sábado, 26 de dezembro de 2009

Band-Aid no coração

(...) Andei amando loucamente, como há muito tempo não acontecia. De repente a coisa começou a desacontecer. Bebi, chorei, ouvi Maria Bethânia, fumei demais, tive insônia e excesso de sono, falta de apetite e apetite em excesso, vaguei pelas madrugadas, escrevi poemas (juro). Agora está passando: um band-aid no coração, um sorriso nos lábios – e tudo bem. Ou: que se há de fazer.
[Caio Fernando de Abreu]

- E você, por que desvia o olhar?
(Porque eu tenho medo de altura. Tenho medo de cair para dentro de você. Há nos seus olhos castanhos certos desenhos que me lembram montanhas, cordilheiras vistas do alto, em miniatura. Então, eu desvio os meus olhos para amarra-los em qualquer pedra no chão e me salvar do amor. Mas, hoje, não encontraram pedra. Encontraram flor. E eu me agarrei às pétalas o mais que pude, sem sequer perceber que estava plantada num desses abismos, dentro dos seus olhos.)
- Ah. Porque eu sou tímida.

[Rita Apoena]

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

the grinch

é um problema: eu não gosto de natal. há tempos essa data me angustia, me irrita, me deixa brava. antes eu simplesmente achava chato. esperava passar, tipo gripe chata.

nos últimos anos, é uma coisa que começa a existir certa atividade de ódio. existe um gasto de energia em odiar o natal e cultivar um anti-espírito natalino.
eu adoro presentear pessoas, mas não em um dia que todas as lojas estão cheias de gente querendo presentear pessoas. e gosto de caminhar e achar uma coisa pra alguém que gosto e poder comprar. e gosto de pensar em algo que alguém gostaria de ter e dar. mas não ter que pensar e pensar no que dar pra alguém porque é dia de presentear as pessoas.

e se presenteia um, tem que presentear outro e outro e outro. e tudo o mesmo preço, mais ou menos, obviamente. não queremos que o dinheiro diga o quanto você se importa mais com alguém.

além disso, temos que arrumar a casa, receber pessoas. preparar comidas grandiosas e bonitas. e comer, comer muito muito! viva a burguesia. a falsa e a verdadeira - sobretudo, a falsa.
todos hipócritas, botando quilos e quilos de máscara.

é tempo de comer muito.
é tempo de presentear quem você ama - e ai se você não dá nada, que falta de consideração!
é tempo de fazer algo bom pra alguém - aproveite esses dois dias.

odeio o natal. e odeio esse ódio clichê de natal. mas dentre esses dois, prefiro cultivar o primeiro.
a minha busca esse ano é procurar pessoas que gostem dessas festas. porque se todo mundo arma todo esse circo a toa, aí sim eu vou ficar realmente p...!

.
.
.
.
boas festas pra todos.

domingo, 20 de dezembro de 2009

simples assim

um dia sou eu e a mala, em uma cidade nova. tenho uma chave, que dá pra um apartamento.
o meu apartamento.
e de repente sou eu, a mala, a cidade nova, a chave, o apartamento...sozinha?

olho pro lado...e lá tem pessoas.
companhias pra estudo, refeições, choros, risos, filmes, discussões, cerveja.

isso tudo pra dizer que a vida é torta, que a vida não é linear e não há burocracia que descreva. depois que eu e a mala fomos pra tal cidade nova, frequentemente nos deparamos confiando em pessoas que recém conhecemos: pra entregar alguma coisa, pra entrar na sua casa e, de repente, até pra morar com você.

um dia sou eu e a mala.
um calor infernal.
de repente, olho pro lado...e existe uma família ali.

sábado, 19 de dezembro de 2009

acho tudo muito chato.

coisas do coração
quanto mais me distancio do objeto de gosto, mais me aproximo do gosto por gostar. crio fantasias, imagino presentes, poesias e discursos maravilhosos.
e assim, o objeto vai ficando grande, grande, grande... até que volta a ser real. nessa hora ele parece menor, agora em seu tamanho de origem. sem graça.
às vezes eu prefiro ficar com os sonhos, com a minha idéia do outro.
me envergonho desse meu lado platônico gritando tão alto. mas confesso que ele grita e grita muito agora. mas logo logo, o objeto real surpreende na vida real, quando ele bem entender.

o problema é quando o objeto de gosto não sabe que está sendo testado pelo meu platonismo.

o mundo anda tão complicado
eu não sei a quanto tempo existe o homem. mas dizem que faz um bom tempo. é difícil dizer quanto tempo é muito tempo. partindo do que einstein dizia, sobre relatividade do tempo, imagino que poderia comparar o tempo do homem com uma aula do eixo biológico.
pensando assim, posso afirmar que faz muito tempo que o homem existe.
o homem existe há muito tempo e nesse muito tempo fez muita merda. mas quando eu digo muita, eu digo muita mesmo. essa coisa de quantidade, creio que einstein não pensou muito. foi algo mais pra quem começou a inventar números, pesos e medidas.
bom, o homem fez coisas boas nesse tempo, fez mesmo. existe música, que é o clichê que sempre recorremos pra dizer das coisas boas do homem, sempre esquecendo da perda que tivemos com esse mesmo ganho (viste tamanho coletivo de acordes que também recebeu o nome de música mas que é vergonhoso. cito: calypso).
ok. a gente cria as coisas e a gente pensa. há um bom tempo, o que fez a gente criar tantas coisas e pensar mais ainda. tento calcular quantos pensamentos existem no mundo a cada segundo. isso deve ser algo medonho de se imaginar. se isso pudesse ser escrito, ia ser bem doido.
eu comecei a escrever pra falar de racismo, um pouco. também gostaria de falar de fascismo, um pouco. e um pouco também sobre biotecnologia. mas a introdução começou, e eu resolvi escrever sobre coisas sem muito sentido que foram passando pela minha cabeça enquanto pensava como falar de racismo, fascimo e biotecnologia nesse blog, considerando que eu não escrevo muitos textos por aqui, são mais pensamentos soltos demais.
penso que quero escrever coisas um tanto mais concretas nesse espaço. uns diriam que estou ficando mais materialista, pegando nessas coisa de concreto e querendo construir espaços, he.
talvez, talvez.
o problema é que agora cansei de escrever e não falei de racismo, fascismo e biotecnologia.
mas pretendo falar. é possível que esse blog se torne outro.

mais uma vez.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

vazio literário

sem criatividade pra escrita.
talvez nem pra vida.

quando volto assim, lentinha, escrevendo quase parando, é porque logo mais vem um boom de posts.
sobretudo porque as férias se aproximam.

mas por enquanto, nesse aqui, fica: vazio literário. e não se fala mais nisso.

capitalismo selvagem

Era do politicamente correto é isso aí: Papai Noel precisa entrar em forma, diz estudo de saúde pública
http://noticias.uol.com.br/tabloide/tabloideanas/2009/12/17/ult1594u1870.jhtm
Papai Noel precisa perder peso, reduzir seu consumo de panetone e conhaque e trocar seu trenó puxado por renas por uma bicicleta para tornar-se um exemplo mais saudável para as crianças, disse um estudo de saúde pública australiano.
O médico Nathan Grills, da universidade australiana Monash, diz acreditar que a imagem atual de Papai Noel promove a obesidade (comentário do Editor do UOL Tabloide: "!"), a condução de veículos sob efeito de álcool ("!!") e em alta velocidade ("!!!") e, de modo geral, um estilo de vida pouco saudável ("!!!!"), e que seria melhor se ele fosse retratado sem a barriga grande ("!!!!!") que é sua marca registrada.
Sua pesquisa sobre Papai Noel, que o médico disse ter sido feita em grande medida a título de brincadeira, mas com a intenção de conscientizar o público sobre a saúde, foi publicado na edição de Natal do British Medical Journal sob o título "Papai Noel: Pária da Saúde Pública?"
"Uma figura que é tão conhecida em todo o mundo quanto a de Papai Noel tem o potencial de influenciar pessoas, especialmente crianças, e transmitir a mensagem de que tudo bem beber e ser obeso", disse Grills à agência de notícias Reuters. "É um risco muito pequeno, mas que atinge uma faixa muito grande de pessoas."
Fonte: Reuters

Nota: acho que as pessoas já estão devidamente se martirizando pelo seu peso. emagreceram já a mônica (turma da monica), e agora querem emagrecer o papai noel.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

a violência é tão fascinante, e nossas vidas são tão normais.

primeiro, os berros. xingamentos, gritos. alguns minutos depois...
PÁ.
PÁ.
PÁ.
começa a agressão. viver em sociedade, que maravilha. a modernidade é mesmo uma beleza. amontoados de apartamentos empilhados, com paredes finas que permitem saber das intimidades das vidas alheias. saber de forma compulsória. todos os dias X mulheres são agredidas pelos seus respectivos maridos. uma delas é a minha vizinha do lado. todos os dias X mães bebem e agridem seus filhos. uma delas é a minha vizinha de cima. tudo isso acompanhando de um belo som de fundo, de carros passando, pessoas pisando no andar de cima, vizinha de baixo que molha seu quintal e é claro, música alta de algum andar. às 21h, uma vizinha do andar de baixo assiste a novela. "tã-na-na-na-na-nãam".
TUM
TUM
portas fechando. mais gritos. mais pegadas. mais objetos sendo jogados.
e as vizinhas discutem o escândalo de três estudantes mulheres no prédio "de família". recebem homens direto, ora vejam só! isso é uma vergonha.


...enquanto isso, do outro lado da cidade (onde a classe média - a classe média que ao chegar em casa, quando pensa que ninguém mais vê e ninguém mais ouve nada, espanca suas mulheres e filhos - diz morar a pobreza, aquele grupo de seres humanos em condições inumanas) crianças brincam de "bope", com suas arminhas e escudo. com seu ódio precoce no olhar.

e viva a civilização.


terça-feira, 1 de dezembro de 2009

capítulo um

"não, meu bem, não adianta bancar o distante: lá vem o amor nos dilacerar de novo..."
caio fernando de abreu


estamos sem se falar. todo esse silêncio porque o "te amo" preso na garganta não quer sair. fica um silêncio. quero dizer: TE AMO TE AMO TE AMO. e tenho saudades. e quero você, só você. hoje te quero e só te quero e pra sempre. amanhã, não sei. quem sabe?
só sei que hoje quero você. e que essa distância é insuportável. eu te amo tanto que dá raiva. e te vejo tanto, e penso tanto em você, que me enjôo.
e o "te amo" não sai porque "te amo" é clichê. "te amo" é pouco, é síntese. é síntese do berro que quer sair. é uma sensação estranha, aliás, várias sensações estranhas. todas fazendo uma revolução aqui dentro, querendo explodir pra fora. e explodem. explodem em potência de vida.
você me dá força pra enfrentar essa vida, difícil pra caramba.
eu sabia. eu sabia, desde aquele dia.
nenhuma história de amor começa do primeiro olhar trocado, tirando as paixões a primeira vista (dessas desconheço, mas quem sabe). não sei nem dizer se existem histórias de amor. o amor vem em passagens, momentos em que sente "aquele" negócio.
e eu sabia, eu sabia desde aquele dia.
até então, existia um ar de possibilidade. como aquele ventinho que vem anunciando uma tempestade. mas, desde aquele dia que foi difícil te deixar ir embora. aquele dia que tentei pedir pra você ficar, e não consegui. naquele dia, disse pra mim mesma: lá vem. lá vem. tudo novo de novo. e então. tudo que resta é se jogar nesse salto.

bom é ter você ao lado, apertando forte a minha mão. meu companheiro de montanha-russa-eterna. companheiro para nadar nesse mar sem fim. te acompanho, te acompanho pra tudo. hoje eu te acompanho pra onde você propor. tudo é divertido, é sorriso, é sábadão a tarde de sol.
você é férias, feriado. é tudo e também coisa nenhuma - pois é inexplicável.

ah, linguagem, linguagem maldita. faz a gente querer reduzir tudo a palavras. mas meu amor por você, meu querido, o grito explica muito mais: urgente, alto e quase impulsivamente.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

E é de ti que não me esquecerei...

