domingo, 11 de novembro de 2012

Uma carta de amor

Sabe que escrever para você é difícil porque os pensamentos sobre você vem em bandos e alguns até vem num nó difícil de desatar e em códigos talvez difíceis de decifrar e é difícil conseguir capturar de forma organizada. Creio que alguns vem até com aquelas letras de médico, ilegíveis. Você traz um excesso de informação e eu queria muito te falar tanta coisa mas eu não sei fazer isso.

Sabe que há um tempo eu reparei que quanto mais acelerada eu tô pra dentro, mais lenta eu me apresento pra fora. E as pessoas frequentemente vem dizer que eu passo um olhar de calma, e eu fico pensando se um dia elas conseguiriam ver o caos que é dentro de mim e quanta bagunça tem aqui dentro e o turbilhão de coisas que vem por segundo. E você fala para mim umas coisas que me trazem tantas coisas que eu penso que um dia vou conseguir escrever ou dizer. Na minha cabeça acontece como naquelas cenas de filme em que tem uma cena parada e de repente acontece alguma coisa, às vezes absurda, e depois retoma a cena parada e então você percebe que a personagem estava apenas imaginando. Na minha cabeça quando você tá falando comigo eu imagino eu interrompendo e botando a mão no teu ombro e dizendo “Você quer saber mesmo o que se passa?” e então eu inicio uma fala de 40 a 50 minutos soltando tudo que se passa na minha cabeça. Mas fica só na cabeça porque na realidade sou eu olhando pra um ponto que não é seus olhos, ou mexendo num canudo ou num guardanapo ou qualquer atividade banal que parece ser levada com tamanha seriedade – qualquer desculpa para não botar a mão no teu ombro e falar por 40 a 50 minutos.

Sabe que eu penso muito tentando entender as coisas e às vezes acho que é esse meu problema. Às vezes eu quero falar das coisas que penso mas penso também que falar das coisas que penso é o que estragou tantas relações. Eu queria que você entendesse que às vezes eu me sinto como aquele “encarregado” que fica numa situação chata entre os trabalhadores por ter que passar as más notícias do patrão. Eu queria que as coisas fossem de outro jeito, mas eu apenas te repasso coisas que sinto que não tenho muito controle, e que simplesmente é como estou me sentindo. E nesses contextos de tamanha fragilidade eu tenho andado num imobilismo absurdo que tem me incomodado demais. Eu queria tentar te explicar e talvez explicar até pra mim mesma o que se passa mas tem horas que eu acho desnecessário e tem horas que eu acho que nem eu mesma sei do que se trata mesmo a explicação que eu queria dar. 

Sabe que eu me pego várias vezes fazendo planos. Eu tenho apostado cada vez mais que talvez o caminho seja abrir mão desse monte de coisa e tentar simplesmente viver e “ser” com você. Pelo menos tentar. Apostar. Só que como já te disse, até minhas apostas e impulsos são planejados então talvez esse encaminhamento leve um tempo – e eu não te peço pra esperar, não é disso que se trata tudo isso. Mas eu queria que você entendesse que é muita coisa que se passa e de fato tem coisa que tem a ver comigo e minha enrolação pra tudo e as bagunças mas tem coisa que é essa vida doida que nos chama e nos tira a possibilidade de pensar, viver, respirar o amor.

Sabe que eu sei que você tem prazo de validade e qualquer hora você vai encher das minhas complicações e confusões e bagunças. Creio que hoje, apesar dos momentos que fica bravo, ainda consegue ver certo charme mas sei que se eu não mudar logo você logo se cansa e aí já era. E isso me apavora um pouco. Eu espero ajustar as coisas antes de você cansar, mas sabe que tem coisa que eu acho que é meio fora do meu controle. Hoje eu ouvi a Adriana Calcanhoto e ela cantava “eu não moro mais em mim”. Eu sinto que eu tô meio de aluguel nesse meu corpo e que não tenho tido muita autonomia pra decidir certas coisas. É um momento bem atípico da minha vida que eu espero que passe logo. E que quando passar, que você permaneça.

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