBIO, aquela pessoa que sabe de tudo, tem resposta pra tudo, e barra o diálogo dando respostas, e não abertura para a conversa. outra consequência é questionar todas as palavras que vai usar. a primeira, eu espero nunca ser assim, embora às vezes meu lado pseudo-intelectual e nerd-da-escola solta algumas respostas, tento sempre me controlar.
já a segunda... aí é complicado. não consigo mais falar "aluno", é estudante. não consigo mais falar "vamos nos conscientizar" ou qualquer coisa do tipo. ser humano, me incomoda. e ultimamente, e isso é muito bizarro porque eu nem sei daonde tirei isso, acho difícil responder "sim" quando me perguntam se "está tudo bem".
como que eu vou poder dizer que está tudo bem? eu posso dizer que está, já que não fui mal numa prova, não perdi nenhum braço, não fali, não incendiaram a minha casa ou pisaram no meu pé. mas está tudo bem mesmo? o que é estar "bem"? acho mais fácil dizer que estou feliz, e (essa parte eu omito mesmo, senão me dariam um tiro de tão mala que eu seria), no sentido mais deleuziano possível.
enfim, não achei o sentido da vida, mas encontrei um motivo pra escrever aqui.
e isso basta. por hoje, pelo menos.

"tem tanta gente no mundo vivendo vidas seguras
será que só eu me sinto tão confuso?
eu enxo a vida de sustos, de vagalumes e estrelas...
e fico feliz por nada ou quase tudo.
(...)
e o que me importa, são mais perguntas que respostas..."
Leoni, Mais perguntas que respostas

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

mil e uma coisas

é tanto o que passa na minha cabeça agora. tento agarrar um pensamento com a mão, e apertá-lo para não fugir, para conseguir escrever sobre ele, descrevê-lo e poetizá-lo. mas hoje eles estão escapulindo demais. passam correndo, deixando as sensações que evocam quando viram pensamento.

de um momento de alegria, de festa, passamos a um momento de tristeza. ninguém avisa, e então estamos tristes. é assim. estávamos felizes, e agora estamos tristes. e agora estamos. fica um vazio, no meio de tanta coisa falada, tanta coisa pensada, tanta coisa sentida.

tem coisas que o tempo não só não cura, como faz piorar. o ressentimento acumula com o tempo e vai corroendo, e vai fazendo estrago aos pouquinhos... quando você vê, já existe rancor.
e pra sair disso? e pra dizer "não, não é assim, vamos olhar de outro jeito.". não.

eu preciso muita coisa. é tanto o que tem pra fazer, pra cumprir e de repente não estou mais vivendo. estou tentando me livrar dos compromissos da vida pra viver um pouco. estou eternamente lutando contra o tempo, com coisas que supostamente eu deveria mergulhar de cabeça e aproveitar. fui eu quem escolheu isso, não foi? "agora aguenta."
e não como uma coisa ruim. mas talvez tenha que sempre lembrar, que fui eu quem escolheu, e por algum motivo insano eu escolhi. talvez falte eu lembrar quando estou sendo, não simplesmente quando eu quero ser.

e o tempo corre, e assim faço eu mesma pra pegar o metrô, e chegar a tempo pra minha semana em que já começou atrasada.
fico alguns minutos em silêncio.
estou o tempo todo tentando lembrar aonde era aquele botão de desliga, que eu sabia que tinha em algum lugar por aí. deve ter caído, e agora, com o freio quebrado, vou correndo meio que sem controle, e com uma super velocidade que eu fui inventar de causar, esperando parar em alguma coisa. e fico pensando: "isso vai dar merda..."

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

ou?

quero. preciso. gostaria. vontade. eu. eu. eu. eu. eu. ou?
quando?
só se fosse pra sempre.
um mês na cama, dormindo...
há tempos minha cama virou maca.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

devir-romance

hoje voltei pra casa com a vontade de ter um amor pra vida inteira. não é vontade de apaixonar, de conhecer alguém, de casar... nada disso. vontade simplesmente de outra realidade...
- boa noite.
- boa noite, amor. como foi seu dia? - diz você, meu amor-pra-vida-inteira-de-mentirinha, com um sorriso quase que natural, que sai quase como que reflexo de me ver.
e seus braços estariam abertos, e meu corpo estaria preparado para me jogar neles. ficaríamos um tempinho, quietos, respeitando o nosso silêncio, a nossa conversa de sensações, em um abraço caloroso.
minha cabeça saíria do encaixe perfeito do seu ombro para poder olhar novamente seu sorriso. trocaríamos um beijinho, simples. você faria graça da minha cara de acabada, e eu falaria do seu visual, que por ter chegado antes, já estava vestido com aquele moletom que eu vivo criticando, mas acho um charme quando você veste.
mas então, você não é real.
chego em casa, deito no sofá e choro de cansaço. você não é real, e sinceramente não me importo com isso. se você existisse, provavelmente amanhã estaria de saco cheio de você, que não entende o fato de eu ser ansiosa, não dormir e gostar de ocupar cada segundo do meu dia, e junto reclamar que meu dia é super lotado.

mas hoje...ah! como seria bom a sua existência hoje.

domingo, 21 de setembro de 2008

que não demora pra essa dor... sangrar!

"Eu já cansei de imaginar você com ela
Diz pra mim se vale a pena, amor
A gente ria tanto desses nossos desencontros
Mas você passou do ponto e agora eu já não sei mais..."
[a outra, los hermanos]

um fim de semana sozinha. desliguei o celular, e o msn ficou semi-ligado. ocupado, para alguns. disponível, para outros. o desligar o celular foi algo quase que simbólico, já que o telefone de casa continuou aqui, e eu continuei atendendo.
talvez seja porque você não tem o número dele. e assim não me acharia, embora você não fosse me procurar, a menos que seja pra falar de algo que eu não queira falar também, já que não seria sobre nós.

não é amor, tampouco tristeza, menos ainda tristeza de amor.
não dá pra explicar o que sinto, não dá pra quase nem sentir. é como se eu não tivesse sentindo mais nada. as forças do mundo me atravessando, algumas me prendendo para eu ficar um pouco em casa, algumas enchendo meus pulmões pra eu continuar respirando.
e eu aqui, fluindo conforme a vontade das forças.

há tempos meu sobrenome virou inércia.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

a vida é mesmo assim. dia e noite, não e sim.

há alguns meses, abri mão de minha armadura. por cinco anos tive ela, me protegendo de tudo e de todos, evitando uma grande exposição que poderia me ferir. com ela pude ter momentos imensamentes felizes, e sempre seguros. enquanto estava protegida, o que pudesse dar errado, nada seria tão grave a ponto da minha armadura não dar conta, e eu sabia, sempre, que nunca estava sozinha.

falando assim, podem achar idiotice minha abrir mão de uma armadura potente como essa. não digo que não foi. sem armaduras, dá medo. acordar é sempre um risco. mas era tempo de se arriscar, embora eu não saiba explicar muito bem o porquê (e talvez seja melhor não buscar muito, antes que eu descubra que de fato fora uma idiotice gigante).

sem armadura, sem proteção. perdi o chão, o teto e as paredes.
cortei as cordinhas e me despi pro mundo.
mordi a vida com todos os dentes e pude sentir todos os gostos que ela tinha pra me oferecer no momento. do doce abraço de um encontro com alguém especial a um amargo sumiço.

sem armaduras, a tendência foi virar pedra. e fui ficando fria, firme, durona. por dentro, sempre derretida, prestes a se desmontar. como uma trufa de chocolate saindo da geladeira, prestes a enfrentar o calor da cidade.

e assim foi. foram dando soquinhos, esbarrões, tapinhas, cutucões, até que hoje me desmontei. fiquei em caquinhos, prestes a ser recolhida e embrulhada num jornal, esquecida em um lixo qualquer. aqui estou. desmontada. despedaçada.

e tudo o que eu penso é que é tarde demais pra usar armadura, e cedo demais pra buscar outra.
ainda estou em pedaços, e uma armadura não protege pedaços.
estou novamente em caixa postal com o mundo, desesperada por socorro, mas sem voz pra gritar.

tudo que eu quero é que esse episódio acabe, pra começar uma nova temporada...

músicas da viagem santos-sp...