“Acreditavam no modo como se amavam, e essa crença era mais forte que qualquer natureza, qualquer sinal que o mundo lhes dirigisse para desmenti-los ou ridicularizá-los. Eram arrogantes e modestos, altivos e extraordinariamente prestativos. Não dividiam seus problemas com ninguém – havia algo de mafioso, um espírito de corpo e uma discrição inflexíveis, ditados pelo amor mas avivados por uma espécie de medo da catástrofe, em sua maneira de evitar as infiltrações –, porém o pequeno apartamento de Belgrano R não demorou a se transformar na clínica sentimental, aberta vinte e quatro horas por dia, pela qual acabaram passando praticamente todos os seus amigos. Todos: os que a cada 1º de janeiro lhes vaticinavam secretamente o fim, os que tentavam desesperadamente copiá-los, os equidistantes, que aprovavam o prodígio, mas volta e meia lhes expunham suas ‘reservas’ – e também seus pais, sedentos da clareza e da sabedoria que seus próprios modos de se amar, ao que parece, não estavam em condições de lhes proporcionar. Nunca julgavam: ouviam. Eram amplos, tolerantes, de uma equanimidade irrepreensível. Talvez essa fosse a única coisa da qual, depois de terminadas as ‘consultas’, em particular, eles aceitassem se gabar: monógamos, conservadores, partidários de uma disciplina amorosa que exigia água e ar e luz diários, não lhes custava nada entender os amigos que militavam na facção oposta – paixões efêmeras, desejo insensato, descontinuidade, inconstância –, mesmo quando a ajuda que lhes prestavam fosse inconcebível na direção contrária."
O Passado, Alan Pauls

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

do teatro da vida. da vida do teatro.

- te falei que agora eu sou uma atriz de teatro?
- te falei que minha vida é um palco vazio.
- uuuh. você sempre ganha.
- por que você prefere perder. que estória é...
- perdi vontade. tchau.
- pronto... bela cena. agora volvemos ao diálogo mais comum. tudo bem?
- vou sair. o ensaio vai começar. não gosto de tudo bens, porque nunca tá tudo bem. mas dizer que não tá tudo bem soa pessimista e mau humorada. e eu prefiro guardar esse personagem pra você.
- não há vagas. estou demolido e contido no que se chama corpo. escombros moldados em uma pessoa. sou eu hoje.
- jamais faria peça com você. você rouba cena com seus dialogos intensos, que podem não dizer nada, mas carregam uma tonelada. he.
(pausa)
- agora vou. fumar um cigarro antes de ir pro inferno.
- até lá o serra proibiu?

. . . . . . . . . . . .

- e de suas coisas? teve algo seu que ficou comigo?
- creio que deixei parte do meu orgulho no seu edredon, que sua mãe deve ter botado pra lavar já. a minha dignidade deve ter sido varrida pra debaixo da sua cama... e o amor que a gente tinha, hum. acho que deixei entre seus livros e discos. as únicas poucas coisas que valem a pena no seu quarto, hoje.

domingo, 22 de novembro de 2009

she´s losing it.


"and in the first moment of her waking up
she knows she's losing it, yeah she's losing it
when the first cup of coffee tastes like washing up
she knows she's losing it, oh yeah she's losing
oh yeah she's losing it"
belle and sebastian, she´s losing it

é tempo de fazer coisas grandes que não levam a lugar algum. as pessoas lerão isso e ficarão bravas, talvez ofendidas. sei que não é lugar algum. no fundo, bem no fundo, sei. mas é tudo grande e insignificante demais. pelo menos nesse mundo.

ah. quando escrevo aqui, escrevo sobre nada. ando num vazio só. precisava de férias de mim.
e quantas vezes escrevo isso aqui.
é novembro. tempo de remungar.

- você é estranha, eu não te entendo, mas gosto muito muito de você.
- obrigada, eu acho.

sábado, 21 de novembro de 2009

o menino triste da mulher triste.

quando o conheci, tinha alguns sorrisos guardados no bolso. oferecia de vez em quando, sem muita pretensão de ser aceito. sorria, meio de lado. algumas vezes até deu pra ver os dentes.

hoje já quase não ri mais. o menino triste da mulher triste.
é incrível como uma paixão pode entristecer os olhos de um homem triste.

ele carrega sua mala, que no ombro já parece marcado sob seu formato. a mala pesada, de coisas inúteis. não deixa pra trás, porque já tem pouco o que carregar consigo. o que resta é andar com folhas e documentos supostamente importantes, mas inúteis.

o homem triste da mulher triste. anda, e não se importa mais com a chuva.

"eu me tornei intolerável para mim mesma"

difícil escrever aqui esses dias. foi essa frase do título, frase de Clarice Lispector, que me fez vir aqui. estou angustiada, e isso não passa. é grande e forte, e fica na garganta, o tempo inteiro, não sai.

estou cansada. e essa é a frase que mais me permito falar nesses último tempos. e não é cansaço que dormir passa. que faço eu, então?

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

de desenhista pra psicóloga

- meu, tá foda
- o que?
- eu to muito cansada.
- faz parte do seu show, meu amor.

enquanto eu corro, as pessoas oferecem garrafinhas, paradas pra descanso. uns gritam que não vale a pena. uns ficam na torcida. eu continuo correndo, correndo, ainda sem saber o que que tá do lado de lá. tenho idéias, apenas. e procuro pessoas pra correr comigo.

a preocupação não é com os que mandam parar. é com os que correm junto e tropeçam - existe tempo pra catar e chamar de volta? - e com os que vem pra correr junto.

é, faz parte do meu show. e a temporada tá longe de acabar...

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

e um dia, afinal, tinham o direito a uma alegria fugaz...

na mão: lacan, textos de educação sobre neoliberalismo, manual sobre wisc, um casaco (não se sabe se é frio ou calor)

nas costas: toalha pra semana, saia, camisetas, um vestido só. camiseta da paridade. um caderno cheio de coisas aleatórias, em que no onibus são paulo-santos aproveitei uma folha em branco para escrever os compromissos acadêmicos da semana. um caderno de reuniões, com adesivos legais. documento, um tanto de dinheiro, celular(es), pen drive(s), mp3, medicamentos, pasta(s), adesivos da paridade e do enade. livro sobre petróleo. canetas e lápis. apontador e borracha. câmera fotográfica sem pilhas. carregadores. aparelho de dente apodrecido no fundo da mala (dentro da caixinha - e apodrecido é um exagero, claro).

na cabeça: menopausa do grupo das mulheres, ato da usp, consu, thiago rocha, lembranças de um fim de semana gostoso, aula de educação a tarde, semana da diversidade, amores, amigos, a família abandonada, o tédio da vida sem revolução, a lista dos compromissos da semana, dce, moção de repúdio, enade, eric, e-mails que tem que mandar, organização do tempo da semana, organização do dinheiro da semana, o que fazer para comer, a situação do petróleo, pensamentos sobre quando poderá relaxar um pouco...

nas cordas vocais: uma dorzinha de um exagero da madrugada sábado-domingo. karaokê. ah, karaokê!
.
.
.
um sorriso que surge. quero fim de semana todo dia.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

e tive vinte e nove amigos outra vez...

* o título: porque eu também adoro essa música, e perguntei esperando a resposta que deu. expectativas - ok, por hoje. e tenho 29 beijos pra lhe dar.

tombar e reerguer. cair e levantar. ir ao chão, mas não para desabar, mas para pegar impulso. e o salto vai, cada vez mais alto, cada vez maior, com cada vez mais gente.
posso citar: deleuze, arnaldo antunes, guattari, suely rolnik, foucault, peter pal pelbart, orlandi, marx, nietzsche, fernando pessoa, álvaro de campos, clarice lispector, barthes, nu-sol, bukowski... todos.
no entanto, pra definir o momento, fico com o clássico:



é nóis, mano.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

aqui tá fazendo calor, deu pane no ventilador...

tudo é caótico, mas de vez em quando aparece uma coisinha ou outra pra te dizer: continue por aí. sei que tá foda, mas continue por aí.
não é fácil viver uma vida numa constante montanha russa, em que você vai cego, sem saber a hora em que tá no auge e na hora que tá prestes a desabar.
parece às vezes até que estou indo sem cinto de segurança, prester a pular, a qualquer momento.

e esse calor tá matando.
e eu estou em caos, próximo do momento de surtar. existe pouco carinho, existe pouco tempo para o carinho. pouca gente com tempo para saber se estou d e r r e t e n d o ...

terça-feira, 3 de novembro de 2009

um dia perfeito

saí pra almoçar e cheguei depois do café da manhã.
dias inusitados, que se desenrolam a cada momento. pessoas que inesperadamente se tornam necessárias, fundamentais pra vida. momentos que na sua mais modesta simplicidade te faz feliz.

podem cobrar o quanto quiserem, pra qualquer coisa. aumentem o cigarro, a cerveja. fechem os bares - já passa da hora!
rir, cantar bem alto e sonhar junto outro mundo continua sendo gratuito. e a coisa mais gostosa que existe.

last night i couldn´t get to sleep at all...

"so if you really love me
say yes
but if you don't dear
confess
and please don't tell me
perhaps perhaps perhaps"
[cake]

tudo muito intenso. quantas vezes já disse essa frase? nem sei. qualquer dia boto pra procurar no blog. essa intensidade toda, cansa. histórias que se repetem, cansa e entristece.

hoje eu tô cansada disso tudo.
hoje, da festa que fiz, me tornei a vizinha chata que reclama do barulho.

"e eu me visto de saudades do que já não somos nós"

e o negócio agora são as amizades. os risos, as músicas, lamentar-se e aconchegar-se em colos confidentes. além disso, sair por aí, conhecendo amores em potencial. daqueles que a única coisa concreta é a troca de olhar, e o resto cada um imagina como quer... e o negócio agora é chorar, ao som de um sucesso dos anos 70.

sábado, 31 de outubro de 2009

você pediu e eu já vou daqui

é isso.
resultado final: amor demais. não vai dar certo. não tem onde botar.
diagnóstico: encerra a noite lembrando que perdeu a novela.


há algo de errado no mundo. há algo de errado com o amor (é pouco? é muito?).
as lágrimas não caem. o orgulho funciona como uma grande barragem pra impedir. o maxilar ajuda, travando a boca e engolindo o choro que nasce da garganta, cumprindo o papel do coração que parou - nessa hora ele congela, porque se ficasse normal, ia explodir de tanto sentimento.
sempre fico fria quando a tendência é sentir demais. é como se fosse uma autodefesa do corpo, pra que ele não se desmanche e vire pó.

