domingo, 11 de agosto de 2013

Casa Perfeita do Casal Imperfeito

Deliciosa as tardes naquela casa dos fundos, naquele bairro longe, daquela cidade vizinha. Eles não eram perfeitos, e tinham lá seus problemas... mas de alguma forma, conseguiram construir uma casa e uma vida muito bonita juntos. Garantindo a individualidade de cada um, reconheciam que suas vidas estavam misturadas, as contas, as roupas - ele com a camiseta dela e ela com a cueca dele, a rotina que um ajudava o outro a lembrar e a comida... ah! A comida.

Almoçávamos e conversávamos, às vezes também simplesmente ficávamos em silêncio. Eles preparando e às vezes lembrando de alguma coisa que precisava ajustar na casa e fazendo uma breve conversa agradável sobre isso. Eu ficava assistindo, como quem assiste a uma série preferida na TV. O jeito que ele pegava a cebola na geladeira de um jeito que pudesse de alguma forma passar pelo corpo dela e mostrar que a deseja. O jeito que ela o abraçava por trás enquanto ele preparava o molho, para ver como estão indo as coisas “do lado dele”. Às vezes consultavam a receita na internet. Cada vez que ia visitá-los era um prato novo.

Fazia calor. Fazia calor naquela cidade quente, e fazia calor porque aquela casa, com aquele amor torto – e torto porque não era convencional, mas era inquestionavelmente sincero – meu coração se aquecia e eu tinha esperança de um dia talvez viver aquilo com alguém. Muitas vezes eu não gostava do prato que eles preparavam – era muito fresca com comida. Mas quando estava pronto eu resolvia que iria comer um pouco por educação, e quando comia era tão gostoso. Eles faziam eu gostar de coisas que eu normalmente acharia desprezível. Passas. Salada com manga. Mandioquinha. A vida com alguém.


Eu comia aquelas refeições com tanto gosto, como se quisesse engolir a comida toda, a casa deles, a vida deles. Eu não queria trocar de lugar com nenhuma das partes. Eles eram essencial para aquilo ser do jeito que era. Poderia trocar a minha vida de personagem para me tornar uma espectadora da vida deles. Ser platéia para o resto da vida. Era porque ali não tinha idealizações e imperfeições eram permitidas, era porque não havia expectativas inatingíveis, era porque ali havia um espaço de resistência frente ao mundo selvagem lá fora que aquele casal parecia tão perfeito. O amor, puro.

2 comentários:

Kartejane Del Santo disse...

lindo como sempre... sensível... e faz-me viajar como se fossem meus olhos...consigo imaginar casa grão de arroz.. consigo imaginar tudo... lindo

Danny disse...

Muito lindo, parece que estou na cena tbm!!

Parabéens!

 
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