sábado, 31 de outubro de 2009

você pediu e eu já vou daqui

é isso.
resultado final: amor demais. não vai dar certo. não tem onde botar.
diagnóstico: encerra a noite lembrando que perdeu a novela.


há algo de errado no mundo. há algo de errado com o amor (é pouco? é muito?).
as lágrimas não caem. o orgulho funciona como uma grande barragem pra impedir. o maxilar ajuda, travando a boca e engolindo o choro que nasce da garganta, cumprindo o papel do coração que parou - nessa hora ele congela, porque se ficasse normal, ia explodir de tanto sentimento.
sempre fico fria quando a tendência é sentir demais. é como se fosse uma autodefesa do corpo, pra que ele não se desmanche e vire pó.

...
Aconteceu quando a gente não esperava
Aconteceu sem um sino pra tocar
Aconteceu diferente das histórias
Que os romances e a memória
Têm costume de contar
Aconteceu sem que o chão tivesse estrelas
Aconteceu sem um raio de luar
O nosso amor foi chegando de mansinho
Se espalhou devagarinho
Foi ficando até ficar
Aconteceu sem que o mundo agradecesse
Sem que rosas florescessem
Sem um canto de louvor
Aconteceu sem que houvesse nenhum drama
Só o tempo fez a cama
Como em todo grande amor
[Adriana Calcanhoto]
Choro ouvindo a música porque você me arranca sorrisos quando aparece na lembrança.
A saudade existe, do último abraço até o próximo.


...


Você é meu caminho, meu vinho, meu vício. desde o início estava você...
Meu zen, meu bem, meu mal.


E o que digo é: que pena. Perdemos uma linda história.
Mais um filme que se encerrou na sua sinopse em potencial.

e a gente vai se amando que também sem um carinho...

...ninguém segura esse rojão!

a vida fica mais fácil quando a gente tem pessoas pra complicar a vida junto.

...
carinho. risos. lágrimas. domingo. manhã. despedida. madrugada. jornal. enade. paixão. histórias. partido. música. poesia. e-mails. longos e-mails. ligações de saudade. revolução armada. reunião. feriado. distância. beijo. santos. relações. abraço apertado. confusão. lembrança. mãos dadas. gratuito. aperto. história. começo. você em associação livre.
...
as despedidas são mais fáceis assim: rápidas, arrancadas como um bandaid da pele. o ruim é que na hora da dor, a gente já tá sozinho.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Por que se é amigo de alguém?

"Por que se é amigo de alguém? Para mim, é uma questão de percepção. É o fato de... Não o fato de ter idéias em comum. O que quer dizer “ter coisas em comum com alguém”? Vou dizer banalidades, mas é se entender sem precisar explicar. Não é a partir de idéias em comum, mas de uma linguagem em comum, ou de uma pré-linguagem em comum. Há pessoas sobre as quais posso afirmar que não entendo nada do que dizem, mesmo coisas simples como: “Passe-me o sal”. Não consigo entender. E há pessoas que me falam de um assunto totalmente abstrato, sobre o qual posso não concordar, mas entendo tudo o que dizem. Quer dizer que tenho algo a dizer-lhes e elas a mim. E não é pela comunhão de idéias. Há um mistério aí. Há uma base indeterminada... É verdade que há um grande mistério no fato de se ter algo a dizer a alguém, de se entender mesmo sem comunhão de idéias, sem que se precise estar sempre voltando ao assunto."
Deleuze

Um agradinho, aos meus companheiros de linguagem.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

um adendo

você me dá preguiça.

o vento vai dizer, lento o que virá.

aventura
dois perdidos pela cidade. lugar esquisito, nenhuma placa de nenhuma rua poderia lembrar algo. rostos estranhos, montanhas pra todo lado - a praia está longe. ao passar num bar: cerveja itaipava 2,69. desespero: estamos muito longe.

até que então, passamos por um lugar, com uma placa bonitona, sigla esquisita e o seguinte slogan: "aqui se faz saúde de verdade".

- fudeu, já não estamos nem no Brasil mais. - disse, já sem esperanças.

desventura
ah. às vezes é isso que você é, meu bem. é isso que é gostar de você: desventura. falar de você é dificil, pelo menos se não for com poesia e música.
tento fazer o que faz, tento dificultar as coisas...

...mas perco no primeiro sorriso, ou na primeira declaração de saudade sua.
a verdade é que você que bota dificuldade em tudo, e eu tenho que lidar com toda a complexidade de simplesmente querer estar junto.
a verdade é que a dificuldade é quase que natural pra você, faz sentido dentro do que quer e acredita. pra mim, ela fica artificial, vira joguinho.
a verdade é que nem sei se tudo que existe entre a gente é coisa criativa minha - e se for, haja criatividade - ou se existe, mesmo, algo em você também.

isso é desventura.

e isso é chato.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Coisas do mundo, minha nega

Das coisas do coração
A gente não sabe o quanto uma relação é superável e o quanto ela é apenas abstraída, jogada pra debaixo do tapete. Há dias não me importava. Até li cartinhas antigas, com tom de "bons tempos". Até que uma música te pega de surpresa, e te faz chorar.
A primeira música do primeiro CD.
- Maldito.
É tudo que consigo dizer.