Esquecer o espaço, o tempo e o viver
Perder a noção do que é ter a noção do perder
Se um dia eu fui alegria ao te conhecer
Agora canto porque sinto a dor de não te ter
[paulinho moska]

eu te amo calado, como quem ouve uma sinfonia...
[lulu santos]

I know it's over
And it never really began
But in my heart it was so real...
[smiths]

domingo, 14 de setembro de 2008

"preciso transfundir seu sangue pro meu coração que é tão vagabundo..."

Eu quero me esconder debaixo
Dessa sua saia prá fugir do mundo
Pretendo também me embrenhar
No emaranhado desses seus cabelos
Preciso transfundir seu sangue
Pro meu coração que é tão vagabundo...

Me deixe te trazer num dengo
Prá num cafuné fazer os meus apelos...

Eu quero ser exorcizado
Pela água benta desse olhar infindo
Que bom é ser fotografado
Mas pelas retinas dos seus olhos lindos

Me deixe hipnotizado
Prá acabar de vez
Com essa disritmia...

Vem logo
Vem curar teu nego
Que chegou de porre lá da boemia...

sábado, 13 de setembro de 2008

fala contempladíssima

Não falo do amor romântico,
aquelas paixões meladas de tristeza e sofrimento.
Relações de dependência e submissão, paixões tristes.
Algumas pessoas confundem isso com amor.
Chamam de amor esse querer escravo,
e pensam que o amor é alguma coisa que pode ser
definida, explicada, entendida, julgada.

Pensam que o amor já estava pronto, formatado, inteiro,
antes de ser experimentado.
Mas é exatamente o oposto, para mim, que o amor manifesta.
A virtude do amor é sua capacidade potencial
de ser construído, inventado e modificado.
O amor está em movimento eterno, em velocidade infinita.
O amor é um móbile.
Como fotografá-lo?
Como percebê-lo?
Como se deixar sê-lo?
E como impedir que a imagem
sedentária e cansada do amor nos domine?
Minha resposta? O amor é o desconhecido.

Mesmo depois de uma vida inteira de amores,
o amor será sempre o desconhecido,
a força luminosa que ao mesmo tempo cega e nos dá uma nova visão.
A imagem que eu tenho do amor é a de um ser em mutação.
O amor quer ser interferido, quer ser violado,
quer ser transformado a cada instante.
A vida do amor depende dessa interferência.
A morte do amor é quando, diante do seu labirinto,
decidimos caminhar pela estrada reta.
Ele nos oferece seus oceanos de mares revoltos e profundos,
e nós preferimos o leito de um rio, com início, meio e fim.
Não, não podemos subestimar o amor, não podemos castrá-lo.

O amor não é orgânico.
Não é meu coração que sente o amor.
É a minha alma que o saboreia.
Não é no meu sangue que ele ferve.
O amor faz sua fogueira dionisíaca no meu espírito.
Sua força se mistura com a minha
e nossas pequenas fagulhas ecoam pelo céu
Como se fossem novas estrelas recém-nascidas.
O amor brilha.
Como uma aurora colorida e misteriosa
Como um crepúsculo inundado de beleza e despedida
O amor grita seu silêncio e nos dá sua música.
Nós dançamos sua felicidade em delírio
porque somos o alimento preferido do amor,
se estivermos também a devorá-lo.

O amor, eu não conheço.
E é exatamente por isso que o desejo
e me jogo do seu abismo,
me aventurando ao seu encontro.
A vida só existe quando o amor a navega.
Morrer de amor é a substância de que a vida é feita.
Ou melhor, só se vive no amor.
E a língua do amor é a língua que eu falo e escuto.
[vênus, paulinho moska]

tudo novo de novo

Pensei esses dias que a gente vira adulto tão rápido quanto o dia vira noite no verão. Parece que demora pra chegar, mas quando é pra escurecer, vira noite em um segundo, piscando o olho.

Há um tempo atrás meus pés cabiam nos quadradinhos da calçada, e eu ia indo, em linha reta, às vezes perdendo o equilíbrio. Há um tempo atrás eu mal pegava ônibus, fazia tudo pertinho de casa. Dormia cedo quando tinha que acordar cedo (pra começar, existia a viabilidade de ir dormir cedo ou não).

Hoje me vejo acordando sozinha num apartamento em Santos. Ouço barulho de chuva, corro para a área de serviço, porque nao lembrava se tinha fechado a janela antes de dormir.
Dou uma rápida espriguiçada e faço um café, que como com torradas ouvindo um pouco do jornal da manhã. De vez em quando solto uma risada irônica enquanto escuto as notícias políticas.
Corro pra sair e conseguir pegar o ônibus que costuma passar no ponto umas 7h50, pq o que vem depois sempre atrasa e vai cheio.
Chego na faculdade, vejo meus amigos discutindo sobre o transporte público na Europa. Vou ler o jornal, pra ver se sai uma notícia que estou esperando. De repente, as notícias de jornal estão diretamente relacionadas com o meu cotidiano. De repente, eu tenho responsabilidades.

É uma coisa idiota, mas se eu lembro de um tempo atrás, pensava que as responsabilidades a gente se responsabilizava de forma racional, clara. Hoje vejo responsabilidades caindo e eu abraçando, assumindo, defendendo.

De repente, eu tenho uma agenda. Uma agenda grande, com reuniões agendadas. De repente, eu faço reuniões!!! De uma hora pra outra, os partidos não são só parte daquilo que passa no horário político (que em casa chamavam de hora do bobo).

Não vou falar que gostaria de voltar ao tempo de dormidinhas pós-almoço ou de pequenas responsabilidades. Eu só fiquei realmente impressionada com a velocidade que as coisas aconteceram, e continuam acontecendo.
A sensação da vida estar acontecendo. Eu só consigo controlar e entender a minha vida quando nada acontece. Só entendo a minha vida quando não vivo. Esquisitíssimo. E afinal, o que é que a gente realmente tem a ver com as nossas próprias vidas?

"eu falo de amor a vida, você de medo da morte.
eu falo da força do acaso e você de azar ou sorte.
eu ando num labirinto e você numa estrada em linha reta."
paulinho moska

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

papo de mulherzinha.

nunca fui muito de ter amigas mulheres, mas tudo muda quando se encontra pela vida mulheres nada convencionais.

caipirinha, batida, sex on the beach... nada disso! o negócio é a boa e gelada cerveja.
ao invés de fofocas, análises e, por consequencia, teorias.
os homens altos, loiros de olhos azuis que me perdoem, mas nem são citados na roda. o negócio vai de gays a comunistas, passando por orientais estilosos e outras mulheres também.

é. o mundo moderno tem as suas vantagens.
em outros tempos, seríamos possivelmente queimadas em alguma fogueira cristã.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Por uma UNIFESP mais politizada (e com humor, sempre).

"Com o Tortora ao léu, vote na Isabel!"

"Se o Tortora só te engana, vote na Adriana"

"Não pense que o Tortora comanda, vote na Fernanda!"

"Se o Tortora te dá preguiça, vote na Rayssa"

"Com Nietzsche na mão, Tortora no chão, vote no João!"

pra terminar, só para dar um reforço positivo no C.A. da Psico:

"Por uma UNIFESP com real excelência, Bér, Fer e Jrão na presidência!"

"Sem CONSU na calmaria... C.A. PSICO na reitoria!!!"

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

"eu me ofereço por inteiro, você se satisfaz com metade."

pra tudo e em tudo e pra todos. sou eu me atirando, lá de cima, mergulhando com tudo.
nas atividades acadêmicas, nas amizades, nos relacionamentos amorosos e/ou passionais.

não quero amanhã, não quero depois, não quero fim de semana.
quero agora, e que esse agora dure pra sempre. nós dois num potinho, espremidos, em conserva. o momento eternamente conservado.

adoro me apaixonar. se pudesse, me mantia nesse estado constante de "coisa nova no ar".
tem gente que fala que se a vida fosse assim, a gente não aguentaria.
"- precisamos de momentos de tédio, até pra valorizar esses momentos de grandes emoções." diz a pessoa padrão.

eu não aguento é essa vida tediosa.
quero continuar com meus dias emocionantes, com noites mal dormidas e frio na barriga.
com arrepios, abraços e carinhos.
com discussões fervorosas sobre amor, política e filosofia.
com cerveja, risada e música boa.
com ótima companhia, seja ela uma pessoa, um livro ou um filme.
pra sempre.

alguém me arranja um pote?

domingo, 7 de setembro de 2008

quando você olha molha meu olho que não crê...

