Na cama, dois estranhos num elevador. Parece ruim, não é. Surpreendente, talvez. Rápido demais? Ou tarde demais? Havia algo de errado com o tempo, que passava lento e rápido, apressado e atrasado e nossos corpos curiosos e cansados de tanta espera mas ao mesmo tempo tão acostumados e estranhando aquilo tudo. Talvez não era eu. Não era você. Não era nós. Talvez éramos estranhos até para nós mesmos. Aquela cama não se reconhecia naquele espaço. Estranhava aquilo tudo, nos expulsava. Antes do dia seguinte, na hora seguinte, a vida seguia como se nunca tivesse existido um "nós".
Hoje penso: encontros acidentais na rua. Talvez a única forma de te ver. Penso pra quê. Meu interesse por ti não é romântico. Talvez seja pior - mais grave, algo assim -, existia um interesse pelo teu lado humano. E teus ombros não
suportaram a nossa história. Preto no branco, certo e errado, fez o
que achava que tinha que fazer. O mais aceitável, que curiosamente é
o mais desumano. Então foi, da forma mais bruta que tantas vezes
temíamos e nos comprometíamos a não fazer. Aliás, nosso único
compromisso: não sair dessa forma, da vida um do outro.
Antecipaste a nossa
despedida, que estava colocada como possibilidade – se fosse
acordado por nós dois que assim seria melhor. Com medo de viver algo
novo repetiu velhas histórias, grandes clichês, clássicos modelos
de humanidade desumana. Tornou nosso romance sujo, antes tão
enfeitado com sucos e canudos e Machado de Assis e tardes em São
Paulo e Natal, com toques sutis de submundo, com sua amiga prostituta
ou mesmo nossas pequenas aventuras.
Existe uma vontade de reajustar essa história. Não por ti, nem por mim, menos ainda por nós. Algo de acertar as contas com a vida, coisa assim. Enquanto isso, sigo botando concreto e asfalto ou areia do mar no abismo que construiu rapidamente depois desse nosso atravessamento impulsivo. Quem sabe a gente se vê.
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Lindo...
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