terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

post derretido

do calor de santos .
tudo derrete e tudo é quente nessa cidade. a roupa é quente, a pele é quente mesmo distante do Sol. não existe nada distante do Sol, afinal. é tudo quente, quente, quente.
ventiladores não servem, nada gelado sobrevive. o corpo fica melado e dá preguiça de tocar e abraçar - restam dedos que se encostam, em um manifesto singelo de carinho.
a cabeça pesa, o corpo pesa... porque além do corpo tem quilos e litros de calor.
qualquer coisa que dá errado irrita porque tudo dá mais trabalho debaixo desse calor. e aí, depois de qualquer tentativa frustrada de algo, tudo que resta é sentar e lamentar. não se pode nem chorar - é preciso conter o mínimo de líquido que o corpo possa manter.

do calor da vida .
se na cidade o calor é descontento geral da população, motivo inclusive para interagir com estranhos - talvez para justificar de alguma forma a aparência lambida e melada e inchada - as vidas estão mais frias.
existe calor nas relações. embora evita-se abraços, as pessoas conversam e tentam ficar juntas.
o que existe de frio é a descrença da vida, do mundo.
discussões ingênuas de que o mundo será resolvido naturalmente, que as coisas vão bem se comparadas com antigamente.
aula de psicopatologia, definição de paixão. ah! como cabe isso em mim. como gostaria que não coubesse tanto, às vezes. é muita paixão, que gera olhos vermelhos de raiva, de amor, de choro - seja triste, seja alegria.
seja o que for, os olhos, o corpo todo está sempre vermelho, prestes a explodir - haja espaço no mundo em que se consiga despejar tudo isso que ameaça explodir a cada instante dentro de mim.
não existe lugar, e vai saindo aos poucos, às vezes de forma bruta, às vezes mais sutil.
e é difícil de viver num mundo em que a vida sua não cabe.
me sinto tão E.T. como me sentia com 12 anos. a diferença é que hoje, pelo menos na maior parte do tempo, sou feliz por ser E.T. a diferença é que agora sou E.T. com argumentos.

Um comentário:

Kinna disse...

"me sinto tão E.T. como me sentia com 12 anos. a diferença é que hoje, pelo menos na maior parte do tempo, sou feliz por ser E.T. a diferença é que agora sou E.T. com argumentos."

O orgulho outsider sempre presente. Seguimos odiando as pessoas-padrão, mas agora com argumentos melhores.

 
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