quantos pés passam por mim, indo cheios para a vida vazia de todo dia. trabalho, carro do ano, casamento, gordura trans (não sei bem o que é, mas sei que faz mal), guerra, cheque especial, eleição, feriado (praia ou montanha?), clonagem, escola, filhos, caso Isabella (barbaridade...!!!), novela, jantar ("vamo pedir algo, né benhê?").
às vezes um casal apaixonado para e fica horas e horas se esforçando pra se despedir, e conseguir ir embora. ah...o amor! não existe amanhã pro amor. existe o agora, e a morte do agora é o maior crime para os apaixonados... a separação é uma amputação pra quem só pensa em fazer dois virar um só. pelo menos naquele instante, em que o outro parece ser sua metade.
e existe o sono, a fome, a vontade de fazer xixi, a necessidade de ir dormir cedo para um compromisso inútil logo na manhã seguinte, mas os dois apaixonados parecem engessados no portão, conversando, e conversando. e despedindo, despedindo novamente, beijos, abraços e silencios. risinhos confidentes ("é, parece que não vamos mesmo...").
começam a fazer estratégias: "o próximo taxi que passar, prometo que vou embora!". de vez em quando, umas loucuras aparecem: "e se eu não fosse naquele negócio amanha? eu não queria mesmo..." (como se um dia fosse ficar mais fácil essa separação... e se esse dia chegar, vai ser tão triste... que vontade do tempo parar agora. o mundo podia acabar agora. não haveria separação amputada ou decepcionada. o mundo simplesmente acabaria e pronto.). até que uma hora eles resolvem ir, e enfim vão. fico sozinha, com meus frios degraus.
de vez em quando vem um cachorro e mija em mim.
de vez em quando é um mendigo. de vez em quando é até um burguês, bêbado.
mas quantas coisas se aprende sendo uma escada. simplesmente lá, de acesso a uma grade verde, que protege vários apartamentos cheios de vida vazia.
os pés, tênis, sapatos e meias (alguns chinelos aventureiros da cidade), saltos... xixis, cocôs, a água da chuva, a água da mangueira, o chiclete... e em algumas madrugadas aparece: o sentido do mundo, a consciência, a cerveja e a angústia que é estar vivo num mundo de incompreendidos.
ah...! quantas conversas revolucionárias. quantos planos toscos e lindos para destruir o poder.
quantas lágrimas derramadas, e quantas guardadas para não me molhar... ou para não mostrar a fragilidade para mim.
onde já se viu um revolucionário que chora? e onde já se viu um ser humano que chora e afirma "EU NÃO AGUENTO MAIS" sem soar aos degraus alheios como um mero "depressivo a mais no mundo"?
ah... quem dera que alguma dessas pessoas chegasse um dia ao poder! que dia maravilhoso seria esse! que vontade tenho eu de expulsar essas bundas dos meus sujos degraus para essas bundas se alojarem num trono qualquer no mundo.
mas essas pessoas nunca chegariam ao poder, e talvez nunca nem o tentariam alcançar. essas pessoas acham o poder podre, por mais que sabem que achar isso é ingênuo e nunca vai fazer com que algo mude. essas pessoas me acham mais confortável que qualquer trono de ouro.
para essas pessoas, sentar em mim com uma Bohemia talvez chegue a ser a única coisa que faça sentido na vida delas.
ah! que perfeito seria se todas essas pessoas chegassem um dia ao poder...
mas essas pessoas não passam nem no Concurso Público para contribuir com o desenvolvimento do Brasil. porque por mais que pareça que falte gente, é só uma ilusão. as vagas são até limitadas.
e então elas vão embora. conversa boa, e nada mudou. pelo menos não no mundo. não na escada.
...
- oi.
- e aí, tudo bom?
- tudo, e você?
- tudo bem... novidades?
- não, e você?
- ah, não... e vc?
- também não...
- entendi... e a faculdade?
- ah, super puxada! mas tá bem legal... e vc? passou já?
- putz, passei! nem acredito que as férias chegaram...
...
- oi.
- olá!!! blz?
- blza, e com vc?
- tudo certin...
- e aí, como andas a vida?
- ah, caminhando.. hehehe... e com vc? tem novidades?
- ah, não...!
...
- oi!
- oláaaa, tudo bom?
- tudo bem!!! e vc?
- tudo bem!
- novidades?
- não, e vc?
- putz, tb não...
- ah...
...
- e aíiii, beleza?
- beleza, e vc? putz!!! quanto tempo!!!!
- pois é... correria, né.
- é...! mas conta aí, que que vc tem de novo pra me contar?
- ah, nada demais... férias da faculdade, nem acredito!
- hahaha nem fale... ow, vamos aproveitar pra nos ver.
- vamos sim...
- é.
...
- ei, tudo bem?
- tudo, e contigo?
- tudo bem... tá de férias já?
- to sim, e vc?
- tb... bom, né?
- muito bom...
...
Cansou?
Eu também.
quinta-feira, 24 de julho de 2008
pensamentos de uma escada
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