...
Aconteceu quando a gente não esperava
Aconteceu sem um sino pra tocar
Aconteceu diferente das histórias
Que os romances e a memória
Têm costume de contar
Aconteceu sem que o chão tivesse estrelas
Aconteceu sem um raio de luar
O nosso amor foi chegando de mansinho
Se espalhou devagarinho
Foi ficando até ficar
Aconteceu sem que o mundo agradecesse
Sem que rosas florescessem
Sem um canto de louvor
Aconteceu sem que houvesse nenhum drama
Só o tempo fez a cama
Como em todo grande amor
[Adriana Calcanhoto]
Choro ouvindo a música porque você me arranca sorrisos quando aparece na lembrança.
A saudade existe, do último abraço até o próximo.


...


Você é meu caminho, meu vinho, meu vício. desde o início estava você...
Meu zen, meu bem, meu mal.


E o que digo é: que pena. Perdemos uma linda história.
Mais um filme que se encerrou na sua sinopse em potencial.

e a gente vai se amando que também sem um carinho...

...ninguém segura esse rojão!

a vida fica mais fácil quando a gente tem pessoas pra complicar a vida junto.

...
carinho. risos. lágrimas. domingo. manhã. despedida. madrugada. jornal. enade. paixão. histórias. partido. música. poesia. e-mails. longos e-mails. ligações de saudade. revolução armada. reunião. feriado. distância. beijo. santos. relações. abraço apertado. confusão. lembrança. mãos dadas. gratuito. aperto. história. começo. você em associação livre.
...
as despedidas são mais fáceis assim: rápidas, arrancadas como um bandaid da pele. o ruim é que na hora da dor, a gente já tá sozinho.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Por que se é amigo de alguém?

"Por que se é amigo de alguém? Para mim, é uma questão de percepção. É o fato de... Não o fato de ter idéias em comum. O que quer dizer “ter coisas em comum com alguém”? Vou dizer banalidades, mas é se entender sem precisar explicar. Não é a partir de idéias em comum, mas de uma linguagem em comum, ou de uma pré-linguagem em comum. Há pessoas sobre as quais posso afirmar que não entendo nada do que dizem, mesmo coisas simples como: “Passe-me o sal”. Não consigo entender. E há pessoas que me falam de um assunto totalmente abstrato, sobre o qual posso não concordar, mas entendo tudo o que dizem. Quer dizer que tenho algo a dizer-lhes e elas a mim. E não é pela comunhão de idéias. Há um mistério aí. Há uma base indeterminada... É verdade que há um grande mistério no fato de se ter algo a dizer a alguém, de se entender mesmo sem comunhão de idéias, sem que se precise estar sempre voltando ao assunto."
Deleuze

Um agradinho, aos meus companheiros de linguagem.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

um adendo

você me dá preguiça.

o vento vai dizer, lento o que virá.

aventura
dois perdidos pela cidade. lugar esquisito, nenhuma placa de nenhuma rua poderia lembrar algo. rostos estranhos, montanhas pra todo lado - a praia está longe. ao passar num bar: cerveja itaipava 2,69. desespero: estamos muito longe.

até que então, passamos por um lugar, com uma placa bonitona, sigla esquisita e o seguinte slogan: "aqui se faz saúde de verdade".

- fudeu, já não estamos nem no Brasil mais. - disse, já sem esperanças.

desventura
ah. às vezes é isso que você é, meu bem. é isso que é gostar de você: desventura. falar de você é dificil, pelo menos se não for com poesia e música.
tento fazer o que faz, tento dificultar as coisas...

...mas perco no primeiro sorriso, ou na primeira declaração de saudade sua.
a verdade é que você que bota dificuldade em tudo, e eu tenho que lidar com toda a complexidade de simplesmente querer estar junto.
a verdade é que a dificuldade é quase que natural pra você, faz sentido dentro do que quer e acredita. pra mim, ela fica artificial, vira joguinho.
a verdade é que nem sei se tudo que existe entre a gente é coisa criativa minha - e se for, haja criatividade - ou se existe, mesmo, algo em você também.

isso é desventura.

e isso é chato.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Coisas do mundo, minha nega

Das coisas do coração
A gente não sabe o quanto uma relação é superável e o quanto ela é apenas abstraída, jogada pra debaixo do tapete. Há dias não me importava. Até li cartinhas antigas, com tom de "bons tempos". Até que uma música te pega de surpresa, e te faz chorar.
A primeira música do primeiro CD.
- Maldito.
É tudo que consigo dizer.

Da morte
"Brindando à morte e fazendo amor", recebo como título de e-mail no meio de uma crise existencial fudida. Crise existencial quase que superada.
"A vida é mais perigosa que a morte", foi a mensagem que recebi de uma amiga, minutos após minha vó ter morrido. A vida é mais perigosa que a morte e os sentimentos vem da percepção dessa vida. Depende de onde se olha e pra que se olha. Porque sofrimentos e alegrias existem aos montes por aí, das boas e das ruins, de ambas.

Do mundo do trabalho
"Oferecemos vagas para balconistas". No sistema capitalista, trabalho é algo que se "dá", basicamente se "doa". Burgueses tão gentis, fazem o favor de "oferecer" uma, duas, vagas.
- Como são gentis! - diz o desesperado.
Os jornais anunciam que o desemprego tem diminuído, e os burgueses sentem uma tranquilidade na alma.
- Puxa, que bom. As coisas estão melhorando afinal, e não estou tão prejudicado assim.

Que dêem salário mínimo pra todos! Verá que o problema não é falta de trabalho. Que dêem educação pra todas as criancinhas, e vão ver que não é falta de escola (talvez até seja excesso o problema). Isso parece tão óbvio que até dói escrever isso como se fosse novidade.
O problema não é falta de emprego, nem falta de vagas nas escolas, Universidades. Não é falta de saúde, tampouco.
O problema é viver num sistema que depende dessa falta. Enquanto o sistema não mudar, ter emprego, saúde e educação será sorte. Qualquer emprego de merda é lucro, é sorte, é bondade de burguês e não humilhante, alienante e escroto.

Do movimento estudantil megalomaníaco
Cinco, dez ou cinquenta, o número não importa muito.
Basta poucos, basta uma conversa entre poucos lunáticos, que se resolve: um censo de todas as universidades de santos; um documentário sobre as universidades do estado de são paulo; um ato no senado, em duas semanas. Essas, as levadas a sério.
Algumas são lançadas, num tom de piadinha útil, daquelas que se diz com humor, mas que se alguém levar a sério, logo vira encaminhamento. Dessas daí, prefiro não comentar.

I do like you today.

"- vai ficar tudo bem?"
ele pergunta, como criança que faz arte.

a verdade é que não dá pra saber. não se sabe o que é o "tudo", não se sabe o que é o "bem", menos ainda se sabe sobre o que se espera do "ficar"...fica? não sabe se fica, se vai e volta, se vai e não volta, se fica um dia, um ano, pra sempre. é difícil responder algo que caminhe no sentido de estabilidade, vindo de uma relação entre pessoas que cada dia a vida perde e ganha novos sentidos.
o que importa é: hoje se quer pra sempre, e as coisas se tornam no máximo "obstáculos", mas não "impedimentos". torna a brincadeira mais difícil, mas ela não tem cara de que vai acabar tão cedo (é horário de verão, o tempo de brincar é mais longo).


... ... ... ... ...


tem horas que ele parece pequeno, como quando pergunta se vai ficar tudo bem. e ela se sente grande, explicando as coisas, como funcionam, como são, como deve ser; tem horas que ele parece grande. e ela deita em seu colo e escuta, atenta. tenta entender, aprender, e fica pensando sobre o assunto; tem horas que são dois perdidos num mundo estranho, vivendo esse negócio doido que é gostar - é que eles jogaram fora o manual de instruções que se distribui gratuitamente, e tiveram a idéia (que às vezes parece brilhante, às vezes nem tanto) de inventar o próprio. e fica um olhando pro outro e sorrindo, sem graça. "sinto muito, não sei o que se faz agora", dizem um ao outro.
por outro lado, é de se perder as contas de quantas vezes eles trocam frases como "nossa, eu sou assim também", "penso exatamente assim", "também senti isso"... nessas horas eles parecem grandes, entendidos, experientes.

ah! deliciosa dança de gostar-criando.

... ... ... ... ... ...


Meu amor, meu cúmplice, eu sempre vou te achar
Nos avisos da lua, do outro lado da rua
Rodei todas as lanchonetes
Tive idéias perversas
Relembrei tantos golpes espertos
Você cada vez mais perto
Meu amor, meu cúmplice, meu par na contramão...
(Cazuza, Cúmplice)

terça-feira, 20 de outubro de 2009

"vazio agudo. ando meio cheio de tudo"*

"eu já fui como você", diz você, sempre tão confiante. mas eu não quero ser como você, não quero. e duvido que você tenha sido como eu, duvido.

hoje ninguém nem nada me basta, nem eu mesma.
não há nenhuma resposta pra todas as perguntas que carrego, cada uma pesando mil toneladas. hoje a vida não é certa.

nunca foi, mas hoje isso é certo.

*paulo leminski (o título)

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Fechando a tal da gestalt. (2)

Na noite terrível, substância natural de todas as noites,
Na noite de insônia, substância natural de todas as minhas noites,
Relembro, velando em modorra incômoda,
Relembro o que fiz e o que podia ter feito na vida.
Relembro, e uma angústia

Espalha-se por mim todo como um frio do corpo ou um medo.
O irreparável do meu passado — esse é que é o cadáver!
Todos os outros cadáveres pode ser que sejam ilusão.
Todos os mortos pode ser que sejam vivos noutra parte.
Todos os meus próprios momentos passados pode ser que existam algures,
Na ilusão do espaço e do tempo,
Na falsidade do decorrer.

Mas o que eu não fui, o que eu não fiz, o que nem sequer sonhei;
O que só agora vejo que deveria ter feito,
O que só agora claramente vejo que deveria ter sido —
Isso é que é morto para além de todos os Deuses,
Isso — e foi afinal o melhor de mim — é que nem os Deuses fazem viver ...

Se em certa altura
Tivesse voltado para a esquerda em vez de para a direita;
Se em certo momento
Tivesse dito sim em vez de não, ou não em vez de sim;
Se em certa conversa
Tivesse tido as frases que só agora, no meio-sono, elaboro —
Se tudo isso tivesse sido assim,
Seria outro hoje, e talvez o universo inteiro
Seria insensivelmente levado a ser outro também.

Mas não virei para o lado irreparavelmente perdido,
Não virei nem pensei em virar, e só agora o percebo;
Mas não disse não ou não disse sim, e só agora vejo o que não disse;
Mas as frases que faltou dizer nesse momento surgem-me todas,
Claras, inevitáveis, naturais,
A conversa fechada concludentemente,
A matéria toda resolvida...
Mas só agora o que nunca foi, nem será para trás, me dói.

O que falhei deveras não tem esperança nenhuma
Em sistema metafísico nenhum.
Pode ser que para outro mundo eu possa levar o que sonhei,
Mas poderei eu levar para outro mundo o que me esqueci de sonhar?
Esses sim, os sonhos por haver, é que são o cadáver.
Enterro-o no meu coração para sempre, para todo o tempo, para todos os universos,

Nesta noite em que não durmo, e o sossego me cerca
Como uma verdade de que não partilho,
E lá fora o luar, como a esperança que não tenho, é invisível p'ra mim.
[Álvaro de Campos]

*sarau terapêutico no fim de semana.

