terça-feira, 13 de dezembro de 2011

insônia de dezembro

diferente do ritmo acelerado do dia, a madrugada com insônia lhe reserva uma lentidão única. como se não houvesse tic tac no relógio, saboreia seus últimos prazeres que restam em sua casa. o penúltimo cigarro, o fim da garrafa de água gelada, o último chocolate. tenta não pensar que o fim do ano se aproxima e que todo fim de ano lhe reserva alguma morte inesperada de alguém querido. tenta descobrir quem será, como se assistisse a um filme de suspense, em que sabe que alguém daquele grupo de amigos morrerá. apesar dos pensamentos sombrios, sua cara nada expressa. o rosto é o mesmo rosto daquelas pessoas que circulam pelo metrô em horário de ida ou de volta de trabalho. um olhar de gado a espera da morte - que não sabe que espera a morte, pois parece não ter consciência disso nem de nada, mas que quem o assiste, assiste com pena.

a insônia de dezembro chegou. tentativas frustradas de telefonar para alguém. "merda de modo silencioso" - pensa. não conseguir falar com alguém parece dar mais solidão que não ter ninguém para quem ligar. pensa em ligar para aquele que antes acolhia as suas insônias. em seguida, pensa nas consequências disso. pensa em ligar para aquele que antes do outro de antes acolhia a sua insônia. pensa que ele jamais entenderia as consequências disso.

a insônia de dezembro chegou. pensa em tomar um banho. pensa em escrever algo. pensa em ler algo. pensa em sair e fazer algo - não, não, má ideia. assistir a um filme - talvez.
lembra de seu primeiro apartamento em santos, de suas primeiras insônias em santos. existia meio pacote de fandangos. não ter, seria evolução?

na semana anterior, o quarto cheio de roupas, papéis, garrafas, livros, apostilas passagens usadas, jornais, embalagens, crachás, bilhetes... um surto: de repente aquele quarto era eu. tantas coisas importantes, inúteis, foras do prazo de validade... tudo misturado, sem prioridade de importância.
na semana anterior, havia alguém que lentamente recolheu roupa por roupa. que empilhou os papéis - recém chegado na história, não sabia ainda dizer o que de lá não pertencia mais. havia uma paciência que não tinha nome. e quando o choro era alto, pacientemente parava de recolher e oferecia o colo, as mãos que massageavam o corpo. pouco a pouco, tornou o quarto e o corpo habitável. bom para ele, bom para ela.

começa a chegar a hora do despertador tocar e começar, então, mais um dia. pobre despertador, que dificilmente cumpre sua função. aquela que o tem como propriedade sempre se antecipa e seu toque torna-se mera formalidade.

mera formalidade. não é apenas o despertador que vive assim, afinal.

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