sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Uma facada daquelas que vem de maneira inesperada...

A dança das cadeiras - João Pereira Coutinho

"Todos os anos, quando dezembro caminha para o fim, eu penso apenas no princípio. Como acomodar em casa os livros e as revistas que virão com 2008? Só existe um caminho: pela limpeza metódica dos livros e das revistas que ficaram de 2007.
Dito e feito: em cinco horas de labuta, acumulo cem livros, talvez mais, que rumarão para a biblioteca do bairro, para estantes de amigos, para o caixote do lixo. E depois trato das revistas, enfiando em sacos plásticos quilos e quilos de inutilidade impressa e salvando apenas uma mão cheia de artigos memoráveis. Quando anoitece, a casa está mais vazia e a porta de entrada mais cheia. Que venha o novo ano!
Mas então encontro entre os despojos de 2007 um soldado perdido de 2003. Um jornal, um anônimo jornal do dia 4 de setembro daquele ano, a mendigar leitura e atenção. Sento-me no sofá, vou folheando as páginas. Banalidades. Em Portugal, os partidos políticos discutiam ainda a ausência de armas de destruição maciça no Iraque. Na China, um tufão fizera 32 vítimas. Na Rússia, novos atentados em trem da capital. E a multinacional Avon, em enquete mundial, concluía que as mulheres brasileiras são as mais preocupadas com a estética. Valerá a pena guardar o jornal do dia 4, com as notícias do dia anterior?
Sim, talvez valha. Sobretudo quando o meu pai morreu no dia anterior. Dia 3 de setembro, recordo agora. A lembrança instala-se no momento em que fecho as páginas do jornal. E eu pergunto por que estranho motivo o guardei. Mistério. Talvez porque guardo mais do que seria necessário, ou desejável. Ou talvez para ilustrar, em todos os sentidos possíveis da palavra, como os dramas pessoais valem pouco quando o mundo inteiro avança na sua perfeita normalidade. Indiferente a nós e à nossa patética existência. Armas no Iraque. Tufões na China. Atentados na Rússia. Beleza no Brasil.
É a melhor explicação. Porque não é apenas o mundo que avança. Apesar de tudo, nós avançamos com ele e as perdas serão compensadas pelos presentes que virão. Não, não falo dos presentes que se embrulham no papel da época e se oferecem como manda a tradição natalícia. Falo dos outros, que se reúnem à mesa. Os sobreviventes. E que todos os anos, quando a noite de Natal se aproxima, sentem a ansiedade crescente de encontrar mais uma cadeira vazia.
Mas será que existem mesmo cadeiras vazias? Desde 2003 que a ansiedade regressa todos os anos. E, todos os anos, quando a noite chega e a família se reúne, eu posso jurar que encontro no rosto dos que ficaram o reflexo dos que partiram. Os gestos do meu pai. As expressões dele. As histórias e as memórias que eu conto, que eu escuto, que eu volto a contar.
E existe sempre um comediante de serviço que aponta para a minha pobre cabeça e proclama, provavelmente embalado pelo álcool, ou pela nostalgia, que o cabelo do cronista, como o cabelo do meu pai, também me está a abandonar.
É justo assim. Não falo do cabelo, falo de fim. E falo de vós, leitores, a quem desejo um Natal feliz. Brindemos juntos em nome dos ausentes. Mas brindemos, sobretudo, em nome dos presentes. São eles que um dia brindarão por nós."

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

família ê...

Morrer é uma saída tão fácil quanto chorar pra ser o centro das atenções.
A comida vai ficando cada vez mais leve, enquanto o ambiente, cada vez mais pesado. A trilha sonora é a mesma de tantos sábados passados, mas muita coisa mudou nos mesmos personagens da história. Algo saiu do lugar e não se sabe como ajustar.

Parte de mim quer fugir, gritar "PARA O MUNDO QUE EU QUERO DESCER", mas parte de mim só pensa em colocar a minha progenitora no colo e dizer que tudo irá ficar bem. Não deveria ser ao contrário? Pois é, a vida é cheia de avessos...

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

"eles eram religiosos, mas acreditavam em Deus"

Foi assim que eu revolucionei a teologia no meu primeiro ano do Ensino Médio.

sábado, 15 de dezembro de 2007

"Há algo invisível e encantado entre eu e você"

Eu adoro pensar em laços invisíveis entre as pessoas. Forças que funcionam como empuxo e nos levam a alguém. Não acredito na frase "entre tantas pessoas eu encontrei você", como se fosse um acaso. A gente seleciona as pessoas (e não necessariamente conscientemente), e quem diz que aparências são só aparências, é simplesmente muito ingênuo ou covarde.

É claro que aparências eu não me prendo a roupas, mas sim gestos, comportamento, e até mesmo posicionamentos no espaço.

Acho interessantíssimo observar os movimentos das pessoas para se agrupar. Seria simplificar demais dizer que buscam pessoas parecidas. É uma série de coisas que acontecem: gente buscando o que queria ser, gente buscando com quem parece, uns até buscam um desafio para se relacionar...

Ser humano é um bicho interessante. Menos humano do que pensa que é e mais bicho do que parece ser.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

sem título.

"Foi só um sorriso e foi por amor
Nenhuma ironia, não foi por mal
Foi quase uma senha pra te tocar
Nem foi um sorriso, foi um sinal
Por trás das palavras, da raiva de tudo
Sorri pra tentar chegar em você
Foi como fugir pra nos proteger
Enquanto eu sorrir ainda posso esquecer

Porque quem vai te abraçar?
Me fala quem vai te socorrer
Quando chover e acabar a luz
Pra quem você vai correr?
E quem vai me levar
Entre as estrelas, quem vai fazer
Toda manhã me cobrir de luz?
Quem, além de você?

Ninguém tem razão, tenta me entender
E a gente é maior que qualquer razão
Foi só um sorriso e foi por amor
Te juro do fundo do coração
Foi como tentar parar esse trem
Com flores no trilho e acenar pra você
Parece absurdo, eu sei, mas tentei
Enquanto eu sorrir ainda posso esquecer

Quem vai te abraçar?
Me fala quem vai te socorrer
Quando chover e acabar a luz
Pra quem você vai correr?
E quem vai me levar
Entre as estrelas, quem vai fazer
Toda manhã me cobrir de luz?
Quem, além de você?

Deixa isso passar, e quando passar
Vou estar aqui te esperando
Pra te receber
E sorrir feliz dessa vez
Que esse amor é tanto

Quem vai te abraçar?
Me fala quem vai te socorrer
Quando chover e acabar a luz
Pra quem você vai correr?
E quem vai me levar
Entre as estrelas, quem vai fazer
Toda manhã me cobrir de luz?
Quem, além de você?"

Leoni, Quem além de você?

Tem sido meio difícil escrever coisas que fujam do tema morte, e pra não abandonar o blog e nem deixá-lo mórbido demais, deixo palavras alheias, não tão distante do que penso/sinto.
Penso agora que se não citamos a morte, falamos da vida. Se falamos da vida estamos de certa forma a afirmando e negando o seu fim. Isso não seria falar de morte?
Foi só um pensamento infeliz que me atravessou por um instante. Talvez eu não concorde.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

"faço nosso o teu segredo mais sincero."

"Estou livre? Tem qualquer coisa que ainda me prende. Ou prendo-me a ela? Também é assim: não estou toda solta por estar em união com tudo. Aliás, uma pessoa é tudo. Não é pesado de se carregar porque simplesmente não se carrega: é-se o tudo."

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"Confio na minha incompreensão que tem me dado vida liberta do entendimento, perdi amigos, não entendo a morte. O horrível dever é o de ir até o fim. E sem contar com ninguém. Viver-se a si mesma. E para sofrer menos embotar-me um pouco. Porque não posso mais carregar as dores do mundo. Que fazer quando sinto totalmente o que outras pessoas são e sentem? Vivo-as mas não tenho mais forças."

