sexta-feira, 4 de setembro de 2009

o segredo que escondem dos homens é que eles são livres.

e então, a porta está aberta. vá embora. fuja. tem medo?
é, ir pra outro lugar dá medo.

somos todos servos, voluntários. ser mais um servo no mundo nos livra das responsabilidades de seus próprios atos.
- choro, bebo, fumo, engordo, emagreço, tenho insônia, trabalho que nem um escravo, não pago as contas, roubo, mato... não é minha culpa.
preciso de dinheiro.
meu patrão é difícil, sabe.
minha família é exigente.
só assim eu vou ser alguém bem-sucedido.

bem-sucedido pra quem?
o mundo está em constante tensionamento. seja para manter, seja para transformar.
sempre ficamos com a impressão de que esse sistema é estável, e que a revolta gera instabilidade, vai causar mais confusão.

é o cúmulo da alienação dizer que esse sistema é estável naturalmente. pra que se sustente a estabilidade, é preciso de uma série de aparelhos: governo, escola, polícia, igreja, prisão, televisão, internet...
tudo para te fazer de máquina. aliás, nem de máquina. talvez uma partesinha insignificante dessa grande máquina.

é isso que quer pra sua vida?

vem os servos mais adestrados, com seus dedos cheios de calo de tanto jogar video game, e dizem:
"- esses revoltados que querem implantar uma revolução comunista e achar que tá tudo certo."
parabéns. continuem fazendo a grande máquina girar. sejam só mais um servo, aguardando seus pequenos momentos de senhor, nem que seja para o mendigo da rua.

as portas estão abertas. as algemas que te prendem são da sua cabeça.
o segredo que os homens não querem ouvir, ver, nem ler é que eles são livres.

4 comentários:

Fernando disse...

não é que os homens não saibam que são livres, ou que é escondida essa verdade.
O que acontece é que a liberdade é a condição mais temida dos homens.
eles preferem sujeitar-se aos piores castigos e à escravidão do que decidirem o que fazer com suas vidas.

toshio disse...

fernando, também pode ser, também pode ser... trata-se de um tema já trabalhado, por exemplo, por Sartre e pelos existencialistas de um modo geral (até por Heidegger, que renegou o rótulo)... a liberdade pesa, é um fardo, traz responsabilidades, gera angústia etc. preferimos, desse modo, viver "inautenticamente"...
mas é preciso enxergar o aspecto ideológico e semiológico (e não apenas psicológico - não sei se falo asneira) da questão: a liberdade é uma ideia que sofre constante manipulação... a escravidão é vendida como liberdade; a nossa linguagem é guiada e censurada pelo "pensamento único" e eventuais discordâncias nunca são de fundo (há sempre um limite tacitamente aceito pelos detentores do discurso competente e da fala autorizada, ou seja, por aqueles que fazem as "regras do jogo"); as nossas escolhas já estão devidamente delimitadas; até mesmo a possibilidade de ruptura já está previamente contabilizada pelo "sistema"...
por isso, embora desgastada, a frase continua potente: "seja razoável (e, segundo Zizek, realista), peça o impossível"...

Bel Keppler disse...

quando falo de liberdade, é bem diferente da concepção de liberdade que nos é "vendida" hoje.
é pensarmos menos em "a minha liberdade termina quando começa a do outro" e mais em "a minha liberdade começa quando a do outro começa também".
é pensar mais em como aparentamos não saber (e por isso é um segredo),que tudo que reclamamos sobre o que nos aprisiona, nos limita, nos formata são constituídos pelo próprio sujeito, e ao se submeter também estará fazendo sua contribuição para fortalecer ainda mais essa condição.

a liberdade é um grande fardo, mas entre ter o fardo da liberdade e o fardo da miséria, da escravidão, eu fico com a primeira.

Flauto disse...

...é fácil, vamos lá: como encerrar um jogo? vire o tabuleiro, ou seja, desfaça a estrutura que o torna realizável.

assim, para ser livre, entendendo a palavra escravidão no seu sentido mais amplo, faça o mesmo, desmonte a estrutura que a torna realizável... sem abstrações, faça tudo concretamente.

aquele que não tem o impulso vital necessário para tal, será por conseguinte escravizado, ainda que de formas meno convencional, o será.

escravo não é aquele que é submetido à subordinação, mas sim o que ao sê-lo, aceita, ou se entrega.

no dia-a-dia, por vezes, a pressão é inevitável. a questão é: o nó que lhe pressiona tem a força inversa de suas vontades, ou seja, quanto mais odiares tal nó, mais ele o incomodará... devemos simplesmente ignorá-lo, pois assim, o mesmo se enfraquece.

 
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