quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

amor sem fronteiras.

- bom dia.
- bom dia... 
- te acordei?
- sim. mas tudo bem, você acabou de me salvar de um incêndio.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

um amor de faz tempo

a vida já é emocionante demais. confrontos, conflitos, grandes obras de arte que nos arrancam a respiração. compromissos, complicações. grandes amigos que nos fazem dar risada. companhias, começos e conclusões.
a vida em si já basta para ser aquilo que nos dá angústia, aperto, sofrimento, alegrias, simpatias, dores.
ao contrário do que os filmes de hollywood pregam, não quero alguém que me tire o ar - pra isso, já basta as violências que vivemos. não quero joguinhos amorosos, pisando num campo minado em que uma palavra e bum!, adeus relação. - de inseguro, já basta o futuro e as finanças.
eu quero pra ontem, pra agora, um amor de faz tempo.
que sabe que eu demoro pra dormir e que goste de me fazer companhia. que goste de ver filmes - e de dormir assistindo também. de alguém que não precise planejar um grande encontro, mas que faça das coisas cotidianas um grande evento - e pra isso não precisa muito. basta um sorriso, um carinho, um olhar. uma surpresa, ou uma brincadeirinha que faça com que a gente ria e que anos depois, sentados em um café, em algum lugar estrangeiro e a gente fale "se lembra daquele dia em que estávamos fazendo faxina e...", e dê risada da história.

a vida já é difícil demais pra ter que se preocupar com as coisas do coração. queria eu que estas fossem simples. conhecer alguém, que já venha com a escova de dente e com os pés descalços e a vontade de ficar o dia inteiro no sofá, com roupas confortáveis de ficar em casa. que já saiba aonde eu guardo os copos e que eu saiba que estará do meu lado cumprindo as grandes burocracias sociais - natal, ano novo, páscoa...
não precisa nem ser a mesma pessoa - não tenho problemas em variar ao longo da vida. só queria que elas aparecessem facilmente, tão facilmente quanto àqueles telefonemas oferecendo algum cartão de um banco qualquer. tão facilmente quanto relações que não levam a lugar algum, mas que de alguma forma a gente sustenta na esperança de.

um amor de faz tempo. ah, isso cairia tão bem hoje a noite...

* pra quem quiser ler uma possível resposta, clique aqui.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

nós

nós, nós, nós.


ultimamente é o teu assunto preferido. e cada vez que fala, sinto um aperto no peito, porque queria estar falando de nós - se nós, se tratasse de eu e você - companheira, companheiro na luta, no amor, na vida.

mas o nós que me cabe parece ser um tanto de nós que foram se fazendo e me amarrando e me prendendo e me envolvendo de forma que agora não consigo sair - nem sequer pra dar um passeio. me sinto como um fone de ouvido que por mais que haja um esforço de mantê-lo guardado desenrolado, quando menos se espera ele está emaranhado no bolso. queria eu poder me esconder por alguns instantes, em algum cantinho em que eu não me enrolasse com nada, nem comigo mesma.

nós. nós. nós.

eu e você é um nós que me liberta, e eu queria que esse nós tivesse a força para superar esses nós que me amarram, mas sem nossas mãos entrelaçadas - você está longe - fica mais difícil que nosso nós fale mais alto que outros nós.

você tem seus nós aí.
e eu meus nós aqui.

vou fugir por um tempo, pra outro país, pra ver se me desenrosco um pouco. no entanto, quando voltar, eles - os nós, não o nosso - já estarão no aeroporto, prontos pra me buscar, antes mesmo que você. por isso, peço baixinho, um pouco tímida, um pouco menina inconsequente, sabendo que seus nós também não são fáceis de serem desatados para vir formar o nosso nós e desatar meus nós: vem logo pra cá, me salva da selva. 

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

insônia de dezembro

diferente do ritmo acelerado do dia, a madrugada com insônia lhe reserva uma lentidão única. como se não houvesse tic tac no relógio, saboreia seus últimos prazeres que restam em sua casa. o penúltimo cigarro, o fim da garrafa de água gelada, o último chocolate. tenta não pensar que o fim do ano se aproxima e que todo fim de ano lhe reserva alguma morte inesperada de alguém querido. tenta descobrir quem será, como se assistisse a um filme de suspense, em que sabe que alguém daquele grupo de amigos morrerá. apesar dos pensamentos sombrios, sua cara nada expressa. o rosto é o mesmo rosto daquelas pessoas que circulam pelo metrô em horário de ida ou de volta de trabalho. um olhar de gado a espera da morte - que não sabe que espera a morte, pois parece não ter consciência disso nem de nada, mas que quem o assiste, assiste com pena.

a insônia de dezembro chegou. tentativas frustradas de telefonar para alguém. "merda de modo silencioso" - pensa. não conseguir falar com alguém parece dar mais solidão que não ter ninguém para quem ligar. pensa em ligar para aquele que antes acolhia as suas insônias. em seguida, pensa nas consequências disso. pensa em ligar para aquele que antes do outro de antes acolhia a sua insônia. pensa que ele jamais entenderia as consequências disso.

a insônia de dezembro chegou. pensa em tomar um banho. pensa em escrever algo. pensa em ler algo. pensa em sair e fazer algo - não, não, má ideia. assistir a um filme - talvez.
lembra de seu primeiro apartamento em santos, de suas primeiras insônias em santos. existia meio pacote de fandangos. não ter, seria evolução?

na semana anterior, o quarto cheio de roupas, papéis, garrafas, livros, apostilas passagens usadas, jornais, embalagens, crachás, bilhetes... um surto: de repente aquele quarto era eu. tantas coisas importantes, inúteis, foras do prazo de validade... tudo misturado, sem prioridade de importância.
na semana anterior, havia alguém que lentamente recolheu roupa por roupa. que empilhou os papéis - recém chegado na história, não sabia ainda dizer o que de lá não pertencia mais. havia uma paciência que não tinha nome. e quando o choro era alto, pacientemente parava de recolher e oferecia o colo, as mãos que massageavam o corpo. pouco a pouco, tornou o quarto e o corpo habitável. bom para ele, bom para ela.

começa a chegar a hora do despertador tocar e começar, então, mais um dia. pobre despertador, que dificilmente cumpre sua função. aquela que o tem como propriedade sempre se antecipa e seu toque torna-se mera formalidade.

mera formalidade. não é apenas o despertador que vive assim, afinal.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

o que não tem fim sempre acaba assim.

do que foi. foi?

novos horizontes
se não for isso, o que será?
quem constrói a ponte
não conhece o lado de lá
quero explodir as grades
e voar
não tenho pra onde ir
mas não quero ficar
suspender a queda livre
libertar
o que não tem fim sempre acaba assim
(novos horizontes, engenheiros)

e de repente percebo que o fim da faculdade é como o nosso fim. formalmente, as coisas acabaram. mas afinal, parece que não.
liberdade caminha junto com angústia, desconforto e insegurança.

sábado, 26 de novembro de 2011

Um novo jeito de contar a mesma e velha história - COMPLETO

essa não é mais uma história de amor.

Parte I - Os dez minutos que abalaram os mundos.

Era uma vez uma menina e um menino - porque toda história que se preze tem no seu enredo pelo menos duas pessoas que se apaixonam - que viviam em planetas diferentes.
Como todos nós sabemos, os planetas ficam circulando pelo universo, em algum ritmo que aí nem todos nós sabemos. A nossa história começa em um momento raro em que esses dois planetas - o do menino e o da menina - se alinham e, durante dez minutos, os olhos da menina cruzaram com os olhos do menino.
Foi de repente. Foi por acaso. Que belo acaso!
E foi carregado de alegria. Na hora, é como se os mundos estivessem parados, para que parados os dois pudessem se olhar, se conhecer, decorar um o rosto e o corpo do outro. Naquele instante, a vida fez tanto sentido para os dois, que sorriam como nunca haviam antes.
Dez minutos depois, cada mundo foi pro seu lado - mas foram tarde! Daqueles dez minutos já havia nascido o amor. Mal os dois - e o resto dos mundos - sabiam o que viria a seguir.