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"Mas se eu esperar compreender para aceitar as coisas – nunca o ato de entrega se fará. Tenho que dar o mergulho de uma só vez, mergulho que abrange a compreensão e sobretudo a incompreensão. E quem sou eu para ousar pensar? Devo é entregar-me. Como se faz? Sei porém que só andando é que se sabe andar e – milagre – se anda."

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"Estou cansada. Meu cansaço vem muito porque sou pessoa extremamente ocupada: tomo conta do mundo. Todos os dias olho pelo terraço para o pedaço de praia com mar e vejo as espessas espumas mais brancas e que durante a noite as águas avançaram inquietas. Vejo isto pela marca que as ondas deixam na areia. Olho as amendoeiras da rua onde moro. Antes de dormir tomo conta do mundo e vejo se o céu parece azul-marinho intenso, cor que já pintei em vitral. Gosto de intensidades. Tomo conta do menino que tem nove anos de idade e que está vestido de trapos e magérrimo. Terá tuberculose, se é que já não a tem. No Jardim Botânico, então, fico exaurida. Tenho que tomar conta com o olhar de milhares de plantas e árvores e sobretudo da vitória-régia. Ela está lá e eu a olho.Repare que não menciono minhas impressões emotivas: lucidamente falo de algumas das milhares de coisas e pessoas das quais tomo conta. Também não se trata de emprego, pois dinheiro não ganho por isto. Fico apenas sabendo como é o mundo.Se tomar conta do mundo dá muito trabalho? Sim. Por exemplo: obriga-me a me lembrar o rosto inexpressivo e por isso assustador da mulher que vi na rua. Com os olhos tomo conta da miséria dos que vivem encosta acima.Você há de me perguntar por que tomo conta do mundo. É que nasci incumbida."

E eu que às vezes penso que sou uma reencarnação mal sucedida de Clarice.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

"é bom às vezes se perder sem ter porquê, sem ter razão. é um dom saber envaidecer por si, saber mudar de tom..."

É a primeira vez que escrevo nesse blog como um diário. É a primeira vez que me sinto bem, termino o dia com uma sensação boa, desde que a minha vó morreu. Queria guardar esse sentimento num potinho e poder olhar pra ele toda vez que a tristeza voltar. A culpa me assombra um pouco - por mais idiota que seja, me pergunto se tenho esse direito de ser feliz, considerando que minha vó deixou de existir faz tão pouco tempo. Mas sei que é besteira.

Hoje foi um dia em que luto e festa se misturaram e coexistiram como uma coisa só. Me perguntei quantas vezes não nos encontramos em situações assim, de risos chorosos, e nem nos damos conta.

Às vezes sinto falta da minha vó. Cada acontecimento cotidiano na minha vida penso no que ela responderia quando eu contasse pra ela a noite, cada acontecimento familiar imagino o jeito dela festejar, ou criticar a gente falando das famílias das amigas dela. Saber das expressões e falas da minha vó, apesar de trazer uma dorzinha de saudade, é bem reconfortante. Penso o tempo inteiro nessa oportunidade que tive de ter conhecido ela direitinho. Nas outras vezes que presenciei a morte veio uma sensação de vazio. Dessa vez não.

Milhões de pensamentos me atravessam no momento. Penso em salvar vidas, em lidar com mortes, em mudar o mundo acadêmico que vivo, e penso até em dormir, mas sei que vai ser difícil demais.

Penso que estive alheia de muitas coisas e que agora voltei. Talvez seja essa a sensação de fim de luto. Estou extremamente acordada, como se tivesse dormido quase 10 dias e agora voltei com todo o fôlego. Mas eu não passei 10 dias dormindo e estou esgotada, apesar de toda a energia. Talvez eu precisa dormir um pouco. Talvez eu precise não dormir e "tirar o atraso" dos dias "perdidos". Talvez...

Penso em reler esse post, tirar e colocar várias coisas. Mas acho que isso fugiria da proposta de escrever um diário, uma coisa meio "eis os pensamentos que me atravessam no momento". Por isso, termino por aqui, pra variar sem um fim. Sou extremamente preguiçosa para concluir coisas.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

você marcou em minha vida, viveu, morreu na minha história...

Sendo inundada de reavaliações e promessas divinas.

"Eu corro, fujo desta sombra
Em sonho vejo este passado
E na parede do meu quarto
Ainda está o seu retrato
Não quero ver prá não lembrar
Pensei até em me mudar
Lugar qualquer que não exista
O pensamento em você..."

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

mas como eu começo depois do fim?

Seu cantinho do sofá nem esfriou e você já virou pó.
Queria eu ter pressentido, como tantos falaram. Queria eu ter tido um sonho premonitório, ter recebido alguma espécie de despedida metafórica. Queria eu ter ouvido você dizer algum tchau mais profundo, ter desconfiado de que era a última vez que te veria bem. Queria eu saber quando foi a última vez que te vi como sempre te reconheci. Aquela pessoa forte, sinônimo de vitalidade... mas há tempos você se foi, e ontem foi mera formalidade.

E não teve nada que me antecipasse a notícia. No dia anterior falávamos de banalidades da novela. Perguntei se o mocinho já tinha engravidado a mocinha. Antes de ir embora, falei que ia ter almoço especial pra ela no domingo, e que por isso ela não ia ter desculpa e teria que ir pra minha casa. Ela riu e me mandou embora. Achei estranho. Nunca me mandou embora. Pelo contrário, brigava pra eu ficar. E eu ficava, e você implicava comigo. E eu sentia raiva.

Não me sinto culpada por ter sentido raiva de você, por tantas vezes reclamar de suas exigências, de suas cobranças, de sua perseguição. Um perigo quando você descobriu a hora do meu intervalo no cursinho, e me ligava todo dia pra perguntar como estava. Ou quando minha mãe te disse que 7hs era um horário bom pra me ligar, porque minhas aulas da faculdade já tinham acabado. Era todo dia ligando pra não falar nada. E eu ficava brava. Mas eu não me sinto culpada.

Sinto saudades. Saudades de você com seus inseparáveis itens: sua bolsa, seu leque de papel que meu pai improvisou, sua lanterna em caso de faltar luz, seu pote de bolachas para "enganar o estômago", seu terço que já estava todo arrebentadinho mas vc não largava. Saudades de suas queixas sobre "o jovem de hoje em dia" que sempre serviam de indireta pela maneira impaciente que eu tratrava você. Saudades de quando passava pelo corredor e ouvia você falando alguma coisa que mostrava como você sentia orgulho de mim. Porque os maiores elogios vindos de você eu ouvi atrás da porta, mas pra mim valia muito mais que qualquer dito na cara. Saudades no ninho da vó, do doce de leite, dos natais que você que ordenava quem ia sentar aonde, para ninguém ficar perto de alguém que vê todo dia.

E não adianta pensar que vc foi pra algum lugar melhor, ou que você está entre nós, ou que está com Deus ou qualquer outro personagem. A questão é que seu cantinho ainda nem esfriou e você já é pó. E o que que eu faço agora?

sábado, 17 de novembro de 2007

mais uma de antonio...

