a insônia de dezembro chegou. tentativas frustradas de telefonar para alguém. "merda de modo silencioso" - pensa. não conseguir falar com alguém parece dar mais solidão que não ter ninguém para quem ligar. pensa em ligar para aquele que antes acolhia as suas insônias. em seguida, pensa nas consequências disso. pensa em ligar para aquele que antes do outro de antes acolhia a sua insônia. pensa que ele jamais entenderia as consequências disso.
a insônia de dezembro chegou. pensa em tomar um banho. pensa em escrever algo. pensa em ler algo. pensa em sair e fazer algo - não, não, má ideia. assistir a um filme - talvez.
lembra de seu primeiro apartamento em santos, de suas primeiras insônias em santos. existia meio pacote de fandangos. não ter, seria evolução?
na semana anterior, o quarto cheio de roupas, papéis, garrafas, livros, apostilas passagens usadas, jornais, embalagens, crachás, bilhetes... um surto: de repente aquele quarto era eu. tantas coisas importantes, inúteis, foras do prazo de validade... tudo misturado, sem prioridade de importância.
na semana anterior, havia alguém que lentamente recolheu roupa por roupa. que empilhou os papéis - recém chegado na história, não sabia ainda dizer o que de lá não pertencia mais. havia uma paciência que não tinha nome. e quando o choro era alto, pacientemente parava de recolher e oferecia o colo, as mãos que massageavam o corpo. pouco a pouco, tornou o quarto e o corpo habitável. bom para ele, bom para ela.
começa a chegar a hora do despertador tocar e começar, então, mais um dia. pobre despertador, que dificilmente cumpre sua função. aquela que o tem como propriedade sempre se antecipa e seu toque torna-se mera formalidade.
mera formalidade. não é apenas o despertador que vive assim, afinal.
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