sexta-feira, 26 de outubro de 2012

vinhetas de adeus

no banco de uma praça qualquer

ela levanta lentamente sua cabeça, que antes olhava pra mão que fazia pequenos rabiscos com um graveto no banco. vira teu rosto como se fosse uma atriz de um filme hollywoodiano e diz: sabe, a vida não é uma brincadeira pra cansar e parar quando bem entender.
ela não concorda com isso. mas queria dizer algo bonito, e falar bonito envolvia fazer metáforas, ainda que não fizessem sentido. essa, na verdade, até fazia, mas ela não sabia se concordava. e sendo sincera, lembrava ter lido isso em algum trecho de algum livro de caio fernando de abreu. ou num desses trechos que todos citam mas ninguém sabe ao certo de quem é. ainda assim pareceu bacana. por mais que custasse a admitir, havia coisas que fazia porque daria cenas bacanas. acostumou-se a viver assim: a vida vivida e o filme imaginário, em que refazia cenas com diferentes personagens.
afinal, parou pra pensar no que disse e percebeu que ela mesmo brincava, e não sabia se existia problemas em brincar. mas percebeu também que brincar cansa. e quando se deu conta disso, percebeu como estava cansada. pensou que queria um pouco de algo "sério", mas pensou melhor e descobriu que não. foi quando viu que não sabia o que queria e não saber era angustiante demais.
a gente se vê por aí. - deu-lhe um beijo na testa e levantou. nunca mais o viu de novo.

no restaurante, brincando com os canudos do suco

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silêncio
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eram dois estranhos, onde ali já tinha sido cenário de tanto assunto. foi lá que ela aprendeu a ser paciente com a demora dele para escolher o que iria comer, e que ele ouviu, disfarçando o ciúmes, sobre os antigos amores da vida dela. ali decidiram que nas próximas férias fariam algum curso desses que casais frustrados faziam, mas não porque se sentiam frustrados, mas porque poderia ser engraçado. agora, na cena dos canudos do suco, ele até recorda dessa decisão e reflete, então, se desde lá já não existia frustração. então se perde tentando lembrar a primeira vez que ela o olhou sem brilho de novidade. a primeira piada que ela não riu. o gelo derretia, os pés que antes se buscavam por debaixo da mesa, como carícias de dois cúmplices de um crime - sentir tesão num lugar público, comer com os olhos na frente de famílias e homens velhos e frustrados. hoje os pés se repeliam como um pequeno e rápido choque. era o amor pedindo a conta.

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