ALL DISNEY
Antonio Prata
(publicado no Guia do Estadão)
Toda vez que vejo a tabuleta “Não sei voltar sozinho, meu lugar é na garagem”, no carrinho de supermercado do prédio, sinto um pendor para o vandalismo. Tenho vontade de agarrar aqueles arames fanfarrões e falar: “ah, não sabe? Quer dizer que é capaz de escrever um aviso em primeira pessoa, imprimi-lo numa placa, mas esticar a rodinha até o botão do elevador e apertá-lo, que é bom, nada? Agora vai voltar sozinho, sim senhor!”.
Suponho que eu devesse achar graça em estabelecer contatos imediatos de terceiro grau com um carrinho de supermercado. E, sentindo-me satisfeito por morar num edifício onde tal objeto é tão gentil e bem-humorado, deveria olhá-lo com ternura e dizer “ok, amigão, vamos lá, eu te devolverei à garagem, seu doce lar, onde reencontrará seus irmãos metálicos e poderá fazer as mais loucas traquinagens!”. Mickey Mouse aparecer com vassouras e baldes dançantes ou carros falarem abrindo e fechando os capôs seria uma consequência lógica, e eu sorriria mais uma vez, pois a vida, afinal de contas, havia se tornado um desenho animado.
Está certo, o lugar do carrinho é na garagem, como o céu é do condor e a Rua Javari é do Juventus. Longe de mim querer condená-lo a noites frias em halls escuros, ou espremê-lo ao lado de vizinhos resmunguentos, no canto de um elevador. O que penso, triste, diante da tabuleta, é: onde foi que nós erramos? Apesar de todas as provas em contrário, eu acredito no ser humano. Talvez algum Nobel gagá ainda explique meu otimismo como fruto do baixo QI do brasileiro, mas enquanto isso não acontece, continuo achando que deveríamos levar o carrinho para baixo – e diminuir as emissões de carbono, votar nas eleições ou bater panelas na rua – mais movidos por Thomas More e Rousseau do que por Disney e Pixar. A tabuleta e seu humor infanto-publicitário, no entanto, apenas confirmam que nossa visão de cidadania não é a de Rousseau: obedecer as leis que nós mesmos ajudamos a criar, mas a de Scooby Doo: se fizermos tudo direitinho, ganhamos um biscoito no final.
É um curioso autismo lúdico: não olhamos nos olhos dos vizinhos, mas conversamos com carrinhos de supermercado. Não é de se admirar que as coisas estejam como estão. (E os carrinhos, pelo menos aqui no meu prédio, continuem abandonados no elevador. Tadinhos).

terça-feira, 13 de novembro de 2007

"a vida é uma escola"

Uma coisa que me incomoda muito é ver fatos que eu poderia jurar que não saíriam dos portões da minha escola acontecendo na vida real.
É fato que podemos ver um colégio como nosso primeiro contato (ou segundo, se considerarmos a família) com a sociedade, e portanto essa "microsociedade" tem vários podres em comuns.

Mas sinceramente esperava que certas coisas fossem amadurecer. Intrigas, fofocas, olhares, que eram comuns entre lancheiras e sinais, nem sequer se tornaram desenvolvidos, presos a um mínimo de bom senso.
O mais preocupante nisso são as proporções, que ficam bem maiores. As pessoas que antes prejudicavam o coleguinha com suas relações sociais, hoje pode demitir alguém. O que antes a fofoca era "quem ficou com quem", "quem falou mal de quem", hoje é "que drogas ele tá usando e com que frequencia", além de isso hoje não custar só a humilhação, mas também de repente uma oportunidade de emprego ou um casamento.

Não prego moralismo, não é o simples fato de "fofocar ser ruim". Prego ética. Bom senso em pensar nas consequências que certas atitudes inconsequentes nossas podem acarretar na vida alheia. Talvez o problema seja as pessoas não enxergarem o mundo muito além do que convém a elas. Talvez elas até enxergam consequências, mas simplesmente não se importam, ou acham muito mais legal o poder que o revelar um segredo pode propiciar. E quem não quer usar seu próprio, tem que ir atrás do dos outros... e guardar a oportunidade perfeita para reaproveitá-lo.
O segredo como moeda de troca.

Afinal, o que se ganha com um segredo? Um amigo? Status social? Poder?
O resultado disso tudo foi descobrir que caráter talvez não seja questão de crescimento, amadurecimento. E aí vemos que foi mero engano achar que aquele diploma de papel no colégio garantiria a liberdade de certos personagens traumáticos, de certas atitudes escrotas.
Porque a vida é uma escola, com todos os tipos de estudantes já antes conhecidos por nós. Só nos livramos do uniforme...

*** todo esse post foi baseado em conversas de bar/momentos vagais fora da sala e precedem um blog que pode surgir por aí...

domingo, 28 de outubro de 2007

ah, o amor!

O segredo da vida de um casal
Contardo Calligaris
Receita do amor que dura: amar o outro não apesar de sua diferença, mas por ele ser diferente

EM GERAL, na literatura, no cinema e nas nossa fantasias, as histórias de amor acabam quando os amantes se juntam (é o modelo Cinderela) ou, então, quando a união esbarra num obstáculo intransponível (é o modelo Romeu e Julieta).

No modelo Cinderela, o narrador nos deixa sonhando com um "viveram felizes para sempre", que seria a "óbvia" conseqüência da paixão. No modelo Romeu e Julieta, a felicidade que os amantes teriam conhecido, se tivessem podido se juntar, é uma hipótese indiscutível. O destino adverso que separou os amantes (ou os juntou na morte) perderia seu valor trágico se perguntássemos: será que Romeu e Julieta continuariam se amando com afinco se, um dia, conseguissem deitar-se juntos sem que Romeu tivesse que escalar a casa de Julieta até o famoso balcão? Ou se, em vez de enfrentar a oposição letal de suas ascendências, eles passassem os domingos em espantosos churrascos de família?

Talvez as histórias de amor que acabam mal nos fascinem porque, nelas, a dificuldade do amor se apresenta disfarçada. A luta trágica contra o mundo que se opõe à felicidade dos amantes pode ser uma metáfora gloriosa da dificuldade, tragicômica e inglória, da vida conjugal.

O casal que dura no tempo, em regra, não é tema para uma história de amor, mas para farsa ou vaudeville -às vezes, para conto de terror, à la "Dormindo com o Inimigo". Durante décadas, Calvin Trillin escreveu uma narrativa de sua vida de casal, na revista "New Yorker" e em alguns livros (por exemplo, "Travels with Alice", viajando com Alice, de 1989, e "Alice, Let's Eat", Alice, vamos para a mesa, de 1978).

Nesses escritos, que são só uma parte de sua produção, Trillin compunha com sua mulher, Alice, uma dobradinha humorística, em que Calvin era o avoado, o feio e o desajeitado, e Alice encarnava, ao mesmo tempo, a beleza, a graça e a sabedoria concreta de vida. À primeira vista, isso confirma a regra: a vida de casal é um tema cômico. Mas as crônicas de Trillin eram delicadas e tocantes: engraçadas, mas nunca grotescas.Trillin não zombava da dificuldade da vida de casal: ele nos divertia celebrando a alegria do casamento. Qual era seu segredo? Pois bem, Alice, com quem Trillin se casou em 1965, morreu em 2001. Trillin escreveu "Sobre Alice", que acaba de ser publicado pela Globo. Esse pequeno e tocante texto de despedida desvenda o segredo de um amor e de uma convivência felizes, que duraram 35 anos.

O segredo é o seguinte: Calvin e Alice, as personagens das crônicas, não eram artifícios literários, eram os próprios. A oposição entre os dois foi, efetivamente, o jeito especial que eles inventaram para conviver e prolongar o amor na convivência.

Considere esta citação de um texto anterior, que aparece no começo de "Sobre Alice": "Minha mulher, Alice, tem a estranha propensão de limitar nossa família a três refeições por dia". A graça está no fato de que a "propensão" de Alice não é extravagante, mas é contemplada por Calvin como se fosse um hábito exótico. Alice é situada e mantida numa alteridade rigorosa, em que é impossível distinguir qualidades e defeitos: Calvin a ama e admira como a gente contempla, fascinado, uma espécie desconhecida num documentário do Discovery Channel.

Se amo e admiro o outro por ele ser diferente de mim (e não apesar de ele ser diferente de mim), não posso considerar que minha maneira de ser seja a única certa. Se Calvin acha extraordinário que Alice acredite na virtude de três refeições diárias, ele pode continuar petiscando o dia todo, mas seu hábito lhe parecerá, no fundo, tão estranho quanto o de Alice.Com isso, Calvin e Alice transformaram sua vida de casal numa aventura fascinante: a aventura de sempre descobrir o outro, cuja diferença inesperada nos dá, de brinde, a certeza de que nossa obstinada maneira de ser, nossos jeitos e nossa neurose não precisam ser uma norma universal, nem mesmo a norma do casal. Há quem diga que o parceiro ideal é aquele que nos faz rir. Trillin completou a fórmula: Alice era quem conseguia fazê-lo rir dele mesmo. Com isso, ele descobriu a receita do amor que dura.