Da morte
"Brindando à morte e fazendo amor", recebo como título de e-mail no meio de uma crise existencial fudida. Crise existencial quase que superada.
"A vida é mais perigosa que a morte", foi a mensagem que recebi de uma amiga, minutos após minha vó ter morrido. A vida é mais perigosa que a morte e os sentimentos vem da percepção dessa vida. Depende de onde se olha e pra que se olha. Porque sofrimentos e alegrias existem aos montes por aí, das boas e das ruins, de ambas.

Do mundo do trabalho
"Oferecemos vagas para balconistas". No sistema capitalista, trabalho é algo que se "dá", basicamente se "doa". Burgueses tão gentis, fazem o favor de "oferecer" uma, duas, vagas.
- Como são gentis! - diz o desesperado.
Os jornais anunciam que o desemprego tem diminuído, e os burgueses sentem uma tranquilidade na alma.
- Puxa, que bom. As coisas estão melhorando afinal, e não estou tão prejudicado assim.

Que dêem salário mínimo pra todos! Verá que o problema não é falta de trabalho. Que dêem educação pra todas as criancinhas, e vão ver que não é falta de escola (talvez até seja excesso o problema). Isso parece tão óbvio que até dói escrever isso como se fosse novidade.
O problema não é falta de emprego, nem falta de vagas nas escolas, Universidades. Não é falta de saúde, tampouco.
O problema é viver num sistema que depende dessa falta. Enquanto o sistema não mudar, ter emprego, saúde e educação será sorte. Qualquer emprego de merda é lucro, é sorte, é bondade de burguês e não humilhante, alienante e escroto.

Do movimento estudantil megalomaníaco
Cinco, dez ou cinquenta, o número não importa muito.
Basta poucos, basta uma conversa entre poucos lunáticos, que se resolve: um censo de todas as universidades de santos; um documentário sobre as universidades do estado de são paulo; um ato no senado, em duas semanas. Essas, as levadas a sério.
Algumas são lançadas, num tom de piadinha útil, daquelas que se diz com humor, mas que se alguém levar a sério, logo vira encaminhamento. Dessas daí, prefiro não comentar.

I do like you today.

"- vai ficar tudo bem?"
ele pergunta, como criança que faz arte.

a verdade é que não dá pra saber. não se sabe o que é o "tudo", não se sabe o que é o "bem", menos ainda se sabe sobre o que se espera do "ficar"...fica? não sabe se fica, se vai e volta, se vai e não volta, se fica um dia, um ano, pra sempre. é difícil responder algo que caminhe no sentido de estabilidade, vindo de uma relação entre pessoas que cada dia a vida perde e ganha novos sentidos.
o que importa é: hoje se quer pra sempre, e as coisas se tornam no máximo "obstáculos", mas não "impedimentos". torna a brincadeira mais difícil, mas ela não tem cara de que vai acabar tão cedo (é horário de verão, o tempo de brincar é mais longo).


... ... ... ... ...


tem horas que ele parece pequeno, como quando pergunta se vai ficar tudo bem. e ela se sente grande, explicando as coisas, como funcionam, como são, como deve ser; tem horas que ele parece grande. e ela deita em seu colo e escuta, atenta. tenta entender, aprender, e fica pensando sobre o assunto; tem horas que são dois perdidos num mundo estranho, vivendo esse negócio doido que é gostar - é que eles jogaram fora o manual de instruções que se distribui gratuitamente, e tiveram a idéia (que às vezes parece brilhante, às vezes nem tanto) de inventar o próprio. e fica um olhando pro outro e sorrindo, sem graça. "sinto muito, não sei o que se faz agora", dizem um ao outro.
por outro lado, é de se perder as contas de quantas vezes eles trocam frases como "nossa, eu sou assim também", "penso exatamente assim", "também senti isso"... nessas horas eles parecem grandes, entendidos, experientes.

ah! deliciosa dança de gostar-criando.

... ... ... ... ... ...


Meu amor, meu cúmplice, eu sempre vou te achar
Nos avisos da lua, do outro lado da rua
Rodei todas as lanchonetes
Tive idéias perversas
Relembrei tantos golpes espertos
Você cada vez mais perto
Meu amor, meu cúmplice, meu par na contramão...
(Cazuza, Cúmplice)

terça-feira, 20 de outubro de 2009

"vazio agudo. ando meio cheio de tudo"*

"eu já fui como você", diz você, sempre tão confiante. mas eu não quero ser como você, não quero. e duvido que você tenha sido como eu, duvido.

hoje ninguém nem nada me basta, nem eu mesma.
não há nenhuma resposta pra todas as perguntas que carrego, cada uma pesando mil toneladas. hoje a vida não é certa.

nunca foi, mas hoje isso é certo.

