quinta-feira, 6 de outubro de 2011

"Calma, não é o fim do mundo."

Eu ouvia muito esse consolo - "não é o fim do mundo" - quando era criança, quando o desespero tomava conta de mim - seja por um trabalho para ser entregue no dia seguinte na escola, ou porque quebrei algo no apartamento, ou.

A novela "O fim do mundo" era aterrorizante, desde a abertura. Eu lembro de um pavor instalado em risos nervosos no recreio da escola, no horário que Nostradamus tinha anunciado que o mundo acabaria. Agosto de 99, se não falha a memória.

Hoje parece que existe um fascínio, um desejo incontido pelo fim do mundo. A desesperança por uma mudança, o fato de estarem acabando com o meio ambiente, a crise que se intensifica, os políticos que são todos iguais, o desemprego, a miséria, o sofrimento, a insatisfação mesmo tendo tanto consumo, tanta tecnologia... De uns tempos para cá, parece que desenvolvemos certa "esperança" no fim do mundo. Tamanha é a falta de alternativa, que cogitar o fim dos tempos não é mais, afinal, uma má ideia. "2012 taí" - alguns falam, com um tom confortável de que finalmente essa bagunça vai acabar e vamos todos deixar de existir.

Isso tudo toma forças quando não temos uma outra possibilidade, quando deixamos de acreditar que outro mundo é possível - que as coisas não são como são, elas estão como estão, e somos nós parte responsável por transformar isso. Muitos enterraram junto com os escombros do muro de Berlim, em 89, a possibilidade do socialismo.

Junto com ele, parece que enterramos também o fim da possibilidade de sonhar, de acreditar, de até mesmo desejar um mundo em que as pessoas estejam livres, felizes, em que haja confiança, amizade, carinho. Em que haja desenvolvimento da humanidade de forma plena, sem ter que explorar outras vidas e destruir toda a natureza para que isso seja possível.

Quem saiu ganhando, afinal, quando rapidamente saíram por aí anunciando a vitória do "capitalismo", como se agora não estivesse em disputa mais um outro projeto de sociedade? O que ganhamos nos rendendo a infeliz ideia do "fim da história"? Para a alegria de menos de 1% da humanidade, com tanto dinheiro e vidas vazias, o futuro de um mundo está em risco.

Nos renderemos a isso, ou buscaremos forças para romper com esse rumo da história?
Eu opto por tentar resgatar o que aqueles barbudos tentaram nos ensinar já há alguns séculos, e junto com eles, muitas mulheres e homens que viveram e morreram defendendo um outro mundo possível.

Eu não compreendo bem, até hoje, a resistência que as pessoas tem com o projeto socialista. Responder que é por causa do stalinismo, é no mínimo uma resposta preguiçosa. Socialismo deve ser construído por nós, deve ser feito com liberdade e autonomia das trabalhadoras e trabalhadores e construído num processo de ruptura com o que temos hoje. É uma construção coletiva, e esta corre riscos de errar, e errar muito. Mas isso não justifica, para mim, pendurar as chuteiras e esperar o dia em que alguma profecia de Nostradamus dê certo.

As experiências de confiança, de alegria, de sinceridade, de viver-em-coletivo, de democracia que pude passar em pontuais eventos como ocupações e greves, apontam pra mim que alguma coisa de interessante tem nesse meio, que alguma proposta interessante pode surgir quando nós assumimos o controle da situação.

Entre apostar em um outro mundo, que só acontecerá "quando os trabalhadores perderem a paciência" ou entrar para o grupo dos que olham as horas passarem dia após dia em vidas vazias, contando os dias pelo fim do mundo, eu fico com a primeira proposta.

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