se tudo pode acontecer
se pode acontecer qualquer coisa
um deserto florescer
uma nuvem cheia não chover

pode alguém aparecer
e acontecer de ser você
um cometa vir ao chão
um relâmpago na escuridão

e a gente caminhando de mão dada
de qualquer maneira
eu quero que esse momento
dure a vida inteira

e além da vida ainda
de manhã no outro dia
se for eu e você
se assim acontecer

se tudo pode acontecer...
[arnaldo antunes]

sábado, 6 de setembro de 2008

tudo numa coisa só

nesses dias intensos, me pego compromissada com um milhão de coisas. a primeira atitude de quem me vê, depois de falar "nossa, que cara de acabada!", é basicamente ordenar pra eu largar as coisas.

a questão é que não acho que as coisas sejam tão fáceis de largar assim, por achar que na verdade é tudo uma coisa só. apesar de ter isso mais ou menos certo, nunca tive muita certeza de porquê sentia que tanta coisa assim poderia estar ligada. hoje, mais uma vez pensando nisso, fui atravessada por uma idéia que desde então me ocupou o dia inteiro.

ultimamente minhas atividades podem ser centralizadas na idéia de que busco formas de levar mais política pra vida e/ou mais vida pra política.



bom, o desenvolvimento eu faço depois. é algo complexo demais. vamos por partes. por enquanto, me contento em deixar registrado tal idéia.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

eu sinto como se eu seguisse os meus sapatos por aí...

Me dê um beijo, meu amor
Só eu vejo o mundo com meus olhos
Me dê um beijo, meu amor
Hoje eu tenho cem anos, hoje eu tenho cem anos


E meu coração bate como um pandeiro num samba dobrado
Vou pisando asfalto entre os automóveis
Mesmo o mais sozinho nunca fica só
Sempre haverá um idiota ao redor
[balada do asfalto, zeca baleiro]


prometo a mim mesma, e a meu blog aparentemente sem leitores que esse fim de semana tentarei organizar meus pensamentos por aqui. preciso escrever sobre os últimos dias. é uma questão de conseguir elaborar, escrevendo e pensando.

tá foda.

domingo, 31 de agosto de 2008

pensamentos que invadem o domingo.

Deixo que as águas invadam meu rosto,
Gosto de me ver chorar.
Finjo que estão me vendo
Eu preciso me mostrar...
Bonita,
Pra que os olhos do meu bem
Não olhem mais ninguém
Quando eu me revelar
Da forma mais bonita
Pra saber como levar
Todos os desejos que ele tem
Ao me ver passar
Bonita...
[chico buarque]

Uma câmera digital. Dois livros de filosofia. Fone de ouvido.
É, dinheiro não compra a felicidade, mas dá acesso a um pouco dela.
[bel]

Pois toda esta beleza que te veste
Vem de meu coração, que é teu espelho;

[shakespeare]

sempre fui super animada para aniversarios. ansiosa. dia de comemorar com os amigos, familia...
pela 1a vez, não estou me importando muito.
me avisaram que aos 20 anos isso ia acontecer. ainda reluto em acreditar que seja mera questão numérica.
talvez seja pelo fato de eu querer estar em 3 lugares ao mesmo tempo, no mínimo. e só poderei estar em um. por isso escolho o mais óbvio.
[bel]

e a melancolia que não sai de mim, não sai, não sai...
[tom jobim e vinicius de moraes]

preservar a saúde. não correr risco de vida.
risco de vida.
risco da vida surgir.
risco de viver.
proteger-se do risco, riscar a vida.
matar a vida antes mesmo de arriscá-la.
riscar a vida antes mesmo dela nascer.
[bel]

sábado, 30 de agosto de 2008

quando você diz, o que ninguém diz...

- queria que o tempo parasse agora.
- ...ele parou!

sábado, 23 de agosto de 2008

você está presente...

- na escova de dentes que continua ali, intacta, no armario do banheiro. sempre cintilante quando eu vou pegar a minha.
- na gravação de vc cantando pra mim, que fica escondida na lista de musicas do winamp.
- na água que fica na saboneteira e vc sempre brigava pra eu tirar, senão derretia o sabonete.
- na garrafa de licor vazia que eu não tive coragem de jogar fora.
- no seu casaco azul que eu ainda uso quando fico em casa.
- na camiseta que fiz pra você e fiquei com ela.
- nas músicas de amor que, na falta de um amor novo, canto elas pra você em segredo.

fui sincera quando disse que você não é tudo pra mim, mas está em tudo que é meu. talvez continue sendo verdade isso, até porque poucas coisas andam sendo minhas de fato ultimamente. e o passado, ah... o meu passado. pertence mais a nós que apenas a mim.
e as saudades, deixo pras musicas, pros livros, pros filmes, e pra um amor que não cabe em mim, pelo menos não mais. e pra um choro que não derrama lágrimas.
qualquer dia descubro porque chorar por você (ou pela falta de você) é tão difícil, por mais tentador que seja.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

uma itaipava e mil pensamentos.

nós do canto esquerdo inferior da sala
nada como começar a semana com meus contra-padrões favoritos (e únicos) da minha sala. enquanto a professora contava de seus porres, amigos esquizofrênicos, quimioceptores e a luz das pessoas (fragmentos que consegui captar da aula), teorias e constatações por segundo emergiam no canto esquerdo inferior da sala.
basta uma frase para trocentas teorias competirem seu espaço, num tom mais baixo, disfarçado.

e eu digo calma, alma minha, calminha...
hora do almoço, começa a correria. obrigações obrigatórias, imaginárias, de tudo quanto é tipo, para dar e largar (para cumprir não há mais forças).
estou numa fase cansada de tudo. niilismo a flor da pele. as lágrimas prestes a cair a qualquer momento. sempre a um milímetro de virar um milhão de caquinhos espalhados pelo chão, estáticos devido a falta de vento em Santos.
experimento não fazer nada, mas fazer nada de nada adianta quando a aceleração já se fundiu com a minha pessoa.

cerveja, igreja e suor.
dia intenso, nada como ir pra casa. espero no ponto o ônibus por mais de meia hora, e eis que chega o grande, azul e imponente 04. cheio. cheio de gente cansada, de que teve um dia cheio. dentre tantas cadeiras pra eu ficar na frente, escolho a de três pessoas aparentemente da minha idade. indo para a faculdade.
irresistivelmente, como de costume, começo a prestar atenção na conversa. ah... não sei dizer até agora se me arrependi ou se valeu tanto a espera do ônibus. conversavam sobre religião. tentavam convencer uma menina a se "converter" para a igreja evangélica.
o papo era dos mais contraditórios possíveis. ora falavam de como a igreja não proibiu nada, ora falaram de como custou para largar antigos costumes (que não são pecaminosos, mas ninguém quer fazer sabe-se lá porque) tipo tomar cerveja. falavam de como não eram um grupo chato, que só falava de igreja, mas também falavam de como sonhavam em um dia ser daquelas pessoas que oram 24hs por dia. tinha horas que eu não resistia e ria. é uma coisa que chega a ser engraçada. me sentia assistindo casseta e planeta, numa vinheta em que eles fazem sátira dos evangélicos. o mais bizarro é ver que eles nem se esforçam quando fazem essas piadas, simplesmente reproduzem o discurso.

é isso.
não me estenderei muito a falar mal de religião, pois seria hipocrisia considerando que eu frequento (mesmo discordando da doutrina) o meu templo, todos os dias, das 8hs às 20hs.

lá a bíblia é outra, embora tão grande quanto. chama tortora.

domingo, 17 de agosto de 2008

emocionada

depois de tanto chiar, parece que as pessoas estão tentando derreter meu coração que anda gelado, gelado.

estou aparentando estar tão em caos quanto estou me sentindo, para as pessoas me mimarem desse jeito? não sei, só sei que é bom, de vez em quando, ouvir um carinhozinho sincero, discreto.

"(...) Sempre fico pensando como seus olhos conseguem chorar sorrindo. O que será que podemos aprender com eles?"

"Só fala o que quer, demonstra o quer, luta pelo o que quer. E como luta! Luta por ideiais, pela vida, luta pelos outros e por ela mesma.E no fim de um bom dia, te dá um daqueles sorrisos únicos, de quem só sorri quando realmente sente isso."

fora um que escutei por aí, nos corredores daquela universidadezinha que tem andado mais gelada que meu coração.

momento obsessivo

- novo msn?
- sim.
- só para os vips?
- não.
- dá pra você deixar eu me sentir um pouco importante, por favor?
- haha, essa sua vontade tão excessiva me faz cada vez mais querer provar o contrário. virou quase um passatempo.
- pra que essa tristeza no coração?
- pra que essa alegria compulsória no mundo?

