terça-feira, 13 de novembro de 2012

Do ato de tirar e botar os pés no chão.

"Me abraça, me aperta, me prende em tuas pernas
Me prende, me força, me roda, me encanta

Me enfeita num beijo"

Todo fim é um novo começo. Assim aprendera a olhar a vida. Daí partia do contexto optar pela perspectiva que melhor coubesse. Mas e quando aquele fim parece não ter sido fim? O ponto final que olhamos de perto e percebemos, então, que era uma vírgula. Pausa para o texto que segue, na mesma frase, sem sequer um parágrafo indicando que o tom mudou. Pra começar, como chamar de final a interrupção de algo que não aconteceu? E se aquele começo sequer ter sido  o começo? Talvez um prefácio de uma boa história - e caberia a nós definir se seria romance, ficção científica, diversos contos fragmentados... ou apenas mais um prefácio pós-moderno nietzscheano (que escreveu cinco prefácios para cinco livros não escritos).

Independente disso tudo, havia uma decisão: deixar-pra-lá. E qual foi a surpresa quando você assalta o pensamento por quase todo o fim de semana - no quarto, na casa, no filme, na praia, no banho, no carro, na música, no sonho -, como uma pessoa de regime que assalta a geladeira de madrugada, com a ideia de que "se ninguém vê não é crime".

Cogitei de fato ser uma loucura minha, insistir nisso que a cada dia parece virar fantasia. Calculei o ciclo menstrual para saber a influência dos hormônios naquela insistência. Considerei talvez estar gostando do gostar de você, de na verdade ter me apaixonado por uma história, e não por uma pessoa.

Pode ser a loucura. Pode ser os hormônios. Pode ser até a paixão pela história e pelo gostar. Mas é real, e de tão frequente passou a não ser tão absurdo. Ao passo que de ser tão imaterial, dia após dia começa a virar fantasia. Pouco a pouco fui me acostumando com teus assaltos, com a gostosa assombração que você se tornou. E assim, não soou tanta loucura aparecer na tua frente sem compromisso e ensaiar um outro começo, para saber se a história ainda assim seria apaixonante, se o gostar ainda assim seria gostoso, e se você ainda assim me assaltaria o pensamento. Temo achar que sim.

E sabe, por mais que eu saiba que não é a primeira vez que acontece, sei também que não é algo do tipo que acontece todo dia. E se existem sentimentos e falas e cenas que lembram sentimentos e falas e cenas de outrora, não torna menos importante esse momento e essa história. Principalmente quando, ao lembrar de que momentos esses sentimentos, falas e cenas foram parecidos com os que existem hoje, foram de fato bons momentos de vidas-em-relação vividas de forma intensa, e que foram muito bacanas e não significaram derrotas pelo fato de terem acabado. Tiveram o tempo que tiveram.

Mas voltando da fantasia e botando os pés no chão, é certo que essa carta jamais será enviada ou esses pensamentos jamais serão confessados.  Não por covardia. Não tenho medo de parecer boba e até de parecer louca, pois se viver de forma intensa e ser sincera com os sentimentos que vem, prefiro ser vista como boba ou como louca, até encontrar alguém que não veja as coisas dessa forma, e que assuma que paixão não vem comedida e então não tem porque existir cordialidades e disfarçar a urgência que é querer estar perto de quem se quer estar perto. Mas não é disso que se trata essa história. Coragem para dizer, existe. Creio até que, de certa forma, em linhas e entrelinhas já foram ditas, em momentos em que foi incontrolável não-dizer. Mas não serão repetidos, e não por covardia. São fatores pra-além-de, que esses sim são novidades e que serão fatores acatados, de forma tal que a possibilidade de dar o salto e ver-onde-isso-pode-dar será interditado e invadido por um silêncio de palavras-que-jamais-serão-ditas-pela-minha-boca e olhares-que-nunca-mais-confessarão-promessas.

E isso não tornará essa história mais bonita - pois contos-de-fada ou romances dramáticos e platônicos nunca foram mesmo meu tipo. Sequer menos bonita - pois para mim vidas-em-relação não são medidas por finais felizes, mas sim pela forma sincera e significativa que foi possível fazer seu caminho. Isso só torna essa história uma nova história, que apesar de lembrar sentimentos e falas e cenas de outrora, é uma outra bela história, com suas nuances e atrações características.


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