Fechando a tal da gestalt.

Tenho razão de sentir saudade,tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste e, sem te despedires, foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave do que o ato sem continuação, o ato em si, o ato que não ousamos nem sabemos ousar porque depois dele não há nada?
Tenho razão para sentir saudade de ti, de nossa convivência em falas camaradas, simples apertar de mãos, nem isso, voz modulando sílabas conhecidas e banais que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste o não previsto nas leis da amizade e da natureza nem nos deixaste sequer o direito de indagar porque o fizeste, porque te foste.
[Drummond, A um ausente]

domingo, 18 de outubro de 2009

Adiamento

Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã...
Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã,
E assim será possível; mas hoje não...
Não, hoje nada; hoje não posso.
A persistência confusa da minha subjetividade objetiva,
O sono da minha vida real, intercalado,
O cansaço antecipado e infinito,
Um cansaço de mundos para apanhar um elétrico...
Esta espécie de alma...
Só depois de amanhã...
Hoje quero preparar-me,
Quero preparar-me para pensar amanhã no dia seguinte...
Ele é que é decisivo.
Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos...
Amanhã é o dia dos planos.
Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o mundo;
Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã...
Tenho vontade de chorar,
Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro...
Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo.
Só depois de amanhã...
Quando era criança o circo de domingo divertia-me toda a semana.
Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da minha infância...

Depois de amanhã serei outro,
A minha vida triunfar-se-á,
Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático
Serão convocadas por um edital...

Mas por um edital de amanhã...
Hoje quero dormir, redigirei amanhã...
Por hoje, qual é o espetáculo que me repetiria a infância?
Mesmo para eu comprar os bilhetes amanhã,
Que depois de amanhã é que está bem o espetáculo...
Antes, não...
Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei.
Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser.

Só depois de amanhã...
Tenho sono como o frio de um cão vadio.
Tenho muito sono.
Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã...
Sim, talvez só depois de amanhã...

O porvir...
Sim, o porvir...
[Alvaro de Campos]

* Mais um da série: se tivesse capacidade, teria escrito isso.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

cenas de um cotidiano de cenas

Fim de semana passado, andando pela avenida paulista. andar pela av. paulista, como já disse outras vezes aqui, é sempre algo intenso: a música tocando e eu olhando as coisas e, de vez em quando o fone cede o ouvido pra alguma coisa que precisa ser escutada.

Foi assim, chegando quase na avenida augusta. estava parado aquele VEDDAS, com seu VEDDAS-móvel, hehe. A idéia é uma espécie de van que possui um telão, que fica passando cenas fortes sobre maltrato de animais. Eu não ia parar - já vi, e gosto mais de olhar os cachorrinhos sendo adotados no "Como assim?!", que fica próximo.

Enfim, o que me fez parar foram duas crianças, aparentemente moradoras de rua, assistindo ao vídeo, de olhos super arregalados. Assistiam àquilo com grande dedicação, quase em frente à tela, como o cachorrinho do 101 dalmatas.

Fiquei lá, assistindo eles assistirem. Era uma concentração incrivel. E eu concentrada neles, até chegar um panfleteiro do negócio...
- Oi, já viu esse video?
- Já sim.
- É, e ainda piora...
- É... na verdade, eu parei por causa das crianças, estou impressionada com essa cena. (não consegui entender direito o porquê, mas era algo tipo: crianças aparentemente maltratadas assistindo aos maltratos dos animais exibidos numa tela, com ar de coisa feia)
- Anh... (responde o cara, não muito interessado em conversar). Pegue um panfleto, fique a vontade.

E nisso ele foi, para outro casal. Antes disso não pode deixar de ir até às crianças.
- Oi, vocês podem se afastar um pouquinho pras pessoas poderem ver?
As crianças se afastam, mas não muito, não deram muita atenção ao cara. O cara, considerando que foi fazer isso depois de eu ter apontado, não tinha dado muita atenção a elas também.

Entrega os panfletos ao casal e repete a cena:
- Ja viram esse video?
- Ah, não nao. Parei porque estou tentando ser vegetariana e.... (a mulher empolgada em contar sua vida ao moço desconhecido. as pessoas se sentem sozinhas e contam suas vidas pra quem dá brecha, mesmo que seja desconhecido).
- (o homem interrompe e diz): É, e fica pior (acho que decorou essa fala e não consegue dialogar com as pessoas).

Bom, após passar um letreiro de um dos videos (são pequenos), as crianças correm para o moço que panfleta e começam a perguntar:
- Vocês que filmam isso?
- Onde isso acontece?
(e mais várias perguntinhas, entusiasmadas)

Mas o homem não tem tempo. Responde rapidamente a uma ou duas questões e vira de costas, continuando a conversa com o casal que tenta ser vegetariano.
As crianças notam a falta de interesse e voltam a ver um pouco do vídeo. Minutos depois, a menina corre pro moço e pede as horas. O moço diz: 20h30.
A menina chama o menino e eles vão embora. É meu caminho, então vou indo na mesma direção que eles - já não há o que assistir mais por lá.
Nisso, descem uma escadinha que tem uma corrente e ficam lá, entre o fim da escada e uma porta.




Era hora de dormir.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

tô punk de gritar teu nome sem parar











falta tempo pra gostar nessa vida.
e eu sou uma pessoa que gosta de gostar. que faço? (alguém salva dessa vida que me engole?)

terça-feira, 13 de outubro de 2009

ele não é do tipo que se apresenta aos pais (será?)

da série: mentiras que nos contam quando somos crianças. (talvez vire mais um marcador, he)
quando somos crianças, adultos nos explicam o mundo dividido em dois: existe o bom, e o mau. o feio, e o bonito (e Melanie Klein ainda tem a cara deu pau de dizer depois que isso é culpa só do bebê!). assim, gente bonita faz coisa bonita e gente má faz coisa feia.

coisas bonitas: bom aluno, educado, no futuro bom profissional, um bom cidadão (joga papel no lixo e vota conscientemente - é o que a gente aprende sobre o que é ser bom cidadão), honesto, que tem relações sólidas e namora com alguém bacana que futuramente casa, alguém capaz (é, depois a gente entende que esse troço de mundo capitalista começa desde dentro de casa, com mamãe dizendo: se você for bom, vai se dar bem), ser sincero, ter muitos amigos-mas-especiais (tem que ser bem-relacionado, pra contar pra psicóloga do RH da empresa que você deseja trabalhar, he), entre outras muitas coisas.

o oposto disso tudo é o feio.

coisas feias: usar drogas, não ser dedicado, má educação, ser gordo (sim, coisas do capital: ser gordo é culpa do sujeito), agir contra a lei, dormir pouco, mentir, não se alimentar direito, dormir com várias pessoas, ser burro, ... (nossa, é difícil pensar em coisas feias sem ser o oposto das bonitas).

enfim, o oposto disso tudo é o bonito.

então crescemos, conhecemos pessoas e mentalmente falamos: "ok, ele é uma pessoa educada, aproximar", "ok, ele usa drogas então é mau, afastar" e por aí vai.
até que um dia a gente se aproxima de alguém (essa historinha é fantasiada, e o ar colegial é porque estou assistindo felicity - essa situação que você lerá a seguir foi imaginada acontecendo numa "primeira festa de faculdade"), e ela é super legal, e você conversa, conversa e esquece da sua tabelinha moralista mental, até uma hora que a tal pessoa declara:
- tenho um relacionamento aberto.

e primeiro você se assusta, e entristece: terei que me afastar.
mas você resolve continuar, sabe-se lá porquê. é quando descobrimos que:
existem pessoas que não são sociáveis e são gênios e se dão super bem na vida; existem gênios que usam drogas e morrem de overdose (não precisa nem ser tão gênio: os médicos que nossas mães tanto querem como maridos exemplarem, que roubam suas droguinhas no hospital pra ficar ligado); existem pessoas que morrem de overdose e são super bem relacionadas; existem pessoas que são super bem relacionadas e são gordas; existem pessoas gordas que namoram e se casam; existem pessoas que namoram e se casam e traem; existem pessos que tem várias relações e são sinceras; existem pessoas sinceras e mau educadas; existem pessoas mau educadas que se tornam chefes, até presidentes. ah, sim, você aprende que não adianta nada ser bom cidadão, já que os candidatos, esses sim, são feios. (não resisti a oportunidade)

enfim, a historinha pode ter sido meio tosca, mas é que na verdade não sei quando se descobre que o que seus pais (que pra nós, são bonitos, na maior parte das vezes a gente acha isso quando é criança) mentiram. e eles podem continuar bonitos pra nós. talvez tenha gente que passe a vida inteira sem se dar conta de que isso é uma mentira.

e aí? o que fazer, se não dá pra classificar as pessoas dessa forma? bom, daí nos resta conhecê-las. ver o que toleramos e não toleramos, o que nos aproxima e o que nos distancia, ver porque não toleramos ou porque nos aproximamos e pensar se isso vale a pena...

ah! olha eu dizendo o que se fazer. há. que besteira! era só pra reclamar e questionar mesmo, não pra dar conselho. no fim, é isso: não existem mocinhos e bandidos. no fim das contas, você descobre que o mocinho dorme com várias pessoas e o bandido conhece poesias lindas. e o que a gente faz com isso?

domingo, 11 de outubro de 2009

coisas do coração - a vida se encarrega dos encontros

algumas histórias da vida, da rua, da arte, da imaginação...

sobre relações, nº1
você diz que gosta das coisas devagar, mas eu tenho pressa.
"o amor é urgente" - digo tantas vezes.
mesmo assim, às vezes a gente esbarra em situações que obrigam que tudo seja necessariamente lento. a vida, às vezes cheia de compromissos, que dificulta encontros. os encontros, às vezes cheios de vida, torna tudo tão mais intenso - os olhares, as conversas, as mãos que se esbarram - que um beijo ou uma noite de sexo torna-se até menor, e "atrapalha" aquele momento.