ótimo.

O Brasil na faixa
Antonio Prata

Como muitos brasileiros, eu também andava por aí, cabisbaixo e macambúzio, a chutar tampinhas de garrafa e maldizer a vida, o governo, o mal-tempo e o técnico da seleção. Foi quando conheci o PSTM: Partido do Socialismo Tranqüilo e Moreno. Não se trata de mais uma nova sigla, fadada às velhas maracutaias: o PSTM tem um projeto civilizatório. Ou descivilizatório, como verá o amigo.
Quem me trouxe a luz da sabedoria foi um dos fundadores da agremiação, o ilustre professor Eduardo Correia. Mais tarde, um de seus discípulos, o Dr. Marcelo Behar, me pôs à par de todos os detalhes. (Eduardo fuma cachimbo, Dr. Behar trabalha de terno, de forma que não se pode duvidar da seriedade dos dois patrícios). O projeto do PSTM é de uma simplicidade tão grande (ou de uma grandeza tão simples), que cheguei a gargalhar de felicidade ao conhecê-lo. Veja só: pega-se a extensão da faixa litorânea brasileira e divide-se pelo número de habitantes. O resultado é esplendoroso: 50 m de areia branca para cada cidadão. Chega de tentarmos ocupar o cerrado, povoar a caatinga, adentrar aquelas imensidões ermas. Já temos o sertão mítico de Euclides da Cunha e Guimarães Rosa para nosso desfrute. Para que queremos o real?
Com o PSTM o Brasil não vai pra frente, mas pro lado. Cada cidadão terá direito à sua faixa de areia e mais uns 200 metros de terra para dentro do país, apenas o suficiente para plantar uns coqueiros que dão coco, umas palmeiras onde cante o sabiá e o que mais lhe aprouver. A Amazônia e o Pantanal nós vendemos para a Europa, que já destruiu tudo o que tinha por lá e, cheia de culpa e de olho gordo nas patentes biológicas, irá cuidar das florestas. (Se não cuidar, também, já não será mais problema nosso). Os pampas a gente dá pra Argentina, em troca de carne, doce de leite, psicanalistas e centroavantes. O resto, vendemos para os EUA, que farão parques temáticos, resorts, campos de golfe e testes com armas nucleares.
Com o dinheiro da venda construiremos um SESC à cada tantos quilômetros, uns barzinhos que ofereçam peixe frito e cerveja gelada, uma linha de trem norte-sul para visitarmos amigos e parentes e sustentaremos uma ou duas gerações de vagabundos. Deitados eternamente em berço esplêndido (as cangas), poderemos enfim nos dedicar ao ócio, ao samba, ao futebol, à culinária e às grandes questões existenciais. Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor. Chegou a hora de assumirmos nossa vocação de Chile Atlântico. Chegou a hora de sermos felizes para sempre.



Genial. Onde assino?

morreu na contramão atrapalhando o tráfego...

Sexta. Festa. Alguns (ou muitos) copos de alcóol.

- Amor, vamos?

E eles vão. E ele morre. Ela fica.
Mas sem problemas, sua pessoa será lembrada, já que saiu anunciado na parte de trânsito do jornal.

domingo, 21 de outubro de 2007

e você há de entender... a gente tem que ter alguém pra viver.

Você pediu e eu já vou daqui
Nem espero pra dizer adeus
Escondendo sempre os olhos meus
Chorando eu vou, tentei lhe falar, você nem ligou.

Eu nunca consegui me explicar
Por que você não quis me ouvir falar
E deixo todo meu amor aqui
Jamais eu direi, que me arrependi
Pelo amor que eu deixar

Mas da saudade eu tenho medo
Você não sabe eu vou contar todo segredo
Esses caminhos eu conheço
Andar sozinho eu não mereço
E você há de entender, a gente tem que ter alguém pra viver.

Se você quer eu vou embora
Mas também sei que não demora
Você é criança e vai chorar
Só então vai conpreender que muito amor eu dei
E eu quero ver, você lamentando meu nome chamar.

E quando um dia isso acontecer
De você querer voltar pra mim
O meu perdão eu vou saber lhe dar
E jamais eu direi, que um dia você conseguiu me magoar.

Eu nunca consegui me explicar....

o oitavo pecado capital.

é a dor.

depois do sexo e das informações contidas em produtos alimentícios (tipo o drama da gordura trans), a dor é o mais novo tabu.

poucos comentam, menos ainda são as pessoas que a analisam. querem abafar, fazê-la sumir, tornar mito, história...

talvez por isso que doer doa tanto. Já não basta o sofrimento, ainda temos que lidar com a culpa de sentir.

eu sou parte de você, você não é parte de mim.

Tudo que sei é que você quis partir
Eu quis partir você, tirar você de mim
Demorei para esquecer, demorei para encontrar
Um lugar onde você não me machucasse mais

Medo de perda. Quem quer ficar sozinho?

Com você por perto eu gostava mais de mim...

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Depressão e terapia

27/09/2007, CONTARDO CALLIGARIS

Quem está no desespero, antes de qualquer consolação, pede que sua dor seja reconhecida

UM DIA, ao acordar, um conhecido meu encontrou sua mulher morta, ao seu lado, na cama. À dor de perder sua amada juntou-se o choque de descobri-la já fria e a culpa atormentada por ter dormido na hora em que ela morria.No velório, muitos amigos e parentes tinham as mesmas palavras de consolação: "Ao menos, ela não sofreu", "É o melhor jeito de morrer...". Outro conhecido, anos atrás, na Flórida, perdeu sua casa e tudo o que ela continha, num tornado. Alguns dias depois, seus pais foram visitá-lo e confortá-lo; enquanto ele contemplava, com eles, os escombros de sua existência, a mãe disse: "Pelo menos você está são e salvo". E o pai: "Ainda bem que você tem seguro". São exemplos de "reavaliações" -é assim que a psicologia chama as tentativas, diante de uma catástrofe, de encontrar razões para suavizar o sofrimento do sujeito. Suspeito que, freqüentemente, as reavaliações facilitem sobretudo a vida de quem as sugere, ou seja, dos amigos e parentes que não estão muito a fim de se debruçar sobre o desespero de quem perdeu seu amor ou suas coisas. Eles se saem da embaraçosa situação de oferecer pêsames graças a um achado otimista: "Pense bem, no horror, você teve sorte". De fato, essas intervenções são quase intoleráveis para os sujeitos que elas deveriam beneficiar. Para quem sofre, só fica uma impressão de escárnio: os outros sequer reconhecem o tamanho de sua perda, de seu dano e de seu luto. Há especialistas em perdas, danos e luto; são os psicólogos treinados para oferecer assistência imediata às vítimas e aos próximos das vítimas de calamidades (acidentes aéreos, desmoronamentos de túneis do metrô, inundações etc). No Brasil, conheço o Quatro Estações (www.4estacoes.com.br), um instituto que treina e disponibiliza uma rede de psicólogos capazes de prestar assistência urgente em todo o território nacional, ou quase. Nos EUA, a própria Cruz Vermelha oferece um treinamento específico que qualifica os psicólogos e psicoterapeutas que ela mobiliza em caso de catástrofe. Pois bem, os especialistas em luto são, em princípio, unânimes: quem está no desespero, antes de qualquer consolação, pede que sua perda e sua dor sejam RECONHECIDAS e só depois, eventualmente, suavizadas. Essa unanimidade encontrou recentemente uma espécie de confirmação experimental indireta. O "Journal of Neuroscience" publicou, em 15 de agosto 2007, uma interessante pesquisa de Tom Johnstone e outros. Foram constituídos dois grupos, um de 21 sujeitos diagnosticados como depressivos graves e um grupo de controle de 18 sujeitos (obviamente, não depressivos). A atividade cerebral de todos os sujeitos foi monitorada por ressonância magnética funcional enquanto lhes era mostrada uma série de imagens, boa parte das quais foram concebidas para produzir preocupação, medo, desespero e tristeza. Os sujeitos eram também convidados a reavaliar essas imagens deprimentes, ou seja, a reinterpretá-las de maneira a suavizar ou mudar seu impacto negativo. Deixo de lado a complexa descrição da atividade cerebral constatada nos dois grupos durante a experiência. O que importa aqui é a constatação final: os sujeitos deprimidos, aparentemente, tiveram a maior dificuldade em reavaliar as imagens negativas. Pior, a tarefa de reavaliação que lhes era pedida parecia deprimi-los ainda mais. É possível imaginar que esta seja uma propriedade dos quadros depressivos: uma incapacidade de reavaliar positivamente o que acontece de negativo. Mas é também possível que a depressão seja aqui apenas um fator, que torna mais aguda a propensão ao desespero e impede de discriminar entre imagens e eventos aflitivos. Seja como for, a experiência confirma o que já sabíamos: quando alguém sofre, a primeira tarefa dos próximos (e dos profissionais) não é a de consolá-lo sugerindo reavaliações, mas a de ajudá-lo a encarar seu sofrimento assim como ele é. Mais uma nota: essa constatação é também relevante na hora de administrar a necessária medicação antidepressiva. Talvez os raros efeitos paradoxais dos antidepressivos (o paciente que "estava muito bem" e, de repente, tenta o suicídio) tenham a ver não com o fracasso, mas com o sucesso da medicação, que produziu uma melhora substancial antes que o sujeito tivesse o tempo de dizer sua dor.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

