sábado, 10 de outubro de 2015

caminhada

desfaz a mala
refaz a casa
fazer do lar estrada
jeito de quem tem 
o peso da vida nas costas
e a sua leveza no peito
canta como quem
anda quase sem
destino
canta como quem
anda quase só
desejo
jeito de quem tem
a vida leve nas costas
e o seu peso no peito.
refaz a mala
desfaz a casa
fazer do lar estrada
fazer da vida
viagem sem volta

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

sobrevivência, sobre-vivência

o peso é pra poucos
que aguentam
dividir o peso
ser leve
pra quem quer
ser breve
pra quem gosta
de gente alegre
que o peso é pra poucos
que aceitam
ver o lado fraco
melhor ser forte
pra não incomodar
contar com a sorte
pra não perturbar
aqueles que estão ao lado.
que o peso é pra poucos
que aguentam
sentir o triste
sorrir
pra quem não quer
sentir o peso
pra quem quer
ficar ileso.
"tudo bem? tudo bem"
e o silêncio.
até o peso passar.

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Hora do almoço

Famintos
Degustar sabores 
Explorar sentidos
Paladares, suores e odores
No copo, a cerveja
No corpo, texturas
Comer dispostos
Sentir gostos e fissuras,
Devorar estradas tranquilas
Traçar caminhos urgentes
Tua lingua, minha lingua
Desbravam seios, pernas e dentes.

terça-feira, 17 de março de 2015

Violência Compartilhada

Ontem o clima geral foi de medo.
Anunciaram mortos. 
Falaram de assalto.
Houve alguns, é fato.
Mas só virou notícia
Porque o clima geral era de medo.
E era preciso notícia
Para dar sequência ao pavor.
Até que descobriram
"Não era verdade! Era boato!"
Era apenas a bala de todo dia.
Da violência de todo dia
Era bala que se cala
Em todo lar
(que não é da periferia)
E a cidade foi dormir em paz.

terça-feira, 10 de março de 2015

maldita

desterritorializada,
ousada e sem freio,
passou os limites
da lei e da ordem,
esparramou-se
por todos os lados;
fagocitou
todas as coisas.
adentrou-se no cheiro, 
no carro, no sábado, 
até na água que bebi
(dentre outros ofícios banais)
passado curto
presente ausente
gritou então saudade
do futuro da gente.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Dor elegante.

É seca. Sem cor e quase que sem dor. Acompanha durante o dia, como um ruído chato daqueles que fica depois de ouvir música muito alta. Tuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu. Assim. E mais. Tuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu. E assim fica, por horas e horas, dias. Parece uma eternidade mas não faz nem uma semana. Fica ali, acompanhando e incomodando, o tempo todo. Quando fica consciente, incomoda mais ainda. E começa a pensar, nessa tristeza. Aí vem a lágrima. Curta e seca. Logo se permite parar.

Terceira ou quarta grande desilusão amorosa. Sofreu mesmo duas vezes. Depois endureceu e hoje apenas formaliza, como o médico que declara a morte do paciente, já acostumado com o procedimento sem quase sentir mais.

- Hum. Acabou.

E apenas permite sentir, por alguns minutos, deitada na cama, aquela sensação de mundo caindo, acabando, entrando em colapso. Mas apenas fica com um olhar morto, deitada na cama. Sem mais choros doloridos, desesperados, inconformados. Apenas fica ali, deitada, olhando para o teto e pensando "logo passa, logo passa". Age como uma senhora frígida que diz a criança que quer começar a sofrer desesperadamente: "você vai sofrer uns dias, mas logo vai passar. as coisas são assim, tem fim, e essa história chegou ao fim. daqui uns dias não vai significar mais nada".

Depois levanta e segue a vida, os olhos um pouco marejados e com aquela tristeza seca e permanente. Uníssona. Tuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu. Até que alguma memória arrombe o peito. Sorriso. Uma música. Uma conversa. Um cheiro. Um orgasmo. Assaltam a memória sem pedir licença, sem culpa, sem rodeios. Arrebatam da pior forma. O mundo cai de novo, por alguns instantes. Deixa cair uma lágrima - a rua do hotel deixou cair cinco, e um soluço de tristeza. Ninguém entendeu, porque sequer teve chance de contar do amor, tampouco falaria do desamor. Resta sentir de forma solitária e não compartilhada.

São momentos curtos. Não duram nem dois minutos e logo segue com outra tarefa, com aquele olhar morto de metrô, como se tivessem lhe roubado a vida, a alma, e só resta a carcaça, que segue fazendo as coisas naquela sobrevida de merda. É tanto sentimento que transborda que fica sentimento algum. Como quando todas as cores geram o branco. De tanta luz, virou branco. Branco. De tanta canção, ficou uníssono. Tuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu. E as lembranças tão carregadas de poesia ficaram manchadas por um fim torto. O ato mais covarde dos atos roubou qualquer tristeza que pudesse vir acompanhando de canções e poesias. Deixou formal e sem gosto.

E então não restou nada. Apenas esse ruído chato e irritante e algumas memórias que tentam dar um golpe de estado e fazer algum sentimento aflorar. Mas é tudo branco e uníssono. Não tem mais sentimento. O amor morreu dentro de mim e agora não tem pra ninguem. Levou um tiro mas não quis fazer alarde. Pediu licença ao patrão por telefone, entrou em recesso, e foi se guardar em silêncio, machucado, ferido. E fica essa tristeza seca, sem cor, quase que sem dor, e uníssona. Tuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu.



quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Desamor

Amar é bom
Triste é o desamar.

Envelhece.
Embrutece.
Endurece.

E o que era cor vira cinza.
Ruas e canções ficam proibidas.
E o silêncio da mágoa ressoa
como uma canção irritante
que insiste em ficar na cabeça.

Amor não é bom se doer.
Amor é quando o corpo sorri e goza.
Aquilo que dói é desamor
Que vem e finca sua bandeira.
E só sai quando não restar mais nenhuma gota.



domingo, 21 de dezembro de 2014

Distração

desapercebida
eu, despida - pra ti
nós, despedida.
 
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