às vezes é assim, né. hum?

sobre relações, nº 2
a complexidade da vida está em não saber o que é pior num domingo a noite: discutir a relação ou o pré-sal? oh, dúvida cruel.

sobre relações, nº 3
A marca com B de se ver no dia X. dia X-1, A sai com C, B sai com D.
não se sabe como será o dia X, menos ainda o X+1. nessa equação, os sinais estão em crise.
é soma? subtração? multiplicação? ou divisão demais?

disso tudo, uma reclamação: faltou essa aula nos mil anos de escola.

sobre relaçoes, nº4
as pessoas namoram e viram uma só.
"eu não posso porque fulano não vai poder" - é a frase de quem namora. é a frase que os solteiros tanto odeiam ouvir daqueles que namoram. odeiam e não compreendem.
"mas é ele que não pode, você pode!" - tentam, inutilmente, lembrar a vítima apaixonada.
não é uma crítica aos amigos que namoram, por favor, não é isso. é uma crítica a essa lógica do namoro, essa lógica do amor.
isso pra mim não é bonito. não é romântico. é coisa instituída e chata.

sobre relaçoes nº5
[quero que saibas que me lembro
queria até que pudesses me ver
és parte ainda do que me faz forte
e, pra ser honesto,
só um pouquinho infeliz]

faz tempo que não tenho um fulano que não pode ir aonde eu vou, pra eu deixar de ir também.

sobre relações, nº6
[diga que você me quer, porque eu te quero também]
tenho pressa pra dizer: ei, gosto de você.
e recitar poesias e cantar canções bonitinhas. mandar um trecho de romance e dizer: fica comigo? (guardo as mais bonitas, pra um dia dizer que achei "por acaso". vivo de forma que futuramente faça sentido te mandar alguma, pelo menos uma.)
tenho pressa pra dizer, junto com a pressa de sentir que realmente gosto.
(ai, quando será que vai dar aquele friozinho de novo na barriga?)

sobre relações, nº7
da série: diálogos de filme. [te ver, conversar, rir. como é bom! e quando foi que virou crime, virou feio? sinto como se estivesse num país estrangeiro: ´aqui não se come com a mão, filha´. é o único com quem posso ser inteira, já que é cúmplice do maior segredinho atual. apesar de tudo, hoje é dia de festa, porque eu te amo.]

sobre relações, nº8
a vida parecia mais fácil quando nos contávamos que ao crescer (e era apenas essa a condição pra tal) encontraríamos alguém especial e com ele viveríamos pra sempre.
a vida era mais fácil, quando isso parecia uma promessa interessante.

pequenos grandes prazeres.

POESIA & CERVEJA


há dias pedi mentalmente por mais poesia. em tempos corridos, essas coisas nunca vem de graça. assim, a tive em troca de uma noite de sono: cerveja e poesia na madrugada.
as leituras variadas, com entonações e alguns engasgos - palavras desconhecidas e emoção - vinham acompanhadas de lembranças de amores passados e pressentes.
todas as lembranças de todos os que lá estavam vinham acompanhando a dança das fumaças de cigarro e o movimento das pessoas trocando de lugar.

a leitura da poesia vem acompanhada de resgate. sentir e lembrar. sentir para lembrar. um romance que passou, que existe. um romance que existiu apenas no desejo de existir. poesia é sentida através da identificação de experiências.

"Amanhã esquecerás que eu te pus num pedestal,
que incendiei de amor uma alma livre,
e os dias vãos – rodopiante carnaval –
dispersarão as folhas dos meus livros...
Acaso as folhas secas destes versos
far-te-ão parar, respiração opressa?

Deixa-me ao menos arrelvar numa última carícia teu passo que se apressa."
[Maiakóvski]

VIDA & POLÍTICA
Reunião sexta à noite. "Programão" - disse, repetidas vezes entre amigos, momentos antes de enfrentar o tal compromisso burocrático de sexta, às 22h30.
De fato, foi um programão.
"Tudo é político" - dizem aqueles quando tornam-se conscientes de que suas ações, pensamentos e discursos refletem em uma postura que diz de sua leitura do mundo.

Os que não se deram conta disso ainda, passam a chamá-los de burocratas, reduzem a meros "comunistas-marxistas-que-pregam-o-socialismo-mesmo-sabendo-que-ele-não-funciona." (senti um aperto de reproduzir esse discurso até, he).

De fato, existem os burocratas-e-só-isso.
De fato, existem aqueles que acham que basta vestir uma camiseta de algum partido e se dizer socialista, marxista-leninista que tá tudo certo ("agora sim, sou um homem de consciência").

No entanto, existe algo maior que isso. Algo do não-dito, uma potência gigante que fica no ar, quando pessoas se encontram pra fazer algo. Pra quem vive isso, é algo prazeroso demais. Sentir-se útil. Sentir-se participante. Atuante. Implicado com a vida.
É difícil de explicar.
Parece até ingênuo e, para quem não vive, logo resmunga: "pensam que vão mudar o mundo com isso?". É engraçado como, quando se conclui que determinado ato não vai mudar muita coisa, as pessoas largam o projeto... pra ver tv!

Mas enfim, não vim falar disso, do não-isso, vim falar do isso: projetos que fazemos, que não vem ao caso mudar o mundo ou não, mas mudar algo. Não somos um grupo - embora sejamos também. Somos várias pessoas, que carregam algo no olhar, nas formas de se relacionar, nas formas de se colocar no mundo, nas formas até de tomar cerveja num sábado a noite.
Não é um "clubinho", que precisa de senha pra entrar.

Pode-se dizer que é a quebra dos clubinhos. Pessoas que buscam se libertar de identidades, somos-isso-e-mais-que-isso. Aqui se diz "pode entrar, não precisa de senha nem pré-requisito. aqui sua liberdade começa quando começa a do outro".

Encontrar pessoas. Fazer projetos. Desafinar o coro dos contentes. Se o mundo vai mudar, se a revolução vai ser amanhã, eu não sei. Só sei que essas conversas, esses encontros, essas ações dão mais significado pra vida do que qualquer outro programa de sexta à noite. E com essas pessoas, ir a um bar ou sentar na Avenida Paulista falando de coisas ou ler junto poesias torna-se um ato político.
Com essas pessoas, viver torna-se um aquecimento, uma prévia, um gostinho do que seria o tal do outro mundo.

sábado, 10 de outubro de 2009

estamos todos presos

"Estamos todos presos. De ambos os lados dos muros a mesma sociedade. Uma se acha boa; a outra é vista como má. A normal encarcera no seu espelho o que lhe é insuportável. Ela diz que lá dentro eles serão educados para voltarem integrados ao lado de fora. A sociedade se defende construindo prisões e constatando que elas não dão certo. Faz reformas na arquitetura e na lei para internar novamente: negros, nordestinos, bichas, pequenos ladrões, jovens, religiosos, ateus, manos, desempregados, larápios, halterofilistas, operários, um-sete-uns, manicures, pobres, punks, putas, loucos, bêbados, homens e mulheres quase normais, enredados em infrações e armadilhas policiais e jurídicas. Estar dentro ou fora é quase um acidente. Dizem que somos livres, mas vivemos prisioneiros dentro do território nacional. Dizem que somos civilizados, mas ainda não aprendemos com as sociedades primitivas a ser antropofágicos. Temos medo de subversão. Somos antropoêmicos e estamos todos presos." nu-sol/ 2000, para a exposição realizada no museu da cultura-puc/sp

www.nu-sol.org

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

quero você na veia.

de uma vez só. consumir tudo.
overdose de você.
você é urgente e marcar hora torna tudo mais chato, burocrático.

não quero burocracia.
quero te encontrar, por acaso, na rua da minha casa. sem pensar em nada, no possível, no dinheiro, nos compromissos e nos comprometidos. a gente entra e sai só no dia seguinte.

o nosso pra sempre de 24 horas. 12, que seja. eu topo. mas diz que será agora, que será acaso, que eu não preciso pensar em nada. só te ver e esquecer do resto.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

love, you´re a whore

"boa noite"
gostaria de dizer mais, fazer mais.
hoje tá tudo insuficiente, tudo pequeno, tudo longe.

que merda de sentimentozinho que fica deixando tudo amargo.

toda poesia que no coração havia, o vento levou...

dia de apertozinho no coração.
tristeza, vontade de ficar quieta, num canto.

tem dia que a gente só quer ter alguém pra fazer manha e dizer: quero colo, agora.
tem dia que a gente só quer pegar um atestado que te deixe livre de toda e qualquer obrigação.
tem dia que a gente quer que o tempo congele, só pra que nada mais fique atrasado.

tem dia que você olha pra tudo em volta e pensa: cansei de brincar. posso ser outra coisa?

- - - - - -
ontem cantarolava canções de amor por aí.
hoje escuto, silenciosamente "a century of fakers", entre outras tristes...
ah. hoje a vida é um tédio.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

pensamento solto

eu gostaria de saber quem foi o adulto filho-da-puta que resolveu espalhar aquela crença na infancia de que viver era:
nascer;
crescer;
reproduzir;
envelhecer;
morrer.
alguém podia esclarecer, no mínimo, que no meio disso tudo tanta coisa acontecia.
esclarecer que, no mínimo, a gente não "cresce, conhece alguém legal e casa".
e que os relacionamentos não começam e terminam e então começa outro (às vezes eles acontecem ao mesmo tempo, às vezes eles retornam do além, às vezes eles desaparecem no vento...).

não fiquei decepcionada. pelo contrário, a vida pareceu até mais emocionante, e muita coisa fez mais sentido agora que sei que não era tão simples assim.
mas me senti enganada. além disso, imagina só como muita coisa não seria mais fácil se, desde o principio, os adultos falassem que tem muito mais coisa por aí.

eu gostaria de saber quando é a próxima assembléia do mundo dos adultos - agora que creio que posso participar - em que se delibere não mais contar essa mentirada toda.
a da cegonha, creio que já foi encaminhada uma moção de repúdio pra quem ainda faz.
o papai noel tá saindo de moda também.
agora, na próxima assembléia, vamos todos combater essa ladainha.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

a academia vive no alto de uma montanha

"Sob a alegação de que estavam em jogo interesses do conjunto da Nação, o Estado brasileiro primeirorepublicano não agia com sutileza disciplinadora para garantir a ordem pública. Ao contrário, não hesitou em valer-se, até a náusea, da polícia para imobilizar os indesejáveis. Este fato põe em questão a tese segundo a qual, no marco das greves operárias do primeiro período republicano, a ineficácia das medidas punitivas e policialescas de controle da força de trabalho teria levado à introdução de tecnologias de adestramento e controle nas fábricas e de gestão científica da miséria lideradas por médicos: higienização dos corpos e das casas populares; imposição ao povo de normas familiares burguesas; apropriação da infância pobre pelo saber médico; expansão de instituições disciplinares como hospícios, reformatórios e escolas. Todo esse período foi marcado por um sem-número de exemplos de brutalidade repressiva, orientação professada pelos governantes, apoiada por industriais e fazendeiros e muito bem resumida pelo presidente Washington Luís (que fora Secretário da Justiça e da Segurança Pública do Estado de São Paulo) quando definiu a "questão social" - que era como então se chamavam os conflitos sociais - como "caso de polícia"." (Patto, Ciência e política na primeira república: origens da psicologia escolar)

E os estudantes anotam, comportados em suas respectivas carteiras:
"prii...meei...ra república: (troca de caneta) pe-ríiodo de higienização / repressão."

A gente aprende a nossa própria história como se fosse a literatura de Shakespeare. Falamos das nossas próprias marcas, de toda nossa repressão, de tudo que apanhamos como se falássemos de um lugar isolado, uma cidade fictícia, criada por algum escritor criativo.

A Academia vive no alto de uma montanha. Observa a tudo, distante, esperta, como se não fosse com ela. Com isso, reforça uma grande burrice: burrice para nós, que queremos mudar. Esperteza para eles, que querem manter.

Aula de educação.
Estudamos sobre algo que vivemos. Estudamos toda a desgraça, estatisticamente, intelectualmente. Tudo aquilo que alguns protestam, o professor fala na frente da sala de aula.
Os que costumam protestar, em um momento de esperança pensam:
- agora essa galera vai se tocar. agora, que o professor vai falar de paulo freire e outras pessoas que servem de referência pra botar em camiseta ou perfil de orkut, falar o que esses caras falam de educação, agora a galera vai se tocar.

