segunda-feira, 12 de novembro de 2012

E aí, quer dizer que está feliz em Natal?

"O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim:
esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."
Guimarães Rosa

Da experiência de vir para o Nordeste, tenho ouvido muito as pessoas falarem de como é incrível "abdicar de toda sua vida para ir para outro Estado, assumir uma tarefa como essa". Alguns dizem "não conseguiria fazer isso". Acontece que eu não deixei "a vida" para trás. A minha vida veio comigo e a minha mala, para essa nova terra pra chamar de minha. 

As coisas vão acontecendo e nem sempre se trata de fugir de algo ou de buscar algo específico, mas afirmar  os caminhos que se trilham. Isso não significa que seja algo "passivo", que algo do além nos oferece coisas e vamos dizendo "sim". Pelo contrário: somos ativos nesse percurso e a afirmação é algo que nos demanda refletir e afirmar. Mas é algo para-além-do-eu - minha vida, minha carreira, meu romance, minha família. 

E existe a saudade - e como ela existe. Viajar e ficar longe daquilo que entendia-se como nosso "habitat", é também re-conhecer: a antiga casa, a cidade, amigas e amigos, família. Descubro a cada dia uma saudade nova, de coisas que sequer imaginava que sentiria falta. Entendo melhor como fui me tornando o que sou quando percebo que determinada forma de agir era porque estava naquele lugar, com aquelas pessoas. Ficar esse tempo longe me fez revisitar a minha infância, perceber momentos determinantes que me trouxeram para onde estou hoje. Também me vejo lembrando de pessoas que estavam no dia a dia e que só agora longe penso como eram - são - importantes. E claro, penso nas pessoas que gosto muito e o carinho só aumenta. Confesso que muitas vezes a saudade não é constante. A saudade vem em ondas, em momentos de maré alta e maré baixa. E vez ou outra vem uma onda forte de um sentimento forte e honesto, ao olhar uma foto ou um video, que lava os olhos de lágrimas, de forma involuntária. 

Sair do lugar-comum é também se confrontar com coisas novas, que te empurram para novas respostas e novas perguntas também. Conhecer novos cheiros, sabores, paisagens. Encontrar pessoas novas e estabelecer novos vínculos de confiança. Novamente me pego procurando quem seria aquela pessoa que sentiria a minha falta caso algo acontecesse comigo. Ou: quem procurar quando a saudade bate e ficar sozinha em casa torna-se insuportável? Aprender novos mapas, e de repente se ver andando confiante por um caminho que há pouco tempo atrás era estranho.

Além disso, é notável como esse sentimento de "estrangeira", retomado constantemente principalmente no confronto de sotaques e gírias típicas, vem também com uma relativa rápida adaptação, que em pouco tempo me levou a me ver também como natalense-potiguar. Talvez seja coisa da construção do socialismo: somos paulistas, cariocas, santistas, europeus, africanos, guarani-kaiowás. Somos internacionalistas, quando o mundo nos chama - e ele chama, e nós vamos. Talvez por isso seja tão difícil falar em "voltar", como se existisse um lar-pra-chamar-de-meu. De repente, somos tomados por essa sensação de sermos do mundo. 

Estou aqui, e é isso, por enquanto. Constantemente, os amigos e amigas queridos me perguntam:
"Você está feliz em Natal, né?" - alguns afirmam, constatando; outros de fato questionam, preocupados. É pergunta difícil de responder. Nunca soube afirmar com segurança de que sou feliz - e isso não significa que não seja, mas porque acho que isso é uma pergunta-sem-saída mesmo. Talvez porque afirmar "sim, estou feliz", dá um ar de "final". Sinto que as pessoas vêem a felicidade como um estado estático. Pra mim, felicidade é caminho vivo. É quando estamos fazendo as coisas, e encarando os desafios. Felicidade é quando existe movimento. Isso não significa que as coisas estejam fáceis, ou simples, e que não envolva momentos duros, que nos provoquem angústia danada. Mas é quando, mesmo na euforia, olhando pelo vidro da janela do ônibus ouvindo uma música que gosta enquanto corremos para algum lugar que possivelmente estamos atrasados, respiramos e pensamos: estou bem. E um sorriso nos assalta no rosto. 

Pois, feito as considerações, afirmo: sim, estou bem, estou feliz. 

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