*paulo leminski (o título)

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Fechando a tal da gestalt. (2)

Na noite terrível, substância natural de todas as noites,
Na noite de insônia, substância natural de todas as minhas noites,
Relembro, velando em modorra incômoda,
Relembro o que fiz e o que podia ter feito na vida.
Relembro, e uma angústia

Espalha-se por mim todo como um frio do corpo ou um medo.
O irreparável do meu passado — esse é que é o cadáver!
Todos os outros cadáveres pode ser que sejam ilusão.
Todos os mortos pode ser que sejam vivos noutra parte.
Todos os meus próprios momentos passados pode ser que existam algures,
Na ilusão do espaço e do tempo,
Na falsidade do decorrer.

Mas o que eu não fui, o que eu não fiz, o que nem sequer sonhei;
O que só agora vejo que deveria ter feito,
O que só agora claramente vejo que deveria ter sido —
Isso é que é morto para além de todos os Deuses,
Isso — e foi afinal o melhor de mim — é que nem os Deuses fazem viver ...

Se em certa altura
Tivesse voltado para a esquerda em vez de para a direita;
Se em certo momento
Tivesse dito sim em vez de não, ou não em vez de sim;
Se em certa conversa
Tivesse tido as frases que só agora, no meio-sono, elaboro —
Se tudo isso tivesse sido assim,
Seria outro hoje, e talvez o universo inteiro
Seria insensivelmente levado a ser outro também.

Mas não virei para o lado irreparavelmente perdido,
Não virei nem pensei em virar, e só agora o percebo;
Mas não disse não ou não disse sim, e só agora vejo o que não disse;
Mas as frases que faltou dizer nesse momento surgem-me todas,
Claras, inevitáveis, naturais,
A conversa fechada concludentemente,
A matéria toda resolvida...
Mas só agora o que nunca foi, nem será para trás, me dói.

O que falhei deveras não tem esperança nenhuma
Em sistema metafísico nenhum.
Pode ser que para outro mundo eu possa levar o que sonhei,
Mas poderei eu levar para outro mundo o que me esqueci de sonhar?
Esses sim, os sonhos por haver, é que são o cadáver.
Enterro-o no meu coração para sempre, para todo o tempo, para todos os universos,

Nesta noite em que não durmo, e o sossego me cerca
Como uma verdade de que não partilho,
E lá fora o luar, como a esperança que não tenho, é invisível p'ra mim.
[Álvaro de Campos]

*sarau terapêutico no fim de semana.

Fechando a tal da gestalt.

Tenho razão de sentir saudade,tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste e, sem te despedires, foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave do que o ato sem continuação, o ato em si, o ato que não ousamos nem sabemos ousar porque depois dele não há nada?
Tenho razão para sentir saudade de ti, de nossa convivência em falas camaradas, simples apertar de mãos, nem isso, voz modulando sílabas conhecidas e banais que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste o não previsto nas leis da amizade e da natureza nem nos deixaste sequer o direito de indagar porque o fizeste, porque te foste.
[Drummond, A um ausente]

domingo, 18 de outubro de 2009

Adiamento

Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã...
Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã,
E assim será possível; mas hoje não...
Não, hoje nada; hoje não posso.
A persistência confusa da minha subjetividade objetiva,
O sono da minha vida real, intercalado,
O cansaço antecipado e infinito,
Um cansaço de mundos para apanhar um elétrico...
Esta espécie de alma...
Só depois de amanhã...
Hoje quero preparar-me,
Quero preparar-me para pensar amanhã no dia seguinte...
Ele é que é decisivo.
Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos...
Amanhã é o dia dos planos.
Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o mundo;
Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã...
Tenho vontade de chorar,
Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro...
Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo.
Só depois de amanhã...
Quando era criança o circo de domingo divertia-me toda a semana.
Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da minha infância...

Depois de amanhã serei outro,
A minha vida triunfar-se-á,
Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático
Serão convocadas por um edital...

Mas por um edital de amanhã...
Hoje quero dormir, redigirei amanhã...
Por hoje, qual é o espetáculo que me repetiria a infância?
Mesmo para eu comprar os bilhetes amanhã,
Que depois de amanhã é que está bem o espetáculo...
Antes, não...
Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei.
Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser.

Só depois de amanhã...
Tenho sono como o frio de um cão vadio.
Tenho muito sono.
Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã...
Sim, talvez só depois de amanhã...

O porvir...
Sim, o porvir...
[Alvaro de Campos]

* Mais um da série: se tivesse capacidade, teria escrito isso.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

cenas de um cotidiano de cenas

Fim de semana passado, andando pela avenida paulista. andar pela av. paulista, como já disse outras vezes aqui, é sempre algo intenso: a música tocando e eu olhando as coisas e, de vez em quando o fone cede o ouvido pra alguma coisa que precisa ser escutada.