Parte II - A grande guinada da história dos dois

No dia seguinte, a menina acordou, esfregou seus olhos como de costume e antes de abrir os olhos, lembrou do rosto do menino.
O menino e seu planeta, despertam distantes do outro lado do universo. É mais uma manhã e ele acorda apressado para a rotina de seu mundo. Ele também lembra da menina, enquanto contempla uma flor que brotava no chão, ao teu lado (no seu planeta, as flores brotavam ao lado das pessoas que estavam felizes). Ele sabia que aquela flor era culpa da menina.
Não foi algo calculado, premeditado, sequer combinado - tampouco seria possível, em dez minutos de troca de olhares -, mas a questão é que a partir daquele dia, os dois foram tomados pelo desejo de se encontrarem. E, sem um saber do outro, surgiram planos para viabilizar esse encontro.

No planeta do menino, havia muitos tijolos. Política de governo daquele mundo. O rei, preocupado com flores que brotavam demasiadamente no chão, distribuía tijolos pelo planeta para que abafasse o reconhecimento de felicidade dos seres de lá. Era uma forma das pessoas não saberem que estavam felizes, e sem saber que eram felizes, seguiam concentradas com seus afazeres que garantiam que o planeta continuasse do jeito que estava.
Era preocupante para o rei um planeta em que todos conseguissem enxergar a sua felicidade.
Mas isso não vem ao caso agora. O que interessa é que havia tijolos no planeta e o menino, que gostava de recolher os tijolos, pois não concordava com a atitude do rei, decidiu que com eles construiria uma ponte para o outro planeta, o planeta da menina.
Daria trabalho, mas o menino estava disposto, e quando a gente carrega tanta paixão dentro da gente, a gente tem uma força que é capaz de mover montanhas - e olhando dessa forma, carregar tijolos não seria tamanho esforço assim.

A menina, por outro lado, não tinha a habilidade do menino, e também não tinha tijolos. Na verdade, a menina não fazia muita coisa, além de sonhar. Ela sonhava bastante e, depois dos dez minutos que abalaram os mundos (e daqui a pouco vocês saberão o porquê), passou a sonhar em como encontrar com o menino.
Ela fazia planos mirabolantes, a maioria impossível. Alguns, até chegou a correr atrás e tentar realizar, mas eram tão absurdos que não tinham jeito. Certa vez, foi até a casa do homem que tinha o maior balão do planeta dela, e pediu emprestado. O homem riu da ideia absurda da menina, mas emprestou.
Ele tinha muitas cores e era muito grande, e ela chegou a voar alguns kilometros com ele. Mas sequer conseguiu chegar perto da primeira estrela. Pouco antes, um objeto estranho não identificado furou o balão e a menina foi caindo, caindo, caindo, até que voltou para seu planeta. Sorte que o balão era tão grande que a lona serviu de colchão pra menina!

E ela seguiu fazendo planos, e o menino seguiu fazendo a ponte.
Enquanto isso, todos os dias, vira e mexe a menina olhava para o alto, para todos os lados do horizonte para tentar reencontrar o planeta. A esperança de cruzar os olhos dela com os olhos do menino superava qualquer teoria psicológica do comportamento humano, de certas ações irem diminuindo na medida que não eram reforçados positivamente.

Um dia, fazia muito sol, e a menina pode jurar de pés juntos que em meio a tanta luz ela viu uma bolinha, bem bem bem longe, que tinha uma coisa saindo dela. Na época, a menina não sabia o que era, e isso depois virou uma história feliz de se contar - daquelas lacunas do passado que se completam anos depois. Mas isso ela não sabia, só a gente que está contando a história agora sabe, que era a ponte do menino que crescia.

O menino também, vez ou outra, escalava a construção e procurava pelo planeta da menina. Tentativas mal sucedidas, e no entanto jamais desacreditadas. Coisas que só quem ama entende. Teve uma vez, que o menino contemplava o horizonte após um longo dia de trabalho árduo, de intensiva dedicação ao projeto da ponte. Foi então que viu, ao longe, um troço grande, redondo e colorido. Esfregou os olhos com as mãos calejadas. Quando abriu novamente, não havia mais nada. Na época, o menino não sabia o que era, e isso depois virou uma história feliz de se contar - daquelas lacunas do passado que se completam anos depois. Mas isso ele não sabia, só a gente que está contando a história agora sabe, que era a menina tentando subir com o balão do homem.

E ela seguiu fazendo planos, e o menino seguiu fazendo a ponte.

Parte III - A grande guinada da história dos mundos

A menina seguia fazendo planos.

Entre suas ideias malucas, ouviu boatos de que o rei de seu planeta tinha uma nave, que usava para reuniões interplanetárias vez ou outra. Aquilo era segredo de Planeta, mas um funcionário que ocupava um cargo importante, um dia que estava bravo com o rei deixou vazar. Era ele quem guardava as chaves num cofre do palácio.
A menina, então, encontrou a estratégia central para chegar ao outro planeta: encontrar e conquistar a nave do rei. Bastava agora pensar em táticas para isso ser possível. E todos os dias a menina buscava o cofre e o funcionário do rei.
Certo dia, ficou sabendo também que no local que ficava a nave, havia um monstro verde, grande, com vários braços e pernas, e assustador (porque coisas verdes, grandes, com muitos braços e pernas só poderiam ser assim, assustadoras).
Quem contou isso foi um moço da maior loja de rações do planeta, responsável pelo fornecimento de alimentos do monstro. Contou isso para a menina, em um dia que também estava bravo com o rei.
Com o tempo, o planeta inteiro estava sabendo que a menina estava atrás de alguma coisa que era do rei, e a menina começou a saber que muita gente estava brava com o rei. Assim, os habitantes do planeta dela começaram a ajudar da forma que podiam, fazendo com que pouco a pouco, o planeta todo estivesse mobilizado, de alguma forma, para ajudar a menina.

O menino seguia construindo a ponte.

