sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Meio morro, meio mar. Saudade inteira.

Os pés pisam sentindo pela última vez os asfaltos das ruas e avenidas e canais. Os pés sentem também pela última vez as areias feias ao mesmo tempo que os olhos tentam registrar como numa fotografia o horizonte desta cidade. Meio morro, meio mar. Saudade inteira.

São muitas as despedidas, porque despedida pra valer é assim: processo. Ensaio a minha retirada, e num vou-não-vou me preparo para quando não tiver mais opção: quando voar pra longe, para outros asfaltos e outras areias e outros mares for pra valer.

A verdade é que a paixão por essa cidade veio lenta. Pouco a pouco. E apaixonei pelo todo: a grande cidade, o que significava. Sua história. E depois vieram as nuances, detalhes. Os cantos preferidos. O melhor samba, o melhor sorvete, o melhor cinema, o melhor lugar pra dançar, a melhor praça, o melhor cachorro quente. O melhor canto pra olhar o mar.

E tem as pessoas. Aqui descobri a nossa força quando somos mais. Tornamos grupo, tornamos tanto, descobrimos que não estávamos mais sozinhos e que juntos somos fortes. Quando vimos essa força, me senti grande. E então veio o apego por essas pessoas. Pouco a pouco, fui percebendo as individualidades, nuances também. Nesses anos fomos nos descobrindo entre risos e choros e sambas, encontrei artistas da arte e da vida: músicos, poetas, filósofos, cozinheiros - dos mais criativos -, crianças - de alma e de idade - e lutadores, militantes da vida. Conheci professor que aprendeu a ser estudante e estudante que aprendeu a ser professor. Gente que precisa sonhar mais, gente que precisa sonhar menos. Também encontrei trabalhadoras e trabalhadores, em sofrimento e alegria. De uniforme sujo, rosto cansado. De barriga vazia e dor no corpo. De luta e de greve. Gente real, vidas reais.

Aqui, nessa cidade, descobri que vida é assim, um cabo de guerra: ou o mundo nos engole ou engolimos o mundo. Nós optamos por tentar engolir, devorá-lo com gosto. É um campo de batalha nada fácil em que por muitos momentos perdemos ou arriscamos perder companheiros. Tentamos salvá-lo de ser engolido. E o tempo inteiro tentamos nos salvar. Alguns foram. Outros apareceram. Conheci a partir daqui outras cidades, Estados e Países. Outras lutadoras e lutadores de tanto canto possível e imaginável. Conheci a partir daqui, uma outra cidade de São Paulo também, com outras nuances e outras individualidades.

Eu vou embora levando o que essa cidade mais me ensinou: lado humano e belo da vida, que dá força pra enfrentar o que há de mais bruto e sujo. Aqui conheci a dialética. Aqui conheci que a história não acontece como queremos mas que também somos sujeitos pra transformá-la. Aqui conheci gentes. Santos - meio morro, meio mar - me deu gente inteira, e o mundo inteiro.

3 comentários:

Felipe Gameleira disse...

Belo texto, como de costume.

Estamos te esperando, Bel, de braços abertos,"meio morro, meio mar, sol inteiro"..

Abraço natalense! :)

cazuza disse...

é... e meio a isso tudo nos encontramos! Hoje fica a saudade, matada pelos encontros surpresas pelos corredores da Universidade. Apareça sempre!

Abraços, bel.

Isis disse...

Lindo, Bel!!! Compartilho seus sentimentos... ir embora meio ficando... meio se demorando... Até o próximo encontro!

 
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