sábado, 25 de outubro de 2008

Levantou, calçou seu tênis e fugiu.

Juntou as coisas que mais gostava: uma carta do primeiro namorado, cinco camisetas velhas mas que deixavam seu peito grande. Colocou um tênis, e na mochila deixou um chinelo. Vestiu um casaco grande, pois guardado ocuparia espaço demais. Deixou um casaquinho também. 5 calcinhas bastariam (dá pra ir lavando no banho, pensou). Escova de dente, um pente. Shampoo, condicionador e sabonete, deixa para ver depois o que faz. Vestiu a calça jeans e deixou uma saia e um shorts na mochila. Um lápis de olho, seu perfume importado e remédio para dor de cabeça.

O resto, enfiou numa caixa e deixou na escada, com um aviso: "PARA DOAÇÃO". A caneta que utilizara para escrever, enfiou na caixa. Deixou para trás seu apartamento, alugando para um conhecido. O banheiro, sujo do porre da noite anterior, foi de brinde. Não ia lavar, pelo preço que fechou o negócio. Teve que aceitar, tinha realmente pressa. O celular ficou em cima da mesa, desligado. Na caixa postal, um aviso de que aquele não seria mais seu número.

Fazer tudo isso era a única forma prática de garantir que nunca mais voltaria. E decididamente, não queria mais voltar pra aquela vida. Diferente dos outros, aquela ressaca não a fez abandonar a bebida, mas a vida que tanto lhe dava motivos para tal.

O que fazer com uma mochila nas costas e o dinheiro de um aluguel na mão? Caminhou para o metrô, na intenção de ir pra rodoviária. Não sabia o destino. Por um momento, pensou em mudar de país. Lembrou da poupança. A sensação de ter um leque de possibilidades de lugares para começar uma nova vida era menos aterrorizante do que lembrar que acabara de largar toda a antiga.

Enquanto decidia seu destino, pensava em formas de justificar essa mudança repentina para as pessoas a sua volta. Foi quando se deu conta de que poderia simplesmente nunca mais falar com elas. Faria novos amigos, quem sabe formaria uma nova família. Poderia até ter um outro nome, gostar de outras bandas e ter nascido em outro lugar. Seu passado agora era tão diferente quanto seu futuro. Poderia viver uma aventura, e escrever um livro sobre sua loucura toda, quando ficasse mais velha. Poderia não viver nenhuma aventura, mas escrevê-la mesmo assim.

Olhou o mundo de forma totalmente diferente do que olhava ontem. E tudo era novo, embora as coisas permaneciam quase as mesmas. Quase. Pois a partir daquele dia, havia pelo menos uma pessoa diferente. E nada seria igual novamente.

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