quinta-feira, 8 de novembro de 2012

muito amor, pouco humor.


mas a mim
nenhum som me importa
afora o som do teu nome que eu adoro.
maiakovski


o que temos de mais interessante da nossa história é o que a torna, também, a coisa mais dolorosa: deixamos o sentimento entrar. e, assim, qualquer coisa que eu te escrevo vira uma declaração, semi-involuntária. isso porque preciso te confessar ainda quatro ou cinco frases - e pode ser que surjam mais porque sempre existe algo mais a se confessar quando a gente está gostando de alguém, e pensa na pessoa o tempo suficiente para formular quatro ou cinco confissões: tem sempre algo que sobra para se dizer ou um gesto calculado. constantemente torna-se urgente te dizer, e eu quero ligar mas não dá e eu quero escrever mas não pode e eu quero gritar mas praquê? você está longe, oras. sei que é urgente, porque se eu não fizer... se eu não fizer...

e colocar nesses termos "se eu não fizer..." me leva a triste constatação de que se eu não fizer, em um sentido pragmático nada de terrível acontecerá. o que acontece não declarar? o que acontece deixar pra lá? provavelmente - creio que muito provável - em algumas semanas tu já não estará todos os dias no meu pensamento. a vida segue e haverá de ter pessoas e boas histórias e bons começos e fins nem tão bons mas que fazem parte, fazeroquê. poderá não existir uma lágrima sequer derramada.

por que então, é tão difícil, deixar pra lá? deixar qualquer coisa pra lá é como fazer algo que os cristãos entendem por pecado. ignorar aquele "e se" que insiste em nos visitar nos momentos mais inoportunos, enquanto se houve uma música bonita ou quando se está concentrada em algo e aquela pessoa reaparece, sem pedir licença, com cenas de chão-parede-cama-sofá e outras tantas boas lembranças. é difícil abrir mão de algo que virou promessa (aposta?) de felicidade - ainda que passageira. aquela possibilidade interditada, aquela vontade de viver algo e que foi inviabilizado.

isso dói, e mata a gente aos pouquinhos. vidas-em-relação, afinal, também envolvem pequenas e grandes mortes que vamos acumulando e carregando nos ombros? paro e penso: isso está errado. muito sombrio. romances do tipo camilo castelo branco são um tanto bonitos, mas logo nos causam náusea, e essa ideia de morrer por alguém não leva a lugar algum.

a tristeza hoje faz ver as coisas desse jeito: mortes acumuladas. a forma de viver o amor também depende de nosso humor. amanhã, ou daqui a alguns dias ou umas semanas, quando esse tom sombrio que me persegue agora passar, serão feitas releituras, outros significados e daquilo que se entendia por morte se entenderá então como eterna promessa de felicidade ou qualquer coisa bonita que não pensei agora (afinal, não é nada ruim que tenhamos sempre aquele "e se" para nos visitar quando estamos entediados ou precisando de um rosto pra ocupar a memória enquanto se houve uma bela canção). 

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