Foi assim, chegando quase na avenida augusta. estava parado aquele VEDDAS, com seu VEDDAS-móvel, hehe. A idéia é uma espécie de van que possui um telão, que fica passando cenas fortes sobre maltrato de animais. Eu não ia parar - já vi, e gosto mais de olhar os cachorrinhos sendo adotados no "Como assim?!", que fica próximo.

Enfim, o que me fez parar foram duas crianças, aparentemente moradoras de rua, assistindo ao vídeo, de olhos super arregalados. Assistiam àquilo com grande dedicação, quase em frente à tela, como o cachorrinho do 101 dalmatas.

Fiquei lá, assistindo eles assistirem. Era uma concentração incrivel. E eu concentrada neles, até chegar um panfleteiro do negócio...
- Oi, já viu esse video?
- Já sim.
- É, e ainda piora...
- É... na verdade, eu parei por causa das crianças, estou impressionada com essa cena. (não consegui entender direito o porquê, mas era algo tipo: crianças aparentemente maltratadas assistindo aos maltratos dos animais exibidos numa tela, com ar de coisa feia)
- Anh... (responde o cara, não muito interessado em conversar). Pegue um panfleto, fique a vontade.

E nisso ele foi, para outro casal. Antes disso não pode deixar de ir até às crianças.
- Oi, vocês podem se afastar um pouquinho pras pessoas poderem ver?
As crianças se afastam, mas não muito, não deram muita atenção ao cara. O cara, considerando que foi fazer isso depois de eu ter apontado, não tinha dado muita atenção a elas também.

Entrega os panfletos ao casal e repete a cena:
- Ja viram esse video?
- Ah, não nao. Parei porque estou tentando ser vegetariana e.... (a mulher empolgada em contar sua vida ao moço desconhecido. as pessoas se sentem sozinhas e contam suas vidas pra quem dá brecha, mesmo que seja desconhecido).
- (o homem interrompe e diz): É, e fica pior (acho que decorou essa fala e não consegue dialogar com as pessoas).

Bom, após passar um letreiro de um dos videos (são pequenos), as crianças correm para o moço que panfleta e começam a perguntar:
- Vocês que filmam isso?
- Onde isso acontece?
(e mais várias perguntinhas, entusiasmadas)

Mas o homem não tem tempo. Responde rapidamente a uma ou duas questões e vira de costas, continuando a conversa com o casal que tenta ser vegetariano.
As crianças notam a falta de interesse e voltam a ver um pouco do vídeo. Minutos depois, a menina corre pro moço e pede as horas. O moço diz: 20h30.
A menina chama o menino e eles vão embora. É meu caminho, então vou indo na mesma direção que eles - já não há o que assistir mais por lá.
Nisso, descem uma escadinha que tem uma corrente e ficam lá, entre o fim da escada e uma porta.




Era hora de dormir.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

tô punk de gritar teu nome sem parar











falta tempo pra gostar nessa vida.
e eu sou uma pessoa que gosta de gostar. que faço? (alguém salva dessa vida que me engole?)

terça-feira, 13 de outubro de 2009

ele não é do tipo que se apresenta aos pais (será?)

da série: mentiras que nos contam quando somos crianças. (talvez vire mais um marcador, he)
quando somos crianças, adultos nos explicam o mundo dividido em dois: existe o bom, e o mau. o feio, e o bonito (e Melanie Klein ainda tem a cara deu pau de dizer depois que isso é culpa só do bebê!). assim, gente bonita faz coisa bonita e gente má faz coisa feia.

coisas bonitas: bom aluno, educado, no futuro bom profissional, um bom cidadão (joga papel no lixo e vota conscientemente - é o que a gente aprende sobre o que é ser bom cidadão), honesto, que tem relações sólidas e namora com alguém bacana que futuramente casa, alguém capaz (é, depois a gente entende que esse troço de mundo capitalista começa desde dentro de casa, com mamãe dizendo: se você for bom, vai se dar bem), ser sincero, ter muitos amigos-mas-especiais (tem que ser bem-relacionado, pra contar pra psicóloga do RH da empresa que você deseja trabalhar, he), entre outras muitas coisas.

o oposto disso tudo é o feio.

coisas feias: usar drogas, não ser dedicado, má educação, ser gordo (sim, coisas do capital: ser gordo é culpa do sujeito), agir contra a lei, dormir pouco, mentir, não se alimentar direito, dormir com várias pessoas, ser burro, ... (nossa, é difícil pensar em coisas feias sem ser o oposto das bonitas).

enfim, o oposto disso tudo é o bonito.