"Spiderman is having me for dinner tonight!"

- O que deu nos exames, doutor? É câncer, pneumonia, alguma doença ainda não descoberta?
- Não, minha senhora. O problema é que você está com uma perda do imaginário crônica. Você perdeu a capacidade de sonhar, de fantasiar não só o seu futuro, mas seu passado também.
- E como faço pra melhorar, doutor? Pode me receitar um remedinho?
- Para isso, sinto muito, não há cura ao certo. Apesar de alguns superarem os momentos de crise, a melhor cura pra isso talvez ainda seja a morte. Basicamente, você está apenas sobrevivendo, e vai sempre achar algum motivo para não estar se sentindo bem, mas é apenas você querendo achar alguma desculpa para não aceitar que sua vida já chegou ao fim.


Eu quero ir contra toda essa coisa de viver o maior tempo possível. Quero viver até o momento que eu ainda estiver com o meu imaginário saudável, ainda puder pensar, planejar, sonhar... e se eu não morrer, me mato. O que eu não quero é sofrer de perda do imaginário crônica...

"Then she looks up at the building
And says she's thinking of jumping.
She says she's tired of life;
She must be tired of something."

Foda...

"Volta pra casa... me traz na bagagem: tua viagem sou eu.
Novas paisagens, destino, passagem: tua tatuagem sou eu.
Casa vazia, luzes acesas (só pra dar a impressão)
Cores e vozes, conversas animadas (é só a televisão)
Já perdemos muito tempo brincando de perfeição
Esquecemos o que somos: simples de coração

Volta voando (vinda do alto),derrete o chumbo do céu
Antes que eu saia pela tangente no giro do carrossel
Falta uma volta (ponteiros parados): tudo dança em torno de ti
Volta pra casa... fim da viagem: bem vinda à vida real
Já perdemos muito tempo brincando de perfeição
Agora é bola pra frente, agora é bola no chão
Já brincamos muito tempo (até perder a direção)
Na santa paz de Deus
No mais perfeito caos."

Quase grifei tudo. Tive que me controlar pra não o fazer. Foda, foda, foda.

"O nosso amor a gente inventa, pra se distrair..."

Quando me perguntam se eu amo, hesito.
Alguns pensam que é por eu ter dúvida, e talvez eu tenha mesmo. Mas talvez porque até hoje eu não entendo o que é esse tal amor. Talvez eu só possa responder depois de saber qual a concepção de amor pra pessoa que me pergunta.
Comecei a pensar que talvez não exista um amor que não seja um pouco doentio.
"Não consigo viver sem você" é o auge da dependência.
"Posso contar com ele pra tudo" é um amor muleta.
"Ele me faz feliz" é aquele amor prozac.
"Ele me faz sentir segurança" é aquele amor carente de pai.

Sei lá. Talvez eu esteja exagerando. É fato que qualquer relação a dois demonstre alguma fraqueza natural nossa, pois demonstra que um só na vida não tá bastando.
Só sei que por mais que eu tente demonstrar o máximo da razão nessa coisa que de razão não tem nenhuma, no fundo, no fundo, eu sou só mais uma menininha querendo encontrar o manual de instruções dessa joça.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

engenheiros do hawaii

Vamos passear depois do tiroteio/ Vamos dançar num cemitério de automóveis/ Colher as flores que nascerem no asfalto/ Vamos todo mundo.../ Tudo que se possa imaginar/ Vamos duvidar de tudo o que é certo/ Vamos namorar à luz do pólo petroquímico/ Voltar pra casa num navio fantasma/ Vamos todo mundo.../ ninguém pode faltar..

domingo, 7 de outubro de 2007

but something touched me deep inside the day that music die.

a long, long time ago...
i can still remember, how that music used to make me smile.
and i knew if i had my chance, that i could make those people dance
and maybe they'd be happy for a while...

Música. Sempre me pergunto porque as mais antigas são melhores. Não dá pra negar que de vez em quando sai umas coisas "novas" boas. Talvez o que era pra ser criado já foi criado. Talvez as pessoas queiram banalizar a música, quando ela deveria ser feita quando há algo pra ser dito, tocado, musicado. Mas de fato, às vezes saem coisas boas...

Só sei que eu e a música temos uma relação íntima. Escolho o tipo de relacionamento com namorado e amigos pelo gosto musical deles. É impressionante como pessoas com bom gosto musical (no caso, o mesmo que o meu), são pessoas interessantes. Salve as excessões. Tenho um grande amigo pagodeiro.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

"Então é outra festa, é outra sexta-feira
Que se dane o futuro você tem a vida inteira
Você é tão esperto você está tão certo
Mas você nunca dançou com ódio de verdade
Você é tão esperto, você está tão certo
Que você nunca vai errar
Mas a vida deixa marcas,
Tenha cuidado se um dia você dançar"

Certas pessoas me decepcionam. Não gosto de olhares que medem, que tentam nos fazer pequenos. Mulher tem muito disso. Principalmente para outras mulheres. Eu pelo menos já encontrei muitos desses olhares de muitas mulheres pra mim.
Nessas horas sinto que não sou desse mundo. Sinto vontade de não fazer parte desse mundo.

Não sei até que ponto eu me excluo, até que ponto me excluem. Sinto que esse olhar é uma maneira de me punirem por não querer fazer parte de certos clubes. Eu não sou vaidosa. Eu não gosto de ser simpática o tempo inteiro.

Aliás, as pessoas que mais gosto são as que eu mais respondo de maneira atravessada. É a minha maneira de ser carinhosa. E ser honesta. Porque eu ofereço a minha honestidade de amizade. E a honestidade nem sempre é macia.

Só sei do que não quero fazer parte. Não assim, em tópicos. Mas sei dizer não ao que não me agrada. É preciso ser forte pra isso. E aguentar a solidão em muitos momentos...

Nas vezes que não digo não, me rendo a algum programa ou grupo de pessoas que não me agradam em troca de companhia, acabo me arrependendo. Sinto-me suja, deslocada, desajeitada e nervosa.

O jeito é achar pessoas parecidas comigo. Mas é engraçado. Pessoas parecidas comigo não andam em grupos. Elas andam escondidas, camufladas, talvez tentando dizer não a essa maneira de dançar a vida, lutando pra inventar uma nova coreografia...