...
para provar que quando é pra ser antipática, eu consigo. e ISSO é ser antipática.



ok, está virando obsessão, admito.

sábado, 16 de agosto de 2008

da vida do filme, do filme da vida.

"- que morte besta.
- ela morreu de solidão, isso está longe de ser uma morte besta.
- bobagem... ninguém morre de solidão!
- como você quer ser comandante da revolução sem conhecer a solidão das pessoas?"

de cabra-cega
da vida

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

se despede da sua dor, diz adeus à sua alegria...

...não há o que lamentar quando chega o fim do dia.
(arnaldo antunes, fim do dia)

chego em são paulo sempre com a sensação de que fiquei fora um mês. santos tem dias intensos demais, longos demais, embora passe tão rápida a semana.
paradoxo bizarro.

paradoxo é uma palavra engraçada. penso se falássemos como o som de x mesmo, tipo "paradócho". engraçado.

vim pensando como é gostoso ouvir elogios daqueles atrás da porta, sem querer. aconteceu no momento certo. cansada de levar tapas metafóricos na cara. quero carinhos de palavras. abraços que digam "é por aí. pelo menos vc está tentando."

preciso de reforços positivos.
e quem não precisa, não é?

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

minha mente gira como um ventilador...

complicado ordenar, tentar entender, analisar, e passar em palavras todos os pensamentos que giram. pode ser falta de sono, de alcóol, de paciência. pode ser excesso de conhecimento, excelência, exigência...
pode ser tanta coisa. pode não ser nada.

mas dói. e passa... e dói de repente com tudo. mas daí, um sorriso, uma conversa, um abraço... e tudo passa outra vez.
até a próxima vez, dorzinha chata.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

experimentando na aula de experimental*

todos falam que hoje somos obrigados a ser feliz o tempo inteiro, e isso provoca uma overdose de prozacs, já que ninguém consegue corresponder a tal exigência (ou consegue?).

pensando: a "descoberta" e, em seguida, popularização da depressão patologizou a tristeza. assim, felicidade virou sinônimo de saúde e, ficar triste, coisa de quem precisa ir pra psicólogo ou qualquer um que arrisque tratar da sua cabeça (isso já invadiu tanto todos os espaços que qualquer coisa que se pratique de lazer vire promoção de saúde mental, então você é OBRIGADO a descansar, e a empresa permite isso, para que vc PRODUZA um bem-estar).

enfim. obrigado a ser feliz o tempo inteiro, criamos mecanismos alternativos ao prozac para corresponder a isso. dessa forma, acaba ocorrendo uma inversão de valores. festas, muitas drogas e porres até a orelha para nos fazer feliz. pelo menos essa noite. e na próxima. e na outra. e na outra um pouquinho, porque no dia seguinte tem reunião cedo.

o pensar e refletir foi deixado de lado, pois isso incomoda. incomoda, permitindo até um pouco da tristeza entrar. dores necessárias, como canso de falar por aqui. e dores necessárias lembra depressão. ninguém quer ficar doente, ainda mais sabendo que depressão pode desencadear uma série de coisas. quem sabe até câncer.

então, deleuze, fica pra próxima. me vê mais uma dose aí, garçom!

*conversas na sala com a kinna.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

da série: diálogos.

Ela - adoro quando eu sou mala voluntariamente...
Ele - óóóótima frase, vou adotar.
Ela - tem a ver com a sua filosofia de vida
Ele- sim sim. não tá na moda o voluntariado?
filantropia?
Ela - hahahahaha, essa foi tão boa quanto a instituição familia em crise.
nossas piadas estão cada dia mais academicas.
Ele- deve ser por isso que minha amiga tá insistindo aqui que eu estou chato.
devo estar funcionando em outro plano humoristico, não é possivel

Ela: vai ver é seu ascendente
Ele: ascendente só depois dos 30. ele só exerce influência (não no maldito sentido de assoprar pra dentro, porra) a partir dos 30.
fiz questão do parênteses. para não dar margem para outra piadinha academica.
Ela: vc é muito gay.

e assim acabam todas as nossas conversas. adoro.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

qualquer dia te encontro atrás do meu fogão

não sei o que quero. ultimamente vou moldando minhas vontades a base de tentativa e erro.
os erros são grandes, algumas vezes. alguns poucos arrependimentos. algumas muitas saudades. saudades de conversas, de dias. a vontade é de repetir histórias, e não reencontrar as pessoas.

...porque tudo sai de contexto quando os personagens fazem suas histórias mesmo estando fora de cena.

sábado, 9 de agosto de 2008

descobertas

me entrego naquilo que faço. aquilo que produzo não sou eu.
eu passo a ser aquilo que fiz, pensei.

sou fruto de minha própria obra. como nietzsche.
mas minha obra é bem mais tosca. como eu.

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"sei mais caminhos que os meus sapatos
na escuridão esperava por ti
mas ontem rasguei teu retrato
te matei e dormi"

serenata sem estrelas, zeca baleiro

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"Um dia desses eu separo um tempinho e ponho em dia todos os choros que não tenho tido tempo de chorar."
Drummond

anyone else but you

You're a part time lover and a full time friend
the monkey on your back is the latest trend
I don't see what anyone can see in anyone else... but you

I'll kiss you on the brain in the shadow of the train
I'll kiss you all starry eyed my body swingin' from side to side
I don't see what anyone can see in anyone else... but you

Here is the church and here is the steeple
we sure are cute for two ugly people
I don't see what anyone can see in anyone else... but you

Pebbles forgive me, the trees forgive
So why can't you forgive me
I don't see what anyone can see in anyone else... but you

I will find my niche in your car
with my mp3, dvd, rumble pack guitar
I don't see what anyone can see in anyone else... but you

Up down left right left right
Be a start just because we use cheats
doesn't mean we're not smart
I don't see what anyone can see in anyone else... but you

You are always tryin' to keep it real
I'm in love with how you feel
I don't see what anyone can see in anyone else... but you

We both have shiny happy fits of rage
You want more fans, I want more stage
I don't see what anyone can see in anyone else... but you

Don quixote was a steel driving man
My name is Adam I'm your biggest fan
I don't see what anyone can see in anyone else... but you

Squinched up your face and did a dance
Shook a little terd out of the bottom of your pants
I don't see what anyone can see in anyone else...but you

...but you

*música do filme Juno
**quando não se está apaixonada por pessoas ou pela vida, o que resta é se apaixonar por filmes. e livros. e música.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

força fraca.

ler e conhecer permite acreditar e desacreditar em certas coisas. deixar se afetar por determinados fatos lidos e conhecidos resultam em movimentar-se. movimentar-se gera gasto de energia e te faz aparecer. aparecer permite julgamento. gasto de energia resulta em cansaço. cansaço por algo que deu certo gera descanso merecido e energia recarregada.
cansaço por algo mal julgado provoca desânimo e desistência.
sinto muito, mas estou prestes a largar esse mundo.

"é preciso defender os fortes contra os fracos."
nietzsche

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

insensível, você diz...

hoje levei um tapa metafórico.
doeu, metaforicamente falando.

domingo, 3 de agosto de 2008

são as pequenas coisas que valem mais, é tão bom estarmos juntos... e tão simples.

sei. escrito gay demais, acredito. mas vou fazer mesmo assim. só acho engraçado olhar pra trás e lembrar de coisas tão idiotas que me fizeram feliz...
tipo:
. discussões fervorosas de madrugada na escada, sobre a maionese que agora é feita de leite.
. mãos que se batem e ao invés de recuarem, se abraçam. e aí trocam carinhos. e aí o coração dispara.
. refeições familiares com muita risada que há tempos não tinha, seja por muita distância ou por pouco tempo, ou por humor médio...
. coxinha com coca light com meu pai, às quartas feiras, quando ele me buscava na escola.
. cabelos bagunçados na cama bagunçada, o ombro como travesseiro. calor humano. abraço.
. reencontrar uma amiga e ver que nada mudou, mesmo que tudo tenha mudado. e então ter um desabafo nervoso sobre algo que só ela entenderia.
. um bom episódio de um bom seriado
. um bom trecho de um ótimo livro.
. encontrar o livro que minha mãe indicou pro meu pai, talvez pra impressionar, quando eles estavam se conhecendo. e meu pai comprou. talvez pra impressionar também.

ah, é isso. e que venha o segundo semestre, então.

sábado, 2 de agosto de 2008

e eu digo calma alma minha, calminha...

a vida tem que acontecer devagar quando se vive lendo nas entrelinhas. vivo. escrevo. escrevem. leio, releio. tento entender. entendo. desentendo. descubro, redescubro. perco. acho. adoro quando acho minha vida em livros, filmes, músicas. nem que seja um trechinho, que lembre um pedacinho da vida. não me sinto "mais uma no mundo". sinto que não estou sozinha. pelo menos não tanto quanto parece.