então crescemos, conhecemos pessoas e mentalmente falamos: "ok, ele é uma pessoa educada, aproximar", "ok, ele usa drogas então é mau, afastar" e por aí vai.
até que um dia a gente se aproxima de alguém (essa historinha é fantasiada, e o ar colegial é porque estou assistindo felicity - essa situação que você lerá a seguir foi imaginada acontecendo numa "primeira festa de faculdade"), e ela é super legal, e você conversa, conversa e esquece da sua tabelinha moralista mental, até uma hora que a tal pessoa declara:
- tenho um relacionamento aberto.

e primeiro você se assusta, e entristece: terei que me afastar.
mas você resolve continuar, sabe-se lá porquê. é quando descobrimos que:
existem pessoas que não são sociáveis e são gênios e se dão super bem na vida; existem gênios que usam drogas e morrem de overdose (não precisa nem ser tão gênio: os médicos que nossas mães tanto querem como maridos exemplarem, que roubam suas droguinhas no hospital pra ficar ligado); existem pessoas que morrem de overdose e são super bem relacionadas; existem pessoas que são super bem relacionadas e são gordas; existem pessoas gordas que namoram e se casam; existem pessoas que namoram e se casam e traem; existem pessos que tem várias relações e são sinceras; existem pessoas sinceras e mau educadas; existem pessoas mau educadas que se tornam chefes, até presidentes. ah, sim, você aprende que não adianta nada ser bom cidadão, já que os candidatos, esses sim, são feios. (não resisti a oportunidade)

enfim, a historinha pode ter sido meio tosca, mas é que na verdade não sei quando se descobre que o que seus pais (que pra nós, são bonitos, na maior parte das vezes a gente acha isso quando é criança) mentiram. e eles podem continuar bonitos pra nós. talvez tenha gente que passe a vida inteira sem se dar conta de que isso é uma mentira.

e aí? o que fazer, se não dá pra classificar as pessoas dessa forma? bom, daí nos resta conhecê-las. ver o que toleramos e não toleramos, o que nos aproxima e o que nos distancia, ver porque não toleramos ou porque nos aproximamos e pensar se isso vale a pena...

ah! olha eu dizendo o que se fazer. há. que besteira! era só pra reclamar e questionar mesmo, não pra dar conselho. no fim, é isso: não existem mocinhos e bandidos. no fim das contas, você descobre que o mocinho dorme com várias pessoas e o bandido conhece poesias lindas. e o que a gente faz com isso?

domingo, 11 de outubro de 2009

coisas do coração - a vida se encarrega dos encontros

algumas histórias da vida, da rua, da arte, da imaginação...

sobre relações, nº1
você diz que gosta das coisas devagar, mas eu tenho pressa.
"o amor é urgente" - digo tantas vezes.
mesmo assim, às vezes a gente esbarra em situações que obrigam que tudo seja necessariamente lento. a vida, às vezes cheia de compromissos, que dificulta encontros. os encontros, às vezes cheios de vida, torna tudo tão mais intenso - os olhares, as conversas, as mãos que se esbarram - que um beijo ou uma noite de sexo torna-se até menor, e "atrapalha" aquele momento.

às vezes é assim, né. hum?

sobre relações, nº 2
a complexidade da vida está em não saber o que é pior num domingo a noite: discutir a relação ou o pré-sal? oh, dúvida cruel.

sobre relações, nº 3
A marca com B de se ver no dia X. dia X-1, A sai com C, B sai com D.
não se sabe como será o dia X, menos ainda o X+1. nessa equação, os sinais estão em crise.
é soma? subtração? multiplicação? ou divisão demais?

disso tudo, uma reclamação: faltou essa aula nos mil anos de escola.

sobre relaçoes, nº4
as pessoas namoram e viram uma só.
"eu não posso porque fulano não vai poder" - é a frase de quem namora. é a frase que os solteiros tanto odeiam ouvir daqueles que namoram. odeiam e não compreendem.
"mas é ele que não pode, você pode!" - tentam, inutilmente, lembrar a vítima apaixonada.
não é uma crítica aos amigos que namoram, por favor, não é isso. é uma crítica a essa lógica do namoro, essa lógica do amor.
isso pra mim não é bonito. não é romântico. é coisa instituída e chata.

sobre relaçoes nº5
[quero que saibas que me lembro
queria até que pudesses me ver
és parte ainda do que me faz forte
e, pra ser honesto,
só um pouquinho infeliz]

faz tempo que não tenho um fulano que não pode ir aonde eu vou, pra eu deixar de ir também.

sobre relações, nº6
[diga que você me quer, porque eu te quero também]
tenho pressa pra dizer: ei, gosto de você.
e recitar poesias e cantar canções bonitinhas. mandar um trecho de romance e dizer: fica comigo? (guardo as mais bonitas, pra um dia dizer que achei "por acaso". vivo de forma que futuramente faça sentido te mandar alguma, pelo menos uma.)
tenho pressa pra dizer, junto com a pressa de sentir que realmente gosto.
(ai, quando será que vai dar aquele friozinho de novo na barriga?)

sobre relações, nº7
da série: diálogos de filme. [te ver, conversar, rir. como é bom! e quando foi que virou crime, virou feio? sinto como se estivesse num país estrangeiro: ´aqui não se come com a mão, filha´. é o único com quem posso ser inteira, já que é cúmplice do maior segredinho atual. apesar de tudo, hoje é dia de festa, porque eu te amo.]

sobre relações, nº8
a vida parecia mais fácil quando nos contávamos que ao crescer (e era apenas essa a condição pra tal) encontraríamos alguém especial e com ele viveríamos pra sempre.
a vida era mais fácil, quando isso parecia uma promessa interessante.

pequenos grandes prazeres.