O menino continuava erguendo, pouco a pouco, a ponte. Recolhia os tijolos, concentrado em seu ritual. As pessoas observavam, silenciosamente, o menino zanzando por ali.
As pessoas de seu planeta viviam em cantos. Moravam em cantos. Eram quietas, cada qual no seu cantinho. Tantos tijolos, e aos poucos foram se habituando a se isolar.
Uma criança que brincava com uma bola observava o menino que cumpria de forma disciplinada a tarefa de recolher tijolos e construir a ponte. A criança era curiosa. Ainda não estava tão domada para caber naquele mundo. Desconhecia das políticas de governo, e ainda não tinha encontrando o seu canto.
Jogou a bola para perto do menino, para se aproximar. O menino pega a bola, sorri gentilmente para a criança - nasce uma flor, cai um tijolo, o menino entrega a bola, pega o tijolo, e volta a construir a ponte.
A criança se aproxima e pergunta, então, o que o menino está fazendo. Não se ouvia muitas vozes por ali, porque as pessoas não se comunicavam. Os tijolos do rei silenciaram as pessoas.
Ele responde, com a voz rouca de quem há tempos não a utilizava, contando da menina. Nascem três flores, caem quatro tijolos - o Governo é ágil. A criança sorri, brotam quatro florzinhas do chão, cai um tijolo. Ela pega e começa a ajudar o menino.
A mãe da criança se espanta. Tantas flores amassadas por tijolos, tanto tempo que encontrou o seu canto para acomodar-se, que havia esquecido o que era estar lado a lado de alguém para atingir um objetivo comum. Ela não sabia da menina do outro planeta. Ela só assistiu a cena - a criança que começa a ajudar o menino que estava há dias, meses, naquela tarefa de construir alguma coisa.
De repente, tomada por uma emoção que parecia adormecida há algumas boas décadas, começou a arrancar os tijolos que constituíam seu cantinho. Possuía uma força que não tinha nome. Aqueles tijolos marcavam inícios de alegria amassados, abafados pelos tijolos do rei, e ela começou a arrancar e juntar num carrinho, até levar, enfim, para o menino.
Ela sorria, e com isso nasciam flores e flores e flores. Flores fortes, com cores brilhantes. E ela chorava, emocionada, e regava as flores com lágrimas, e as flores cresciam e os tijolos desciam e mais flores vinham. Algo se libertou nela, e em tantos outros do planeta que fez com que, algumas horas depois, a cidade estivesse tomada por flores e não já não houvesse mais tijolos pois as pessoas logo o pegavam para construir a ponte.

Parte IV - Esse não é o fim da história, e essa não é (apenas) uma história de amor.

Ao final do dia, todos os habitantes dos dois planetas estavam mobilizados: em um planeta, as pessoas ajudando a construir a ponte. No outro, as pessoas ajudando a encontrar a nave. Os reis estavam enlouquecendo, sem saber o que fazer.
Ao final do dia, já não se tratava mais de fazer com que o menino e a menina se encontrassem, nem ao menos para o menino e para a menina.
Ao final do dia, o menino e a criança e a mãe e a menina e o funcionário que ocupava um cargo importante e o moço da maior loja de rações e até mesmo - espantem! - o monstro verde estavam mobilizados. Todos buscavam construir no planeta do menino e encontrar no planeta da menina uma forma de viver em liberdade e, que fosse possível, nessa forma de viver a vida em liberdade, de o amor acontecer.

Nem que fosse preciso matar o rei.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Um novo jeito de contar a mesma e velha história

essa não é mais uma história de amor.

Parte I - Os dez minutos que abalaram os mundos.

Era uma vez uma menina e um menino - porque toda história que se preze tem no seu enredo pelo menos duas pessoas que se apaixonam - que viviam em planetas diferentes.
Como todos nós sabemos, os planetas ficam circulando pelo universo, em algum ritmo que aí nem todos nós sabemos. A nossa história começa em um momento raro em que esses dois planetas - o do menino e o da menina - se alinham e, durante dez minutos, os olhos da menina cruzaram com os olhos do menino.
Foi de repente. Foi por acaso. Que belo acaso!
E foi carregado de alegria. Na hora, é como se os mundos estivessem parados, para que parados os dois pudessem se olhar, se conhecer, decorar um o rosto e o corpo do outro. Naquele instante, a vida fez tanto sentido para os dois, que sorriam como nunca haviam antes.
Dez minutos depois, cada mundo foi pro seu lado - mas foram tarde! Daqueles dez minutos já havia nascido o amor. Mal os dois - e o resto dos mundos - sabiam o que viria a seguir.

Parte II - A grande guinada da história dos dois

No dia seguinte, a menina acordou, esfregou seus olhos como de costume e antes de abrir os olhos, lembrou do rosto do menino.
O menino e seu planeta, despertam distantes do outro lado do universo. É mais uma manhã e ele acorda apressado para a rotina de seu mundo. Ele também lembra da menina, enquanto contempla uma flor que brotava no chão, ao teu lado (no seu planeta, as flores brotavam ao lado das pessoas que estavam felizes). Ele sabia que aquela flor era culpa da menina.
Não foi algo calculado, premeditado, sequer combinado - tampouco seria possível, em dez minutos de troca de olhares -, mas a questão é que a partir daquele dia, os dois foram tomados pelo desejo de se encontrarem. E, sem um saber do outro, surgiram planos para viabilizar esse encontro.

No planeta do menino, havia muitos tijolos. Política de governo daquele mundo. O rei, preocupado com flores que brotavam demasiadamente no chão, distribuía tijolos pelo planeta para que abafasse o reconhecimento de felicidade dos seres de lá. Era uma forma das pessoas não saberem que estavam felizes, e sem saber que eram felizes, seguiam concentradas com seus afazeres que garantiam que o planeta continuasse do jeito que estava.
Era preocupante para o rei um planeta em que todos conseguissem enxergar a sua felicidade.
Mas isso não vem ao caso agora. O que interessa é que havia tijolos no planeta e o menino, que gostava de recolher os tijolos, pois não concordava com a atitude do rei, decidiu que com eles construiria uma ponte para o outro planeta, o planeta da menina.
Daria trabalho, mas o menino estava disposto, e quando a gente carrega tanta paixão dentro da gente, a gente tem uma força que é capaz de mover montanhas - e olhando dessa forma, carregar tijolos não seria tamanho esforço assim.

A menina, por outro lado, não tinha a habilidade do menino, e também não tinha tijolos. Na verdade, a menina não fazia muita coisa, além de sonhar. Ela sonhava bastante e, depois dos dez minutos que abalaram os mundos (e daqui a pouco vocês saberão o porquê), passou a sonhar em como encontrar com o menino.
Ela fazia planos mirabolantes, a maioria impossível. Alguns, até chegou a correr atrás e tentar realizar, mas eram tão absurdos que não tinham jeito. Certa vez, foi até a casa do homem que tinha o maior balão do planeta dela, e pediu emprestado. O homem riu da ideia absurda da menina, mas emprestou.
Ele tinha muitas cores e era muito grande, e ela chegou a voar alguns kilometros com ele. Mas sequer conseguiu chegar perto da primeira estrela. Pouco antes, um objeto estranho não identificado furou o balão e a menina foi caindo, caindo, caindo, até que voltou para seu planeta. Sorte que o balão era tão grande que a lona serviu de colchão pra menina!

E ela seguiu fazendo planos, e o menino seguiu fazendo a ponte.
Enquanto isso, todos os dias, vira e mexe a menina olhava para o alto, para todos os lados do horizonte para tentar reencontrar o planeta. A esperança de cruzar os olhos dela com os olhos do menino superava qualquer teoria psicológica do comportamento humano, de certas ações irem diminuindo na medida que não eram reforçados positivamente.

Um dia, fazia muito sol, e a menina pode jurar de pés juntos que em meio a tanta luz ela viu uma bolinha, bem bem bem longe, que tinha uma coisa saindo dela. Na época, a menina não sabia o que era, e isso depois virou uma história feliz de se contar - daquelas lacunas do passado que se completam anos depois. Mas isso ela não sabia, só a gente que está contando a história agora sabe, que era a ponte do menino que crescia.

O menino também, vez ou outra, escalava a construção e procurava pelo planeta da menina. Tentativas mal sucedidas, e no entanto jamais desacreditadas. Coisas que só quem ama entende. Teve uma vez, que o menino contemplava o horizonte após um longo dia de trabalho árduo, de intensiva dedicação ao projeto da ponte. Foi então que viu, ao longe, um troço grande, redondo e colorido. Esfregou os olhos com as mãos calejadas. Quando abriu novamente, não havia mais nada. Na época, o menino não sabia o que era, e isso depois virou uma história feliz de se contar - daquelas lacunas do passado que se completam anos depois. Mas isso ele não sabia, só a gente que está contando a história agora sabe, que era a menina tentando subir com o balão do homem.