"no cine-pensamento eu também tento reconstituir
as coisas que um dia você disse pra me seduzir
enquanto na janela espero a chuva que não quer cair
o vento traz o riso seu que sempre me fazia rir
e o mundo vai dar voltas sobre voltas ao redor de si
até toda memória dessa nossa estória se extinguir
e você nunca vai saber de nada do que eu senti..."
Arnaldo Antunes

"Importante são aqueles dez minutos de conversa boa com quem me conhece, ou com alguém que acabou de me conhecer, mas que me sabe tão bem quanto eu mesma. Tenho preguiça das pessoas novas, ou das pessoas com quem não compartilho mais do que a idade ou um projeto do acaso. Elas não são tão importantes assim, coitadas.Importante, importante mesmo, é aquela primeira cerveja depois dos quase quinhentos quilômetros até a casa dos meus pais. O último episódio da temporada de “Lost”, uma massagem nos ombros e um final de semana a cada cinco dias."
Blog da Cléo Araújo

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

ressaca litorânea

seu cheiro
em ondas
no quarto

as ondas levam
seu cheiro
no mar.

reflexões sobre a lei seca

mais perigoso que misturar bebida e direção...







...é misturar bebida com falta de direção.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

"Perfect strangers when we meet
Strangers on the street
Lovers while we sleep."

"De você sei quase nada
Pra onde vai ou porque veio
Nem mesmo sei
Qual é a parte da tua estrada
No meu caminho

Será um atalho ou um desvio
Um rio raso
Um passo em falso
Um prato fundo
Pra toda fome que há no mundo..."

Ultimamente não tenho falado muito, apenas escutado...

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Leminskando

en la lucha de clases
todas las armas son buenas
piedras
moches
poemas

........

podem ficar com a realidade
esse baixo astral
em que tudo entra pelo cano

eu quero viver de verdade
eu fico com o cinema americano

........

Amor, então, também acaba?
Não, que eu saiba.
O que eu sei é que se transforma
numa matéria-prima
que a vida se encarrega
de transformar em raiva.
Ou em rima.

te dou amor enquanto eu te amar. prometo te deixar quando acabar.

"Vou mostrando como sou e vou sendo como posso.
Jogando meu corpo no mundo, andando por todos os cantos."
mistério do planeta; novos baianos

quando criança, adorava brincar de lego. gostava de montar a casa, o carro, tudo... minhas amigas gostavam de brincar com a historinha.
na hora de brincar de playmobill, pegávamos todos, montávamos a cidade, e na hora de brincar com a historinha, eu perdia o interesse.
brincar de barbie: escolhia as roupas, montava a casa, a lanchonete, tudo... na hora de brincar, perdia interesse.

cresci, e assim faço com homens: pego os mais bagunçados, e quando eles estão prontinhos, felizes, fortes... largo!

terça-feira, 29 de julho de 2008

cansei de escrever.

eu começo a escrever, mas apago. cansei de escrever. espero que isso seja um sintoma de que estou parando de pensar. porque pensar cansa.



e dá rugas.

e hoje estou assim. poucas palavras, muitos pontos finais.
abandonei as reticências reflexivas, com tom de que tem muito mais a dizer do que está realmente falando. hoje é isso. é isso e pronto.

domingo, 27 de julho de 2008

versos perdidos...

o fim de semana tinha dono. e hoje não é de ninguém, muito menos meu.
por isso, quando chega sábado, eu só torço pra ele passar logo, voar, correr, pra segunda chegar.

porque sábado e domingo é dia de esperar os dois fazerem o que tem que fazer, cumprir suas 24 horas e acabar de uma vez.

dói... ainda dói.

sábado, 26 de julho de 2008

madrugada doída

choro em silêncio a dor
sofro mas nem a lua tem pena de mim
sei mais caminhos que os meus sapatos
na escuridão esperava por ti
mas ontem rasguei teu retrato
te matei e dormi.

serenata sem estrelas, zeca baleiro

"Ama-me menos, mas ama-me por muito tempo"*

* do filme Les Chansons d’Amour

por um instante, desejei que minha vida fosse um filme.
o instante na verdade não passou ainda.
alguém grita:

- CORTA! Não tá dando certo, não! Vamos ter que refazer essa cena... tem algo de errado! Vamos arrumar esse diálogo, vamos...

Queria que minha vida fosse um filme de diálogos perfeitos, com uma trilha sonora perfeita e personagens incomuns. Chega de padrão. Quero revolucionar o cinema com o filme da minha vida.

cruel. cruel. cruel. 2

[um dia desses você vai ficar lembrando de nós dois
e não vai acender a luz do quarto quando o sol se for
bem abraçada no lençol da cama vai chorar por nós
pensando no escuro ter ouvido o som da minha voz
vai acariciar seu próprio corpo e na imaginação
fazer de conta que a sua agora é a minha mão
mas eu não vou saber de nada do que você vai sentir
sozinha no seu quarto de dormir...]

arnaldo antunes, quarto de dormir

sexta-feira, 25 de julho de 2008

cruel. cruel. cruel.

"A gente saía, você segurava minha mão e assim ficava fácil de a vida ganhar sentido. Acontecia em cada esquina, quando a gente parava para esperar os carros e você me beijava. E segurava a minha mão. E me beijava de novo. E de repente, eu pensei: acho que quero esse homem para sempre."

Cléo Araújo.

...saudade da sua mão quentinha.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

O caçador de crocodilos e a astronauta. (Cleo Araújo)

Os dois estão em um bar.
Ela com uma amiga numa mesinha; ele com um amigo, encostado no balcão. A amiga, então, vai até o banheiro, e ele aproveita para se aproximar dela, que segura uma mecha do cabelo e a movimenta fazendo rolinhos.
Direto, ele inicia o diálogo: “Oi. Posso?” - e puxa uma cadeira.
Ela, ainda fazendo rolinhos com a mecha de cabelo, responde: “A gente se conhece?”.
Ele diz que não, mas pergunta seu nome e se oferece para pagar uma bebida.“Meu nome é Gilberta. E o seu?”
“Patrício.”
“Então, Patrício, o que é que você faz?”
“Sou caçador de crocodilos. E você, Gilberta?”
“Sou astronauta.”
Tudo mentira.
Primeiro porque o lance de pagar uma bebida só funciona como cantada em filme americano. Segundo porque tratamos aqui de um diálogo insólito, a despeito dos inúmeros encontros casuais que a vida oferece, seja no boteco, no avião, no metrô, no ônibus, nos scraps do orkut ou até na sala de espera do dentista.
Geralmente, e diferentemente do que nos traz a hipótese “Gilberta versus Patrício”, o nome nem é a primeira coisa que se pergunta. Mas a pergunta sobre o ofício do outro a gente invariavelmente faz. E nisso, Gilberta e Patrício acertaram.
É assim: posso até não saber que ele se chama Anísio, mas sei que ele trabalha como dublê no SBT.
Isso talvez ocorra porque a indagação “O que você vai ser quando crescer?” seja uma das mais intrigantes questões da existência. Essa pergunta, do instante em que é introduzida à vida de um fedelhinho pré-adolescente, começa a despertar prospecções e projeções altamente criativas. E mesmo que essas costumem ser frustradas no futuro - ele descobre que não vai poder ser o Shrek e ela que não vai poder colocar “Tomb Raider” no objetivo do Currículo – é o que você faz que geralmente importa.
Não quem, mas o quê você é.
Eu já conheci muito publicitário, por exemplo. Não me lembro se Fernandos, Fábios ou Guilhermes, mas sem dúvida publicitários.
Conheci também empresários, advogados, médicos, produtores, programadores e fisioterapeutas.
Coisas básicas. Coisas, enfim, que constam da lista de vagas da Catho. Uma gente que, assim como eu, vai lá, escolhe a profissão, estuda (ou não) e fica com uma resposta prática para oferecer às pessoas quando inquirido a respeito da sua labuta.
Mas... E um árbitro de futebol? Ou algo como “Oi, tudo bem? Eu? Sou afinador de pianos.” Incomum trocar idéia com um Deputado Federal num bar qualquer da vida, não? “Sou deputado eleito pelo Rio de Janeiro. E você?” Nunca conheci um meteorologista - “comecei com garoas e trovoadas esparsas, mas hoje trabalho no setor de ciclones extratropicais”; não encontrei por acaso com um adestrador de cachorros, tampouco com um cartunista, um maestro, um capitão de transatlântico, um perfumista, um sismólogo, um detetive, um coreógrafo ou um guarda florestal.
A gente cansa, depois de uns 30 anos, de conhecer a galerinha do mercado financeiro e os atendimentos de agência. Todo mundo legal, todo mundo com algo a agregar, tudo bem, mas pensar no universo infinito de pessoas com profissões inusitadas que estou deixando de conhecer me deixa aflita. É como se eles estivessem todos se escondendo em algum lugar secreto, algum boteco subterrâneo ou em alguma sala de espera misteriosa.
Empinadores de pipa, ventríloquos, encantadores de cavalos, palhaços de rodeio, comissários de bordo e campeões de boliche.Sim, é lá que eles devem estar, esses seres interessantíssimos. Divertindo-se escondidos e casando-se uns com os outros. Patrícios e Gilbertas... Seguros e protegidos de nós, trabalhadores óbvios e monótonos que limitaram suas vidas ao que nos oferecia o manual da FUVEST.
http://blonicas.zip.net/index.html

