sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

344 de muitas.

O Gmail denuncia nosso romance: revejo nossa história e relembro passos, caminhos, conversas, segredos, sussurros, mentiras, filmes. Quanta música! Quanta alegria e dor. Em alguns momentos, éramos Leo Jogiches e Rosa Luxemburgo, trocando cartas sobre diagramação de panfletos e textos e no meio disso alguns gracejos de amor.

Éramos ingênuos e criminosos. Éramos turistas nesse mundo civilizado, onde as pessoas comem com as mãos e falam baixo. Nós gritávamos, sufocados pelo calor daquela cidade e daquela casa sem ventilador.
Nosso romance torto me rendeu a capacidade de escrever - coisa que confesso aqui, e que sequer pra mim havia confessado antes. Foi você, foi o que você me fez falar que me ensinou a escrever. você que me ensinou como gostar - o pior professor que poderia ter, já que ambos podemos ser considerados fracassados nessa arte diante de nossos relacionamentos mal sucedidos que seguiram o nosso pequeno grande desastre.

Hoje você não é nada - nem saudade, nem presente, nem futuro e às vezes nem passado. Penso muito pouco em você. E por incrível que pareça não há rancor, ou tristeza, mágoa. Não existe nada e isso não me deixa nem triste. E aí no meio de uma tarde de tédio fui surpreendida por isso: "344 de muitas". Foi como assistir a um filme que conhecia uma das personagens principais. Me reconheci em muitos momentos, outros nem tanto.

Foi você que me colocou pra escrever, mas também pra ler. Meu primeiro romance comunista. E eu pensava, pra cada lágrima que tu derrubava de mim, que qualquer dia escreveria essa história. Não escrevi. É difícil ler também, o que tem de escrito da nossa história. Talvez seja difícil ouvir também, os discos que me deu de presente, outros que esqueceu. Guardo todos, no entanto.

344 de muitas: somos nós, letra e desejo.

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