Estou me rendendo ao divã do blog, hoje. Isso é o que dá cabular a terapia.

é fato.

"this is how it works
you're young until your not
you love until you don't
you try until you can't
you laugh until you cry
you cry until you laugh
and everyone must breath
until their dying breath.

so this is how it works
you peer inside yourself
you take the things you like
and try to love the things you do
and then you take that love you make
and sitck it into some, someone elses heart
open someone elses blood
and walk arm and arm
you hope they don't get hurt
but even if they do you do it all again..."
Regina Spektor, On The Radio.

momento cuti-cuti

você é tão bonito que eu tenho vontade de te apertar...









... até todas as suas tripas saírem!

Nada como um bom tédio para nos possibilitar grandes reflexões...

aw, mom!

I want to kill this man but he turned around and ran.
I'll kill him with karate that I learned in Japan.
He wouldn't see my face.
I wouldn't leave a trace.
I wouldn't use a bullet cause a bullet's a disgrace.

Aw, mom, I never thought that I was a murdering man
but tonight I'm on my way.

There's this drawer that I know in a house up the road
that's full of things that are easily sold.
When they go out of town I could go and snoop around
and make myself rich off the things that I found.

Aw, mom, I never thought that I was a stealing man
but tonight I'm on my way.

I was sitting on the bleacher staring at the speaker,
reading his lips but I could not understand.
So I opened up my ears and clearly I could hear
this detailed story all about a grain of sand.

Aw, mom, I always dreamt of being a good listener
so tonight I'm on my way.

There's this kid you gotta meet.
He lives across the street. He's got spirit and heart.
We're ten years apart. He is up for anything.
He can hang with anyone.
He still likes the things we used to think were fun.

Aw, mom, I never thought that I could have a friend
but tonight I'm on my way.

I'm in love with someone who's as pretty as a flower.
Her life gives me power so I'm buyin' her a ring.
She makes hats with her hands.
She is such an artist
I¹m her biggest fan and I'm teaching her to sing.

Aw, mom, I never thought that I could love no one
but tonight I'm on my way.

Tonight... I'm on my way.

[Ben Kweller - On my way]

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

necessidade de um ponto de partida.

toda vez que vou escrever tendo buscar alguma frase que traduza um pouco do que eu to sentindo, pra então poder escrever sobre o assunto. mas o que fazer quando eu não conheço nenhuma música, nenhum poema ou nenhuma crônica?

ando meio limitada. achava esse ser um espaço só meu, quando me dei conta que é público. então me senti acanhada pra escrever tudo que gostaria. sinto que estou constantemente me auto-censurando.

enfim... .

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

E é de noite que tudo faz sentido, no silêncio eu não ouço meus gritos

" acho que você não percebeu
que o meu sorriso era sincero,
sou tão cínico às vezes.
o tempo todo estou tentando me defender...
dizem o que disserem,
o mal do século é a solidão:
cada um de nós imersos em nossa própria arrogância
esperando por um pouco de afeição.
hoje não estava nada bem,
mas a tempestade me distrai.
gosto dos pingos de chuva, dos relâmpagos e dos trovões..."
Oh vida, oh céus!

terça-feira, 2 de outubro de 2007

sem título

Tô assim. Sei lá. Travada. Não sei.
Parece que quando tenho muito o que dizer ocorre um congestionamento de palavras na garganta, me deixando engasgada e então não conseguem sair. E eu fico assim... querendo dizer algo, e nada saindo...

Talvez seja vontade de dizer algo grande, fazendo com que a exigência impeça de uma humilde frase sair da minha boca. Talvez seja falta de vocabulário. Talvez seja muita coisa pra dizer e pouca gente pra ouvir. Talvez seja pouca coisa...

Queria ouvir uma música que me dissesse: "É isso! É isso que eu quero dizer!". E então eu a ouviria por horas e horas, até enjoar e então mudar de opinião.

Queria poder aprender a não sentir pela morte dos outros. Mas ela dói. Mesmo assim. Dor necessária, é o que dizem por aí...

terça-feira, 25 de setembro de 2007

sua chamada está sendo encaminhada para a caixa de mensagens...

Ando sentindo que ninguém me entende, ninguém me atende (talvez pq eu não liga pra ninguém). Cada vez mais começo a assumir que não sou uma pessoa naturalmente feliz. Eu não quero ser feliz. Quando estou muito tempo sorrindo, tenho que inventar ou dar atenção à alguma coisa que justifique eu ficar introspectiva, depressiva e misteriosa.

Talvez o fácil não me agrade. Talvez ser feliz o tempo todo não me agrade. Porém, devo confessar que está dificil ficar triste. Coisas boas acontecendo. Mas a luta continua. E sempre existe alguma coisa pra me mostrar também quem eu sou.

Mas ultimamente tenho sentido falta de alguém pra conversar. Tenho sentido a minha vida em caixa postal com o mundo...

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

tédio mor

cansei dessa vida. quanto tempo vai demorar pra eu virar borboleta?

domingo, 23 de setembro de 2007

insônia

será que existe alguém ou algum motivo importante, que justifique a vida ou pelo menos esse instante???

mil pensamentos a noite. precisava de alguém pra conversar. tô pra conhecer alguém disposto a receber ligações minhas de madrugada, pra conversar comigo.

por enquanto sou só eu, o blog, e meu mp3 sem pilha em Santos, num domingo a noite tão quente quanto depre.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

"faço o melhor que sou capaz, só pra viver em paz"

Ontem, enquanto falava sobre futuro profissional, casamento e filhos com uma amiga, disse que achava meio triste não me ver no futuro, que o máximo que previa era um dia ter oportunidade de ler muito, de conversar com pessoas fodas, e isso eu sinto que já está se realizando. Ouço como resposta então que ela acredita que eu serei grande, "daquelas que vão mudar o mundo".
Confesso que meu ego adorou.
Eu quero ser grande. Eu quero mudar o mundo.

Mas hoje, enquanto vinha pra são paulo e pensava nisso - isso vai parecer ridiculamente pseudo-poético, mas eu tenho que falar- via lá a serra, com aquelas montanhas gigantes, com suas árvores... então me veio um sentimento de "ponha-se no seu lugar". Poxa, eu sou menor que UMA daquelas milhares de árvores daquelas dezenas de montanhas!!!

Talvez seja difícil mudar o mundo inteiro, mas quem sabe alguma diferença eu faça. Algo deve ser feito, pelo maior numero de "alguéns" possíveis.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

"ele queria era falar com o presidente pra ajudar toda essa gente que só faz sofrer."

" O lavrador Ângelo de Jesus, de Pindobaçu (BA), invadiu na manhã desta quinta-feira (20), por volta das 9h, o Palácio do Planalto. Ângelo passou pelo balcão de entrada sem se identificar e foi abordado pelos seguranças. Bastante nervoso, ele reagiu e se agarrou ao aparelho detector de metais. Anunciando que queria falar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele acabou detido por seguranças. Imobilizado, ele gritava "presidente, socorre eu". Ângelo de Jesus argumentava que está há quatro dias sem comer e que está com hanseníase. Por conta desta doença, disse que está afastado do trabalho e não está conseguindo alimentar os seus quatro filhos." - Folha Online - 20/09/07
É... (in)felizmente ainda existem "Joâos" de Santo Cristo.

domingo, 29 de julho de 2007

Vale muito a pena ler...