para uma péssima metáfora, uma ótima resposta.

- sabe aquelas cenas de filmes de monstro, tipo Godzilla, que pega uma pessoa e levanta ela no ar, e ela fica agitando os braços e pernas, tentando sair, e o monstro levantando?
- sim, sei.
- eu me sinto como se Deus tivesse me jogado desse jeito, com a mão gigante dele, no caos do mundo.
(pausa)
mas isso é só uma metáfora ruim, pra começar que eu não acredito em Deus, então faria mais sentido até um godzilla me pondo no mundo. mas isso não faria sentido nenhum pras outras pessoas...
- eu prefiro o Godzilla te colocando no mundo do que um cara barbudo de olhos azuis.... ei, apesar que se ele fosse barbudo e seboso, além de Deus ele poderia ser seu futuro peguete!

é, tô bem na fita.

pensamentos de uma escada

quantos pés passam por mim, indo cheios para a vida vazia de todo dia. trabalho, carro do ano, casamento, gordura trans (não sei bem o que é, mas sei que faz mal), guerra, cheque especial, eleição, feriado (praia ou montanha?), clonagem, escola, filhos, caso Isabella (barbaridade...!!!), novela, jantar ("vamo pedir algo, né benhê?").

às vezes um casal apaixonado para e fica horas e horas se esforçando pra se despedir, e conseguir ir embora. ah...o amor! não existe amanhã pro amor. existe o agora, e a morte do agora é o maior crime para os apaixonados... a separação é uma amputação pra quem só pensa em fazer dois virar um só. pelo menos naquele instante, em que o outro parece ser sua metade.
e existe o sono, a fome, a vontade de fazer xixi, a necessidade de ir dormir cedo para um compromisso inútil logo na manhã seguinte, mas os dois apaixonados parecem engessados no portão, conversando, e conversando. e despedindo, despedindo novamente, beijos, abraços e silencios. risinhos confidentes ("é, parece que não vamos mesmo...").
começam a fazer estratégias: "o próximo taxi que passar, prometo que vou embora!". de vez em quando, umas loucuras aparecem: "e se eu não fosse naquele negócio amanha? eu não queria mesmo..." (como se um dia fosse ficar mais fácil essa separação... e se esse dia chegar, vai ser tão triste... que vontade do tempo parar agora. o mundo podia acabar agora. não haveria separação amputada ou decepcionada. o mundo simplesmente acabaria e pronto.). até que uma hora eles resolvem ir, e enfim vão. fico sozinha, com meus frios degraus.

de vez em quando vem um cachorro e mija em mim.
de vez em quando é um mendigo. de vez em quando é até um burguês, bêbado.

mas quantas coisas se aprende sendo uma escada. simplesmente lá, de acesso a uma grade verde, que protege vários apartamentos cheios de vida vazia.
os pés, tênis, sapatos e meias (alguns chinelos aventureiros da cidade), saltos... xixis, cocôs, a água da chuva, a água da mangueira, o chiclete... e em algumas madrugadas aparece: o sentido do mundo, a consciência, a cerveja e a angústia que é estar vivo num mundo de incompreendidos.
ah...! quantas conversas revolucionárias. quantos planos toscos e lindos para destruir o poder.
quantas lágrimas derramadas, e quantas guardadas para não me molhar... ou para não mostrar a fragilidade para mim.

onde já se viu um revolucionário que chora? e onde já se viu um ser humano que chora e afirma "EU NÃO AGUENTO MAIS" sem soar aos degraus alheios como um mero "depressivo a mais no mundo"?

ah... quem dera que alguma dessas pessoas chegasse um dia ao poder! que dia maravilhoso seria esse! que vontade tenho eu de expulsar essas bundas dos meus sujos degraus para essas bundas se alojarem num trono qualquer no mundo.
mas essas pessoas nunca chegariam ao poder, e talvez nunca nem o tentariam alcançar. essas pessoas acham o poder podre, por mais que sabem que achar isso é ingênuo e nunca vai fazer com que algo mude. essas pessoas me acham mais confortável que qualquer trono de ouro.
para essas pessoas, sentar em mim com uma Bohemia talvez chegue a ser a única coisa que faça sentido na vida delas.

ah! que perfeito seria se todas essas pessoas chegassem um dia ao poder...
mas essas pessoas não passam nem no Concurso Público para contribuir com o desenvolvimento do Brasil. porque por mais que pareça que falte gente, é só uma ilusão. as vagas são até limitadas.

e então elas vão embora. conversa boa, e nada mudou. pelo menos não no mundo. não na escada.

...

- oi.
- e aí, tudo bom?
- tudo, e você?
- tudo bem... novidades?
- não, e você?
- ah, não... e vc?
- também não...
- entendi... e a faculdade?
- ah, super puxada! mas tá bem legal... e vc? passou já?
- putz, passei! nem acredito que as férias chegaram...

...

- oi.
- olá!!! blz?
- blza, e com vc?
- tudo certin...
- e aí, como andas a vida?
- ah, caminhando.. hehehe... e com vc? tem novidades?
- ah, não...!

...

- oi!
- oláaaa, tudo bom?
- tudo bem!!! e vc?
- tudo bem!
- novidades?
- não, e vc?
- putz, tb não...
- ah...

...

- e aíiii, beleza?
- beleza, e vc? putz!!! quanto tempo!!!!
- pois é... correria, né.
- é...! mas conta aí, que que vc tem de novo pra me contar?
- ah, nada demais... férias da faculdade, nem acredito!
- hahaha nem fale... ow, vamos aproveitar pra nos ver.
- vamos sim...
- é.

...

- ei, tudo bem?
- tudo, e contigo?
- tudo bem... tá de férias já?
- to sim, e vc?
- tb... bom, né?
- muito bom...

...

Cansou?
Eu também.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Hey, remember that time when we decided to kiss anywhere except the mouth?

procurando por algo diferente. mas sempre é mais do mesmo. sempre.
às vezes parece que quando a gente acha que tá ficando louco é quando a gente percebe na verdade que tá recuperando um pouco da lucidez, e enxergando o quanto o mundo tá louco.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

sem-mais-títulos

"Meu coração vive cheio de amor e deserto
Perto de ti dança a minha alma desarmada."
[balada de agosto]

e eu me visto de saudades do que já não somos nós

nossa vida gira em torno da morte.
como deixar a vida menos entediante possível até chegar a nossa hora.
com quem buscaremos suporte para conseguir esperar por ela sem fazer com que nos antecipemos.
como fazer para nos tornar inesquecíveis, mesmo depois que ela chegar.

como seria viver sem saber que um dia isso tudo vai acabar? quem sabe dizer se isso seria melhor ou pior?



...só nós dois, meu amor, não cabemos em mim ou em você.

"and i can sing this song so blue that you will cry"
*saiu sem querer. vim falar do amor, falei da morte.

domingo, 20 de julho de 2008

e estamos conversados.

