A certeza que não tem
Estão nos olhos, mãos, pés e coração de seus companheiros.
Ela enxerga e isso acalenta.
Acalenta, mas dói por não encontrar em si tal certeza.
Ainda assim,
Seus passos incertos seguem pisando o caminho firme.
Seus companheiros insistem em fazer do caminho incerto
Um caminho firme pra ela pisar.
.
É, companheira, não é sempre que dá. Hoje não deu. Não é fácil mesmo, essa coisa de seguir em frente, quando nosso mundo cotidiano parece nos empurrar o tempo todo pro chão. Todo dia. Temo dizer que pra poucos seja, coisa fácil.
Talvez um dia, que não será amanhã nem em tão pouco tempo, pessoas falarão - e talvez nem estaremos aqui pra dizer ou escutar - sobre esse período de trevas que atravessamos. Talvez um dia a gente entenda que não é natural viver em uma sociedade doente e que pra conseguir isso todos nós somos obrigados a adquirir uma força brutal cotidiana.
É preciso resistir
o preço da comida que sobre no mercado
o preço do bilhete da passagem que sobe
a especulação que faz o preço do aluguel da casa subir
o preço da escola das crianças que sobe
o trabalho precarizado que não acompanha tudo que sobe
a fila do hospital sem sabonete
o sucateamento da universidade
o medo de voltar pra casa
o tempo limitado que sobra pra amar
a medicalização de nossas angustias diante disso tudo
a ameaça de morte,
o terror psicológico,
a prisão e repressão daqueles que buscam resistir coletivamente.
É preciso resistir, mas nem sempre dá.
.
A verdade, companheira, é que você não pode fugir da luta. Ela está intrínseca a tua realidade e condições objetivas.
Talvez para tuas colegas de faculdade seja uma opção ideológica. Escolha teórica metodológica. Não pra ti. Viver é uma luta - e tu pode até optar, em fazê-la coletivamente ou não, mas não dá pra fugir.
Não dá.
Mas hoje você tentou.
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