E ela seguiu fazendo planos, e o menino seguiu fazendo a ponte.

(continua.)

A continuação.

Parte III - A grande guinada da história dos mundos

A menina seguia fazendo planos.

Entre suas ideias malucas, ouviu boatos de que o rei de seu planeta tinha uma nave, que usava para reuniões interplanetárias vez ou outra. Aquilo era segredo de Planeta, mas um funcionário que ocupava um cargo importante, um dia que estava bravo com o rei deixou vazar. Era ele quem guardava as chaves num cofre do palácio.
A menina, então, encontrou a estratégia central para chegar ao outro planeta: encontrar e conquistar a nave do rei. Bastava agora pensar em táticas para isso ser possível. E todos os dias a menina buscava o cofre e o funcionário do rei.
Certo dia, ficou sabendo também que no local que ficava a nave, havia um monstro verde, grande, com vários braços e pernas, e assustador (porque coisas verdes, grandes, com muitos braços e pernas só poderiam ser assim, assustadoras).
Quem contou isso foi um moço da maior loja de rações do planeta, responsável pelo fornecimento de alimentos do monstro. Contou isso para a menina, em um dia que também estava bravo com o rei.
Com o tempo, o planeta inteiro estava sabendo que a menina estava atrás de alguma coisa que era do rei, e a menina começou a saber que muita gente estava brava com o rei. Assim, os habitantes do planeta dela começaram a ajudar da forma que podiam, fazendo com que pouco a pouco, o planeta todo estivesse mobilizado, de alguma forma, para ajudar a menina.

O menino seguia construindo a ponte.

O menino continuava erguendo, pouco a pouco, a ponte. Recolhia os tijolos, concentrado em seu ritual. As pessoas observavam, silenciosamente, o menino zanzando por ali.
As pessoas de seu planeta viviam em cantos. Moravam em cantos. Eram quietas, cada qual no seu cantinho. Tantos tijolos, e aos poucos foram se habituando a se isolar.
Uma criança que brincava com uma bola observava o menino que cumpria de forma disciplinada a tarefa de recolher tijolos e construir a ponte. A criança era curiosa. Ainda não estava tão domada para caber naquele mundo. Desconhecia das políticas de governo, e ainda não tinha encontrando o seu canto.
Jogou a bola para perto do menino, para se aproximar. O menino pega a bola, sorri gentilmente para a criança - nasce uma flor, cai um tijolo, o menino entrega a bola, pega o tijolo, e volta a construir a ponte.
A criança se aproxima e pergunta, então, o que o menino está fazendo. Não se ouvia muitas vozes por ali, porque as pessoas não se comunicavam. Os tijolos do rei silenciaram as pessoas.
Ele responde, com a voz rouca de quem há tempos não a utilizava, contando da menina. Nascem três flores, caem quatro tijolos - o Governo é ágil. A criança sorri, brotam quatro florzinhas do chão, cai um tijolo. Ela pega e começa a ajudar o menino.
A mãe da criança se espanta. Tantas flores amassadas por tijolos, tanto tempo que encontrou o seu canto para acomodar-se, que havia esquecido o que era estar lado a lado de alguém para atingir um objetivo comum. Ela não sabia da menina do outro planeta. Ela só assistiu a cena - a criança que começa a ajudar o menino que estava há dias, meses, naquela tarefa de construir alguma coisa.
De repente, tomada por uma emoção que parecia adormecida há algumas boas décadas, começou a arrancar os tijolos que constituíam seu cantinho. Possuía uma força que não tinha nome. Aqueles tijolos marcavam inícios de alegria amassados, abafados pelos tijolos do rei, e ela começou a arrancar e juntar num carrinho, até levar, enfim, para o menino.
Ela sorria, e com isso nasciam flores e flores e flores. Flores fortes, com cores brilhantes. E ela chorava, emocionada, e regava as flores com lágrimas, e as flores cresciam e os tijolos desciam e mais flores vinham. Algo se libertou nela, e em tantos outros do planeta que fez com que, algumas horas depois, a cidade estivesse tomada por flores e não já não houvesse mais tijolos pois as pessoas logo o pegavam para construir a ponte.

Parte IV - Esse não é o fim da história, e essa não é uma história de amor.

Ao final do dia, todos os habitantes dos dois planetas estavam mobilizados: em um planeta, as pessoas ajudando a construir a ponte. No outro, as pessoas ajudando a encontrar a nave. Os reis estavam enlouquecendo, sem saber o que fazer.
Ao final do dia, já não se tratava mais de fazer com que o menino e a menina se encontrassem, nem ao menos para o menino e para a menina.
Ao final do dia, o menino e a criança e a mãe e a menina e o funcionário que ocupava um cargo importante e o moço da maior loja de rações e até mesmo - espantem! - o monstro verde estavam mobilizados. Todos buscavam construir no planeta do menino e encontrar no planeta da menina uma forma de viver em liberdade e, que fosse possível, nessa forma de viver a vida em liberdade, de o amor acontecer.

Nem que fosse preciso matar o rei.

domingo, 23 de outubro de 2011

Ah, o amor!

Amor que vem

Domingo de
manhã. Acordo lentamente... preparo um café da manhã. A música é legal, e vou dançando e cantando enquanto o pão vai virando torrada na frigideira.
Penso: estou feliz.
Penso: quando ele vier, vamos tomar cafés da manhã todos os dias.
Com direito a cara de sono e tudo.

Você tem feito eu me permitir a abrir mão do meu materialismo excessivo, pelo menos nos momentos em que ele não é tão necessário - como com as coisas do coração. Só assim pra gente driblar os limites que a vida nos impõe, e conseguir... (parei. eu ia escrever: "ter uma relação". acho que isso ainda assusta um pouquinho. recuei).

Mas é,

te amo

Amor que veio

"É difícil pra mim, a idéia de nos distanciarmos... (vou tentar ser direto)

quando eu digo que confio mais em você sobre as coisas que estão dentro de você, é no espírito de que cumplicidade mesmo. De achar que numa relação, amorosa e intensa e bonita, é foda não depender do outro ao ponto de manter uma relação assim: uma caso "extra", que vai sendo "secreto".

nem nos vemos mais com a frequencia que pede o coração. e quanto às coisas do mundo, imprevisíveis, irrompíveis ou incontrolaveis, é mesmo difícil. mas sobre uma relação, pra mim, confiar no outro à esse ponto, é supor que essa confiança seja um ato controlável, premeditável. é besta mas eu confio em você para não me sentir "traído" ou "golpeado". e estar com você é saber que olho nos teus olhos e nunca vou chegar lá, sempre há um caminho tortuoso, uma trégua clara que está sempre uma passo adiante, distante. Eu juro que sinto algo grande contigo que o tempo não há de derramar.

Sei lá, tô me sentindo no ponto mesmo de "impor" uma distância. Agora que essa distância não vai ser fácil, nem vá nos aproximar ainda mais....

lhe mando um beijo.
lhe mando uma saudação extra-terrestre, de mãos dadas."

Amor, amor

"não, meu bem, não adianta bancar o distante: lá vem o amor nos dilacerar de novo..."
caio fernando de abreu

hoje eu estou assim. a nostalgia vem como um recado: revisite histórias passadas; antigos erros, tombos, mas também alegrias vividas, que dão coragem para encarar com gosto de novidade amor-que-vem.

é tudo novo de novo. e o mundo errado, o mundo capitalista de opressores e oprimidos, de tempos restritos para alegria, liberdade, amor e amizade, de imposição de tarefas, de desejos, de qualquer forma de controle... tudo isso faz a gente querer matematicar o inematematicável.