Eu não acho mais graça nenhuma nesse ruído constante que fazem as falas das pessoas falando, cochichando e reclamando - que eles querem mesmo é reclamar. Como uma risada na minha orelha, ou como uma abelha, ou qualquer outra coisa pentelha, sobre as vidas alheias, ou como elas são feias, ou como estão cheias de tanto esconderem segredos que todo mundo já sabe - ou se não sabe desconfia.

Eu não vou mais ficar ouvindo distraido eles falarem deles e do que eles fariam se fosse com elese o que eles não fazem de jeito nenhum, como se interessasse a qualquer um.
Eles são: As pessoas. As pessoas todas, fora os mudos.

Se eles querem falar de mim, de nós, de nós dois, falem longe da minha janela, por favor, se for para falar do meu amor. Eu agora só escuto rádio, vitrola, gravador. Campainha, telefone, secretária eletrônica eu não ouço nunca mais - pelo menos por enquanto. Quem quiser papo comigo tem que calar a boca enquanto eu fecho o bico.


E estamos conversados.
[arnaldo antunes]

sábado, 19 de julho de 2008

passeio

"então erguemos muros que nos dão a garantia de que morreremos cheios de uma vida tão vazia."

sábado de manhã. dia de voltar da terapia levando meus pensamentos para passear pela região da Av. Paulista. o mp3 ligado, deixo quem quiser susssurrar (às vezes gritar) no meu ouvido - claro que passado antes por uma certa seleção.

ano passado, fiquei de dar uma havaianas x pra uma amiga e estava indo comprar quando soube que entrei na UNIFESP Santos. dessa forma, posso dizer que a primeira coisa que fiz quando passei na UNIFESP foi comprar uma havaianas vermelha. talvez, se não fosse pelo presente pré-selecionado da minha amiga, nunca teria adotado a filosofia que adotei quando fui morar em Santos: a filosofia de queimar a calça jeans e enforcar o tênis com o cadarço.

desde o ano passado, meu all-star e meu tênis da nike ficaram restritos para dias de laboratório de anatomia e visitas à Zona Noroeste. a calça jeans, fui usar de novo apenas esse ano. o dia que vesti uma calça jeans ano passado, acabei passando numa feirinha, vi um vestido lindo e comprei. saí da loja usando.

e assim como os paulistas que vão pra Santos levam seus tênis e jeans pra lá, eu de Santos trago pra cá minhas saias, vestidos, chinelos e sandálias. é impressionante como roupas leves dão mais leveza pra vida. é impressionante como a calça jeans prende, reprime, deprime...
talvez São Paulo seria mais feliz, não fosse esses azuis pesados. talvez o Sol passaria mais por aqui...

entro na livraria. horas e horas circulando. quantos livros ainda terei que ler, que coprar, que indicar... passo o itaú cultural, o sesc paulista... eventos que perdi, eventos que pensei em ir mas provavelmente não irei.
casa das rosas: aah, preciso ir mais vezes pra lá. um casal se alongando lá em cima, uma senhora entrando pra ver uma exposição que fica atrás do jardim. uma criança se debruçando para olhar uma flor.

vou caminhando... lembranças ao passar em uma loja, uma banca, uma estação de metrô. tantas pessoas que me vem na cabeça... botecos que antes eu frequentava, agora reformados. alguns, com os mesmos clientes...

no masp, uma fila para ver a exposição, e umas pessoas fazendo um manifesto. fora dantas! velhinhas achando graça, colando o adesivo na roupa. pessoas que estavam passando e param, começam a participar do movimento. as pessoas na fila aplaudem. a polícia de canto, só assistindo.

os pensamentos vão correndo, dançando, doendo, flutuando... idéias para o futuro, planos para o passado (eu deveria ter respondido desse jeito!, deveria ter ido lá...), programas, projetos, sonhos, recordações.

enfim, conjunto nacional. mais livros, mais planos... vejo a exposição que tá no andar de baixo. coisa bizarra.

a av. paulista acabou, o post também.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Encontros desencontrados, Desencontros encontrados...

*o encontro de um rascunho de janeiro, visto como algo em potencial.

É engraçado pensar quantas pessoas que passaram despercebidas por minha vida possam ter feito parte da composição. Ou decomposição.

A questão é que podemos ser afetados, transformados, deformados, inesperadamente, por qualquer pessoa. Certos encontros me dão tanta gratidão que tenho vontade até de agradecer o sujeito da oração (ok, nesse caso me assumo como objeto), e confesso que não o faço por vergonha.

Bastou uma frase. Bastou uma indicação de um filme, uma música, um livro... bastou um abraço. Às vezes, basta o silêncio. E, às vezes, porque não, basta a falta de uma fala.
Hoje, bastou um sorriso. Um sorriso largo que veio do chão, de uma cabeça erguida de um pote de Cup Noodles, em frente à padaria.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

"e se você fecha o olho, a menina ainda dança... até o Sol raiar!"

chamem de bipolar.
chamem de inconstante, doida, o que quiserem.

mas não há nada melhor pra começar um dia que uma boa sequencia musical logo que acorda.
e sim, isso faz esquecer todas as tristezas do dia anterior. pelo menos até a música acabar, pelo menos enquanto a menina ainda tiver forças pra dançar...

quarta-feira, 16 de julho de 2008

TPM, carência, chocolate & cerveja.

2 problemas, 2 soluções - um título bem equilibrado.
a vida passa a ser mais simples e talvez um pouco preocupante quando você sente que todos os seus problemas no dia passarão com um copo de cerveja...

o que falta é o que escrever. desenvolver. pensando... o tempo passa e a gente vai acumulando várias histórias não terminadas. pessoas que a gente deixou pra trás (ou o sentimento de ter sido deixado pra trás por pessoas), sem concluir nada, fazendo com que sempre fique em aberto a chance do reencontro. às vezes o reencontro é apenas conclusivo, confirmativo ("é, foi por isso que fui embora"/ "ainda bem que ele(a) foi embora.").
e a gente deixa mais uma vez, dessa vez sem nunca mais olhar pra trás...

terça-feira, 15 de julho de 2008

a tristeza tem sempre uma esperança de um dia não ser mais triste, não...

"Mas, se ela voltar
Se ela voltar que coisa linda!
Que coisa louca!
Pois há menos peixinhos a nadar no mar
Do que os beijinhos
Que eu darei na sua boca
Dentro dos meus braços, os abraços
Hão de ser milhões de abraços
Apertado assim, colado assim, calado assim,
Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim
Que é pra acabar com esse negócio
De você viver sem mim
Não quero mais esse negócio
De você longe de mim
Vamos deixar esse negócio
De você viver sem mim"
[chega de saudade]

"E já nem sei o que vai ser de mim
Tudo me diz que amar será meu fim
Que desespero traz o amor
Eu nem sabia o que era o amor
Agora sei porque não sou feliz"
[canção do amor demais]

recém-chegada da exposição de bossa nova
e eu ando meio romanticamente brega.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

love is natural and real, but not for you, my love...

"I know it's over
And it never really began
But in my heart it was so real
And you even spoke to me, and said:
"If you're so funny then why are you on your own tonight?
And if you're so clever then why are you on your own tonight?
If you're so very entertaining then why are you on your own tonight?
If you're so very good-looking why do you sleep alone tonight?
I know...
Because tonight is just like any other night
That's why you're on your own tonight
With your triumphs and your charms
While they're in each other's arms..."
It's so easy to laugh
It's so easy to hate
It takes strength to be gentle and kind..."
[the smiths, i know it's over]

domingo, 13 de julho de 2008

Varol Bermelho - Antonio Prata

Do bafômetro I
Está em vigor, desde o dia 20 de junho, a nova lei 11.705, que pune com cadeia quem for pego dirigindo com mais de 6 dg/L de álcool no sangue.
“Você pode ser preso por ter comido um bombom de licor!”. Eis o que bradam, pelas bombonieres da cidade, os indignados chocólatras. Eles, minha gente, que ajudaram a fazer de São Paulo, como você bem sabe, a “capital mundial da trufa com Frangélico”.
“Vai em cana por bochechar com Listerine!”. É o que gritam os neocons da higiene bucal, provavelmente receosos de que a lei vá disseminar por nosso país, já tão afogado em mazelas, as pragas do tártaro e da placa bacteriana.
Estou realmente assombrado e admirado que a minha turma do bar esteja se unindo em torno de duas causas tão nobres: bombons e cáries. Claro. Afinal, exigir o direito de dirigir bêbado ninguém tem coragem.