POESIA & CERVEJA


há dias pedi mentalmente por mais poesia. em tempos corridos, essas coisas nunca vem de graça. assim, a tive em troca de uma noite de sono: cerveja e poesia na madrugada.
as leituras variadas, com entonações e alguns engasgos - palavras desconhecidas e emoção - vinham acompanhadas de lembranças de amores passados e pressentes.
todas as lembranças de todos os que lá estavam vinham acompanhando a dança das fumaças de cigarro e o movimento das pessoas trocando de lugar.

a leitura da poesia vem acompanhada de resgate. sentir e lembrar. sentir para lembrar. um romance que passou, que existe. um romance que existiu apenas no desejo de existir. poesia é sentida através da identificação de experiências.

"Amanhã esquecerás que eu te pus num pedestal,
que incendiei de amor uma alma livre,
e os dias vãos – rodopiante carnaval –
dispersarão as folhas dos meus livros...
Acaso as folhas secas destes versos
far-te-ão parar, respiração opressa?

Deixa-me ao menos arrelvar numa última carícia teu passo que se apressa."
[Maiakóvski]

VIDA & POLÍTICA
Reunião sexta à noite. "Programão" - disse, repetidas vezes entre amigos, momentos antes de enfrentar o tal compromisso burocrático de sexta, às 22h30.
De fato, foi um programão.
"Tudo é político" - dizem aqueles quando tornam-se conscientes de que suas ações, pensamentos e discursos refletem em uma postura que diz de sua leitura do mundo.

Os que não se deram conta disso ainda, passam a chamá-los de burocratas, reduzem a meros "comunistas-marxistas-que-pregam-o-socialismo-mesmo-sabendo-que-ele-não-funciona." (senti um aperto de reproduzir esse discurso até, he).

De fato, existem os burocratas-e-só-isso.
De fato, existem aqueles que acham que basta vestir uma camiseta de algum partido e se dizer socialista, marxista-leninista que tá tudo certo ("agora sim, sou um homem de consciência").

No entanto, existe algo maior que isso. Algo do não-dito, uma potência gigante que fica no ar, quando pessoas se encontram pra fazer algo. Pra quem vive isso, é algo prazeroso demais. Sentir-se útil. Sentir-se participante. Atuante. Implicado com a vida.
É difícil de explicar.
Parece até ingênuo e, para quem não vive, logo resmunga: "pensam que vão mudar o mundo com isso?". É engraçado como, quando se conclui que determinado ato não vai mudar muita coisa, as pessoas largam o projeto... pra ver tv!

Mas enfim, não vim falar disso, do não-isso, vim falar do isso: projetos que fazemos, que não vem ao caso mudar o mundo ou não, mas mudar algo. Não somos um grupo - embora sejamos também. Somos várias pessoas, que carregam algo no olhar, nas formas de se relacionar, nas formas de se colocar no mundo, nas formas até de tomar cerveja num sábado a noite.
Não é um "clubinho", que precisa de senha pra entrar.

Pode-se dizer que é a quebra dos clubinhos. Pessoas que buscam se libertar de identidades, somos-isso-e-mais-que-isso. Aqui se diz "pode entrar, não precisa de senha nem pré-requisito. aqui sua liberdade começa quando começa a do outro".

Encontrar pessoas. Fazer projetos. Desafinar o coro dos contentes. Se o mundo vai mudar, se a revolução vai ser amanhã, eu não sei. Só sei que essas conversas, esses encontros, essas ações dão mais significado pra vida do que qualquer outro programa de sexta à noite. E com essas pessoas, ir a um bar ou sentar na Avenida Paulista falando de coisas ou ler junto poesias torna-se um ato político.
Com essas pessoas, viver torna-se um aquecimento, uma prévia, um gostinho do que seria o tal do outro mundo.