é tudo a mesma coisa, e no entanto nada parece estar igual.
e mesmo o que parece ficar no passado, revisita a gente. isso que dá, se acostumar a jogar histórias sem fim para debaixo do tapete. uma hora a gente tropeça e espalha tudo de novo, por aí.

só quero saber como farei pra reorganizar essa bagunça toda!

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

E se?

E se você sorrir pra mim?
E se eu responder?
E se você me abraça?
E se eu aceito?
E se a gente se olha?
E se a gente se ver de novo?
E se a gente se ver mais uma vez?
E se a gente tiver o mesmo gosto musical?
E se você me contar um segredo?
E se você me roubar um beijo?
E se eu sentir um frio na barriga?
E se a gente encontrar um sábado sem compromisso num calendário lotado?
E se eu deitar no teu colo?
E se você gostar?
E se a gente for no cinema?
E se você pegar na minha mão?
E se o dia estiver bonito, e eu te levar para a praia?
E se a gente pensar que é amor?
E se você virar parte do meu dia a dia?
E se isso não assustar nem um pouco?

E se a gente achar, entre tantos "se", um tantinho de felicidade?

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

"Calma, não é o fim do mundo."

Eu ouvia muito esse consolo - "não é o fim do mundo" - quando era criança, quando o desespero tomava conta de mim - seja por um trabalho para ser entregue no dia seguinte na escola, ou porque quebrei algo no apartamento, ou.

A novela "O fim do mundo" era aterrorizante, desde a abertura. Eu lembro de um pavor instalado em risos nervosos no recreio da escola, no horário que Nostradamus tinha anunciado que o mundo acabaria. Agosto de 99, se não falha a memória.

Hoje parece que existe um fascínio, um desejo incontido pelo fim do mundo. A desesperança por uma mudança, o fato de estarem acabando com o meio ambiente, a crise que se intensifica, os políticos que são todos iguais, o desemprego, a miséria, o sofrimento, a insatisfação mesmo tendo tanto consumo, tanta tecnologia... De uns tempos para cá, parece que desenvolvemos certa "esperança" no fim do mundo. Tamanha é a falta de alternativa, que cogitar o fim dos tempos não é mais, afinal, uma má ideia. "2012 taí" - alguns falam, com um tom confortável de que finalmente essa bagunça vai acabar e vamos todos deixar de existir.

Isso tudo toma forças quando não temos uma outra possibilidade, quando deixamos de acreditar que outro mundo é possível - que as coisas não são como são, elas estão como estão, e somos nós parte responsável por transformar isso. Muitos enterraram junto com os escombros do muro de Berlim, em 89, a possibilidade do socialismo.

Junto com ele, parece que enterramos também o fim da possibilidade de sonhar, de acreditar, de até mesmo desejar um mundo em que as pessoas estejam livres, felizes, em que haja confiança, amizade, carinho. Em que haja desenvolvimento da humanidade de forma plena, sem ter que explorar outras vidas e destruir toda a natureza para que isso seja possível.

Quem saiu ganhando, afinal, quando rapidamente saíram por aí anunciando a vitória do "capitalismo", como se agora não estivesse em disputa mais um outro projeto de sociedade? O que ganhamos nos rendendo a infeliz ideia do "fim da história"? Para a alegria de menos de 1% da humanidade, com tanto dinheiro e vidas vazias, o futuro de um mundo está em risco.

Nos renderemos a isso, ou buscaremos forças para romper com esse rumo da história?
Eu opto por tentar resgatar o que aqueles barbudos tentaram nos ensinar já há alguns séculos, e junto com eles, muitas mulheres e homens que viveram e morreram defendendo um outro mundo possível.

Eu não compreendo bem, até hoje, a resistência que as pessoas tem com o projeto socialista. Responder que é por causa do stalinismo, é no mínimo uma resposta preguiçosa. Socialismo deve ser construído por nós, deve ser feito com liberdade e autonomia das trabalhadoras e trabalhadores e construído num processo de ruptura com o que temos hoje. É uma construção coletiva, e esta corre riscos de errar, e errar muito. Mas isso não justifica, para mim, pendurar as chuteiras e esperar o dia em que alguma profecia de Nostradamus dê certo.

As experiências de confiança, de alegria, de sinceridade, de viver-em-coletivo, de democracia que pude passar em pontuais eventos como ocupações e greves, apontam pra mim que alguma coisa de interessante tem nesse meio, que alguma proposta interessante pode surgir quando nós assumimos o controle da situação.

Entre apostar em um outro mundo, que só acontecerá "quando os trabalhadores perderem a paciência" ou entrar para o grupo dos que olham as horas passarem dia após dia em vidas vazias, contando os dias pelo fim do mundo, eu fico com a primeira proposta.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Cotidiano

Por um instante, imaginei a cena:
Você, no sofá, meio deitado, com o note no colo escrevendo algum panfleto. Eu, na mesa, com o note, os livros, os papéis, fazendo o TCC. Eu peço para ler um trecho para você, para saber se ficou confuso. Você gosta.
Passado alguns minutos, você diz, esticando seus braços pra cima, num alongamento típico de quem cumpriu uma tarefa:
- Cabei! Quer ver?

Então eu vou até o sofá. Você senta. Eu deito. Percebo o quanto estou cansada - é a primeira vez que deito no dia. Minhas pernas disputam o seu colo com o note, que você me entrega para ler.
- Ficou bom!
Você aproveita a pausa e mostra um video engraçadinho do youtube.

A gente ri.

...coisas do coração.

Enquanto isso...
Você não está no sofá, nem na cidade, sequer no mesmo Estado. Mesmo assim, faltando 15 minutos para a meia noite você me chama pelo skype.
- Como foi seu dia?

A pergunta vem como um cafuné, e eu nem tenho coragem de dizer quão difícil foi. Pra ser sincera, as coisas difíceis se esconderam por trás do sorriso que veio e os olhos que brilharam, quando a distância se tornou pequena.

Mesmo que por um instante, mesmo que de mentira.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Memória

mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão
(Drummond)

Desde pequena, aceitar as coisas como são sempre me soou uma alternativa insuportável. A vida era boa, eu era feliz. Não tive uma infância sofrida, e a vida era confortável. Tinha muitos amigos e espaço para brincar. Viajava com certa frequência. Tinha - e ainda guardo - fotos alegres que marcavam momentos bonitos das coisas da infância. Gostava de revisitar de vez em quando o passado. Anotava muito as coisas que me passavam pela cabeça, pois tinha medo de um dia esquecer o que pensei e o que vivi. Perder a memória, perder parte da minha história soava algo terrível, mesmo quando o tempo presente era doído. Registrava a dor, pra não esquecer que ela passou por aqui.

Apesar da vida boa, sempre existiu uma parte de mim que misturava o tédio com certa angústia. O tédio da vida como ela é - bonita, com amor e carinho de pais, amigos e familiares, mas ainda assim com um vazio que não se preenchia.

E vinham as tragédias. Enchentes, incêndios ou qualquer espetáculo da vida real, até mesmo os cotidianos - como a criança dormindo no chão. Essas coisas me afetavam muito e ao mesmo tempo me irritavam - o que me ofereciam era esse sentimento cristão, de compaixão, dó ou coisa assim sempre me soou clichê e deprimente. Eu não conhecia a explicação de uma sociedade dividida em classes, que justificava e legitimava essa desigualdade toda que vivíamos. O que me era conhecido era a moral, muito carregada pela questão religiosa, de que a vida era injusta.

