domingo, 11 de outubro de 2009

pequenos grandes prazeres.

POESIA & CERVEJA


há dias pedi mentalmente por mais poesia. em tempos corridos, essas coisas nunca vem de graça. assim, a tive em troca de uma noite de sono: cerveja e poesia na madrugada.
as leituras variadas, com entonações e alguns engasgos - palavras desconhecidas e emoção - vinham acompanhadas de lembranças de amores passados e pressentes.
todas as lembranças de todos os que lá estavam vinham acompanhando a dança das fumaças de cigarro e o movimento das pessoas trocando de lugar.

a leitura da poesia vem acompanhada de resgate. sentir e lembrar. sentir para lembrar. um romance que passou, que existe. um romance que existiu apenas no desejo de existir. poesia é sentida através da identificação de experiências.

"Amanhã esquecerás que eu te pus num pedestal,
que incendiei de amor uma alma livre,
e os dias vãos – rodopiante carnaval –
dispersarão as folhas dos meus livros...
Acaso as folhas secas destes versos
far-te-ão parar, respiração opressa?

Deixa-me ao menos arrelvar numa última carícia teu passo que se apressa."
[Maiakóvski]

VIDA & POLÍTICA
Reunião sexta à noite. "Programão" - disse, repetidas vezes entre amigos, momentos antes de enfrentar o tal compromisso burocrático de sexta, às 22h30.
De fato, foi um programão.
"Tudo é político" - dizem aqueles quando tornam-se conscientes de que suas ações, pensamentos e discursos refletem em uma postura que diz de sua leitura do mundo.

Os que não se deram conta disso ainda, passam a chamá-los de burocratas, reduzem a meros "comunistas-marxistas-que-pregam-o-socialismo-mesmo-sabendo-que-ele-não-funciona." (senti um aperto de reproduzir esse discurso até, he).

De fato, existem os burocratas-e-só-isso.
De fato, existem aqueles que acham que basta vestir uma camiseta de algum partido e se dizer socialista, marxista-leninista que tá tudo certo ("agora sim, sou um homem de consciência").

No entanto, existe algo maior que isso. Algo do não-dito, uma potência gigante que fica no ar, quando pessoas se encontram pra fazer algo. Pra quem vive isso, é algo prazeroso demais. Sentir-se útil. Sentir-se participante. Atuante. Implicado com a vida.
É difícil de explicar.
Parece até ingênuo e, para quem não vive, logo resmunga: "pensam que vão mudar o mundo com isso?". É engraçado como, quando se conclui que determinado ato não vai mudar muita coisa, as pessoas largam o projeto... pra ver tv!

Mas enfim, não vim falar disso, do não-isso, vim falar do isso: projetos que fazemos, que não vem ao caso mudar o mundo ou não, mas mudar algo. Não somos um grupo - embora sejamos também. Somos várias pessoas, que carregam algo no olhar, nas formas de se relacionar, nas formas de se colocar no mundo, nas formas até de tomar cerveja num sábado a noite.
Não é um "clubinho", que precisa de senha pra entrar.

Pode-se dizer que é a quebra dos clubinhos. Pessoas que buscam se libertar de identidades, somos-isso-e-mais-que-isso. Aqui se diz "pode entrar, não precisa de senha nem pré-requisito. aqui sua liberdade começa quando começa a do outro".

Encontrar pessoas. Fazer projetos. Desafinar o coro dos contentes. Se o mundo vai mudar, se a revolução vai ser amanhã, eu não sei. Só sei que essas conversas, esses encontros, essas ações dão mais significado pra vida do que qualquer outro programa de sexta à noite. E com essas pessoas, ir a um bar ou sentar na Avenida Paulista falando de coisas ou ler junto poesias torna-se um ato político.
Com essas pessoas, viver torna-se um aquecimento, uma prévia, um gostinho do que seria o tal do outro mundo.

Um comentário:

cesar disse...

e é, belezura. o dia em que a gente conseguir mostrar e replicar aos outros o quanto se entender ser-político e as micropolíticas que permeiam nossas relações |e o sistema que nos organiza|, aí sim a gente vai estar preparado pra esse mundo novo. esses dias no congresso dos estudantes da ufpr, a direita tava tão enfraquecida que quase não existiu. e aí as forças da esquerda, que se uniram muitas vezes contra a direita ou a reitoria ou algo assim, começaram a se destruir, entre elas. e começaram a fazer uma discussão intelectualóide acerca do marxismo. até que eu gritei: 'marxismo não se aprende com sermão'. bom mesmo é |||mostrar||| que a gente pensa diferente. :) senão não dialoga, mâno. hahaha

 
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