sábado, 10 de outubro de 2009

estamos todos presos

"Estamos todos presos. De ambos os lados dos muros a mesma sociedade. Uma se acha boa; a outra é vista como má. A normal encarcera no seu espelho o que lhe é insuportável. Ela diz que lá dentro eles serão educados para voltarem integrados ao lado de fora. A sociedade se defende construindo prisões e constatando que elas não dão certo. Faz reformas na arquitetura e na lei para internar novamente: negros, nordestinos, bichas, pequenos ladrões, jovens, religiosos, ateus, manos, desempregados, larápios, halterofilistas, operários, um-sete-uns, manicures, pobres, punks, putas, loucos, bêbados, homens e mulheres quase normais, enredados em infrações e armadilhas policiais e jurídicas. Estar dentro ou fora é quase um acidente. Dizem que somos livres, mas vivemos prisioneiros dentro do território nacional. Dizem que somos civilizados, mas ainda não aprendemos com as sociedades primitivas a ser antropofágicos. Temos medo de subversão. Somos antropoêmicos e estamos todos presos." nu-sol/ 2000, para a exposição realizada no museu da cultura-puc/sp

www.nu-sol.org

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

quero você na veia.

de uma vez só. consumir tudo.
overdose de você.
você é urgente e marcar hora torna tudo mais chato, burocrático.

não quero burocracia.
quero te encontrar, por acaso, na rua da minha casa. sem pensar em nada, no possível, no dinheiro, nos compromissos e nos comprometidos. a gente entra e sai só no dia seguinte.

o nosso pra sempre de 24 horas. 12, que seja. eu topo. mas diz que será agora, que será acaso, que eu não preciso pensar em nada. só te ver e esquecer do resto.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

love, you´re a whore

"boa noite"
gostaria de dizer mais, fazer mais.
hoje tá tudo insuficiente, tudo pequeno, tudo longe.

que merda de sentimentozinho que fica deixando tudo amargo.

toda poesia que no coração havia, o vento levou...

dia de apertozinho no coração.
tristeza, vontade de ficar quieta, num canto.

tem dia que a gente só quer ter alguém pra fazer manha e dizer: quero colo, agora.
tem dia que a gente só quer pegar um atestado que te deixe livre de toda e qualquer obrigação.
tem dia que a gente quer que o tempo congele, só pra que nada mais fique atrasado.

tem dia que você olha pra tudo em volta e pensa: cansei de brincar. posso ser outra coisa?

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ontem cantarolava canções de amor por aí.
hoje escuto, silenciosamente "a century of fakers", entre outras tristes...
ah. hoje a vida é um tédio.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

pensamento solto

eu gostaria de saber quem foi o adulto filho-da-puta que resolveu espalhar aquela crença na infancia de que viver era:
nascer;
crescer;
reproduzir;
envelhecer;
morrer.
alguém podia esclarecer, no mínimo, que no meio disso tudo tanta coisa acontecia.
esclarecer que, no mínimo, a gente não "cresce, conhece alguém legal e casa".
e que os relacionamentos não começam e terminam e então começa outro (às vezes eles acontecem ao mesmo tempo, às vezes eles retornam do além, às vezes eles desaparecem no vento...).

não fiquei decepcionada. pelo contrário, a vida pareceu até mais emocionante, e muita coisa fez mais sentido agora que sei que não era tão simples assim.
mas me senti enganada. além disso, imagina só como muita coisa não seria mais fácil se, desde o principio, os adultos falassem que tem muito mais coisa por aí.

eu gostaria de saber quando é a próxima assembléia do mundo dos adultos - agora que creio que posso participar - em que se delibere não mais contar essa mentirada toda.
a da cegonha, creio que já foi encaminhada uma moção de repúdio pra quem ainda faz.
o papai noel tá saindo de moda também.
agora, na próxima assembléia, vamos todos combater essa ladainha.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

a academia vive no alto de uma montanha

"Sob a alegação de que estavam em jogo interesses do conjunto da Nação, o Estado brasileiro primeirorepublicano não agia com sutileza disciplinadora para garantir a ordem pública. Ao contrário, não hesitou em valer-se, até a náusea, da polícia para imobilizar os indesejáveis. Este fato põe em questão a tese segundo a qual, no marco das greves operárias do primeiro período republicano, a ineficácia das medidas punitivas e policialescas de controle da força de trabalho teria levado à introdução de tecnologias de adestramento e controle nas fábricas e de gestão científica da miséria lideradas por médicos: higienização dos corpos e das casas populares; imposição ao povo de normas familiares burguesas; apropriação da infância pobre pelo saber médico; expansão de instituições disciplinares como hospícios, reformatórios e escolas. Todo esse período foi marcado por um sem-número de exemplos de brutalidade repressiva, orientação professada pelos governantes, apoiada por industriais e fazendeiros e muito bem resumida pelo presidente Washington Luís (que fora Secretário da Justiça e da Segurança Pública do Estado de São Paulo) quando definiu a "questão social" - que era como então se chamavam os conflitos sociais - como "caso de polícia"." (Patto, Ciência e política na primeira república: origens da psicologia escolar)

E os estudantes anotam, comportados em suas respectivas carteiras:
"prii...meei...ra república: (troca de caneta) pe-ríiodo de higienização / repressão."

