sexta-feira, 2 de novembro de 2012

A lua, o sorvete e o gostar-pra-valer

"eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo."
Carlos Drummond de Andrade

A internet é fria, por mais que permita nos conectarmos assim. Confesso que prefiro a lua. A ideia de olhar a lua, sentada numa pedra com os pés na areia, e pensar que tu está olhando a mesma lua, com os pés no chão do teu apartamento em meio ao caos, da janela da tua casa, me faz sorrir e me enche com uma alegria que não cabe nos caracteres de uma conversa pela internet.

Era exatamente sete e quinze da noite quando olhei para a lua e ela estava linda, e eu tive a certeza que você também estava olhando a mesma lua linda. Fiquei envergonhada, a princípio. Tem coisas que a gente só se permite viver quando está gostando, caso contrário é cafona demais. E nesse período de transição entre gostar e gostar-pra-valer, às vezes a realidade nos chama a atenção da cafonice. Sabemos que é em vão quando apenas damos risada e optamos por curtir o momento, ainda que seja cafona. Caso contrário, ficaríamos apenas constrangidos e voltaríamos pra realidade, indo seguir os compromissos que a vida nos obriga, dizendo para nós mesmos "que bobagem!". Mas não. Eu me mantive olhando a lua e sorrindo e gostando-pra-valer de você.

Tem momentos da vida que a gente guarda, como se tivesse sido uma bela cena de filme ou de um conto que revemos ou relemos repetidas vezes na memória, atribuindo novos significados. Um bom diálogo, um bom silêncio, e mesmo uma viagem bacana ou um momento teu na praia que fica guardado. Talvez sejam momentinhos que somando formam aquilo que chamamos de "vida". O resto são vinhetas que preenchem esse tempo em que simplesmente respiramos e comemos e dormimos e trabalhamos e existimos, muitas vezes ligado no automático.

lua de Ponta Negra, Natal (essa semana).
Acontece que, se é problema ou não eu ainda não sei dizer, mas desde que te conheço, sinto o tempo inteiro que estou viva. Contigo eu abro a boca pra contar novas histórias, e vivo para ter novas histórias para contar. E agora, enquanto penso se o dia vai ser praia, se vai ser estudo, se vai ter canção, penso também que não seria má ideia te chamar para um sorvete, um dia qualquer. E fecho os olhos e penso na possibilidade remota de um dia, sob a mesma lua cheia, estarmos dividindo uma pedra com os pés na areia, ou uma janela de um apartamento.

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