E a galera anota em seus cadernos "precarização da educação", "conceito bancário de educação", "neoliberalismo".
Hora do almoço.
Fecha o caderno.
À tarde vai estudar Terapia Cognitivo Comportamental pra prova.
Não vê a hora dessa aulinha marxista acabar.
Esse negócio de criticar o mundo é chato demais, né.


sábado, 3 de outubro de 2009

expectativas.

no fim das contas, é isso que pega. é esse negócio que fode com tudo. podem falar o que quiser: se prefere homem, mulher, gosta dos altos, dos baixos, dos ruivos ou morenos, dos magros, dos nerds, dos carecas... principal qualidade é bom humor, inteligência, sinceridade. quer grude, quer saiba dar espaço... falem o que quiser! o melhor relacionamento, na verdade, é aquele sem expectativas.

os melhores romances - ou melhores períodos dos melhores romances (e piores também) - foram aqueles em que não se espera nada.


e que o que venha seja lucro. e que cada ato seja uma surpresa (das boas!).

outro mundo, outro mambo

chegar em casa antes da meia noite.
nada de alcool, tabaco, ou qualquer droga ilícita. nada promíscuo.
um cinema. vou descendo a rua entre os bêbados. todos dopados, de alegria.

penso se aparento assim quando estou do lado de lá - do lado do alcool, tabaco, droga ilícita e promiscuidade. não suporto essa aparência de alegria burguesa. essa felicidade alienada, essa alegria besta. tropeços, risos, xingamentos, ofensas. mais, mais, mais. muito. muito. muito.
o pouco não agrada.
o lento menos ainda.
é rápido e na veia.



é sexta feira, e amanhã acordo cedo. e essa semana tudo passou mais lento...

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Faz zum-zum e pronto.

"Espero, espero
Espero lhe ver, lhe encontrar
Tenho 29 beijos pra lhe dar
Tenho 29 beijos pra lhe dar
Tenho 29 beijos pra lhe dar..."
[Novos Baianos, 29 beijos]

Há. É muito amor.

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Eu durmo muito. E tenho sonhos bizarros. Essa é a minha doença. Será que tem cura?

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
E é mais uma sexta feira. Mais uma falta na aula de sexta à tarde. Definitivamente, não tenho nada de comportamental. E minha revolta começa nas pequenas coisas - contra a obediência nas aulas de sexta a tarde! Sobretudo em dias de Sol! E estamos conversados.

"é que nasci incubida"

ah, um trechinho de clarice, já postado no blog.
e viva as repetições e identificações.

"Estou cansada. Meu cansaço vem muito porque sou pessoa extremamente ocupada: tomo conta do mundo. Todos os dias olho pelo terraço para o pedaço de praia com mar e vejo as espessas espumas mais brancas e que durante a noite as águas avançaram inquietas. Vejo isto pela marca que as ondas deixam na areia. Olho as amendoeiras da rua onde moro. Antes de dormir tomo conta do mundo e vejo se o céu parece azul-marinho intenso, cor que já pintei em vitral. Gosto de intensidades. Tomo conta do menino que tem nove anos de idade e que está vestido de trapos e magérrimo. Terá tuberculose, se é que já não a tem. No Jardim Botânico, então, fico exaurida. Tenho que tomar conta com o olhar de milhares de plantas e árvores e sobretudo da vitória-régia. Ela está lá e eu a olho.Repare que não menciono minhas impressões emotivas: lucidamente falo de algumas das milhares de coisas e pessoas das quais tomo conta. Também não se trata de emprego, pois dinheiro não ganho por isto. Fico apenas sabendo como é o mundo.Se tomar conta do mundo dá muito trabalho? Sim. Por exemplo: obriga-me a me lembrar o rosto inexpressivo e por isso assustador da mulher que vi na rua. Com os olhos tomo conta da miséria dos que vivem encosta acima.Você há de me perguntar por que tomo conta do mundo. É que nasci incumbida."

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

"vale a pena ver de novo"

"você me bota na roda da vida de novo, e isso é impagável. é fantástico. isso é a sensação mais maravihosa que alguém pode gerar em outra pessoa, à guisa de todas as crises, rejeições, medos e problemas.

é porque a gente vive numa ditadura."

1.

"Sei lá. São tantas coisas. Você deve achar tudo ridículo. Eu quero falar do Deleuze. Queria ser ele, às vezes. Se eu pudesse, seria uma mistura dele com a Clarice Lispector. Se eu pudesse, mudava de planeta e ficava lendo livros em algum lugar que ainda não exista nada, nem água. Só suco de laranja. Sem gelo e sem açúcar."
2.


"toda hora me dá uma vontade de te buscar. ou roubar alguma coisinha pra você; fico me sentindo sozinho só pra lembrar que tem você nesta vida. penso: faço uns cursos e ocupo a cabeça. sei lá. penso em você toda hora. isso nao é asneira."
1.

"eu tenho agido de maneira que possa dar vida à vida, possa traçar rotas de fuga, me liberar quando estou aprisionado. se é carinho, se é desprezo, se é pudor, se é silêncio, se hoje quero te devorar ou te cuidar, sei lá: inventa-se a existência, que se recria sem párar. é o teu devir ou a minha dialética. ontem estava de um jeito, hoje de outro ad nauseum -tudo depende."
1.

"Fumei um cigarro agora e deu saudades de você. Ah, você me faz me sentir a vontade com meus erros, com a parte errada da minha vida (até porque, pro mundo, você faz parte dela). Acho que sinto um pouco de saudades do seus desprezos por mim. Me fazia tirar do lugar. "
2.

às vezes a vida parece um filme... e nos dias de tédio a gente bota pra passar algumas cenas. não dói, se a gente fingir que não atuou, apenas assistiu...
qualquer dia ainda te procuro, e faço um documentário que explique qual que é desse filme.


porque eu não entendi, até hoje.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

tá tudo cinza sem você...

"Chove lá fora
E aqui tá tanto frio
Me dá vontade de saber...

Aonde está você?
Me telefona
Me Chama! Me Chama!
Me Chama!..."


não é a primeira vez que escrevo: adoecer me deixa carente.
quero colo. e isso é algo mais twittero que bloggueiro, mas vai por aqui mesmo.

não suporto a lei dos 120 caracteres.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

no dia em que ocê foi embora...

eu fiquei sentindo saudades do que não foi,
lembrando até do que não vivi,
pensando em nós dois...

potência dos encontros, cantando músicas de amor e alegria, sorrisos largos e coisas desse tipo.
hoje, a vida parece gigante e habitável.

(não tá tudo dominado, não.
outro mundo se torna possível, afinal.)

terça-feira, 22 de setembro de 2009

devir-rebanho

sempre que pego metrô em horários que está cheio, principalmente em horário de ida / retorno do trabalho / escola, tenho a sensação de estar em meio a um rebanho. principalmente de manhã: andam todos com um olhar morto, com cara de quem vai pro abate. todos disciplinados, andando na mesma direção.

nada os espera: é mais um dia, para mais um salário miserável. o mesmo ponto de pegar o vagão, a busca por um lugar pra sentar e lá se esparramar. até o apito de seu ponto tocar, e levantar-se, e caminhar, com o mesmo olhar morto, o mesmo andar morto...

na saída, não é muito diferente. soma-se um olhar com certa fúria, de ter aguentado algum desaforo de alguém. isso será canalizado depois para algum lugar: todo o ressentimento vai pro alcóol, para um filho ou uma mulher que apanhará, ou para o vilão da novela, ou pro time adversário. pouco se pensa, no entanto, em estremecer a hierarquia, a autoridade: essa não se pode mexer.

o mundo é disciplinado. para isso, existem pelo menos 9 anos de escola garantidos pela constituição; saber ler ou escrever é lucro: fundamental é nesse tempo, aprender a obedecer. e quando a escola falha, tem a televisão, o jornal, a família, e demais instrumentos para manter a ordem. nos casos mais rebeldes, a polícia, as leis, o Estado.

uns falam que isso é justiça: afinal, a ordem deve ser mantida.
e, acima de tudo, o rebanho deve continuar seu percurso para o abate.

domingo, 20 de setembro de 2009

eu te odiei uns dias, eu quis te matar...

passou.

aquela dor, aquele peso todo, passou.

virou cicatriz: incomoda, quando olho pra ela, e penso: como é feia essa cicatriz, do tombo de um salto tão bonito. era pra ser bonito, era para cairmos de pé, tombamos.

você - aparentemente - se levantou rápido. hoje talvez note que deveria ter cuidado mais do machucado, pois pode infeccionar antes do que imagina.

eu fiquei um tempo no chão. até chorei, porque sou chorona...mas ri junto também, porque um tombo sempre tem seu fundinho de humor, mesmo os piores.

"Sorriso que virou abraço que virou desejo que virou paixão
Que virou o amor que virou minha vida de pernas pro ar
Você que já foi a dor mais dolorida, a agonia
O ar que se rarefazia em pleno nível mar
Amor que matou a paixão que matou o desejo que matou o abraço
Que matou o sorriso e pôs tudo de volta no mesmo lugar
Você que já foi a chave, você que já foi o ferrolho

Você que já foi a fome, já foi a festa, já foi o jantar
Hoje você é somente um cisco nesse meu olho:

Não significa nada e ainda assim me faz chorar..."
Cisco no olho.

coisitchas de: http://www.nu-sol.org/

Cadê?

“Este é um ambiente livre do cigarro”, alerta o cartaz na entrada. Para conforto dos visitantes, também são proibidos acampamentos, música em volume alto, uso de drogas ao ar livre. A lojinha de souvenires e o passeio em um ônibus todo colorido fazem parte das atrações locais. Um guia, uniformizado com a camiseta oficial, recepciona os recém-chegados: Bem vindos a Woodstock.
Hoje, não foi só a pequena fazenda que virou parque de diversões com múltiplas opções de lazer e entretenimento. Os jovens que vão até lá, assim como muitos dos que andam por aqui, estão cada vez mais ávidos por consumo, conforto, segurança, estabilidade. Conformados em maiorias ou acomodados em representações e direitos de minorias, deixam-se guiar por pastores, líderes comunitários, chefes de organizações, formadores de opinião e demais variedades de condutores de consciência.
Em tempos onde as resistências são capturadas e convertidas em alternativas, direitos ou souvenires, o jovem comprador da lojinha Woodstock adquire seu pôster por 130 dólares e cola na porta do guarda-roupa. Acessa seu perfil de tipo rebelde em um site de relacionamentos e anda pra lá e pra cá, zapeando o controle remoto. Não perde a hora da consulta com o analista e não vê a hora de cair na baladamoça ou num rapazbalada pra casar.


"uma minoria é impotente enquanto se conforma à maioria, nem chega a ser uma minoria então, mas torna-se irresistível quando se põe a obstruir com todo seu peso."
David Henry Thoreau

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Ainda me lembro, daquele beijo, spunk funk violento...

Cena 1: Sala escura.
Beijos loucos, risos roucos, coração disparado. Suor. Pernas trêmulas, olhos molhados, poucas palavras: não é preciso dizer muito, diante de tanta verborragia ao longo dos anos. Enfim, juntos. Proibidos, mas juntos.