Houve um tempo em que meu quarto era mais interessante que o mundo que me aguardava do lado de fora da janela. Qualquer um que ler isso dirá que é fase de qualquer adolescente. Talvez seja. Na época mesmo eu já me sentia como qualquer adolescente de classe média, e aquilo era sofrido. Sentia que me diferenciava por carregar em mim algo que não via no discurso dos demais adolescentes deprimidos. Eu tinha uma certeza esquisita de que tudo mudaria quando eu conhecesse outras coisas. E eu via certos filmes e imaginava que havia algo precioso da vida que ainda não havia encontrado. Enquanto não chegava, esperava deitada na cama do quarto.

Escrevia em um caderninho azul as angústias de estar viva, o mundo que não me compreendia e eu que não compreendia o mundo. Eu e Renato Russo - ele sim, sabia do que eu sentia. E então ouvia o dia inteiro, cantando coisas tipo "vamos celebrar a estupidez humana...". Chorava, ao final, quando dizia: "venha, quando a esperança está dispersa só a verdade me liberta, chega de maldade e ilusão...". Chorava, e esperava mais.

De vez em quando, lia poesia. Eu queria muito entender a poesia, mas para mim era difícil. Me esforçava. Havia uma dedicação especial para Drummond e Vinicius de Moraes. Achava bacana.

Amor nunca foi mistério para mim. Não que fosse fácil - eu chorava, sofria, e pensava que nunca mais amaria novamente. Aí começava o ano e um mocinho bonito novo passava a estudar na minha escola, e então eu dizia que nunca amei tanto alguém - ou desmerecia todos os outros dizendo que aquele sim era o primeiro amor.

Enfim, o meu lance era mesmo com o mundo: porquê as coisas eram assim? Como se explica isso? A segunda guerra mundial sempre me despertou muita curiosidade. Era um lance dificil de compreender. Um cara estranho que queria matar alguém pela religião, pela cor de pele... várias pessoas que o legitimaram, várias tantas massacradas. Eu na verdade não conseguia encontrar quem que era o herói daquela história. Quem é que ia resolver aquele imbróglio? Outro país? Aquilo não fazia sentido. Onde já se viu país "do bem" e país "do mal"?

E tinha a ditadura. A ditadura sim tinha heróis: a juventude! Ah, a juventude! Os filmes, as músicas - desde criança, a casa era tomada por Chico Buarque e outros clássicos, e meus pais sempre contando um pouco da historia. Aquilo era a política pra mim, na época. Não tinha classe trabalhadora. Pelo menos não de forma clara.

De qualquer forma, qualquer coisa que significava alguma forma de "nadar contra a maré" sempre me fascinou. Toda vez que alguém chegava entusiasmado dizendo "você viu?" ou mesmo quando ouvia na sala a música do plantão da globo, esperava que dali viria algo revelador para mim que poderia, enfim, preencher aquele vazio. Algo que daria sentido a minha vida. Ou algo que simplesmente me faria sair da rotina.

Eu olhava as frases pichadas nos muros da rua. Achava legal. Eu queria um dia ter algo a dizer no muro também, mas a minha vida era muito boa. E eu não queria falar da dor que sentia em ver gente morando na rua. Aquilo me atribuiria uma bondade cristã que não era real, não era aquilo que eu tinha. Eu via as pessoas reivindicando liberdade de expressão, mas tudo que eu falava meus pais ouviam. Na escola também. E eu também não tinha clareza do que eu poderia dizer que não seria permitido. Naquela época eu não falava em socialismo, eu sequer sabia que existia um projeto de sociedade diferente daquilo que tínhamos. Para mim, as opções eram se conformar e ser feliz com as coisas como são ou ser uma pessoa triste e incompreendida. Na escola, aprendi que o capitalismo era até onde havíamos chegado. Era assim, e ponto final.

Tinha também aquele adesivo, vermelho e branco, algumas vezes até em preto, que me recordo bastante vez em quando escrita nos bancos, que ficavam fechados no horário que eram para estar abertos: GREVE. Assim, grandão. Aquilo me arrepiava, e eu não sabia porquê. Achava legal.

As imagens que via na TV, das pessoas nas ruas por algum motivo. A causa não me interessava muito, e eu nem perguntava o porquê. Só ficava fascinada, daquele tantão de gente fazendo algo diferente do que estava previsto para o cotidiano de qualquer pessoa comum: estudar e trabalhar.

Havia dias que ficava deitada por horas na cama, esperando algo acontecer. Sabia que alguma hora chegaria algo, embora não sabia o que. Minha mãe, preocupada com a minha tristeza, buscava formas de me alegrar. Achava que eu não seria feliz. Eu de fato não era, mas eu sabia que seria um dia, só não sabia como dizer isso pra ela de forma que ela acreditasse. Esperava - e muito -, com certa certeza, que a Universidade fosse me apontar alguma "luz". A "luz" que buscava na Universidade não era o conhecimento. Quanto a isso, faria algum curso qualquer. Optei por psicologia - envolvia "ser humano" e era algo que ninguém sabia muito explicar exatamente do que se tratava -, sabia que era algo que poderia ser feito em qualquer lugar, de qualquer forma, com respaldo de alguma teoria.

Eu queria um sentido pra minha vida - até então cheia de amor (ou do que entendia por amor e conforto), mas vazia de. (nunca soube dizer do que).

domingo, 4 de setembro de 2011

...

eu tentei, realmente tentei.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

tempo, tempo, tempo.

ruim demais pra ser verdade.
grande demais pra ser transformado.
pequeno demais pra ser possível.
intenso o bastante pra tirar do lugar.

duro demais pra bater.
profundo demais para mergulhar.
triste demais para ?
fedido o bastante para incomodar.

sossego? gesso. só gessos.
tão duro, tão rígido, tão dificil, tão-tão, que é assim. é-assim-e-ponto.
mais um dia, mais uma semana, mais um mês.

terça-feira, 26 de julho de 2011

diálogos (im)pertinentes

- e essa vida política, como tá?
- deliciosa! intensa! dificil!
- eita... parece um namoro proibido!
- ...e defender o socialismo não é?

segunda-feira, 25 de julho de 2011

simplicidade

a complexidade de se conseguir algo simples. eu queria: nós dois, na cama, enrolando para começar o dia. pijama, jornal, café - cuidado para não derramar! - o telefone tocando e a gente deixando ele de lado - risos cúmplices de um crime (fugir da rotina!).

você acende um cigarro - e eu roubo da sua mão - se eu não acendi, não conta e então posso continuar dizendo por aí que parei. você aceita. gosta quando eu fumo. uma vez disse que lembrava filme francês, principalmente com meu vestido xadrez, sentada na escada daquela casa velha. eu gosto que você goste que eu fume, e que aceite que eu não sou fumante - não mais, eu parei.

o sol querendo entrar, e a cortina tenta resistir fortemente. embora ela se esforce, confesso que gosto dos raios que escapam acentuando alguns móveis... observo atentamente, e paro quando vejo que a luz também ressalta a poeira. hoje não é dia de faxina.

eu quero uma dose de simplicidade a dois. quero alguém para dividir essa simplicidade. alguém que caiba numa fotografia que poderia ser guardada para vida inteira.

tempos depois olharia e um sorriso saltaria na minha boca: "tempo bão...".

quero você. tempo pra ser gasto. café. suco de laranja. sem gelo e sem açúcar.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

pegou seus sapatos vermelhos e partiu.

riu vendo um filme agradável.
comeu o chocolate preferido.
fez peixe, e ficou delicioso.
realizou algumas das muitas e infinitas tarefas - elas não acabam nunca, mas algumas cumpridas são suficientes para assumir a filosofia "um dia de cada vez".
conversou com amigos importantes, que se importam, interessantes que a interessam.

