segunda-feira, 12 de março de 2012

dança

e então de repente era nós dois e mais ninguém ali. o volume da música não estava tão alto quanto a força dos seus olhos, que gritavam nos meus. brilhavam de forma tal que eu não precisava de nenhuma luz ali. nossos olhos guiavam para onde queríamos ir: hipnotizados, caminhamos lentamente e de forma precisa em direção um ao outro. ainda que já nos conhecíamos, pouco a pouco descobrimos como nos olhar como se fosse pela primeira vez. seu olhar trazia coisas novas - eles sempre reservam novidades.

e então de repente era nós dois e mais ninguém ali. o volume da música não estava mais alto que nossos corpos que conversavam atentamente. você passou a ponta dos dedos pelo meu braço inteiro, desde os ombros, até encontrar as pontas dos meus dedos também. então segurou a minha cintura, e era como se suas mãos estivessem conversando. foi chegando lentamente, primeiro com as pontas dos dedos e depois foi possível sentir tua mão inteira deslizando até que.
- te quero. - elas diziam, segurando forte.
e meus braços caíram perfeitamente em volta de seu pescoço, como se desde sempre soubéssemos que era seu pescoço que eles envolveriam um dia.
- eu me entrego. - diziam eles, acomodados.
e minhas pernas intercalaram as suas e de repente dançávamos em um passo próprio, que não era doispraládoispracá.
- estamos juntos. - todas as quatro pernas anunciavam, em coro.
nossos corpos a essa altura tagarelavam: ombros, coxas, peitos, barrigas... aos poucos podíamos sentir mais e mais um ao outro, e era tanto o desejo que havia em sentir cada parte do seu corpo que quando finalmente o toque ocorre dava pra sentir em cada centímentro uma mistura de êxtase e conforto.

e então de repente era nós dois e mais ninguém ali. o volume da música não estava mais alto que nossas bocas que se rendiam àquele beijo. nossos lábios encostavam devagar, como se não existisse tempo. desrespeitar a pressa no sistema capitalista - aquela era nossa militância naquela hora, e fomos extremamente subversivos. pouco a pouco sentíamos as bocas se encostando, e elas se encostavam tão devagar, passeando entre si que pareciam transitar metros de distancia. até que devagar com a ponta da língua em seus lábios te convido pra um beijo. você aceita e então era como um mergulho delicioso na água gelada num dia de verão.

e se havia gente, e se havia horário, e se havia despedida, e se havia expectativa, ou medo, ou coisas pra fazer... tudo aquilo por alguns instantes não importou. naquele momento era nós dois constatando que do nosso jeito estávamos aprendendo a dançar de um jeito próprio e singular com a música que nos dão, mesmo que faça parte também fugir do compasso vez ou outra, se assim acharmos mais gostoso.

2 comentários:

Kartejane Del Santo disse...

Perfeito....natural como sempre... parece ser eu... fui ao Rio e voltei...

Kartejane Del Santo disse...

Perfeito....natural como sempre... parece ser eu... fui ao Rio e voltei...

 
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