Cena 2: Luz acesa.
Consciência. Voltemos a rotina: não estamos sós - jamais estivemos. Existem outros; para nós, eles sempre existiram.
Então, falamos do amor como falamos de negócios: e na nossa paixão, não existe monopólio.
O que fazemos não é nada diferente do que desejávamos em silêncio no passado.
A situação não mudou muito também. Apenas aceitamos: não haverá momento para nós, teremos que criá-lo, então.

Cena 3: Outro dia
Carícias trocadas em silêncio. Minutos depois, você com outra. A outra. E eu os vejo como um casal qualquer.

Não faço parte disso.
Não tenho nada a ver com isso.

É o que afirmo para mim mesma, de forma muda, enquanto meu corpo esfria do seu toque nas minhas pernas. É outro dia.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

a psicologia é uma ciência burguesa.

o título veio como um desabafo entre meus sonhos. tenho pensado muito nisso, ultimamente. e hoje, quando acordei, foi a primeira coisa que me veio na cabeça.
talvez seja porque lembrei que teria que ir para santos logo mais, para um trabalho sobre "testes psicológicos". mas enfim, isso não interessa muito. a questão é: a psicologia é uma ciência burguesa. no mínimo, na sua origem. o que fazer, a partir de tal constatação?

penso: o que fazemos, quando, ao contrário de classificar os normais e os não-normais, ao contrário de estudar como fazer com que as pessoas sejam "mais normais", quando não olhamos para sua produtividade, para seu perfil e como este se encaixa na empresa... quando ao contrário de normatizar, buscamos entender, escutar, e nada tão ingênuo assim: quando a psicologia torna-se um instrumento de transformação da sociedade... estamos fazendo psicologia ainda?

um primeiro movimento que tive foi de pesquisar, afinal, o que é ciência. é claro que existem váarias definições para tal. mas me contentou ver que existem coisas mais amplas do que "aquela que dita a verdade", definição a qual muitos doutores e estudantes por aí definem através de seu comportamento, às vezes - repito, às vezes - sem nem mesmo perceber.

com relação a psicologia, também não resisti e busquei suas definições. essas pouco me agradaram. a questão é que não sei o que estou fazendo nesse curso. quer dizer, sei bem, talvez mais até do que muita gente que sabe o que quer fazer, mas o que quero fazer não está dado. não entrei para ser psicanalista, ou para trabalhar numa empresa, ou para salvar as pessoas do sofrimento como uma super-heroína.

primeiramente, o assunto "ser humano" me agrada bastante. talvez o "ser humano" não me agrade tanto quanto estudá-lo, conhecê-lo e pensar sobre tal. assim, para me aproximar desse meio, a psicologia foi um caminho escolhido. poderia ter ido para outros ambientes que estudam o ser humano, mas a psicologia, pela bagunça que é, permitiria que eu mudasse bastante de idéia ao longo do curso.

isso porque fazer psicologia é aceitar as contradições teóricas no dia a dia do seu curso. é ter uma aula de comportamental de manhã, estudando uma ciência que nasce em plena segunda guerra mundial, que classifica os sujeitos como gado sendo registrado antes de ir pro abate, e à tarde estudar sobre capitalismo e todas as suas desgraças, numa aula de educação. e ambos os professores, afirmando em seus crachás, contratos, mestrados e doutorados que são da mesma laia: psicólogos.

assim, fui parar na psicologia. e o que eu quero fazer não está dado. não sei nem sei me darei o título de psicóloga um dia. sei que a escolha foi boa: realmente, tenho encontrado coisas interessantes por aí, apesar de que a maioria seja o que foi dado nas entrelinhas da graduação. as que mais me interessam são as que questionam, as que botam a psicologia contra a parede e dizem: afinal de contas, qual é a sua? aquilo que ninguém sabe dizer ao certo se é psicologia ou não é, se vale de algo ou não vale, é pra lá que meus olhinhos brilham e meu braço se cansa de tanto escrever.

assim, devo afirmar que valeu e vale, que essa escolha foi e está sendo uma boa escolha. no entanto, me preocupa o pressuposto dado no título desse texto: a psicologia é uma ciência burguesa. e se não é pra mim, para muitos é. isso me irrita um tanto. fico pensando o que seria dividir a psicologia em duas graduações.

de um lado, aquela que se estuda para conservar uma ordem: a psicologia das classificações, das normatizações, das pesquisas com ratos, da preservação da raça homem-branco-rico-heterossexual.

de outro, outra psicologia: e esta, sendo uma psicologia da transformação, a psicologia que nietzsche anunciava como "grande psicologia", a psicologia que deleuze e guattari contribuiram, aquela ciência que os cientistas de colarinho branco (o jaleco) tem vergonha de dizer que é ciência. aquela psicologia que ninguém consegue dizer bem o que é, porque a cada fala que aparece, a vida muda de sentido e então aquela classificação posta anteriormente já não cabe mais. aquela ciência que potencializa a vida, que não busca entender o ser humano, compreendê-lo para classificá-lo. entender para desentender. assumir que no instante que uma definição é feita, algo escapa pelo simples fato de estarmos vivos, e a definição se torna inútil.

talvez, talvez duas graduações. não é nem pela falta de paciência de ter que estudar algo que não agrada. mas pelo fato de chegar a ser doloroso vendo escancarado na sua cara, ser produzida, reproduzida, aprimorada uma profissão que fortalece aquilo que você combate no cotidiano, e que vê no dia a dia o tamanho sofrimento que é produzido aquilo que certas psicologias reafirmam. no entanto, apenas uma graduação permite conviver com as angústias de ter que estudar, mesmo que a contragosto, aquela ciência que pouco te agrada. e, apesar de ter feito essa polarização grosseira, é claro que os conceitos se misturam, nem tudo é uma coisa ou outra.

às vezes, é simples questão de intenção.
(talvez eu continue um outro dia, uma outra hora. está ficando longo demais e a kinna vive dizendo que isso não é convidativo pras pessoas lerem até o fim)

domingo, 13 de setembro de 2009

don´t stop me now.

tá difícil de vir aqui escrever. às vezes estou para falar, falar e falar. ultimamente, estou mais pra ler, escutar, refletir, repassar o que chegou de interessante pra mim.
assim, uns dizem que me escondo atrás de citações e letras de música.

mentira, mentira.

deixo as músicas, os poemas, e os textos falarem por mim.
nada me deixa menos só que ouvir, ler, entrar em contato com alguém que tira as palavras de mim, assalta e transforma em algo bonito, que penso que gostaria de dizer daquele jeito, aquilo.

a fase tá boa. há uma certa paixão pela vida, me rondando. paixão com a vida me faz apaixonar fácil demais por pessoas. amores me deixam de bom humor. des-amores me fazem pensar, e quem sabe escrever algo bonito.

os amores nem tanto. desses, pouco gosto de escrever. sai mais sorrisos largos e ações práticas que palavras bonitas.
alegria. alegria não é quando tá tudo bem. vida é conflito. disse o professor, entre um cochilo e outro meu.
faz sentido. estar em conflito, estar pensando, sentir que está se fazendo escolhas, assumindo responsabilidades... tudo isso me deixa viva. me sentir viva dá uma alegria gigante, mesmo que venha com dores.

subo, subo, subo. dou um salto. quando tombar, volto aqui pra contar coisas novas...

"ser inteiro custa caro."
carpinejar.

sábado, 12 de setembro de 2009

"É lindo quando a diferença não faz a mínima diferença."

"Ri, sem graça.

Cinco anos tinham se passado, já estávamos lá, diante de um palco imenso, trezentas pessoas sorridentes e arrumadinhas olhando atentas e a vida, cretina, passando a 220 km por hora.

Lembrei do Marcus, primeira semana de aula, contando de quando estava no segundo grau e era maconheiro de marca maior, mas daí arranjou uma namoradinha numa festa e esqueceu de todo o resto. Do Felipe, dizendo a alto e bom som que era gay, no segundo semestre, todo mundo calado, idiotizado, os guris passaram umas boas duas semanas sem trocar uma palavra com ele, só me diziam “porra, e a voz dele é até grossa”. Depois passou, eles voltaram ao esquema futebol, boliche, piada de português, barzinho, jantas e gargalhadas sobre bunda de mulher, e de um dia pro outro todo mundo esqueceu que o Felipe dormia com homens. É lindo quando a diferença não faz a mínima diferença.

Inesquecível o dia em que a Bruna levou um choque. O André quebrou os óculos com uma caneta que eu joguei pra ele. A Carol gaguejando na apresentação do nosso primeiro trabalho. O drama do fim do namoro da Luiza com o Daniel, todo mundo sofreu junto, todo mundo odiou junto, todo mundo foi pra festa e bebeu junto, esqueceu junto e começou uma nova madrugada junto, novas histórias podem sim apagar as velhas. O dia em que a professora Lia morreu e saímos pra comemorar, acabamos com as cervejas do bar. Porque humor negro não tem limites quando se está na faculdade.

Os jogos de futebol que assistíamos aqui em casa, o qual eu nunca prestava atenção. Os copos quebrados, salgadinhos devorados, fricassê de frango que só o Marcelo sabia fazer, combinação perfeita com Coca-Cola e mousse de maracujá, com direito a dormidinha no sofá de barriga pra cima depois do banquete. Todo mundo. Minha briga com o Juliano: nunca mais queria ver a cara dele. Foram quatro meses de guerra fria. Ninguém tem direito de falar de namorado meu, ora bolas. Até eu descobrir que o cara era mesmo um cretino e chegar de mansinho pro Ju, pedir desculpas e confessar que o cara era um babaca, ele tinha toda razão e acabarmos nos beijos lá em casa. Ironia do destino. Meu segredo oficial da época da faculdade, hah.

Voltando ao palco, estava preparada para o discurso. Para as rosas para os pais, para o baile, o tchau sincronizado aos velhos amigos no fim da festa, as lágrimas. Não estava mesmo era preparada para a saudade, o vazio. Os dias sem aulas pra matar, matérias pra estudar, risadas conjuntas pra dar, chamadas pra assinar, intervalos para compartilhar entre cafés e pastelinas.

Uma saudade que, quando eu estava no quinto, sexto semestre e dizia a torto e direito que “bah, quero me formar de uma vez e ir embora dessa merda…” eu jamais imaginei que iria sentir. E agora, nem parti, já sinto falta. Olhei para toda aquela gente, expectante, ansiosa por mim, por nós, por eles. Eles estavam ali não para saber dos amigos, dos estudantes, das crianças que viraram adultos em cinco longos anos. Estavam ali para ouvir o que os profissionais responsáveis e engomadinhos iriam dizer em seus primeiros passos para a ciranda louca do mercado de trabalho.

Na hora de ir pra plataforma discursar, tropecei. Cai feio. A platéia fez “ohhh”. O Juliano me juntou do chão, e bem, eu estava mais do que vermelha. Antes que eu piscasse, o Marcus correu pro microfone e disse:

- Julia, obrigada pela representação. Apenas para mostrar a todos os presentes, amigos e familiares, pessoas que amamos, que mesmo estando formados, maduros, “prontos”… nós podemos, sim, cair e levantar.

Subi na plataforma, ele piscou pra mim. Até cair pode ser bom se sabemos que alguém vai estar ali pra nos ajudar a levantar. Comecei o discurso. Seria uma longa noite. Longa vida. Vida longa a todos."