e de um dia agradável, de uma noite gostosa, ela então conseguiu dizer enfim: "eu superei".
encheu a boca para falar, aos ventos, pois não havia ninguém com quem dividir: "superei você e superei nós dois".

falou aos ventos, pois o frio hoje toma a cidade que antes era toda ocupada por dois.
falou pro vento, porque o outro que antes habitava a cidade há poucos indiferente era. o fim já foi dado faz tempo. os coturnos pretos partiram há um tempo. mas apenas hoje que acabou o rancor para os sapatos vermelhos, que leves se permitiram sentir o vento.

leveza. há tempos os sapatos não dançavam com tamanha alegria.
o riso fez bem, o salmão caiu bem, o papo fluiu e a vida hoje é leve e deliciosamente prazerosa, com todas as dores e durezas que tem.

parto.
uma saudação para a alegria, e partiu.
partiu a dor, pariu a alegria.
parto pra outra, pra si, pra outro (?).
que parte será dita para onde partir?
parte de quem saber?

tem quem diz (e ela é - era? - dessas): só se supera um grande amor com outro grande amor.
procurou então, quem havia surgido naquela cidade. pegadas na neve (novidade das redondezas)? nada. um som, algum sinal? nada.

então, percebeu: ninguém além dela havia parecido além dela mesma, naquela noite.
e os sapatos vermelhos puderam, então, dançar novamente.

domingo, 5 de junho de 2011

o que é isso, companheiro?

não dá pra conversar com você.
não dá para contar com você.

e você insiste em dizer:
- estou aqui, conte comigo, fala comigo.
mas você não está aqui, nem quer que te conte que te fale nada. não sei o que você quer, não sei como consegue se enganar com essa hipocrisia.
a verdade é que você fodeu com tudo. fodeu, deu merda, acabou.
acabou, mas eu continuo chorando, e você continua dizendo que está aqui, mesmo que não esteja mais - se estivesse, eu não estaria chorando.

penseitudoissodeumavezmasnãodissenada.

apenas "ok".

e espero que um dia você perceba que com você eu não quero nem falar do necessário.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

pendências

paramos de conversar.

e de parar de conversar, paramos de nos falar. e de parar de nos falar, paramos de nos cumprimentar. e de nos cumprimentar, paramos de olhar nos olhos.
e tudo ficou assim, por isso mesmo. sem mais convivência. sem mais conversa. sem mais falas. sem mais cumprimento. sem mais olho-no-olho. estancados como o ar no verão de Santos.


ficou pendente:
a conta
a faxina
a r-e-u-n-i-ã-o


ficou pendente:
o riso
o abraço
o carinho


e a gente segue.
hoje, fica tudo para amanhã.

domingo, 27 de março de 2011

Tempos Sombrios

"vocês, que vão emergir das onda
sem que nós perecemos, pensem,
quando falarem das nossas fraquezas,
nos tempos sombrios
de que vocês tiveram a sorte de escapar.

nós existíamos através da luta de classes,
mudando mais seguidamente de países que de
sapatos, desesperados!
quando só havia injustiça e não havia revolta."
aos que virão depois de nós, brecht



tempos sombrios em que spray de pimenta vira inseticida e criança vira mosquito.

sábado, 12 de março de 2011

a vida é assim.


as noticias anunciam: são mais de mil. ontem, eram 288. perdão, duzentos e oitenta e oito.
é um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove dez... dá trabalho escrever duzentos e oitenta e oito, que dirá mil, mil e oitocentos. um número por vez. dá trabalho...
...mas seria uma forma menos cruel, quando é de vida que falamos - morte, no caso.


mil e oitocentos - e o número crescerá, ah crescerá! - mortos/desaparecidos. para alegria da midia, que se alimenta de tragédias. quanto maior os dados numéricos, mais impressionante. mais vendas. o poder de ser aquele quem distribuirá as informações para brasileiros sedentos por dados numéricos.

vidas arrastadas. casas arruinadas. de longe, são madeirinhas boiando numa água infinita, que não acaba. de perto, é o desenho do filho que estava na geladeira, misturado com a geladeira, com a parede, com o teto, com o relógio, com o computador, com as roupas, com a compra do mês.

e a gente lê, assiste os videos (a tecnologia de hoje nos permite isso). ficamos chocados, horrorizados. escrevemos no blog, no facebook, no twitter. comentamos com um colega. "desgraça"... "ah, é mesmo, um desastre".

os que acreditam em Deus, rezam para Deus.
os pragmáticos procuram aonde podem doar algo.
os sensiveis choram, emocionam-se. mas logo se conformam: não há muito o que se fazer.
os indiferentes alegam: até que não foi tanta gente que morreu.
os entendidos do assunto tentam explicar para os leigos - sempre há uma explicação racional para tudo (a Academia é realmente excelente e prestativa).

e então o ônibus chega e você para de ler a capa do jornal da banca em frente. vai encontrar os amigos e beber para esquecer das mazelas.
e então você fecha a página da internet. abre o Word para fazer relatório de coisa qualquer para a faculdade ou qualquer planilha para o trabalho qualquer. vai tomar um café, e beliscar algo na cozinha.
e então você muda de canal. vai começar o quarto episódio de alguma temporada de algum seriado qualquer (ou passará aquele filme que você sempre quis ver).

a vida é assim.
a vida é assim?

domingo, 6 de março de 2011

junto e misturado

"'Cause love doesn't hurt so I know I'm not falling in love I'm just falling to pieces..."
acabou. acabou o amor, a falta de paz, a insegurança, as incertezas. agora é acaboueponto.
e tudo de repente ficou tão sem graça. você e suas duvidas, você e suas questões, você e suas crises. no meio de "você e." havia eu. e eu mal me desenterrei, mal saí dessas suas duvidas e questões e crises e lá vinha você afogar outra. outras. outros.
e eu ainda pensando na coisa horrivel que é sentir um corpo que não é teu.

as mãos que envolvem a minha cintura, e o corpo rejeitando o "corpo estranho" que aproxima.
" - não são as deles".
o rosto roçando no rosto, na pele, não é a mesma coisa. falta pelo, barba.
agonia pensar que jamais sentirei aquele seu corpo que tanto cai tão bem em mim.
e agora acabou.
acaboueponto.
você continua sendo maravilhoso, seu sorriso continua lindo e o nosso passado talvez a história mais linda que já vivi. mas não adianta ser maravilhoso, ter sorriso lindo e um passado de história mais linda.
precisa ser real e sincero. precisa ser possivel, acima de tudo. coisa que você não é. coisa que nós não somos.
e então hoje eu tô brotando de novo pro mundo, querido.


"this just doesn´t seem to be my day"
o vento anuncia uma chuva por vir. olho para cima: no céu, quase nenhuma nuvem. dessa vez o vento se antecipara um pouco- pensei - mas é vento de chuva, certamente.
e então, fazer o que? assistir a um filme, terminar algum dos milhões de livros por ler? limpar a casa, rever papéis que estão para ser vistos há um tempo.


caminho até o ponto de ônibus. chovia aquela garoa fina e incômoda - mais uma justificativa para os olhos quase fechados, além do sono. era muito cedo.


não. aquele dia eu não iria assistir a um filme, nem terminar algum dos milhões de livros por ler... sequer limpar a casa ou rever papéis a serem vistos há um tempo.
naquele dia eu iria tra-ba-lhar.


