quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Mas tudo flui melhor quando se aprende a canibalizar as leituras.

"O cotidiano transborda em políticas. E eu bem sei que com essa frase bonita não se
descobre a pólvora. É o que se diz: “todo mundo sabe disso”! Então, o que falta acontecer
para que as coisas aconteçam? Todos os dias, a violência arromba a tranqüilidade dos portões
das universidades, que já passam da hora de aprender a ouvir (e falar) as linguagens das ruas,
povoando-as, contribuindo efetivamente para sua produção."

"No percurso da formação, tudo é fragmentário e instável, mas nem por isso há
falta ou incompletude. No entusiasmo do encontro com um novo pensamento, com a
inquietação gerada por falas inesperadas, na quase inevitável raiva provocada pela
impossibilidade de discutir, já alertada em certos Diálogos, nada forma um sistema ou corpo
coerente, unitário. É muito mais um mosaico, um caleidoscópio, um rizoma isso a que
chamamos formação. Se é o desejo que a move, ela volta e meia muda de direção antes que
tenhamos tempo de concluir algo que até a pouco era a razão de tudo."

"Vamos aos atos: queremos pesquisar como quem busca a cor não vista; ensinar como
o artista em performance; aprender como discípulo de acordes novos... Conhecer como o
poeta, a vida. É preciso lembrar que as ciências são artifícios de verdades (e não instrumentos
da Verdade), para recuperar seu potencial de criação de outras sensibilidades: novos olhares,
novas escutas, novas falas... Façamos ecoar a voz de Glauber: “sem linguagem nova não há realidade nova”. O que estamos a fazer repetindo os manuais, cultuando os métodos, arrotando saberes de ontem, enquanto a vida e a morte acontecem à revelia da impostura acadêmica? Quando o saber se torna mercadoria, é preciso dizer que a ciência nunca foi senão arte. Quando falar “educadamente” se faz inócuo, é preciso não esquecer que sabemos cantar. “Por uma vida menos ordinária que pintamos o chão”. É hora de se apropriar do expediente do poeta. Talvez assim tenhamos condições de inventar outra história para o lugar em que atuamos, qualquer que seja."

"Tem gente caindo de tão tonta que está por rodar em torno de si procurando o que dizem estar sempre atrás (nauseante a ausência de vírgula?). Esta é a sina da massa diplomada e graduanda-gradeada que se acumula em cada parte. Não são poucos os anjos sodomitas que fantasmeiam às nossas costas. Mercado, Currículo, Reputação, Histórico, Salvação, Moral, Punição, Recompensa,
Liberdade, Saúde..."

"Foi bem por acaso que aprendi a pensar de outras maneiras. Mas é preciso estar atento
para acompanhar o acaso, para pegar o acontecimento, viver com o caos. Talvez se o tempo
e a energia dissipados em procurar/estabelecer a ordem ou a razão das coisas fossem
dedicados ao aprendizado intenso de lidar com o impensado, o imprevisível, o inclassificável,
o intempestivo, enfim, o que extravasa o já sabido, talvez assim a impotência diante do
inaceitável fosse exceção à regra."

"Ao início do texto a vontade era de armá-lo com citações as mais seletas. Mas tudo flui melhor quando se aprende a canibalizar as leituras. Aí a citação é quase dispensável, ela já está lá, incorporada à própria escrita, já com a marca do encontro, da diferença entre o escrito e o lido. Aqui não há pretensão de posse das idéias. Pensamento que tem dono é idéia morta. Original é a relação. “Fundamental é mesmo o amor” no que se faz, “e é impossível ser feliz sozinho”"

Texto de Eder Amaral e Silva. "A quem interessar possa: breve elogio à formaçao rebelde."

...para quem tiver vontade de ler na íntegra (e eu super recomendo), clique aqui.

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