Não sei de quem é, então deixo os créditos pra Kinna, quem compartilhou o texto comigo, e sempre compartilha intensidades. Muito bom o texto!

eu gosto do estrago.

tanta coisa, tanta coisa acontecendo.
tanto tanto que te leva a odiar o despertador, que toca quando você começa a dormir, anunciando um novo dia.
tanto tanto que te faz desacreditar, ao olhar pro seu dia que passou, quanta coisa você fez. cada dia dura uma semana...
tanto tanto que quando alguém te pergunta: mas afinal, por que é que você faz tudo isso?, você não sabe responder, e o coraçao dispara.
dá uma aflição, e você, sem respostas, sai andando... pra se ocupar com alguma coisa.

é muita coisa, muita coisa. e muita coisa, mergulhada na paixão.
gritos, dores, alegrias e poemas.

é mais um dia. mais um turbilhão de acontecimentos.

E aquele filme não sai da minha cabeça...

"Desse jeito vão saber de nós dois
Dessa nossa farra
E será uma maldade voraz
Pura hipocrisia
Nossos corpos não conseguem ter paz
Em uma distância
Nossos olhos são dengosos demais
Que não se consolam, clamam fugazes
Olhos que se entregam
Olhos ilegais"
Vanessa da Mata.

Fim de semana agitado.
E estamos conversados.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

o amor é importante. porra.

"Nós que passamos, apressados, pelas ruas da cidade, merecemos ler as letras e as palavras de Gentileza..."







"...amor, palavra que liberta: já dizia o profeta..."

se espalha por aí a tal reivindicação. em (longos) tempos de miséria, desigualdade, disputa de poder, capitalismo, alienação, pós-modernismo, sofrimento, tempo, dinheiro... surge alguém, alguéns, que gritam: o amor é importante. porra.


e é isso.

* trechos em itálico da música "Gentileza", de Marisa Monte

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

o segredo que escondem dos homens é que eles são livres.

e então, a porta está aberta. vá embora. fuja. tem medo?
é, ir pra outro lugar dá medo.

somos todos servos, voluntários. ser mais um servo no mundo nos livra das responsabilidades de seus próprios atos.
- choro, bebo, fumo, engordo, emagreço, tenho insônia, trabalho que nem um escravo, não pago as contas, roubo, mato... não é minha culpa.
preciso de dinheiro.
meu patrão é difícil, sabe.
minha família é exigente.
só assim eu vou ser alguém bem-sucedido.

bem-sucedido pra quem?
o mundo está em constante tensionamento. seja para manter, seja para transformar.
sempre ficamos com a impressão de que esse sistema é estável, e que a revolta gera instabilidade, vai causar mais confusão.

é o cúmulo da alienação dizer que esse sistema é estável naturalmente. pra que se sustente a estabilidade, é preciso de uma série de aparelhos: governo, escola, polícia, igreja, prisão, televisão, internet...
tudo para te fazer de máquina. aliás, nem de máquina. talvez uma partesinha insignificante dessa grande máquina.

é isso que quer pra sua vida?

vem os servos mais adestrados, com seus dedos cheios de calo de tanto jogar video game, e dizem:
"- esses revoltados que querem implantar uma revolução comunista e achar que tá tudo certo."
parabéns. continuem fazendo a grande máquina girar. sejam só mais um servo, aguardando seus pequenos momentos de senhor, nem que seja para o mendigo da rua.

as portas estão abertas. as algemas que te prendem são da sua cabeça.
o segredo que os homens não querem ouvir, ver, nem ler é que eles são livres.

domingo, 30 de agosto de 2009

e quando tudo pede um pouco mais de calma...

basta um olhar.
um olhar, entre tantos outros que passam correndo por você, no dia-a-dia. basta um olhar, e uma pergunta um tanto mais sincera, diferente do automático cotidiano "oitudobem".

basta uma pergunta:
- ei. como você está?
assim. olhando no olho.

o corpo estremece. quem ousa dizer que está tudo bem?
os olhos se enxem de lágrima. dá um alívio.

e a vida segue no seu ritmo - singular e esquizofrênico.

sábado, 29 de agosto de 2009

assim já caminhou a humanidade.... ?

Chifre da África. 4 milhões de crianças correm o risco de desaparecer de fome, doenças, maus-tratos; 6 milhões de pessoas dependem de doações da caridade internacional, para serem mantidas lá, em seus campos de refugiados, em suas aldeias de terra seca, aguardando a caixinha de ração, a vacina contra sarampo, o fotógrafo condoído. E se a tal ajuda não chegar? Se nem o fotógrafo aparecer? Esses milhões começarão a se mover, a sair de suas choças e atravessar mares apenas para fazer viver suas crianças? Tal qual aqueles hominídeos primatas que se ergueram em duas pernas e, andando livres a partir da África, ocuparam o mundo inteiro, das estepes geladas às florestas úmidas, dos desertos às praias. Ou não, ou morrerão a míngua? Confinados dentro de cercas farpadas, esperando o comboio humanitário chegar pelo
caminho empoeirado.
http://www.nu-sol.org/flecheira/pdf/flecheira112.pdf

Encontrei mais um cantinho pra leitura. Super recomendado.

http://www.nu-sol.org/flecheira/flecheira.php?pagina=1 - aqui tem mais.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

lembranças de abril...

...uma importante parte da minha história começa ali. abril de 2008.
antes de abril, diria que esse importante momento foi de ter "entrado pra política". mas logo que passou abril, percebi que política não é questão de entrada, é questão de percepção.
tudo que me incomodava, tudo que parecia errado...foi a partir daí que comecei a ler o porquê, e depois que descobria, ia gritar no megafone para que outros ouvissem também.não vou esquecer de abril, que começamos a ler o que era REUNI, e todas as outras siglas - porque quem faz política de verdade fala por siglas, hehe - e as pessoas nos achando os senhores organizados diante de tanto acúmulo. e o acúmulo era o google da madrugada anterior, e as consequências eram as olheiras.

é desde abril que grito. desde abril que perco a voz, por aí.e espero não esquecer, aquele menino perdido batendo na porta da sala e pedindo pra falar comigo. dizia que o negócio estava feio e que teríamos que ir pra são paulo. foi aí que descobri que eu era do centro acadêmico. foi aí que percebemos que o centro acadêmico, independente de existir ou não, estava na hora de começar.

eu fui - como fico feliz por ter ido! também espero não esquecer: toda a vida que existia dentro de mim, explodindo, acreditando que sim, se a gente se junta, a coisa fica forte, a coisa funciona.os gritos unificados, quando descemos da van após um longo dia buscando pessoas para lotá-la:
- SANTOS CHEGOU!
não quero esquecer jamais aquele abraço, de pernas trêmulas: a responsabilidade de uma assembléia gigante.

depois, a casa velha da avenida grande. a sensação de entrar lá. aquela menina miudinha abrindo o portão pra mim, e de repente tudo ficar diferente. sensação de pertencimento. acolhimento. o sorriso, daquele cabeludo esquisito. a paciência, daquele já apresentado no mesmo abril marcante. um mundo abriu mais ainda: não existe só universidade. existe mais, muito mais coisa. e se quer mudar, aguenta.

importante lembrar das lágrimas, quando as portas se fechavam, e só restava eu - de vez em quando com alguém especial ao lado. espero não esquecer....às vezes eu esqueço. esqueço, e infelizmente - ou não - preciso dessa vida toda transbordando pra poder gritar. senão vira sussurro, vira suspiro. vira lamento.

que bom. que bom, que de vez em quando aparece alguém lembrando, fazendo o grito aumentar.
e quem sabe? quem sabe um dia o grito fica tão grande, tão grande, que chegue a cubrir esse ruído insuportável e constante, chamado conformismo.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Mas tudo flui melhor quando se aprende a canibalizar as leituras.

"O cotidiano transborda em políticas. E eu bem sei que com essa frase bonita não se
descobre a pólvora. É o que se diz: “todo mundo sabe disso”! Então, o que falta acontecer
para que as coisas aconteçam? Todos os dias, a violência arromba a tranqüilidade dos portões
das universidades, que já passam da hora de aprender a ouvir (e falar) as linguagens das ruas,
povoando-as, contribuindo efetivamente para sua produção."

"No percurso da formação, tudo é fragmentário e instável, mas nem por isso há
falta ou incompletude. No entusiasmo do encontro com um novo pensamento, com a
inquietação gerada por falas inesperadas, na quase inevitável raiva provocada pela
impossibilidade de discutir, já alertada em certos Diálogos, nada forma um sistema ou corpo
coerente, unitário. É muito mais um mosaico, um caleidoscópio, um rizoma isso a que
chamamos formação. Se é o desejo que a move, ela volta e meia muda de direção antes que
tenhamos tempo de concluir algo que até a pouco era a razão de tudo."

"Vamos aos atos: queremos pesquisar como quem busca a cor não vista; ensinar como
o artista em performance; aprender como discípulo de acordes novos... Conhecer como o
poeta, a vida. É preciso lembrar que as ciências são artifícios de verdades (e não instrumentos
da Verdade), para recuperar seu potencial de criação de outras sensibilidades: novos olhares,
novas escutas, novas falas... Façamos ecoar a voz de Glauber: “sem linguagem nova não há realidade nova”. O que estamos a fazer repetindo os manuais, cultuando os métodos, arrotando saberes de ontem, enquanto a vida e a morte acontecem à revelia da impostura acadêmica? Quando o saber se torna mercadoria, é preciso dizer que a ciência nunca foi senão arte. Quando falar “educadamente” se faz inócuo, é preciso não esquecer que sabemos cantar. “Por uma vida menos ordinária que pintamos o chão”. É hora de se apropriar do expediente do poeta. Talvez assim tenhamos condições de inventar outra história para o lugar em que atuamos, qualquer que seja."

"Tem gente caindo de tão tonta que está por rodar em torno de si procurando o que dizem estar sempre atrás (nauseante a ausência de vírgula?). Esta é a sina da massa diplomada e graduanda-gradeada que se acumula em cada parte. Não são poucos os anjos sodomitas que fantasmeiam às nossas costas. Mercado, Currículo, Reputação, Histórico, Salvação, Moral, Punição, Recompensa,
Liberdade, Saúde..."

"Foi bem por acaso que aprendi a pensar de outras maneiras. Mas é preciso estar atento
para acompanhar o acaso, para pegar o acontecimento, viver com o caos. Talvez se o tempo
e a energia dissipados em procurar/estabelecer a ordem ou a razão das coisas fossem
dedicados ao aprendizado intenso de lidar com o impensado, o imprevisível, o inclassificável,
o intempestivo, enfim, o que extravasa o já sabido, talvez assim a impotência diante do
inaceitável fosse exceção à regra."

"Ao início do texto a vontade era de armá-lo com citações as mais seletas. Mas tudo flui melhor quando se aprende a canibalizar as leituras. Aí a citação é quase dispensável, ela já está lá, incorporada à própria escrita, já com a marca do encontro, da diferença entre o escrito e o lido. Aqui não há pretensão de posse das idéias. Pensamento que tem dono é idéia morta. Original é a relação. “Fundamental é mesmo o amor” no que se faz, “e é impossível ser feliz sozinho”"

Texto de Eder Amaral e Silva. "A quem interessar possa: breve elogio à formaçao rebelde."

...para quem tiver vontade de ler na íntegra (e eu super recomendo), clique aqui.

 
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...