"it´s the end of the world, as we know it..."
só pra registrar: sou contra esse botão automático em dizer "separar questões pessoais de questões políticas". é evidente que pra algumas coisas é importante. mas sou absolutamente contra usar essa expressão para justificar a outra ideia de que "na política vale tudo".

acho muito bizarro construirmos juntos uma outra possibilidade de mundo ao mesmo tempo que apunhalamos uns aos outros pelas costas. que tipo de transformação é essa? somos o não somos "companheiros"? ou só seremos depois que os trabalhadores se unirem? enquanto isso, tudo bem? blá.


essas atitudes só me mostram como estamos longe do socialismo.


"se vem do coração, não tem jeito não, deixa acontecer..."
então vem e me leva para sua casa e vamos jantar e vamos ser um casal de faz tempo. você sabe que eu gosto de bowie e smiths, e eu já sei que você não gosta de beringela. ambos dormimos de samba canção.
vamos pular a parte conhecer-familia, todas as primeiras vezes de tudo e vamos pras segundas, terceiras. eu procuro seus dados no google, você procura os meus.


ou deixa acontecer. e-vamos-ver-no-que-dá.

que seja doce, que seja doce.

respirar fundo: que venha outra história, outra(s) vida(s).
então é isso que chamam de virar a página? sensação de coisa nova. frio no estômago. tudo novo de novo. basta uma conversa, a ultima lagrima cair e é isso - agora sim, acabou!


então, a partir de agora é: (re)começo.
a partir de agora deixo de falar do fim, para falar de começo!


o ano começou de um jeito diferente dos outros
ventos que carregam as folhas no ar, fazendo com que elas dancem com seu ritmo próprio.
as nuvens entram em cena, e o céu muda de tom, antecipando o escuro da noite. tudo isso anunciando uma tempestade por vir.
passos largos para chegar a um espaço (supostamente) protegido.
os camelôs saem de suas casas animados para vender seus guarda-chuvas a cinco reais.
no meio dessa cena, uma moça decide que enfrentará a chuva, e mais: com um sorriso no rosto. sua vida anda tão parada que imagina a chuva ser um sinal divino, um chamado para que se jogue, se molhe, se entregue - pelo menos um pouco.
e que venha espirros e resfriados e o que vier em seguida.

chove demais.
faz calor demais.
o ano de 2011 traz uma intensidade peculiar. um ano que vem para incomodar aqueles que acham que é possível conciliar tudo, que é o fim da era dos extremos.

as lutas no Egito, na Tunisia, Libia (e tantos outros lugares possiveis...).
as eleições na Irlanda, com cinco parlamentares socialistas eleitos, as eleições para diretor de Campus da UNIFESP-BS (nasce uma oposição, proposição, uma alternativa!).
de alguma forma a insatisfação com os governos, reitorias, ditadores, vereadores, prefeitos, burocratas e toda essa laia está mais gritante. e cresce, obviamente, a insatisfação com os insatisfeitos - recebidos calorosamente com sprays de pimenta e cacetetes.

2011 veio de um jeito diferente, com cara de algo por vir...
é fato: nem todo vento antecede uma tempestade, e logo as nuvens se abrem deixando a luz do sol invadir os solos cinzas da cidade, as folhas caem e sapatos sujos e furados passam a pisar sem sequer notá-las.

mas vamos, vamos fazer a alegria da menina. deixá-la acabar com o tédio. deixá-la dançar na chuva! que venha a tempestade, que venha algo grande... e que seja doce, que seja doce!

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Bom dia, mundo.

Tantas aulas, tantos textos, tantas discussões... e a mulher senta na minha frente e eu falo qualquer coisa e ela começa a falar e a falar e começa a chorar e começa a falar e a chorar e a falar e a mostrar seu joelho e a contar suas dores e a narrar sua vida e a chorar.
Enfim, era uma pessoa chorando na minha frente. Uma trabalhadora chorando na minha frente! Uma trabalhadora chorando e narrando as situações de exploração que é submetida!

E eu só pensava "que bosta que é Psicologia. acho que não dá pra fazer nada com esse troço".
Pensei no Lenin... "Que fazer?"("Chto delat?"). Nada. Nem Lenin, nem Trotsky, nem Marx.
Escutei.

Pensei que deveria providenciar uma caixinha de lenço para a salinha.



Foi a ideia mais concreta que tive.



Mas ok, estamos só começando, certo?

domingo, 20 de fevereiro de 2011

let´s start the music and dance

não sei dizer "no momento não posso, tenho outras prioridades" ou "gostaria muito de fazer isso, mas agora tenho que me centrar em..." ou "vamos com calma, está tudo muito depressa".
intensidade.
na política
no amor
na amizade
na vida
no trabalho
vemcomtudo e lávoueu.

um amigo disse algo maravilhoso ontem, nesse sentido. não foi exatamente com essas palavras, mas a ideia é essa:
existem aqueles que nasceram para andar de carro - respeitar os limites de velocidade, os sinais para parar, e ir com segurança.
e existem aqueles que nasceram para andar de moto. tudo de uma vez só, em alta velocidade: vamos com tudo e se quebrar a cara, quebramos.

enquanto isso não acontece, curtimos essa brisa.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

curto e intenso

"foi breve promessa de felicidade..."

eu ainda choro.
eu ainda penso.
eu ainda pergunto... por quê?

evito escrever,
pra evitar chorar,
pra evitar pensar
(e talvez pra evitar responder o porquê).

assim não choro.
assim não penso.
nem paro pra pensar que foi que aconteceu.

daí eu tomo açaí, sambo, bebo e de vez em quando solto ensaio uns sorrisos por aí. no começo eram falsos, às vezes desesperados. hoje são mais sinceros. sinceros de quem espera algo bom por vir. de quem repete, como Caio Fernando de Abreu nos ensina: que seja doce, que seja doce, que seja doce...

mas eu ainda tenho saudades, tanta saudade -repito para não deixar você fugir de vez, para não deixar a ferida cicatrizar. ainda tenho um pouco de necessidade de curtir essa dorzinha.

"Eu morro de saudades do que era pra viver
E vivo da viagem de reencontrar você
Meus olhos do passado num futuro que nem sei
De tantas outras vidas
Mil pontos de partida
E todos os detalhes do que não aconteceu
Repetem o roteiro pra mostrar você e eu
O filme recomeça e nunca chega até o fim
"

*trechos de Meio Almodovar, do Lenine

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

amigos vem, amigos vão... amigos ficam.

tentaram se abraçar de forma que fosse possível dizer, naquele abraço, toda gratidão, alegria, satisfação, emoção vivida nesse tempo juntos.

tentaram fazer com que o abraço valesse mais de mil palavras.

olharam, e buscaram alguma forma: palavra, abraço, beijo, toque, música, qualquer comentário.
entre todas as opções, acenaram de longe um "tchauzinho". como um até logo, de um dia qualquer. talvez a despedida mais tosca que já praticaram.

eu diria o tempo (quando começamos a lidar juntos com essa bagunça que chamam de vida? dois anos, três anos... quatro?), mas o tempo não diria nada. podemos medir em risos? lágrimas compartilhadas? momentos de companhia, solidão compartilhada, ou dia em que matamos o tédio juntos.

dizem que quando fim é bom, a gente chama de começo.
e apesar da dorzinha que fica, apesar da saudade que aperta, e até do medo que dá (um tantinho, dá), eu desejo a vocês muitos começos. e qualquer fim aqui terá o mesmo tom do nosso tchau.

acho que nessas horas o silencio faz mais sentido que qualquer gesto, qualquer frase, qualquer qualquer. nessas horas, não há olhar que diga a dimensão da saudade que sentiremos do nosso cotidiano que construímos juntos.

um (vários) bom (bons) começo (começos) para vocês, Fer e João.
 
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