Do bafômetro II
“Um chopinho! Uma tacinha!”, sussurram os mais ousados, olhando para os lados, conferindo se não estão mesmo sendo ouvidos.
Tá certo, eu também acho que uma taça de vinho e um chope poderiam ser liberados. Se fizerem abaixo assinado para mudarem a lei, me mandem por e-mail, eu assino. Mas esse é um detalhe menor, diante da boa notícia de que, finalmente, beber e dirigir vai se tornar um crime de verdade, e que milhares de vidas serão poupadas – e milhares, aqui, não é força de expressão. São mais de trinta mil mortos por ano, no trânsito. Boa parte dos acidentes, causados por motoristas bêbados.
Acho estranho tanto fervor na defesa de um chopinho e uma tacinha. E na vidinha, não vai nada?

Da jaca
Antes de mais nada, preciso dizer: não comemoro a cruzada puritana que assola o globo. A tentativa de impor ao corpo os valores de eficiência e produtividade – as barrigas de tanquinho ISO 12000, propagandas de nosso superávit muscular e superegóico; o troféu pela dominação de nossas panças e nossos instintos.
Todo poder ao telecoteco, ao ziriguidum, à picanha, ao vinho, à cerveja e ao doce de leite argentino. Viva Dionísio, Zé Celso, o Saci Pererê e essa coisa toda. (Se não fosse o álcool, aliás, acho que seria virgem até hoje – no meio da adolescência, só um psicopata pode ter a frieza de ficar pelado, na frente de uma garota, em pleno domínio de suas faculdades mentais). Mas, como dizia Confúcio, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa: assim como quem vier explicar a origem da tabela de logarítimos no meio de um bloco de carnaval deve ser mandado para a Sibéria, não dá pra conduzir uma máquina de uma tonelada a cinquenta quilômetros por hora, depois de beber.
Porém, ah, porém...

Do bafômetro III
Sexta-feira, agora, um cara me dizia, furibundo, já no quarto uísque com red bull: “e se eu quiser tomar um chope saindo do trabalho? Vou preso!”. “E desde quando você toma um chope? Você enche a lata!”. “Eu sei, mas suponhamos que eu queira, é um absurdo não poder!”. Eu, que já estava na terceira long-neck (and rising...), enchi o peito de virtude e passei um sabão no sujeito. Disse que era egoísta da parte dele. Que se a suposta ruína do happy hour viesse a salvar cinco mil vidas, estava valendo. Fiquei até arrepiado com minhas próprias palavras. Depois peguei o carro e fui-me embora para casa. Veja bem: eu, quando como bombom recheado, bochecho com Listerine ou bebo cerveja, dirijo com muito cuidado. Como todo o Brasileiro, aliás.

Do bafômetro IV ou: da lei (I)
Nós, brasileiros, temos um individualismo natural. Não aquela papagaiada dos americanos, que enchem a boca para citar a primeira emenda e o direito do Ser Humano viver como quer e longe dos tentáculos do Estado. Nosso individualismo é menos triunfal, mais íntimo. Entendemos que a lei exista, afinal, o ser humano faz um monte de besteiras por aí. O ser humano precisa de leis. Mas eu? Veja bem: eu tenho “as manha”.
No sábado, enquanto bebíamos vinho, num jantar, um cara argumentava que a lei era “muito autoritária. Uma coisa de cima pra baixo, muito radical”. Aí me lembrei de uma mulher que, na época da campanha pelo desarmamento, me disse que votaria contra a proibição das armas porque, desde os anos 70, seguia um princípio: “é proibido proibir”. Não era uma velha hiponga, mas alta executiva (CEO, como dizem agora) de uma Multinacional (corporação?). Síntese curiosa entre libertários e liberais. Alguma coisa entre Caetano Veloso e Thomas Friedman.
Essas conversas me deram a impressão que, no Brasil, toda vez que se discute uma nova lei, não é somente o conteúdo da mesma que está em pauta, mas o próprio conceito de lei, Estado, contrato social. “Como assim?!”, dizemos. “Alguém quer me proibir de fazer uma coisa?!”. Mais ainda: “vale para mim e todo mundo?! Estão me igualando à patuléia?! Nananina! Qual é mesmo a emenda lá que os caras sempre citam no final do filme, amor?! Aquela lá que eles falam na hora do tribunal, antes de beijar a loira?! É isso aí! Isso aí que eu acho dessa lei nova!”.

Tolerância zero
Na minha primeira aula da disciplina Ética I, na faculdade de filosofia, o professor Renato Janine Ribeiro informou que seríamos avaliados por um trabalho, cujo limite era 4 mil caracteres. Levantei a mão e perguntei, já quase afirmando: “mas se passar um pouco de 4 mil não tem problema, né?”. Janine começou a rir. Limite é aquilo que não se pode transpor. É o fim da linha, certo?Não no Brasil! No Brasil tudo tem um chorinho. A dose não é a dose, nem no copo, nem no tempo, nem na lei.
A lei anterior, que permitia uma taça de vinho ou dois chopes, não era um retumbante NÃO ao álcool. Ela permitia um pouquinho. Então, preferíamos, em vez de nos apegarmos ao texto da lei (dois chopes ou uma taça de vinho) – não sei se por nossa grande capacidade de abstração ou se por preguiça – nos focar no princípio da lei: “pode beber, mas não muito”. Ou seja, pegávamos o limite de dois chopes, adicionávamos o chorinho que acreditávamos caber a cada um e de nós lá se iam 30 mil vidas, a cada ano.
Agora, não tem mais chorinho nem vela. Bebeu um chope, adeus carro. E tem outra coisa que assusta: a maneira como a bebedeira é aferida: por uma máquina! Não tem tapinha nas costas do bafômetro, nem dá pra chegar pro canudo de plástico e falar, “veja bem, medidor, será que não dá para dar um jeitinho?”.
Que país é esse, minha gente?!

Do bafômetro V ou: da lei (II)
Desde que eu me entendo por gente, a 11.507 é primeira lei que surge ameaçando levar todo mundo pra cadeia. Rico, pobre, peão, deputado, acrobata amador ou poeta neo-concretista: dirigiu e bebeu, o pau comeu. Claro, todas as outras leis também deveriam ser para todos. Mas não são. A 11.507, a julgar pelas fotos dos motoristas assoprando o bafômetro, nos jornais, é ampla, geral e irrestrita.
Uma associação de bares e restaurantes está ameaçando entrar com ação na justiça, para garantir o direito inalienável de seus clientes atropelarem pedestres e chocarem-se contra Kombis escolares na contra-mão. Maravilha. A Kopenhagen e a Johsons, quem sabe, também vão fazer a mesma coisa.
Enquanto isso não acontece, no entanto, sugiro outra alteração na 11.705, para que ela não seja assim tão contrária à nossa natureza, à nossa cultura: cadeia diferenciada, dependendo da bebida que tiver sido ingerida pelo motorista.

Da penalidade
Uísque doze anos - O doutor vai praquela casona bonita da PF, em Higienópolis, que já hospedou Lalau e Rocha Matos. (Vão precisar comprar mais algumas mansões decadentes pra caber todo o pessoal da Vila Olímpia e dos Jardins, mas tudo bem, pra essas coisas nunca falta $$$).

Chope em bar carioca - A galera vai pra cela especial nas delegacias de Perdizes, Pompéia e Pinheiros. (Vão precisar fazer mais celas especiais pra acomodar todo o pessoal da Vila Madalena, mas tudo bem, algumas ONGs vão pressionar e o governo vai acabar cedendo).

Serra Malte, Original e Boêmia de garrafa – Os amantes da tradição são mandados para Ilha Grande, a masmorra mais cool de nossa história, que abrigou até Graciliano Ramos. (O presídio precisa de uma reforma, mas o pessoal da cerveja de garrafa pode trabalhar nisso, com materiais recicláveis e energia solar).

Schincariol de garrafa ou pinga 51 - Mete o vagabundo no xilindró e acabou. (Vão precisar fazer mais xilindrós, porque os que existem hoje já estão superlotados, mas isso pode esperar, ninguém que a gente conhece vai pra lá, mesmo).

Campari, Sangue de Boi e Smirnoff Ice - Campo de concentração no Acre, pra aprender a beber direito. Não tem conversa. (Nem piadinha entre parênteses).
 
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