segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Entorpecer e desentorpecer

Diferente dos últimos dias, o mar não estava bravo. Dessa vez, calmamente, acolheu o seu corpo dos pés até a cabeça. Enquanto isso o sol se despedia para dar chance à lua e às estrelas. Entorpecimento. Cada onda levava um peso de seus ombros. Levou a tristeza, o ódio, a angústia, a mágoa. Cada dia de sua vida foi sumindo. Cada pensamento. Cada preocupação. Cada esgotamento. Caminhava mais além e quanto mais longe das terras firmes mais escuro ficava, ao ponto de não ver mais quase nada, não sentir mais nada, não pensar mais nada. Entorpecida.
Lembrou de respirar. Percebeu a quanto tempo já não fazia isso, sufocada nas tarefas cotidianas. Deixou ir embora algumas bagagens, e quando se viu deixando tudo ir embora, agarrou-se forte na lembrança de um rosto. Aquele rosto...
Voltou a sentir seu corpo, agora excitado com a boa lembrança. Lentamente as ondas tentavam devolvê-la ao solo. Respeitou os anseios do mar. Era hora de voltar.
Desentorpecer.
Vida que segue.

Nenhum comentário:

 
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...