"Adelante corazón, sin miedo a la derrota,
durar, no es estar vivo corazón, vivir es otra cosa."
Mercedes Sosa
Um ano depois que eu nasci, declararam o "fim da história". Eu não sabia disso quando comecei a ver que algo havia de errado no mundo. Não passou nem dez anos e fizeram a novela "Fim do Mundo". Eu acho que naquela época já via que tinha um ou duas, talvez várias, coisas fora do lugar. Foi só na Universidade que tentaram me explicar sobre o tal "fim da história". Esquisito. Tentaram fazer o mesmo com a "classe trabalhadora", com "esquerda e direita" e tantas outras coisas.
Eu sou dessa geração que teve só com sorte a oportunidade de ver um grupo de mil pessoas reunidas por um motivo comum que não envolvesse algo de religioso, futebolístico, uma atração cultural ou algo sendo distribuído de graça - ou seja: pouquíssimas ou nulas experiências em grandes manifestações, assembleias, greves, coisa do tipo. Sou daquela geração que, dos poucos que viram mil ou mais reunidos por um motivo comum, alguns dias depois - e às vezes no mesmo dia - aquele grupo já havia se tornado mil e dois.
Eu sou dessa geração que aquilo que sabe dos movimentos de massa é a partir das falas e de livros e documentos e filmes produzidos por outra geração. Eles - da outra geração - dizem que essa coisa, de movimentos de massa, de classe trabalhadora organizada, existe e eu acredito (acreditar não é a palavra correta, pensando bem. não é pela crença, não é pelo credo, pela fé. eu fui convencida de que é isso, ou não será, a possibilidade de acertar as tais coisas fora do lugar, que com o tempo fui entendendo melhor do que se tratava, e essa coisa de gostar de fim do mundo nunca foi lá meu tipo).

Da infância, eu sou dessa geração que pegou a transição: dos brinquedos de madeira aos eletrônicos. Da rua para o apartamento. Do atari para o playstation. Dos botões - aqueles de jogar futebol - aos botões - aqueles da máquina digital e tantos outros aparelhos. E desde ontem, o tal 14N (primeira greve geral do século XXI ocorrido em quatro países da Europa, e mobilização em cerca de 23 países), passei a ter mais confiança que posso ser da geração que pegou a transição de um período sombrio para um possível ressurgimento de grandes lutas das massas.
E quem sabe, daqui a uns anos, eu poderei dizer que eu fui da geração que definitivamente calou Fukuyama e tantos outros sociólogos, psicólogos, antropólogos e sei lá o que mais, que se apressaram em enterrar aquilo que jamais morrerá - a história. Que quiseram calar aquilo que é impossível de ser calado. Porque faz umas boas centenas de anos que tem um espectro que ronda a Europa - e todo o mundo - e este não sossegará, passe por quantas gerações tiver que passar.
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