A gente aprende a nossa própria história como se fosse a literatura de Shakespeare. Falamos das nossas próprias marcas, de toda nossa repressão, de tudo que apanhamos como se falássemos de um lugar isolado, uma cidade fictícia, criada por algum escritor criativo.

A Academia vive no alto de uma montanha. Observa a tudo, distante, esperta, como se não fosse com ela. Com isso, reforça uma grande burrice: burrice para nós, que queremos mudar. Esperteza para eles, que querem manter.

Aula de educação.
Estudamos sobre algo que vivemos. Estudamos toda a desgraça, estatisticamente, intelectualmente. Tudo aquilo que alguns protestam, o professor fala na frente da sala de aula.
Os que costumam protestar, em um momento de esperança pensam:
- agora essa galera vai se tocar. agora, que o professor vai falar de paulo freire e outras pessoas que servem de referência pra botar em camiseta ou perfil de orkut, falar o que esses caras falam de educação, agora a galera vai se tocar.

E a galera anota em seus cadernos "precarização da educação", "conceito bancário de educação", "neoliberalismo".
Hora do almoço.
Fecha o caderno.
À tarde vai estudar Terapia Cognitivo Comportamental pra prova.
Não vê a hora dessa aulinha marxista acabar.
Esse negócio de criticar o mundo é chato demais, né.


sábado, 3 de outubro de 2009

expectativas.

no fim das contas, é isso que pega. é esse negócio que fode com tudo. podem falar o que quiser: se prefere homem, mulher, gosta dos altos, dos baixos, dos ruivos ou morenos, dos magros, dos nerds, dos carecas... principal qualidade é bom humor, inteligência, sinceridade. quer grude, quer saiba dar espaço... falem o que quiser! o melhor relacionamento, na verdade, é aquele sem expectativas.

os melhores romances - ou melhores períodos dos melhores romances (e piores também) - foram aqueles em que não se espera nada.


e que o que venha seja lucro. e que cada ato seja uma surpresa (das boas!).

outro mundo, outro mambo

chegar em casa antes da meia noite.
nada de alcool, tabaco, ou qualquer droga ilícita. nada promíscuo.
um cinema. vou descendo a rua entre os bêbados. todos dopados, de alegria.

penso se aparento assim quando estou do lado de lá - do lado do alcool, tabaco, droga ilícita e promiscuidade. não suporto essa aparência de alegria burguesa. essa felicidade alienada, essa alegria besta. tropeços, risos, xingamentos, ofensas. mais, mais, mais. muito. muito. muito.
o pouco não agrada.
o lento menos ainda.
é rápido e na veia.



é sexta feira, e amanhã acordo cedo. e essa semana tudo passou mais lento...

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Faz zum-zum e pronto.

"Espero, espero
Espero lhe ver, lhe encontrar
Tenho 29 beijos pra lhe dar
Tenho 29 beijos pra lhe dar
Tenho 29 beijos pra lhe dar..."
[Novos Baianos, 29 beijos]

Há. É muito amor.

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Eu durmo muito. E tenho sonhos bizarros. Essa é a minha doença. Será que tem cura?

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E é mais uma sexta feira. Mais uma falta na aula de sexta à tarde. Definitivamente, não tenho nada de comportamental. E minha revolta começa nas pequenas coisas - contra a obediência nas aulas de sexta a tarde! Sobretudo em dias de Sol! E estamos conversados.

"é que nasci incubida"

ah, um trechinho de clarice, já postado no blog.
e viva as repetições e identificações.

"Estou cansada. Meu cansaço vem muito porque sou pessoa extremamente ocupada: tomo conta do mundo. Todos os dias olho pelo terraço para o pedaço de praia com mar e vejo as espessas espumas mais brancas e que durante a noite as águas avançaram inquietas. Vejo isto pela marca que as ondas deixam na areia. Olho as amendoeiras da rua onde moro. Antes de dormir tomo conta do mundo e vejo se o céu parece azul-marinho intenso, cor que já pintei em vitral. Gosto de intensidades. Tomo conta do menino que tem nove anos de idade e que está vestido de trapos e magérrimo. Terá tuberculose, se é que já não a tem. No Jardim Botânico, então, fico exaurida. Tenho que tomar conta com o olhar de milhares de plantas e árvores e sobretudo da vitória-régia. Ela está lá e eu a olho.Repare que não menciono minhas impressões emotivas: lucidamente falo de algumas das milhares de coisas e pessoas das quais tomo conta. Também não se trata de emprego, pois dinheiro não ganho por isto. Fico apenas sabendo como é o mundo.Se tomar conta do mundo dá muito trabalho? Sim. Por exemplo: obriga-me a me lembrar o rosto inexpressivo e por isso assustador da mulher que vi na rua. Com os olhos tomo conta da miséria dos que vivem encosta acima.Você há de me perguntar por que tomo conta do mundo. É que nasci incumbida."
 
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