sábado, 27 de outubro de 2012

no ponto de ônibus.


- boa noite.
- boa noite. (deixa eu te contar... conheci alguém, não é do tipo que me apaixono, o que só me deixou mais intrigada - o que eu estava querendo com ele, afinal? nos conhecemos em outra cidade e nos reencontramos agora, nessa cidade que não é nossa é é eu não sou daqui e, pensando agora, talvez ele seja que nem eu, meio sem cidade, de vários lugares - isso me lembra marx, "os trabalhadores não tem pátria", mas aí fica pra outra hora esse papo, porque eu queria mesmo era contar o que aconteceu agora... foi o olhar, acredita que clichê ora onde já se viu a essa altura da vida na vida moderna que vivemos alguém se encantar numa troca de olhares? eu não sei por quanto tempo nos olhamos até que trocamos algumas palavras havia outras pessoas na roda mas eu só queria saber quem era ele e daonde vinha e o que fazia de intruso naquela terra que antes chamava de minha; é, pois é, a gente se conheceu aonde até bem pouco tempo eu entendia como a minha cidade... sabe, pra você eu vou contar que eu não sei há quanto tempo eu não ficava com frio na barriga por alguém eu não sei dizer sei que se não tivesse o cigarro eu poderia até estar tremendo com um nervosinho bom quando nos falamos pela primeira vez e as pessoas e a música e a festa em volta e aquele que já amei e amigos que não via há meses e eu só queria virar e falar com pinta de mulher decidida "ei, e quando é que a gente vai prum canto mais sossegado, heim?"  não, não, eu não diria isso eu sei que não onde já se viu estou vermelha só de confessar isso pra você. eu diria "e aí? a gente já se conhece? tenho a impressão de que já te vi..." ai não que coisa mais boba coisa de gente sem criatividade. eu sei que não disse nada disso mas lembro de dizer duas ou três besteirinhas que me fizeram pensar porque eu estava dizendo aquelas coisas e agindo daquela forma e eu não sei era como se fosse outra pessoa ali e sei que a gente foi se encontrar aqui e aí é uma longa história mas eu estava agora com ele e a gente se beijou loucamente, sabe, demorou, antes disso conversamos bastante e foi bacana e no começo ficou um suspense e eu achei que era mais uma dessas coisas que a gente bota uma expectativa danada e depois não consegue viver a altura do que esperava mas não foi e a gente se beijou loucamente como se não houvesse amanhã ou hoje ou ontem ou tempo. desculpa eu nem te conheço mas eu queria contar pra alguém porque foi uma coisa tão maluca e gostosa que me fez sentir tão viva tão bem e pensando bem não foi maluca porque aquilo no fim das contas era vida viva mas ainda assim eu saí, eu saí rápido com pressa, porque ele mora lá longe e não interessa o lá agora mas interessa que o lá é longe e para não alimentar mais fantasias eu deletei o telefone da agenda. eu nem havia chegado no térreo e já tinha sido apagado e eu gosto de guardar essas coisas mensagens coisinhas sabe. mas apaguei todos os rastros dele menos os que eles deixou no meu corpo que não dá pra apagar e não foi por raiva e não foi porque eram mensagens ruins eram bonitas mas pareceu necessário deletar e talvez seja algo que eu só entenda depois mas na verdade não precisaria deixar porque ele ficou na minha cabeça e não sei se sairá tão cedo e...)
- que demora, heim?
- é. nem fala.
- tá esperando o 56?
- sim. você também?
- sim...
- domingo é difícil.
- nem fala... se eles ainda tivessem um horário regular.
- é...

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