O SALTO de Antonio Prata

A gente não tem como saber se vai dar certo. Talvez, lá adiante, haja uma mesa num restaurante, onde você mexerá o suco com o canudo, enquanto eu quebro uns palitos sobre o prato -- pequenas atividades às quais nos dedicaremos com inútil afinco, adiando o momento de dizer o que deve ser dito. Talvez, lá adiante: mas entre o silêncio que pode estar nos esperando então e o presente -- você acabou de sair da minha casa, seu cheiro ainda surge vez ou outra pelo quarto –, quem sabe não seremos felizes? Entre a concretude do beijo de cinco minutos atrás e a premonição do canudo girando no copo pode caber uma vida inteira. Ou duas.
Passos improvisados de tango e risadas, no corredor do meu apartamento. Uma festa cheia de amigos queridos, celebrando alguma coisa que não saberemos direito o que é, mas que deve ser celebrada. Abraços, borrachudos, a primeira visão de seu necessaire (para que tanto creme, meu Deus?!), respirações ofegantes, camarões, cafunés, banhos de mar – você me agarrando com as pernas e tapando o nariz, enquanto subimos e descemos com as ondas -- mãos dadas no cinema, uma poltrona verde e gorda comprada num antiquário, um tatu bola na grama de um sítio, algumas cidades domesticadas sob nossos pés, postais pregados com tachinhas no mural da cozinha e garrafas vazias num canto da área de serviço. Então, numa manhã, enquanto leio o jornal, te verei escovando os dentes e andando pela casa, dessa maneira aplicada e displicente que você tem de escovar os dentes e andar ao mesmo tempo e saberei, com a grandiosa certeza que surge das pequenas descobertas, que sou feliz.Talvez, céus nublados e pancadas esparsas nos esperem mais adiante. Silêncios onde deveria haver palavras, palavras onde poderia haver carinho, batidas de frente, gritos até. Depois faremos as pazes. Ou não?
Tudo que sabemos agora é que eu te quero, você me quer e temos todo o tempo e o espaço diante de nossos narizes para fazer disso o melhor que pudermos. Se tivermos cuidado e sorte – sobretudo, talvez, sorte -- quem sabe, dê certo? Não é fácil. Tampouco impossível. E se existe essa centelha quase palpável, essa esperança intensa que chamamos de amor, então não há nada mais sensato a fazer do que soltarmos as mãos dos trapézios, perdermos a frágil segurança de nossas solidões e nos enlaçarmos em pleno ar. Talvez nos esborrachemos. Talvez saiamos voando. Não temos como saber se vai dar certo -- o verdadeiro encontro só se dá ao tirarmos os pés do chão --, mas a vida não tem nenhum sentido se não for para dar o salto.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Meio Intelectual, Meio de Esquerda

Bar ruim é lindo, bicho 
(Antonio Prata)

Eu sou meio intelectual, meio de esquerda, por isso freqüento bares meio ruins. Não sei se você sabe, mas nós, meio intelectuais, meio de esquerda, nos julgamos a vanguarda do proletariado, há mais de 150 anos. (Deve ter alguma coisa de errado com uma vanguarda de mais de 150 anos, mas tudo bem). No bar ruim que ando freqüentando nas últimas semanas o proletariado é o Betão, garçom, que cumprimento com um tapinha nas costas acreditando resolver aí 500 anos de história. Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos ficar “amigos” do garçom, com quem falamos sobre futebol enquanto nossos amigos não chegam para falarmos de literatura. “Ô Betão, traz mais uma pra gente”, eu digo, com os cotovelos apoiados na mesa bamba de lata, e me sinto parte do Brasil. Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos fazer parte do Brasil, por isso vamos a bares ruins,que tem mais a cara do Brasil que os bares bons, onde se serve petit gateau e não tem frango à passarinho ou carne de sol com macaxeira que são os pratos tradicionais de nossa cozinha. Se bem que nós, meio intelectuais, quando convidamos uma moça para sair pela primeira vez, atacamos mais de petit gateau do que de frango à passarinho, porque a gente gosta do Brasil e tal, mas na hora do vamos ver uma europazinha bem que ajuda. A gente gosta do Brasil, mas muito bem diagramado. Não é qualquer Brasil. Assim como não é qualquer bar ruim. Tem que ser um bar ruim autêntico, um boteco, com mesa de lata, copo americano e, se tiver porção de carne de sol, a gente bate uma punheta ali mesmo.
Quando um de nós, meio intelectuais, meio de esquerda, descobre um novo bar ruim que nenhum outro meio intelectual, meio de esquerda freqüenta, não nos contemos: ligamos pra turma inteira de meio intelectuais, meio de esquerda e decretamos que aquele lá é o nosso novo bar ruim. Porque a gente acha que o bar ruim é autêntico e o bar bom não é, como eu já disse. O problema é que aos poucos o bar ruim vai se tornando cult, vai sendo freqüentado por vários meio intelectuais, meio de esquerda e universitárias mais ou menos gostosas. Até que uma hora sai na Vejinha como ponto freqüentado por artistas, cineastas e universitários e nesse ponto a gente já se sente incomodado e quando chega no bar ruim e tá cheio de gente que não é nem meio intelectual, nem meio de esquerda e foi lá para ver se tem mesmo artistas, cineastas e universitários, a gente diz: eu gostava disso aqui antes, quando só vinha a minha turma de meio intelectuais, meio de esquerda, as universitárias mais ou menos gostosas e uns velhos bêbados que jogavam dominó. Porque nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos dizer que freqüentávamos o bar antes de ele ficar famoso, íamos a tal praia antes de ela encher de gente, ouvíamos a banda antes de tocar na MTV. Nós gostamos dos pobres que estavam na praia antes, uns pobres que sabem subir em coqueiro e usam sandália de couro, isso a gente acha lindo, mas a gente detesta os pobres que chegam depois, de Chevete e chinelo Rider. Esse pobre não, a gente gosta do pobre autêntico, do Brasil autêntico. E a gente abomina a Vejinha, abomina mesmo, acima de tudo.
Os donos dos bares ruins que a gente freqüenta se dividem em dois tipos: os que entendem a gente e os que não entendem. Os que entendem percebem qual é a nossa, mantém o bar autenticamente ruim, chamam uns primos do cunhado para tocar samba de roda toda sexta-feira, introduzem bolinho de bacalhau no cardápio e aumentam em 50% o preço de tudo. Eles sacam que nós, meio intelectuais, meio de esquerda, somos meio bem de vida e nos dispomos a pagar caro por aquilo que tem cara de barato. Os donos que não entendem qual é a nossa, diante da invasão, trocam as mesas de lata por umas de fórmica imitando mármore, azulejam a parede e põem um som estéreo tocando reggae. Aí eles se fodem, porque a gente odeia isso, a gente gosta, como já disse algumas vezes, é daquela coisa autêntica, tão brasileira, tão raiz.
Não pense que é fácil ser meio intelectual, meio de esquerda, no Brasil! Ainda mais porque a cada dia está mais difícil encontrar bares ruins do jeito que agente gosta, os pobres estão todos de chinelo Rider e a Vejinha sempre alerta, pronta para encher nossos bares ruins de gente jovem e bonita e a difundir o petit gateau pelos quatro cantos do globo. Para desespero dos meio intelectuais, meio de esquerda, como eu que, por questões ideológicas, preferem frango a passarinho e carne de sol com macaxeira (que é a mesma coisa que mandioca mas é como se diz lá no nordeste e nós, meio intelectuais, meio de esquerda, achamos que o nordeste é muito mais autêntico que o sudeste e preferimos esse termo, macaxeira, que é mais assim Câmara Cascudo, saca?).
- Ô Betão, vê um cachaça aqui pra mim. De Salinas quais que tem?

domingo, 15 de julho de 2007

Clarisse Lispector

...E então você não quis nada disso. E parou com a possibilidade de dor, o que nunca se faz impunemente. Apenas parou e nada encontrou além disso. Eu não digo que eu tenha muito, mas tenho ainda a procura intensa e uma esperança violenta. Não esta sua voz baixa e doce. E eu não choro, se for preciso um dia eu grito, Lóri......
Mas olhe para todos ao seu redor e veja o que temos feito de nós e a isso considerado vitória nossa de cada dia. Não temos amado, acima de todas as coisas. Não temos aceito o que não se entende porque não queremos passar por tolos. Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos um ao outro. Não temos nenhuma alegria que já não tenha sido catalogada. Temos construído catedrais e ficado do lado de fora pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas. Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos. Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo. Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda......Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que a nossa indiferença é angústia disfarçada. Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa. Falar no que realmente importa é considerado uma gafe......Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos. Temos chamado de fraqueza a nossa candura. Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. E a tudo isto consideramos a vitória nossa de cada dia..."

