"Sob a alegação de que estavam em jogo interesses do conjunto da Nação, o Estado brasileiro primeirorepublicano não agia com sutileza disciplinadora para garantir a ordem pública. Ao contrário, não hesitou em valer-se, até a náusea, da polícia para imobilizar os indesejáveis. Este fato põe em questão a tese segundo a qual, no marco das greves operárias do primeiro período republicano, a ineficácia das medidas punitivas e policialescas de controle da força de trabalho teria levado à introdução de tecnologias de adestramento e controle nas fábricas e de gestão científica da miséria lideradas por médicos: higienização dos corpos e das casas populares; imposição ao povo de normas familiares burguesas; apropriação da infância pobre pelo saber médico; expansão de instituições disciplinares como hospícios, reformatórios e escolas. Todo esse período foi marcado por um sem-número de exemplos de brutalidade repressiva, orientação professada pelos governantes, apoiada por industriais e fazendeiros e muito bem resumida pelo presidente Washington Luís (que fora Secretário da Justiça e da Segurança Pública do Estado de São Paulo) quando definiu a "questão social" - que era como então se chamavam os conflitos sociais - como "caso de polícia"." (Patto, Ciência e política na primeira república: origens da psicologia escolar)
E os estudantes anotam, comportados em suas respectivas carteiras:
"prii...meei...ra república: (troca de caneta) pe-ríiodo de higienização / repressão."
A gente aprende a nossa própria história como se fosse a literatura de Shakespeare. Falamos das nossas próprias marcas, de toda nossa repressão, de tudo que apanhamos como se falássemos de um lugar isolado, uma cidade fictícia, criada por algum escritor criativo.
A Academia vive no alto de uma montanha. Observa a tudo, distante, esperta, como se não fosse com ela. Com isso, reforça uma grande burrice: burrice para nós, que queremos mudar. Esperteza para eles, que querem manter.
Aula de educação.
Estudamos sobre algo que vivemos. Estudamos toda a desgraça, estatisticamente, intelectualmente. Tudo aquilo que alguns protestam, o professor fala na frente da sala de aula.
Os que costumam protestar, em um momento de esperança pensam:
- agora essa galera vai se tocar. agora, que o professor vai falar de paulo freire e outras pessoas que servem de referência pra botar em camiseta ou perfil de orkut, falar o que esses caras falam de educação, agora a galera vai se tocar.
E a galera anota em seus cadernos "precarização da educação", "conceito bancário de educação", "neoliberalismo".
Hora do almoço.
Fecha o caderno.
À tarde vai estudar Terapia Cognitivo Comportamental pra prova.
Não vê a hora dessa aulinha marxista acabar.
Esse negócio de criticar o mundo é chato demais, né.
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
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