terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Mortal

Reflexões de uma manhã de angústia

Tem dias que acordamos assim, lembrando que a gente morre. Ou: tem dias que eu acordo assim, lembrando que eu morro, e as pessoas em minha volta também. Por conta de uma gripe que nos derruba, um amigo ou parente cuja vida é tirada de assalto, ou a notícia de alguém querido que se encontra em uma cirurgia de emergência.

Talvez não seja medo da morte. Afinal, quando a morte quando vem acaba tudo e pronto. Talvez seja a fragilidade da vida que assuste tanto. Imaginar-se impotente aprisionado em uma cama ou impotente diante a fragilidade de alguém que se quer bem.

Minha vó morreu e quando contei a uma amiga, ela simplesmente disse: "a vida é mais perigosa que a morte". Estava certa. Sabia que o sofrimento era meu, e não da vó que teve tua vida - bela e feliz, pelo que pude acompanhar - encerrada. E o que eu faria a partir de então era também, por minha conta.

E agora, me sentindo mortal e impotente, pequena nesse mundo gigante que assisto dessa grande janela com vista para uma grande avenida, penso: que faço a partir disso? A pequeneza e a grande janela e a grande avenida me desencoraja levantar e tomar um rumo. A pequeneza me diminui mais e mais, me sinto encolhendo a ponto de deixar de existir. Não existir, no entanto, não me deixa feliz. Então penso, como Guimarães Rosa uma vez disse, que o que a vida quer de nós é coragem. Penso em, num ato heróico, levantar e ir pro mundo, pra avenida grande, pra o País gigante.

Fico apenas no pensamento, e então coloco uma canção triste, pra acompanhar meu funeral. Quem sabe não é apenas uma morte simbólica, e em breve nascerá um novo dia e um novo pensamento? Uma nova pessoa? Espero então a próxima coragem, ou o tal novo nascimento, para pegar carona e seguir viagem.

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