Desculpa grifar o texto inteiro, tentei pegar as partes mais legais. Preciso dizer alguma coisa?

domingo, 8 de julho de 2007

Sessão Nostalgia

 (isso que dá revirar em documentos antigos em um domingo a noite)

AS SEM RAZÕES DO AMOR:
Drummond

Eu te amo porque te amo
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no elipse.
Amor foge ao dicionário,
e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amor
bastante ou demais a mim
Porque amor não se trocar,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
e da morte vencedo.
Por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

Ah, se esse poema falasse...

"O que vai ficar na fotografia, são os laços invísíveis que havia..."

Pra mim família simplesmente teve um significado muito mais forte que aquele laço genético que a gente tem com outras pessoas.

Até porque, considero família grandes amigos que são essenciais pra mim, enquanto tenho certos parentes que não tenho vergonha de falar que não são família.

Família é aquele laço invisível. Com muito amor e amizade, e mesmo que tenha brigas (que sempre tem), o laço sempre nos faz manter unido.

Ah, esse laço! Esse laço tão maravilhoso e inexplicável. Esse laço que nos prende com a saudade quem está longe de nós, que nos faz pensar em alguém ao tocar uma música velha no rádio, ou que nos faz fazer loucuras só para chamar atenção dessas pessoas.

É, família: só percebemos o quanto faz falta quando estamos longe, pois perto nos parece tão "natural" vivermos com eles ao nosso lado...

***O porque disso que eu to escrevendo não sei... um pouco de nostalgia ao ver fotos antigas e pensar em momentos passados.

Faz parte do meu show...

Em nossas brigas se escondem nossas mais lindas declarações de amor...

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Bicicletai!

(Antonio Prata, publicado no Guia do estadão)

Um dias desses, evidentemente, tudo há de dar certo, os automóveis se extinguirão e a superfície da terra será povoada apenas por bicicletas. Alguns carros, ônibus e caminhões serão expostos nos museus, feito mamutes, guilhotinas e outros monstros findos, para divertir a criançada e alertar os adultos: que o horror jamais se repita. Sobre selins acolchoados, seremos felizes para sempre.
É inegável a simpatia das bicicletas. Máquina desengonçada: se parada, destrambelha-se como um albatroz em terra, mas ao impulso dos pedais, projeta-se como uma flecha, esguia, impoluta e silenciosa. Bicicletas, ninguém pode negar, são irmãs dos guarda-chuvas, primas das girafas e parentes distantes dos abacaxis (não me peça para explicar, foi uma idéia que tive agora).
Durante todo o século XX, muitos artistas aproveitaram-se de seus encantos. É pedalando que vemos quase todo o tempo monsieur Hulot, personagem do filme Meu Tio, utopia lírica de Jacques Tati. Marceu Duchamp, depois haver exposto um mictório no museu, enfiou uma roda de bicicleta num banco de madeira e deixou as velhas noções sobre arte – literalmente – de pernas pro ar.
É impensável um facínora de bicicleta, inconcebível um ditador pedalando. As “máquinas da paz”, como as chamou Vinícius de Moraes, em sua Balada das meninas de bicicleta, são muito mais afeitas aos suaves cuidados das moças: “Bicicletai, meninada!/ Aos ventos do Arpoador/ Solta a flâmula agitada/Das cabeleiras em flor”.
As bicicletas são um indício de civilização. Recomendadas por ecologistas, urbanistas, cardiologistas e artistas, têm logo de entrar na agenda política. Ainda não vi nenhum candidato expor, no horário eleitoral, seu projeto nacional de bicicletização. Se aparecer algum, ganhará de imediato meu apoio.
Se Deus voltasse à terra e dissesse, “me mostrem aí o que vocês fizeram”, teríamos de levá-lo imediatamente a Amsterdam, para um passeio ciclístico, em torno daqueles belíssimos canais. Ou então ao Rio de Janeiro. Pegaríamos Deus no Santos Dummont (vindo do céu, é de se supor que chegará de avião) e O colocaríamos na garupa. Cruzaríamos todo o aterro, pedalando sem pressa, sob o sol ameno das quatro e meia da tarde. Passaríamos pela estátua de Drummond em Copacabana, veríamos as garotas saírem do mar em Ipanema e terminaríamos o passeio no Leblon, com um mergulho no mar e um suco de melancia, no exato momento do sol se pôr. Se Deus tiver um pingo de sensibilidade, estaremos todos salvos.

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Hurt, Johnny Cash

I hurt myself today to see if I still feel
I focus on the pain, the only thing that's real.
The needle tears a hold, the old familiar sting
Try to kill it all away but I remember everything
What have I become, my sweetest friend
Everyone I know goes away in the end
And you could have it all my empire of dirt
I will let you down, I will make you hurt
I wear this crown of thorns, upon my liar's chair
full of broken thoughts I cannot repair
Beneath the stains of time the feelings disappear
You are someone else, I am still right here
What have I become, my sweetest friend
Everyone I know goes away in the end
And you could have it all, my empire of dirt
I will let you down, I will make you hurt
If I could start again, a million miles away
I would keep myse lfI would find a way

sábado, 16 de junho de 2007

O amor é filme?

O amor é filme
Eu sei pelo cheiro de menta e pipoca que dá quando a gente ama
Eu sei porque eu sei muito bem como a cor da manhã fica
Da felicidade, da dúvida, dor de barriga
É drama, aventura, mentira, comédia romântica
O amor é filme
Eu sei pelo cheiro de menta e pipoca que dá quando a gente ama
Eu sei porque eu sei muito bem como a cor da manhã fica
Da felicidade, da dúvida, dor de barriga
É drama, aventura, mentira, comédia romântica


Um belo dia a a gente acorda e hum...
Um filme passou por a gente e parece que já se anunciou o episódio dois
É quando a gente sente o amor se abuletar na gente.
Tudo acabou bem, agora o que vem depois
O amor é filme
Eu sei pelo cheiro de menta e pipoca que dá quando a gente ama
Eu sei porque eu sei muito bem como a cor da manhã fica
Da felicidade, da dúvida, dor de barriga
É drama, aventura, mentira, comédia romântica
É quando as emoções viram luz, e sombras e sons, movimentos
E o mundo todo vira nós dois, dois corações bandidos
Enquanto uma canção de amor persegue o sentimento
O Zoom in dá ré e sobem os créditos
O amor é filme e Deus espectador!
"- A gente devia ser como o pessoal do filme, poder cortar as partes chatas da vida, poder evitar os acontecimentos!Num é?!?!"

O amor é filme, Cordel Do Fogo Encantado

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Primeiro Outramento (cinco anos depois)

A primeira postagem desse blog foi dia 15.06.07. Re-escrevo o primeiro Outramento mais de cinco anos depois. Durante todo esse tempo, várias vezes se pensou em deletar esse blog e começar outro, simplesmente abandoná-lo, ou fazer como se faz quando muda de casa: joga fora aquilo que não serve mais, leva contigo aquilo que ainda vê pertinência. Optou-se por fazer uma faxina. Limpou aquilo que não serve mais (jogou para debaixo do tapete, preservando na forma de rascunho que ninguém vê), reformou uma coisinha ou outra (só detalhes, pois considero interessante deixar o texto da forma que foi escrito).

O blog fica, e continua sendo um espaço de outramento - tornar-se outro, outra. Um espaço sempre receptivo para reflexões cotidianas, confissões que não tiveram lugar durante o dia, segredos na forma de personagens e até mesmo invenções da própria vida e da vida alheia. Vale ressaltar que apesar de trazer elementos do dia a dia, isso não é um diário, pois não busca ser fiel a descrição dos sentimentos, ações e reflexões, mas partir deles para outro lugar. Por isso, outramento.
 
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