sábado, 13 de setembro de 2008

fala contempladíssima

Não falo do amor romântico,
aquelas paixões meladas de tristeza e sofrimento.
Relações de dependência e submissão, paixões tristes.
Algumas pessoas confundem isso com amor.
Chamam de amor esse querer escravo,
e pensam que o amor é alguma coisa que pode ser
definida, explicada, entendida, julgada.

Pensam que o amor já estava pronto, formatado, inteiro,
antes de ser experimentado.
Mas é exatamente o oposto, para mim, que o amor manifesta.
A virtude do amor é sua capacidade potencial
de ser construído, inventado e modificado.
O amor está em movimento eterno, em velocidade infinita.
O amor é um móbile.
Como fotografá-lo?
Como percebê-lo?
Como se deixar sê-lo?
E como impedir que a imagem
sedentária e cansada do amor nos domine?
Minha resposta? O amor é o desconhecido.

Mesmo depois de uma vida inteira de amores,
o amor será sempre o desconhecido,
a força luminosa que ao mesmo tempo cega e nos dá uma nova visão.
A imagem que eu tenho do amor é a de um ser em mutação.
O amor quer ser interferido, quer ser violado,
quer ser transformado a cada instante.
A vida do amor depende dessa interferência.
A morte do amor é quando, diante do seu labirinto,
decidimos caminhar pela estrada reta.
Ele nos oferece seus oceanos de mares revoltos e profundos,
e nós preferimos o leito de um rio, com início, meio e fim.
Não, não podemos subestimar o amor, não podemos castrá-lo.

O amor não é orgânico.
Não é meu coração que sente o amor.
É a minha alma que o saboreia.
Não é no meu sangue que ele ferve.
O amor faz sua fogueira dionisíaca no meu espírito.
Sua força se mistura com a minha
e nossas pequenas fagulhas ecoam pelo céu
Como se fossem novas estrelas recém-nascidas.
O amor brilha.
Como uma aurora colorida e misteriosa
Como um crepúsculo inundado de beleza e despedida
O amor grita seu silêncio e nos dá sua música.
Nós dançamos sua felicidade em delírio
porque somos o alimento preferido do amor,
se estivermos também a devorá-lo.

O amor, eu não conheço.
E é exatamente por isso que o desejo
e me jogo do seu abismo,
me aventurando ao seu encontro.
A vida só existe quando o amor a navega.
Morrer de amor é a substância de que a vida é feita.
Ou melhor, só se vive no amor.
E a língua do amor é a língua que eu falo e escuto.
[vênus, paulinho moska]

Nenhum comentário:

 
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...